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Capitulo 2 O BRASIL MONARQUICO (1822-1889) 2.1. A CONSOLIDAGAO DA INDEPENDENCIA E A CONSTRUCAO DO ESTADO (onsolidagao da independéncia se deu em poucos anos. As tropas portu- resistiram na Provincia Cisplatina, da qual acabaram se retirando em vo de 1823. Ai comegaria uma longa guerra pela independéncia uru- ‘as |i agora contra os brasileiros e nao contra os portugueses. Outro ile confronto se localizou na Bahia, onde os brasileiros acabaram derro- Portugueses. plino internacional, os Estados Unidos reconheceram a independéncia ) le 1824, Informalmente, ela j4 era reconhecida pela Inglaterra, inte- ei) yurantir a ordem na antiga colénia portuguesa. Preservava assim \ujen comerciais em um pais que, Aquela altura, jé era seu terceiro externo, O reconhecimento sé foi retardado porque os ingleses tenta- weguly do Br {wmente, estiveram presentes na consolidagado da independéncia, ser- em de mediadores no reconhecimento da nova nagio por Portugal. il a imediata extingao do trafico de escravos. Mas, direta HeHTEU eM agosto de 1825, por um tratado em que o Brasil concordou whi A Metropole, em 2 milhOes de libras, pela perda da antiga colé- J Hi permitie a unido de qualquer outra coldnia com o Brasil. A neces- 7s KEQ nisroria concIsA DO BRASIL © BRASIL MONARQUICO (1822-1889) EEL 79 sidade de indenizar a Coroa portuguesa deu origem ao primeiro empréstimo Por certo, muitos descontentamentos com a Corte permaneceram, mas externo, contraido pelo Brasil em Londres. A segunda cliusula citada, aparen- temente estranha, explica-se pelo fato de interesses brasileiros ligados ao comér- cio de escravos estarem fortemente implantados em algumas regides da costa da Africa, Quando chegaram a Angola as noticias da separagio, surgiram pan- jwida que lembrasse a insatisfagao de algumas regides do Nordeste onde despon- unum as idéias de repuiblica. A elite politica promotora da independéncia nao inha interesse em favorecer rupturas que poderiam pér em risco a estabilidade ily vida da antiga Colénia, nos moldes existentes. E significativo lembrar que os wlorgos pela autonomia, desembocando na independéncia, concentraram-se jiu figura do rei e depois na do principe regente. Nos primeiros anos apés a in- lependéncia, a monarquia se transformou em um simbolo de autoridade, mes- iio quando a figura do Imperador viesse a ser contestada. A afirmativa de que a independéncia se realizou em tempo curto e sem fletos impressos no Brasil convidando Benguela a aderir a “causa brasileira’. A prevenco portuguesa no era pois sem fundamento. wee £ tradicional na historiografia brasileira contrastar a relativa facilidade da consolidagao da independéncia do Brasil com o complicado processo de eman- cipacao da América espanhola. Acentua-se ainda que, enquanto o Brasil perma- neceu unificado, a América espanhola se fragmentou em varias nagGes. As duas observacées estiio inter-relacionadas. Vamos porém separd-las na narrativa por- jyandes abalos nao nos deve levar a tirar duas conclusées erréneas. Uma con- siiliria em dizer que nada mudara, pois o Brasil passava da dependéncia inglesa vii) Portugal a dependéncia direta da Inglaterra. A outra consistiria em supor a exluténcia de uma elite politica homogénea, com uma base social bem estrutu- judi, portadora de um projeto claro de diretrizes para a nova nagao. (\ primeira conclusao seria equivocada por varias razGes. A nova relagao de ilependéncia, que se vinha afirmando desde 1808 com a abertura dos portos, Jepresentava mais do que uma simples troca de nomes, importando em uma Wudanga da forma como a antiga Colénia se inseria no sistema econdmico in- {ernucional. Além disso, a independéncia impunha a tarefa de se construir um que a forma pela qual se manteve a unidade territorial se tornaré mais clara ap6s a andlise dos acontecimentos ocorridos entre 1822 ¢ 1840. Cabe perguntar, de inicio, se