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FOUCAULT
Simone Suelene Pereira*
simone_suelene@hotmail.com
*
Bacharel em Filosofia pela Faculdade Dehoniana – Taubaté SP
Professora de Filosofia pelo estado – regime ACT OFA PEBII
Rua Dr Jorge Winther, 586 – Centro
Taubaté – SP CEP: 12010-150
Fone 012 8111-7721
liberdade, transgressão e autonomia, ou seja, como o sujeito pode se
soltar dessas amarras sociais, impostas pelo poder invisível.
Pretendemos aqui, demonstrar como Foucault percebe o poder enquanto
esquadrinhamento social em que indica as formas de domesticação e
docilização dos corpos para que a visão de permissividade que hoje se
apresenta possa ser justificada.
Percebemos que esse movimento hoje, só se faz possível através da
transgressão dos meios sociais impostos. Uma transgressão consciente,
de um trabalho de autonomia do sujeito, autonomia essa que só pode
ser feita com uma liberdade construída, dentro de opções existenciais
conscientes.
O sujeito nesse caso se tornará autônomo e responsável direto por suas
opções, sendo para tanto necessário o conhecimento de saberes prévios
para que ele possa tomar “conta” de si mesmo, ou como diria Foucault,
numa proposta da ética da existência, governar a si mesmo.
A primeira questão levantada quando estudamos Foucault é a de como
ele chega aos seus pensamentos e de que forma ele argumenta seus
pressupostos.
Através do método genealógico, encontramos pistas de como esse
“descortinamento” do sujeito que é singular e detentor de suas próprias
especificidades pode melhor se fazer.
Deixemos claro que é muito difícil encontrar onde exatamente se
encontra recortado à questão do método genealógico foucaultiano. É
correto afirmar que nas obras de Michel Foucault suas idéias se
entrecruzam.
É através do método arqueológico que ele faz o movimento da
genealogia. Inspirada nas obras de Nietzsche e é através desses
métodos que iremos compreender qual o movimento que Foucault faz
em busca da verdade do sujeito e de todas as suas análises.
O método genealógico se encontra emaranhado nas próprias
construções do autor, seus livros e suas entrevistas são de base
genealógica, mas não existe, ao contrário do método arqueológico,
livros que tratem diretamente do assunto.
Sujeito e poder
As formas de poder1
1
O texto presente não apresenta referências de suas fontes, pois suas
informações foram um compilado de notas pessoais realizadas no III Colóquio
Franco – Brasileiro de Michel Foucault, bem como das leituras dos livros Vigiar
e Punir e a Microfísica do Poder.
Este tópico se compromete a demonstrar qual o olhar sobre o poder tem
Michel Foucault, traçando para isso uma distinção entre os tipos de
poder que ele denomina como três: o poder soberano até os fins do
século XVII; o poder disciplinar da época vitoriana que vai do fim do
século XVII até fins do século XIX, início do século XX, no qual começa a
aparecer a figura do Biopoder ou o poder Biopolítico.
O poder soberano corresponde à figura do tirano, dos imperadores que
determinam as ordens e as ações de seus súditos, sendo o suplício e a
tortura principalmente da exposição pública dos esquartejamentos que
determinam a manifestação desse tipo de poder.
O poder disciplinar, se instaura após a Revolução Industrial, onde a
figura do tirano como monarca passa a ser derrubada, mas não deixa de
ter o domínio do controle mas esse é feito através da dominação e
“domesticação” dos corpos. Esse poder se encontra instaurado no que
podemos denominar época vitoriana, época tal em que a modernidade
se adentra no ocidente, dando destaque ao homem enquanto produtor
de realidades.
O poder disciplinar, infiltrando-se na sociedade o poder manipulador e
adquirindo um caráter invisível, não sendo possível detectá-lo. Ele passa
a fazer parte dos mecanismos de dominação e de “consentimento” ou
seja, inicia-se o processo de poder através da relação, onde temos
necessariamente o dominado e o dominador, quase que um
consentimento “legal” ente as partes. Esse poder se emaranha nas
relações de tal forma que não é possível detectar seu início ou seu fim.
