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Saiba como o PRM (Partner Relationship Management) pode transformar um simples
usuário final de seu produto em um vendedor de sua empresa
O encanador, também conhecido como bombeiro em várias partes do país, tem para a Tigre –
maior empresa brasileira de tubos e conexões hidráulicas – a mesma importância que o
medico tem para os laboratórios farmacêuticos. Na maioria das obras, é ele quem “prescreve”
os materiais necessários para um conserto ou para a execução de um projeto. Encanador, para
a Tigre, significa vendas, e os executivos da empresa decidiram ir atrás delas criando um
programa de formação específico para os profissionais da área. A saída para alcançar esse
público, tão numeroso quanto disperso, foi encontrada na tecnologia. As aulas chegam pela
tela do computador em 117 lojas que revendem os produtos da Tigre. A transmissão é feita
por meio de uma rede privada via satélite. As perguntas dos alunos, espalhados por vários
estados do país, trafegam pela internet até o computador do professor, que dá as aulas em um
estúdio localizado em São Paulo. Tudo em tempo real, ou quase.
Sua empresa pode não ter nada a ver com tubos, conexões, ou construção civil, mas vale a
pena prestar atenção na lição da Tigre. Toda a parafernália montada em suas revendas tem um
objetivo bastante simples: aumentar o faturamento. A empresa – com vendas de 1 bilhão de
reais – está colocando em prática uma das novas tendências da gestão e da tecnologia da
informação: o PRM, sigla de partner relationship management. Ou, em português, gestão do
relacionamento com parceiros.
Na prática, significa que a empresa que pratica o PRM apóia e gerencia seus canais de venda.
Significa – ou pelo menos deveria significar – que essa empresa tem consciência de que,
quanto mais conhecer e instruir esses revendedores a respeito de sua organização e de seu
setor, mais eles se lembrarão de sua marca. Mais falarão sobre ela aos seus clientes. E,
conseqüentemente, mais venderão seus produtos.
“Não basta apenas colocar meu produto na loja. É preciso levar o consumidor até ela e fazê‐lo
comprar”, afirma o goiano Élio Martins, presidente da Eternit, uma das maiores fabricantes de
telhas e caixas‐dágua do país. A empresa criou um recurso que ajuda arquitetos e engenheiros
a projetar todo tipo de telhado. O profissional informa ao programa as características da
construção, e o software, batizado Etercalc, calcula a quantidade necessária de telhas e o
material de fixação da cobertura. O site oferece outro recurso, o Orçar, que realiza orçamentos
on line nas 108 revendas dos produtos Eternit. “Quanto mais vendas gerarmos para as lojas,
mais nós mesmos venderemos”, diz Martins. Cerca de 1100 arquitetos e engenheiros utilizam
os serviços virtuais da Eternit mensalmente.
O conceito de PRM é velho, embora seja pouco praticado. Novos são os recursos que
permitem que ele seja colocado em prática. Tome o caso do curso patrocinado pela Tigre.
Entre uma explicação e outra de técnicas hidráulicas, o professor demonstra os produtos da
empresa aos instaladores, ensinando‐os como instala‐los corretamente.
A estratégia é pura lógica. A Tigre estabeleceu um canal de comunicação com as fontes que
possuem o maior grau de influência sobre seu consumidor final. Desde maio do ano passado,
300 pessoas receberam o certificado do curso virtual de formação de instalações hidráulicas,
que tem 11 horas de duração. Outros 4 mil encanadores estão fazendo o curso atualmente. A
meta da Tigre é instalar estações de capacitação em 600 revendas e treinar anualmente 40 mil
profissionais, convidando‐os sempre que houver novos módulos de cursos. “Sem a tecnologia,
seria completamente inviável capacitarmos esse número de funcionários com cursos dessa
carga horária”, afirma Mauro Landi, diretor de marketing da Tigre. Em 2000, a empresa treinou
15 mil profissionais pelo método convencional. Só foi possível ministrar treinamentos únicos
com cerca de uma hora e meia de duração.