a tradicao ainda se sustenta. Nao faltam obje- Ges a ela. Seus criticos salientam que a independéncia, sob a forma de uniao em | torno do Rio de Janeiro, resultou de uma luta e nao de um consenso geral. Nessa luta foram vencidos, nas provincias, 0s movimentos autonomistas ¢ os que sus- Hiludo nacional para organizar o pais e garantir sua unidade. A flor do nticleo promotor da independéncia, com José Bonifacio a frente, nao tentavam a permanéncia da uniado com Portugal, como aconteceu no Para. As objegdes tém o mérito de chamar a atencdo para o fato de que a inde- pendéncia do Brasil nao correspondeu a uma passagem pacifica. Mas elas nao’ invalidam a constatagao de que, admitido 0 uso da forga e as mortes dai resul- tantes, a consolidacao da independéncia se fez em poucos anos, sem grandes desgastes. Mais do que isso, a emancipacao do Brasil nao resultou em maiores: alteracdes da ordem social e econémica existente ou da forma de governo. uunda conclusio seria igualmente equivocada porque, mesmo no inte- Havin um acordo sobre as linhas basicas que deveria ter a organizacao do Esta- ly, Pelo contrario, os anos entre 1822 ¢ 1840 seriam marcados por uma enor- te Hutu tes de organi: do politica, por uma série de rebelides e pelas tentativas contrastan- 1 0 poder. Exemplo tinico na histéria da América Latina, 0 Brasil ficou sendo uma monar- quia entre reptiblicas. Uma das principais raz6es dessa relativa continuidade entre duas épocas se ( debate politico central nos dois primeiros anos apés a independéncia do }iily se concentrou em torno da aprovagio de uma Constituigao. As eleigoes fuiid uma Assembléia Constituinte ja estavam previstas meses antes da indepen- encontra na vinda da familia real para o Brasil e na forma como se deu o pro- cesso de independéncia. A abertura dos portos estabeleceu uma ponte entre a Coroa portuguesa e os setores dominantes da Coldnia, especialmente os que se séiela, Plas ocorreram apés 0 7 de setembro e a Constituinte comegou a se reu- concentravam no Rio de Janeiro, S40 Paulo e Minas Gerais, Os beneficios trazi- iil no Rio de Janeiro em maio de 1823, Logo surgiram desavengas entre a as- sembléiu ec Dom Pedro, apoiado a principio por seu ministro José Bonifacio, dos para a regido fluminense, com a presenga do rei no Brasil, vinham incenti- var a expansiio econdmica daquela area, ligada aos negdelon do agricnr, do café e do trifieo de eseravos, {iiwndo em torno do campo de atribuigdes do Poder Executive (no caso, o Im- jwtador) edo Legislative, 0 EEX isroria concisa Dt ‘A DO BRASIL © NWAMIL MONARQUIGO (1122-109) ea Senado, prevendo-se eleigoes ©) Poder Legislativo foi dividido em Camara e Cfmara era tem- rengas essenciais, A eleigao para 1, Além disso, o processo eleitoral, no Os constituintes queriam que 0 Imperador nao tivesse 0 poder de dissol a fatura Camara dos Deputados, forgando assim, quando julgasse necessil novas eleigdes. Queriam também que ele nao tivesse 0 poder de veto absoll ou seja, o direito de negar validade a qualquer lei aprovada pelo Legislativo Dom Peso : = es o apolar era necessario criar | fy ao Imperador escolher um dos trés nomes dleitos. Na pratica, essas res- ae > : cias “democraticas e desagregat » fiyeram com que o Senado fosse um 6rgao cujos membros foram no- ras”, justificando-se assim a concentracao de maiores atribuigoes nas mio Imperador. Os tempos eram de incerteza politica. Menos de um ano apés a1] dependéncia, em julho de 1823, José Bonifacio foi afastado do ministério. | ficara espremido entre a critica dos liberais ¢ as insatisfagdes dos conser res, Estes viam com maus olhos 0 comando pessoal do governo pelo mi que Ihes fechava o acesso direto ao trono. A disputa entre os poderes acabou resultando na dissolugao da Assent Constituinte por Dom Pedro, com apoio na tropa. Foram presos varios dep dos, entre eles os trés Andradas. Logo a seguir, cuidou-se de elaborar um P) to de Constituigao