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DOENÇA DO REFLUXO
51 GASTROESOFÁGICO
Luiz Fernando Ferreira Pereira
Coordenador do ambulatório de Asma do H. das Clínicas da UFMG, do Centro de tosse – Otorrinocenter
e do Laboratório de Função Pulmonar do Hospital Biocor
Frederico Ozanam De Fuccio
Chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital das Clínicas da UFMG
Os sistemas digestório e o respiratório têm mui- e com boa casuística, persistem as controvérsias quanto
tas similaridades e encontram-se separados ao tipo de relação existente entre esses distúrbios. São
anatomicamente pela epiglote, pleura e diafragma. sugestivos da relação de causa e efeito:
Ambos tem a mesma origem embrionária, suprem o 1.a alta incidência de RGE, muito superior a da
organismo de substâncias essenciais à vida, são fun- população geral, em pacientes com distúrbios respi-
damentais para eliminação de produtos do metabolis- ratórios.5
mo, tem importante papel imunológico e servem de 2.o fato de muitos sintomas respiratórios serem
interface com o meio ambiente. explicados fisiopatogenicamente pela existência de
Normalmente estes sistemas permanecem estru- RGE;6
turalmente distintos e funcionando de forma integrada 3.a melhora parcial ou completa de algumas ma-
para manter a homeostase. Entretanto, durante as nifestações respiratórias após o tratamento da DRGE.
doenças, alterações fisiopatológicas de um sistema
podem refletir sobre o outro, como acontece, com a FISIOPATOGENIA
doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e algumas
manifestações respiratórias e otorrinolaringológicas. Indivíduos sadios tem períodos curtos de reflu-
A DRGE constitui as manifestações digestivas, xo fisiológico, assintomáticos, que não causam lesões
usualmente pirose e regurgitação, e extra-esofageanas, da mucosa esofágica, e que ocorrem principalmente
especialmente respiratórias e otorrinolaringológicas no período pós-prandial. No refluxo patológico, a
decorrentes do refluxo gastroesofágico (RGE),1 figura frequência e duração desses episódios é maior e o
1. refluxato causa esofagite, com ou sem sintomas.
A prevalência da DRGE e dos distúrbios respira- Em condições normais o gradiente de pressão
tórios é muito alta. Estima-se que a asma acometa 10% toraco-abdominal favorece ao refluxo de ácido do
da população e a que a tosse seja um dos principais estômago para o esôfago. Na DRGE em geral não há
motivos de consulta médica.2 Por outro lado, em inqu- hipersecreção de ácido e as lesões estão relacionadas
éritos epidemiológicos, o relato de pirose ocasional com o tempo de permanência do ácido no esôfago.
chega a 58%; mensal, 21 a 44%; semanal, 10 a 20% As principais barreiras anti-refluxo para evitar que o
e diária 4 a 7%. 3 refluxato ascenda e lese o esôfago são:7
Nas últimas décadas, avolumaram–se os estudos · junção esofagogástrica - esfíncter inferior do
associando a DRGE com manifestações bronco-pul- esôfago (EIE), ligamento frenoesofágico e crura
monares e otorrinolaringológicas.4 Entretanto, devido diafragmática,
à escassez de estudos controlados, bem desenhados, · clareamento esofágico - peristaltismo primá-
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Teste com inibidor pHmetria de 24 horas
de bomba de prótons*
Alterada Normal
Fracasso
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Tratamento de
manutenção Fracasso