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SERMÃO DO MONTE

Carlos Queiroz

Mateus 5:1-16

Toda tradição aponta Mateus como autor do livro que leva o seu próprio
nome, algumas características inclusive evidenciam este fato. A própria linguagem
e elaboração do livro indica que o próprio escreveu.
Mateus(Levi) era cobrador de impostos. Enquanto Lucas na oração do "Pai
nosso..." pede perdão pelos nossos pecados, Mateus pede pelas dívidas.
Encontraremos no livro de Mateus algumas experiências de credor incompassivo.
Ele está sempre falando de inadiplentes, dívidas..., essas características é de
alguém que viveu esta experiência de cobrança de impostos, que está a serviço
do Estado sem perdoar ninguém.
A probabilidade é que Mateus escreveu o S.M 30 anos depois do proferido,
há toda uma provável comunicação verbal entre ele e os discípulos e a própria
experiência que Mateus recebe como informação de Marcos, Pedro e outros,
construindo valores, princípios e paradigmas para a vida dos discípulos.
Mateus toma como base o livro de Marcos, este pontua os eventos,
enquanto Mateus aprofunda os acontecimentos. Podemos perceber isso na
maneira como é contada e explicitada a tentação de JESUS (fala das formas de
tentação).
O Sermão do Monte que deve Ter sido proferido no monte, tem como
"Espinha dorsal" o momento de ensinamento de Jesus no monte, mas não
podemos descartar a possibilidade de Ter outros ensinamentos inseridos de outras
ocasiões neste contexto, tentando organizar uma espécie de "Supra-sumo" de
tudo aquilo que deveríamos aprender de Jesus e que Ele espera de seus
discípulos. Qualquer outro fundamento está de alguma maneira respaldado pelo
S.M, e viver a vida Cristã seria estar dentro desses valores e princípios, dessa
dimensão integral que o S.M nos propicia, como caráter moral, espiritualidade,
irreverência da alma(que está sempre quebrando normas religiosas e normas do
corpo. O sentimento da alma vem e nos surpreende...).
O S.M envolve essas dimensões da alma. Espiritualidade, quebra toda uma
regra de matar a adúltera, apedrejar..., trabalha a dimensão mais profunda do
coração, mas de um certo modo a própria naturalidade de Jesus(aves do céu,
lírios do campo) como estilo de vida.

MONARQUIA × SIMPLICIDADE DE VIDA

Hoje no nosso contexto atual, algumas pessoas dizem: "eu sou filho do
Rei!" quando há este pensamento, provavelmente ele está olhando para a
monarquia do rei Salomão, e não para o Rei do jumentinho, da cruz, que nasceu
em uma manjedoura e foi coroado com uma coroa de espinhos.
Jesus nos adverte a olhar para as aves dos céus e lírios do campo e não
para o modelo monárquico de Salomão. Jesus toca nessa dimensão da vida que
tem a ver com a espiritualidade.

ESPIRITUALIDADE

"Bem aventurados os pobres de espírito..."

Aqueles que confiam na riqueza material, o seu alicerce é o capital(bem de


mercado).
Aqueles que confiam na riqueza espiritual tem o seu alicerce na
espiritualidade(fé na fé).
Jesus chama os discípulos para não confiarem na sua espiritualidade, mas
em Deus. Ele dar esmolas e não deve permitir que a mão esquerda veja o que a
mão direita está fazendo. Ele ora mais deve fazer isso de forma discreta.
A nossa relação com a espiritualidade no S.M é uma relação de quem está
sem vez e sem direito.
O sermão toca em várias áreas da vida, como a espiritualidade e nossa
relação com as pessoas.
O S.M não trata só da dimensão da alma, mas também as dimensões da
vida que estão conectadas umas as outras, e se estamos centrados na
vida(CRISTO), as outras coisas vão acontecendo naturalmente, e, uma de suas
premissas é que a vida está mais dentro do que fora da gente.

