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CONSIDERAÇÕES

CONSIDERAÇÕES INICIAS DA
ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
PSIQUIATRIA, QUANTO AO
ESTADO ATUAL DA IMPLANTAÇÃO
IMPLANTAÇÃO DA
REFORMA DO MODELO DE
ASSISTÊNCIA EM SAÚDE
SAÚDE MENTAL
Seminário sobre a Reforma do Modelo de Assistência em Saúde Mental - CREMESP, 1º e 2 de Set. 2006
Grupo de Estudos de Avaliação da Reforma
da Saúde Mental no Brasil

 Criado por determinação da Assembléia de


Delegados da ABP (instância máxima dentro
da associação) em Out/05.
 As pessoas que compõem este grupo, além do
nosso presidente, Dr. Josimar França, são:
Aglaé Amaral Sousa, Antonio Geraldo da Silva,
Carlos Eduardo Zacharias, Emmanuel Fortes
Cavalcanti, Géder Grohs, João Alberto
Carvalho, Juberty Antonio de Souza, Salomão
Rodrigues Filho, Sergio Baxter Andreoli, Sérgio
Tamai, Tácito Medeiros, Wanderly Campus.
A ABP reconhece que o MS:

 logrou importantes avanços no


redirecionamento da assistência dos
serviços de saúde mental do modelo
hospitala para a assistência junto da
comunidade;

 também, logrou avanços na facilitação ao


acesso a saúde.
 Entretanto, a ABP entende que a reforma do
modelo deve compreender um conjunto de
medidas médicas e sociais, mas que estas, nos
últimos anos, perdem seu rumo;
 Ainda, que a discussão sobre este assunto
ficou extremamente empobrecida
 por centrar-se somente na questão
polarizada do fechamento dos leitos
psiquiátricos no país e
 por algumas atitudes ilegais, anti-
democráticas e anti-éticas, como será
documentado na continuação.
História recente da Reforma (breve resumo)

 Nos anos 70 e 80: reforma do sistema de


saúde  SUS, influenciando os paradigmas de
assistência em diversas especialidades
médicas.
 Inúmeros psiquiatras, entre eles ex-
presidentes da ABP (p.ex. ) somaram-se aos
que reivindicavam por um modelo de
assistência a saúde mental mais humano, não
“hospitalocêntrico”, universal e hierarquizado.
 1989: “projeto de lei Paulo Delgado”(PL.PD).
 “regulamentação da internação psiquiátrica
compulsória”;
 “a extinção progressiva dos manicômios e sua
substituição por outros recursos assistenciais”,
onde ficaria “proibida, em todo o território
nacional, a construção de novos hospitais
psiquiátricos públicos e a contratação ou
financiamento, pelo setor governamental, de
novos leitos em hospital psiquiátrico"
 Novamente, diversos psiquiatras brasileiros se
manifestaram, apontando os problemas do
PL.PD. Surgem os substitutivos Sebastião
Rocha e Portela;

 Sendo o PL.Paulo Delgado rejeitado na Câmara


 23 votos contrários x 4 a favor

 2001: é sancionada a Lei 10.216


 “dispõem sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de
transtornos psíquicos”
 “redireciona o modelo assistencial
em saúde mental”, “para a
intervenção menos restritiva
possível, junto a comunidade
 faculta a internação em instituições
que não tenham características
asilares”
A implementação da Reforma no Brasil

 Insistimos que a lei que regulamenta a

reforma no Brasil, é a Lei 10.216


 Todavia parece-nos que, em alguns momentos
de sua implementação, esta foi deturpada em
sua essência por atitudes, documentos,
relatórios e inclusive por portarias contrárias a
Lei (cuja legalidade deverá ser questionada).
Exemplos:
Na Lei 10.216 ...

 Não existe o termo ‘MANICÔMIO’

 Não existe o termo ‘reforma PSIQUIÁTRICA’

 Existe sim ‘reforma do MODELO de

Assistência em Saúde Mental’.

Entretanto...
referência

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Relatorio15%20anos%20Caracas.pdf
 Também que não existe Lei Paulo Delgado
 Como já vimos, o projeto de lei do referido
deputado não foi aprovado e é bastante
distinto da Lei 10.216
 Exemplo, no mesmo documento

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Relatorio15%20anos%20Caracas.pdf
 Qual intuito da utilização de termos que não
aparecem na Lei 10.216 e sim no rejeitado PL?
 Questionamos se estes termos não
terminam por denegrir a imagem da
especialidade ?
 Qual intuito de manter viva uma idéia de um
PL de 1989, rejeitada pela sociedade há
mais de 5 anos?

Exemplos:
 Entendemos que os relatórios do MS deveriam
utilizar uma linguagem mais apropriada e se
aterem a evidências e dados epidemiológicos
( como veremos em documento da OMS, “a inspiradora” Itália tem
hoje o dobro de leitos que o Brasil ! )
 A ABP acredita que a redução de leitos deveria
ser conseqüência de uma rede operante, feita
de forma cuidadosa e responsável, para que
não ocorresse a desassitência que hoje temos.

