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Os problemas da filosofia
Desidério Murcho
Mas a ética ocupa-se de outras questões menos óbvias. Por exemplo, o que quer dizer "Matar
inocentes é um mal" ou "Não devemos matar inocentes"? O que quer realmente dizer a palavra
"dever"? Este tipo de problema é enfrentado pelo que se chama "metaética". A metaética
ocupa-se da questão de saber qual é a natureza do juízo ético. É a área mais geral e
conceptual da ética. Há várias teorias que tentam responder a este problema, algumas delas
tecnicamente bastante complexas e precisas.
Outra disciplina filosófica é a metafísica, que se ocupa de outro tipo de problemas. Que tipo
de coisas existem no mundo? Admitindo que existem árvores e mesas e pessoas, será que os
números também existem? E as cores? E os conceitos, como a justiça? Quantos tipos de
existência há, se há mais do que um? E quais são as categorias mais gerais da realidade? Como
poderemos pensar a identidade? Se ao longo de 10 anos formos substituindo as tábuas todas
de um bote de madeira, o bote de hoje será ainda o mesmo do que o bote de há 10 anos? Mas
se não é o mesmo, para onde foi o bote de há 10 anos e quando deixou ele de existir?
É claro que há muitos, muitos mais problemas da filosofia. Os problemas da filosofia têm esta
característica em geral: não se podem resolver recorrendo aos métodos estabelecidos das
ciências e implicam um uso forte da argumentação. Os problemas da filosofia interpelam-nos
e exigem-nos argumentos. É claro que eu acho que o mundo exterior existe
independentemente de mim; mas como posso eu justificar esta opinião? A filosofia é um
pedido sistemático de justificações e essas justificações são argumentos - argumentos de
carácter conceptual e não argumentos de carácter empírico.