"Os olhos são a lâmpada do corpo, se os teus olhos forem bons, todo o teu
corpo será luminoso, se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará
em trevas, se a luz que há em ti forem trevas quão grandes trevas serão."
O mal que contamina não é o mal que está fora, e sim o mal que está
dentro da gente.
Paulo diz: Detestai o mal, apegai-vos ao bem, a ninguém torneis mal
por mal.
A vida que está bem centrada interiormente, consegue administrar as outras
dimensões externas. A palavra do outro não vai fazer tão mal a você, mesmo que
ela tenha uma pitada de maldade, por que o mal não chega ao seu coração
somente pela língua do outro, o mal vai penetrar na sua mente e coração pelo
ouvido. É necessário termos a capacidade de filtrar o que escutamos,
principalmente neste contexto de sociedade pós moderna que vivemos.

BEM MATERIAL × BEM ESPIRITUAL

O mercado teológico está invadindo a Igreja. A teologia da prosperidade é


um exemplo.
Antes a Igreja de uma certa forma proibia o TER(mesmo que por trás dessa
imagem houvesse um pretexto por não Ter recursos para comprar).
Hoje o mercado entrou na Igreja com teoria, e quando lemos o texto do
S.M: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e todas estas coisas vos
serão acrescentadas." Mt 6:33. A teologia da prosperidade distorce o versículo.
Jesus não está se referindo a todas as coisas que estão na nossa cabeça, mas
aos valores eternos que o S.M ensina para os discípulos buscarem em Deus.
Antes tínhamos uma teologia mais Franciscana, pentecostal, por mais
equivocada que fosse, tinha uma certa reação dessas comunidades que exigiam
um tipo de simplicidade, por conta de sua cosmovisão humana, mas hoje temos a
teologia da prosperidade.
O S.M nos leva a perceber a vida a partir de novos paradigmas, do Rei
JESUS que entra em Jerusalém no jumentinho.
Jesus tinha tanta consciência que era Deus que não criou nada em torno de
si para essa manifestação da glória de Deus que estava nele. Ele mostra em uma
outra perspectiva de vida o Rei que se mistura com a plebe, que vai junto do povo
e derrama o seu sangue para conquistá-los.
O sermão resgata a nossa vocação de ser gente.
"Bem aventurados os que choram..."
"Bem aventurados os misericordiosos..."
"Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça..."
"Bem aventurados os pacificadores..."
"Bem aventurados os mansos..."
Tudo indica que valentia não é coisa do humano, mas do desumano(frieza
e indiferença também), Jesus resgata a nossa mais sublime vocação, a de ser
gente. Antes de ser Missionário, Pastor ou qualquer outra coisa, fomos feitos a
imagem e semelhança de Deus (qualidades divinas). Quanto mais humanos nós
somos , mais parecidos com Deus ficamos. O pecado está na nossa
desumanidade e não na nossa humanidade. O ser humano é que dá a verdadeira
liberdade da vida.
Qual o ser livre?
É aquele que exerce a vocação de ser o que ele é.
O espaço da nossa sobrevivência é a nossa própria humanidade, é viver as
dimensões do amor, fora dessa realidade seremos um ser ofegante e iremos nos
debater até a morte.
Jesus no S.M resgata essa dimensão humana da sensibilidade.
Chorar não é derramar lágrimas, é muito mais que uma ação fisiológica.
Chorar é um estado de alma, uma atitude humana, um bem espiritual que Deus
nos concede.
Essa sensibilidade humana que está a serviço da vida, que se doa pela vida
, é capaz de aceitar a cruz em busca da vida, e isso não é estar escravizado, e
sim viver a própria liberdade de viver a vocação do seu chamado.
Jesus resgata na cruz toda a humanidade pela sua própria humanidade. É
o momento em que a violência tem espaço do outro em relação a Jesus , mas não
de Jesus em relação ao outro.
O S.M nos desafia a viver acima da mediocridade, a Graça e Misericórdia
de Deus nos ajuda a viver acima da mediocridade. Ele denuncia as nossa
limitações.
O S.M pode nos parecer um peso legalista, se o olharmos da perspectiva
do fariseu, mas se vermos com a percepção da redescoberta de nossa natureza
humana, viveremos os ensinamentos de Jesus de forma natural, de maneira que o
contrário disso é que causa peso.
que é mais fácil para Jesus, amar ou odiar?
Faz parte da natureza de Jesus amar, apoiar, se compadecer das
multidões. Não Ter compaixão era algo contra a natureza de Jesus.
Estamos muito aquém dessa realidade, no entanto, a nossa vulnerabilidade
fica exposta e nos encoraja a buscar socorro em DEUS.
Na concepção do Judeu no hebraico, da visão que ele tem da graça, é a
doação de um Deus soberano em favor de pequeninos que não podem dar nada
em troca. Não podemos dar nada a Deus, pois tudo pertence a Ele, o trono, a
coroa e até mesmo os fios dos nossos cabelos.
Davi diz: "Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim."
Ele não está falando em relação a pobre de poder, pois Davi era rei, mas na
questão da espiritualidade.
Um pobre de espírito é aquele que descobrindo que não tem
espiritualidade, não tem fé , não tem nada, socorre a Deus, dependendo
exclusivamente Dele(aprendeu a se despojar de tudo).
O S.M causa um sentimento de limitação e desgraça dentro de nós
mesmos.
O sermão nos orienta a não só nos arrependermos de atos , mas do que
somos, da nossa natureza pecaminosa.
O que existe dentro de nós?