Lei 10.216

(relatório do MS de Nov/2005)
 1989 =
 120mil
leitos p/
145mi.hab
 Hoje =
 40mil
leitos p/
183mi.hab
 aprox 74%
leitos a
menos
 No mesmo
período =
+100 leitos
em HG/HUs
 A realidade de quem está na ponta de
atendimento aos pacientes não confere com a
idéia que se consiga “funcionar bem” assim:
 As emergências costumam estar super lotadas
 As taxas de ocupação dos leitos psiq. são
superiores a 100%
 temos a METADE dos leitos
 que uma vez foi preconizado pelo próprio MS
 e que a “inspiradora” Itália
Nº de leitos por 1.000 habitantes
Número de Leitos Psiquiátricos por Mil habitantes

0,8 0,77

0,7

0,6
0,6 0,58
0,54

0,5
0,46 0,45

0,39
0,4

0,3
0,25

0,2

0,1

0
EUA Argentina Reino Unido Uruguai Itália preconizado Austrália Brasil (média
pelo MS p/ o existente)
Brasil
Dados da OMS, Projeto Atlas
Dificuldades de diálogo: Dogma x Ciência

 (...) o gesto de Pinel ao liberar os loucos das


correntes (...) funda a ciência que os classifica
e acorrenta como objeto de
saberes/discursos/práticas atualizados na
instituição da doença mental”. (Paulo
Amarante).
 As instituições da Era Moderna passaram a
predominar o “olhar” médico científico,
transformando a loucura em “doença mental”,
passível assim, de um tratamento.
Conseqüências na prática diária:
 É propagandeada, mil vezes, uma lógica
perversa e sofismada, que relaciona
 número de leitos com modelo hospitalocentrico;
 á má qualidade de assistência de um psiquiatra
ou instituição com toda a prática psiquiátrica;

 “esquece-se” que os modelos de saúde mental


foram programas de governos e não de
psiquiatras isolados!
Resumindo e Concluindo

 Assim como o MS,


somos inteiramente contrários ao
modelo hospitalocêntrico;
 Reconhecemos os avanços do MS no
sentido do redirecionamento da
assistencial em saúde mental para a
comunidade.
 Somos plenamente a favor da
reforma preconizada na Lei 10.216
 Todavia, diversas evidências
apresentadas levam a crer que parte
de sua implementação:
 fere o espírito da Lei
 produz dano a população
 produz dano a Psiquiatria, a Medicina
e as suas instituições.
 Enfatizamos a necessidade de programas
de atenção em Saúde Mental
 em todos os níveis,
 integrados e
 centrados nas necessidades dos
pacientes e não nos
aparelhos/instrumentos de assistência;
 Com critérios de avaliação constante, da
relação custo X benefício, para todos
eles.
 Somos completamente a favor da fiscalização
da má prática (novamente, em todos os
níveis) e da punição dos responsáveis quando
isto ocorrer.
 Entendemos que diferentes campos do
conhecimento se complementam na atenção à
saúde mental, mas
 a parcela médica desta (orientação, fiscalização
e punição) cabe aos CRMs e ao CFM (não a
instituições oportunistas ou organizações de
ocasião)
 Lembramos que, acima dos Conselhos, já existe
a Justiça.
 Parece-nos que, a prevalência de dogmas
sobre as evidências científicas representam um
gravíssimo retrocesso na história da
humanidade e parecem ser apenas a ponta
visível de um iceberg de interesses não
declarados p.ex:
 interesses Político-partidário
 interesses Ideológicos
 interesses Carreiristas
 interesses Corporativistas
 interesses Econômicos
 Em resumo, parecem ter motivações outras
que não o interesse público (da coletividade)
 Entendemos que precisamos aproveitar os
erros e acertos dos outros países que
passaram pela Reforma (há 20 anos ou mais,
p.ex.: Canadá, Inglaterra, Austrália)
 Estamos tendo um agravamento do fenômeno da
porta-giratória (por não ter uma estrutura, nem
intra nem extra-muros, capaz de absorver nossos
pacientes);
 A população de doentes mentais aumenta entre os
sem tetos e presos;
 Estamos contribuindo para um mecanismo perverso
conhecido nos países que já passaram por reformas
semelhantes: o não muito elegante termo, mas
bastante esclarecedor - a “privatização da loucura”.
 Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Autrália, etc
já revira seus rumos, enquando a reforma no
Brasil ainda começava!
 Entendemos que, anteriormente, 90% dos recursos
em SM eram destinados aos hospitais psiquiátricos e
que agora seja aprox.te 56%
 Assim, em se fechando 80mil leitos, onde foi parar
o dinheiro “economizado”? Ou, mais
especificamente:
 Quanto foi gasto p/ a criação de menos de 1/3
dos CAPS necessários (segundo dados do MS)?
 Quanto a ONG “Franco Basaglia” já recebeu do
Governo, para auxiliar na implementação de um
sistema já falido inclusive em seu país?
 Quem são os profissionais indicados pelo MS
para “treinar” as equipes de SM que irão atender
nos CAPS?
 Que significa o seguinte gráfico?

O
DATASUS - MS
percentual
do
orçamento
do SUS,
destinado
a SM, cai
e +/-5,8%
para 2,3%
 Onde foi parar este dinheiro?
A ABP está aberta ao diálogo verdadeiro,
ou seja:

 que se paute na Lei 10.216


 que tenha como real objetivo a melhoria do
atendimento PÚBLICO aos pacientes e suas
famílias, em todos os níveis de assistência.
 que seja ÉTICO e siga os princípios do SUS
 que defina o perfil de competências entre os
membros da equipe de saúde mental;
 que não busque na psiquiatria o ‘bode expiatório’
para a falta de uma política eficaz de saúde;
 em que possa ser realmente ouvida e em que não
se ultrapasse a soberania dos CRMs e do CFM
 Dentro de breve, a ABP entregará ao MS
sugestões mais detalhadas para a Assistência
em Saúde Mental
”Diretrizes para um Modelo de Assistência
Integral em Saúde Mental, no Brasil”.

FIM

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