O poder disciplinar realiza a dominação dos corpos para transformá-los
em corpos dóceis, na qual a tortura e o aniquilamento em praça pública
passa a ser substituído pelo “controle e domesticação” através de como
os corpos são manipulados. Temos dentro disso a importância de uma
nova leitura da cadeia, do hospital e da escola.
O panótico construído e desenvolvido por Jeremy Bentham é o maior
modelo de “docilização” dos corpos, onde através de uma arquitetura na
qual é construído de forma circular, tendo na torre de vigia, o lugar mais
alto de maior controle, podendo vigiar a todos.
Como o espaço é circular, todos vigiam uns aos outros, de forma que
suas silhuetas marcam até mesmo seus movimentos. Dessa forma
encontramos o processo de vigilância e punição, os mesmos detectados
nos hospitais psiquiátricos, nas cadeias e também nas escolas.
A tortura e o suplício são substituídos pelo “silêncio” das marcas de
“domesticação”, passa a ser envolvido por uma “bolha” em que as
sutilezas das ordens postas nas fileiras onde sentam, marcam o espaço
onde habitam, bem como a maneira como andam sempre enfileirados
como que acorrentados uns aos outros, como em tempos de suplício,
indo para suas guilhotinas nomeadas e vistas de outras formas.
E temos no final do século XIX, início século XX, o poder Biopolítico,
denominado como “Biopoder”, no qual aliam-se todas as perspectivas do
poder panótica, bem como do poder disciplinar, mas onde o controle
deixa de ser individual para se tornar coletivo. Como o controle de
natalidade, da bioética como a eutanásia, distanásia, o controle social
econômico que se dá também através da mídia em que se desenvolve a
figura da dominação através das “tecnologias do Eu”.
Esse poder se instaura de forma sutil e progressiva, onde aqueles que
dominam não têm a consciência de dominar, como o caso dos
professores, dos agentes penitenciários, não tem consciência por não
refletirem o que estão fazendo ou por consentirem de alguma forma
com esses mecanismos de manipulação e o indivíduo que é dominado,
controlado por sua vez não tem o olhar de “dominado” e sim de
integrante de um sistema em que ele até pode opinar e interagir, mas o
faz sempre em resposta a esse poder dominador. É o poder normativo
que impõe normas e regras.
Foucault sugere que o período grego foi em que o homem foi mais livre,
em relações as amarras sociais, as manipulações invisíveis que para ele,
o cristianismo foi o marco significativo no ocidente em que se começam
a se engendrar e se esquadrinhar a sociedade.
Esquadrinhamento esse feito como num desenho, quadriculado, como
uma grande teia de aranha, em que uma coisa necessariamente teria
que estar amarrada a outra, como um tecido quadriculado, que para se
tornar um quadrado, depende do outro ponto da amarra.
A esse advento do cristianismo denominamos o que Foucault chama de
“subjetivação do sujeito”, em que o conceito de determinação de como
as coisas devem ser encaminhadas, no caso da moral, da ética, indicam
quais meios os homens terão que seguir para “conseguir” a salvação
eterna.
O nascimento de “sujeito” para Foucault, portanto se dá muito antes do
momento Freudiano, mas se dá quando o cristianismo impõe e
determina ao homem sua maneira de conduzir a vida e no caso o sujeito
se submete consentindo e buscando a salvação eterna. O sujeito então
se subordina ao poder pastoral que conduz a salvação.
A salvação e a expiação dos pecados em outra vida, denomina o início
do sujeito ocidental dominado e Foucault exemplifica através do
confessionário e da expiação dos pecados, em que o padre, o professor,
até o médico é um reprodutor dos mecanismos em que todos devem se
encaixar.
Resistência e liberdade
REFERÊNCIAS
2
Essa frase é de autoria de Eugenia Vilela, na comunicação Existência e
acontecimento, proferido no III Colóquio Franco – Brasileiro de Michel Foucault
em outubro de 2006.
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