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John Wesley
'Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja
de Deus, e não de nós'. (II Corintios 4:7)
1. Por quanto tempo, o homem foi um mero enigma a si mesmo? Por quantas
eras, os mais sábios dos homens foram extremamente incapazes de revelarem os
mistérios; de reconciliarem as estranhas inconsistências, neles, -- a espantosa mistura
de bem e mal; de grandeza e pequeneza; de nobreza e baixeza? Quanto mais
profundamente eles consideraram estas coisas, mais elas ficaram emaranhadas.
Quanto mais dores eles tiveram, com o objetivo de aclarar o assunto, mais eles foram
confundidos, em vão, com conjeturas duvidosas.
2. Mas o que toda a sabedoria do homem foi incapaz de fazer, foi feito, no seu
devido tempo, pela sabedoria de Deus. Quando agradou a Deus dar um relato da
origem das coisas, e do homem em particular, toda a escuridão desapareceu, e a luz
clara brilhou. 'Deus disse, Façamos o homem a nossa imagem'. E foi feito. À imagem
de Deus, o homem foi feito. Por isso, nós fomos habilitados a dar um relato claro e
satisfatório da grandeza, excelência, e dignidade do homem. Mas 'o homem, estando
em honra', não continuou nela, e rebelou-se contra a soberania do Senhor. Por meio
disto, ele perdeu totalmente, não apenas o favor, mas igualmente a imagem de Deus. E
'em Adão todos morreram'. Porque, caído, 'Adão originou o filho de sua própria
semelhança'. E, desde então, somos ensinados a dar um relato claro, inteligível da
pequenez e vileza do homem. Ele mergulhou, abaixo, até mesmo, das bestas que
perecem. A natureza humana agora não é apenas sensual, mas diabólica. Existe em
cada homem nascido no mundo (o que não existe em alguma parte da criação bruta;
nenhuma besta que tenha caído tão baixo), uma 'mente carnal, que é inimiga'; inimiga
direta, 'contra Deus'.
Com o objetivo de termos uma clara concepção disto, nós podemos inquirir:
II. Em Segundo Lugar, considerarmos como ‘nós temos este tesouro em vasos
de barro’.
I
1. Em Primeiro Lugar, vamos inquirir: Qual é este tesouro que os crentes
cristãos têm? -- Eu digo, os crentes; porque é destes que o Apóstolo diretamente está
aqui falando. Parte disto, eles têm, em comum com outros homens, no que resta da
imagem de Deus.
Será que nós podemos incluir aqui um princípio imaterial, uma natureza
espiritual, dotada de entendimento, e afeições, e um grau de liberdade; de
automovimento; sim, e poder autônomo? (Do contrário seríamos meras máquinas,
mercadorias e pedras)?
3. Mas não são destes, dos quais o Apóstolo está aqui falando; nem este é o
tesouro, objeto de seu discurso. As pessoas, concernentes as quais ele está aqui
falando, são aquelas que são nascidas de Deus; aquelas que, ‘sendo justificadas pela
fé’, têm agora redenção no sangue de Jesus; até mesmo, o perdão dos pecados;
aquelas que desfrutam daquela paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento; cujas
almas magnificam o Senhor, e se regozijam nele, com alegria inexprimível; e que
sentem o ‘amor de Deus espalhado por todo seus corações, através do Espírito
Santo, que foi dado a eles’. Este, então, é o tesouro que eles têm recebido; -- a fé da
intervenção de Deus; a paz que os coloca acima do medo da morte, e os capacita em
todas as coisas a estarem satisfeitos; uma esperança completa da imortalidade, por
meio da qual eles já ‘testaram dos poderes do mundo a vir’; o amor de Deus
espalhado em seus corações com amor a todo filho do homem, e uma renovação na
imagem total de Deus, em toda retidão e santidade verdadeira. Este é propriamente e
diretamente o tesouro concernente a que o Apóstolo está aqui falando.