A tecnologia tornou a estratégia viável do ponto de vista financeiro. Segundo Landi, o
treinamento convencional custa, em media, 24 reais por aluno, enquanto o treinamento on
line sai por 2 reais. “O mais importante, porém, é que com os cursos on line podemos manter
contato contínuo com o mesmo profissional”. O programa também tem cursos dirigidos a
balconistas de lojas de material de construção. ”A grande sacada da Tigre foi perceber que o
balconista pode ser tão ou mais importante na cadeia de valor que suas ações de marketing”,
afirma Sergio Lozinsky, sócio da PWC Consulting.
A noção de fazer parte de um organismo vivo, que depende do funcionamento de todos os
órgãos para continuar em atividade, é chave para a implantação dos sistemas de PRM. “O PRM
se torna fundamental quando a empresa começa a direcionar seus esforços para os
consumidores e percebe que não está sozinha”, afirma Helio Avelino Silva, gerente de sistemas
de vendas e pós‐vendas da GM. “Nesse momento ela descobre que tem de se alinhar com
todos os parceiros que estiverem no caminho até o cliente final”.
De 1999 para cá, a montadora investiu 7,5 milhões de dólares para construir o GM Connect,
uma poderosa rede privada que conecta a montadora à sua rede de concessionárias. Outros
2,5 milhões de dólares foram bancados pela Associação Brasileira de Concessionárias
Chevrolet (Abrac), em um exemplo prático de que o PRM é um dos sustentáculos do comércio
colaborativo.
Entre as várias aplicações que a GM Connect vai rodar, está a transmissão de treinamentos
para funcionários das concessionárias. Durante todo o mês de maio, por exemplo, empregados
de 402 das 436 concessionárias Chevrolet receberam treinamento virtual sobre procedimentos
em carroceria, sistemas mecânicos e eletromecânicos do novo modelo do Corsa. Os cursos,
com cerca de 40 minutos cada, são uma espécie de sessão de cinema transmitida pela rede.
Pelo procedimento convencional, a montadora teria de disponibilizar equipes moveis para
comparecer às revendas ou convocar treinamentos em hotéis.
Uma das finalidades do PRM é a transferência de know‐how entre fabricante e revendedores.
Quando a Tigre se dispõe a treinar encanadores e balconistas, também aproveita para
aprender com esses profissionais. São eles que estão literalmente com as mãos no mercado e
sabem de suas insatisfações. De posse das informações coletadas durante os cursos, a Tigre
aproveita o contato para convidar os encanadores a avaliar seus novos produtos. Com a base
de dados que está sendo formada, a empresa pretende levantar informações que só obteria
mediante pesquisas de mercado. Informações que, além de custar fortunas, dificilmente
chegariam tão acuradas e tão rapidamente à organização. No final das contas, essas empresas
estão se aproximando cada vez mais d e seu consumidor final sem azedas a relação com seu
canal de distribuição. Ao contrario, estão gerando mais negócios para ele.
Os exemplos da Tigre, da Eternit e da GM mostram que finalmente as tecnologias de rede
estão mostrando a que vieram. A internet entra na história abrindo o canal mais barato e
simples de manter um relacionamento regular, em qualquer lugar e a qualquer momento. Ela
se agiganta quando é utilizada a partir de regras de negócios inteligentes e conectadas a
programas de computador que cruzam e sintetizam informações com base nessas regras. Todo
o aparato tecnológico montado durante as aulas nas revendas Itigre, por exemplo, passa
despercebido pela maioria dos alunos.
O baiano Juscelino Silva dos Santos, de 35 anos, que faz o curso em uma revenda de São Paulo,
não se inibe durante a aula. Santos, que só estudou até a 2ª série do ensino fundamental, diz
que já aprendeu várias técnicas que ignorava anteriormente. Descobriu, por exemplo, como
evitar que o mau cheiro de esgoto não reflua para o interior do banheiro (conteúdo também
aprendido pela reportagem de Exame durante uma aula). “Às vezes não enxergamos o óbvio”,
diz Landi, da Tigre. “Imaginávamos que esse profissionais não quisessem nem chegar perto do
computador, mas descobrimos que tudo o que eles querem é mexer no diacho do mouse”.
Outra obviedade que teimamos em esquecer: as empresas são formadas por pessoas.
“Estamos lidando com um profissional que é, antes de tudo, um ser humano, que
instintivamente tende a apoiar quem o apóia”, diz Landi.