que resultou no texto promulgado a 25 de marco de 1824, Constituigao nao diferia muito da proposta dos constituintes anterior a disii lucdo da assembléia. Mas hé uma diferenga a ser ressaltada. A primeira Con} tuicdo brasileira nascia de cima para baixo, imposta pelo rei a0 “povo”, emba devamos entender por “povo” a minoria de brancos € mesticos que votava @| algum modo tinha participagao na vida politica. Um contingente ponderavel da populacao — os escravos — estava exclu dos dispositivos constitucionais. Deles nao se cogita a nao ser obliquament quando se fala dos libertos. Outro ponto a ser observado se refere a distal entre os princfpios ¢ a pratica. A Constituigdo representava um avanco a0 Or nizar os poderes, definir atribuigoes, garantir direitos individuais. O problen éque, sobretudo no campo dos direitos, sua aplicagao seria muito relativa, direitos se sobrepunha a realidade de um pais onde mesmo a massa da pop Gao livre dependia dos grandes proprietérios rurais, onde s6 um pequeno an stia uma tradigao autoritaria. gw duas casas, com difer fi, enquanto ado Senado era vitaliel ly Sendo, destinava-se a eleger uma lista triplice em cada provincia, ca- slow pelo Imperador em cardter vitalicio. ireto porque os votantes, corresponden- corpo eleitoral, nas eleicdes cha- Pelo principio do 1) yoto era indireto © censitario. Indi } massa dos eleitores, votavam em um 0 corpo eleitoral elegia os deputados. primarias os cidadaos brasileiros que tir 0 mil réis por bens de raiz, industria, co- ‘ou seja, je de primaria yensitdrio, votavam nas eleigoes yy renda anual de pelo menos 101 s. Eles clegiam 0 corpo eleitoral, {inyes, escolhendo pessoas que, para candidatar-se, além dos requisitos in- iy, deviam ter renda de 200 mil réis e nao serem libertos. Para ser deputa- J) congo subia a 400 mil réis e era necessirio professar a religido catélica, Hliluy ay outras exigéncias. Nao houve referéncia expressa as mulheres, mas gatyvam excluidas dos direitos pol . Curiosamen- (WH2 a praxe foi a de admitir 0 voto do gran ly ern vista o silencio da Constituigao a esse respeito. ) pais foi dividido em provincias cujo presidente seria nomeado pelo Im- «os direitos individuais, entre eles a igualdade perante s restrigdes ja apontadas, a liberdade de pen- iy Ou emprego. Eram os votantes Iiticos pelas normas sociais de nimero de analfabetos, joy, Asseguraran i libordade de religiao, com a wilo e de manifestagao. ‘Ain importante orgdo da estrutura politica era 0 Conselho de Estado, com- omeados pelo Imperador dentre cidadaos bra- anos (uma idade avangada para a época), ren- que fossem “pessoas de saber, capacidade e graves e me- slp conselheiros vitalicios m yy com Idade minima de 40 ji inferior a 800 mil réis & ule! © Conselho de Estado deveria ser ouvido nos “negécios orale da publica administragao”, como a declaragao de guerra, ajustes de HEAtO, Negociagdes em que © Imperador se propusesse exercer atribui¢oes Hive do Poder Moderador. po tinha instrugao & onde exis ‘A Constituigao de 1824 vigorou com algumas modificacées até o fim ¢ [mpério, Definiuo sistema politico como monérquico, hereditario, constituel nal, O Império teria uma nobreza, mas ndo uma aristocracia. Ou seja, existiia nobres por titulos concedidos pelo Imperador, porém os titulos ndo seriam I Ividoln da instituigao de um Poder Moderador provinha do escritor francés am lidos por Dom Pedro e por muitos poli jamin Constant, cujos livros er dia dpocn, Benjamin Constant defendia a separacao entre 0 Poder Executi- aos ministros do rei, € 0 poder pro moderador, O rei ndo interviria na politica € na reditérios, o que daria origem a uma “aristocracia de sanguie’s A religido catéli romana continuaya a ser a religido oficial, permitindorse apenas o culto part ypriamente im- piijan atribuigdes caberiam J, chamado de neutro ow cular de outras religides.

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