II
1. Mas isto, inestimável como ele é, nós temos guardado em vasos de barro’.
A palavra é espantosamente apropriada, denotando tanto a fragilidade dos vasos,
quanto a insignificância do material de que eles são feitos. Ela diretamente significa o
que denominamos produtos de cerâmica; porcelana chinesa, e assim por diante. Quão
fracas; quão facilmente são quebradas em pedaços! Exatamente assim, é o caso com
os cristãos santos. Nós temos o tesouro divino, em corpos terrenos, mortais,
corruptíveis. ‘Tu és pó’, disse o justo Juiz, às suas criaturas rebeladas; até, então,
incorruptíveis e imortais, ‘e ao pó retornarás’. Quão elegantemente (mas com que
mistura de luz e trevas), o poeta pagão toca sobre essa mudança! "Depois do homem
ter furtado o fogo etéreo dos céus", (que símbolo do conhecimento proibido!), --
aquele exército desconhecido de destruição - febres, doenças, dores de toda espécie,
fixou seu acampamento, junto a terra, o que, até então, eles nem poderia ter entrado,
mais do que poderiam ter ascendido aos céus; e tudo visou introduzir e pavimentar o
caminho para o último inimigo, a morte.
Mesmo um músico, sempre tão habilidoso, irá compor uma música pobre, se
seus instrumentos estiverem fora do tom. De um cérebro desgovernado (tal como é,
mais ou menos, aquele de todo filho do homem), necessariamente surgirá
compreensões confusas, mostrando a si mesmas em milhares de instâncias;
julgamento falso, o resultado natural delas, e inferências errôneas; e, destas,
inumeráveis equívocos se seguirão, a despeito de toda a precaução que possamos ter.
Mas erros no julgamento irão freqüentemente dar oportunidade a erros na prática; eles
irão naturalmente fazer com que nosso falar seja errado, em algumas instâncias, e o
agir esteja errado em outras; mais ainda, eles podem, não apenas gerar palavras ou
ações erradas, mas temperamentos errados, também. Se eu julgar que um homem é
melhor do que ele realmente é; em conseqüência, eu realmente o amarei mais do que
ele merece. Se eu julgo que um outro seja pior do que ele realmente é; eu devo, em
conseqüência, amá-lo menos do que ele merece. Agora, ambos são temperamentos
errôneos. Ainda assim, possivelmente, pode não estar em meu poder evitar tanto um
quanto o outro.
3. Alguma coisa desta grande verdade, a de que 'o corpo corruptível pressiona
a alma para baixo', -- é fortemente expressada nestas linhas celebres do poeta antigo.
Falando da alma dos homens ele diz:
Estas sementes do fogo celestial,
Com força inata, elevar-se-ão à sua fonte,
Não fossem seus membros terrenos obstruírem seu vôo,
E reprimirem seu planar sobre os prados de luz.
4. Mas, supondo que agradou ao Todo-sábio Criador, por causa dos pecados do
homem, permitir que suas almas, em geral, sejam afligidas, desta maneira miserável,
através de seu corpo corruptível; por que ele permite que o excelente tesouro que ele
confiou aos seus filhos, ainda esteja habitando nestes pobres vasos de barro? Esta
pergunta não iria naturalmente ocorrer em alguma mente refletora? Talvez pudesse; e,
por conseguinte, o Apóstolo imediatamente nos supre com uma resposta completa:
Deus tem feito isto, para que 'a excelência do poder possa ser de Deus e não nosso';
para que fique, indiscutivelmente claro, a quem este poder excelente pertence; para
que nenhuma carne tenha glória aos seus olhos; mas para que todo aquele que receba
este tesouro possa continuamente clamar: 'Não junto a nós, mas junto a Ti, Ó Senhor,
seja o louvor, por Teu nome e pela Tua verdade'.
6. Mais ainda: se nós sofrermos, por meio disto, por causa da habitação torpe
do espírito imortal; se, por outro lado, a dor, doença, e numerosas outras aflições
além, para as quais não deveríamos estar sujeitos, nos assaltam de todos os lados, e,
por fim, nos arrastam ao pó da morte; nós somos perdedores, por meio disto?
Perdedores? Não. 'Em todas essas coisas, nós somos mais do que vencedores, através
Dele que nos amou'. Venham, então, doença, fraqueza dores, -- aflições, na linguagem
dos homens. Nós não devemos ser os beneficiários eternos, através delas?
Beneficiários para sempre e sempre! Vendo que 'essa aflições leves, que são, apenas
por um momento, forjam em nós o peso da glória muito mais excelente e eterna.
Então, embora
Tenhamos os tesouros divinos,
Em uma vil casa de argila
Ainda assim, Ele deverá poupá-la ao extremo,
E mantê-la para aquele dia.
[Editado por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]