LEI ×ESPÍRITO

A lei trabalha o ato moral, a dimensão externa. Jesus trabalha a dimensão


externa. Jesus trabalha antes do pecado, o momento da nudez( a roupa que vem
depois que você estava nu). O resgate é buscar o DNA da nossa criação, viver a
natureza da vida com a dimensão mais sagrada e profunda que possue.
O S.M enfatiza a qualidade de vida. Não fica esperando uma coroa por que
a vida já é uma coroa.

REINO DE DEUS × SOBERANIA DO REI

No S.M não tem coroa nem recompensa. Somos felizes pela qualidade de
vida. Bem aventurados os mansos , os que choram, isto já é uma bem
aventurança. Os que choram são felizes por terem sensibilidade.
Por outro lado se a recompensa for espada, cadeia, o discípulo não está
nem aí. Por que o discípulo não se relaciona com Deus pela troca, mas é uma
relação de amizade fraterna, de Pai para filho, irmão para irmão, amigo para
amigo.
Até a idéia de soberania de Jesus nas Escrituras precisa ser repensada.
Quando a gente pensa hoje na soberania, associamos a aquele que está por
cima, que pisa.
A soberania de Deus é aquela que resgata a vida, alimenta nossa
existência humana e nos ajuda a viver.
(Jesus lava os pés dos discípulos).
Qual o caráter de Jesus?
No contexto onde a criança não é nem contada, Jesus as coloca como
referencial. O paradigma do Reino é uma criança.
Quando Jesus diz que o Reino dele não é deste mundo, ele não só está
dizendo que é transcendente, mas que ele não usa as artimanhas e modelos do
reino do mundo.

STATUS × DISCÍPULO

Temos que estar prontos a quebrar paradigmas, valores. Não precisamos


fazer publicidade. Não precisamos tornar o fato espetacular para provar que Deus
é Deus.(Quando Jesus cura a filha de Jairo ele pede para não contar o acontecido
a ninguém). É necessário percebermos a dimensão da fé que transcende a lógica,
a razão, e nos firmarmos na cruz de Cristo.
Precisamos fazer uma releitura da Bíblia hoje!
Como fazer a leitura desse mesmo texto dentro do nosso contexto?

IPL 2000

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