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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E EPISTEMOLÓGICOS- ANÁLISE DO

COMPORTAMENTO

Ao nos propormos a falar das bases filosóficas da abordagem


comportamental, se faz necessário que retomemos um pouco da história da
psicologia, remontando os tempos de sua inserção como ciência. Para tanto
abordaremos sobre o período denominado filosófico ou pré-científico, no qual serão
apontadas as idéias primordiais concedidas em tal período, extensivo à Idade Antiga
e Média, despontando na Moderna até a Psicologia Científica. Passado este
momento, a ênfase recairá em torno no período científico, com a fundação do
primeiro laboratório de psicologia em Leipzig, na Alemanha, fundado em 1879 por
Wundt; culminando com as tendências ou escolas que surgiram neste período
(iniciando por volta do séc. XX): Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo,
Gestalt e Psicanálise.
Após estas primeiras considerações seguir-se-á um entendimento quanto às
raízes do Behaviorismo. Considerando neste tópico os precursores bem como as
influências tais como da Psicologia animal, despontada com os estudos
experimentais de Edward Lee Thondike (1874–1949) e Ivan Petrovitch Pavlov (1849–
1936). Essas influências constituem um tópico introdutório ao Behaviorismo Clássico,
isto é, os pilares básicos do comportamentalismo defendido por John B. Watson
(1878–1958), e também deram ênfase ao Behaviorismo Radical, de Burrhus
Frederick Skinner (1904-1990), expoente máximo de defesa de uma Análise do
Comportamento com princípios teórico-técnicos, visando uma Psicologia científica e
objetiva, pautada em um objeto de estudo observável e verificável.
Esta construção de um arsenal teórico proporcionará um esclarecimento a
respeito da Terapia Analítico-Comportamental, e sua aplicabilidade desde o marco no
início da década de XX, da famosa experiência de Watson e Rayner com o pequeno
Albert à contemporaneidade.
Fundamentação Epistemológica da Psicologia
Para entender o Behaviorismo, cabe primeiramente resgatar as raízes da
ciência psicológica.
A fase filosófica ou pré-científica, que vai do século VI a.C. até 1879,
representa dois momentos distintos: um primeiro que engloba a Idade Antiga e
Média, e o outro englobando a Idade Moderna, onde nasce a psicologia científica
com Wilhem Wundt (1832–1920). Aquele, caracterizado por essencialmente
filosófico, abarca três períodos distintos: o Cosmológico, onde a preocupação era
entender e explicar o cosmo, saber de que era feito; buscar o princípio e a lei que fez
surgir o universo, que até então era concebido mitologicamente; onde o método de
buscar a verdade era o elementismo (teve como expoente o filósofo Tales de Mileto,
640-548 a.C.)1.
O Antropocêntrico, em que as questões se ocuparam do “como conhecemos”,
e “como podemos conhecer”, e foram pauta para os filósofos, como Sócrates de
Atenas (436-336 a.C.), reconhecido por sua máxima: “conhece-te a ti mesmo”;
utilizando como método vigente, a introspecção. O período Teocêntrico é marcado
pela ascensão do cristianismo e fim da Idade Antiga; Deus passa a assumir “trono
máximo” e está acima de todas as coisas, passa-se a acreditar no destino e na
vontade de Deus, sobretudo regendo a vida.
Na Idade Moderna (século XV), o período pré-científico propriamente dito,
deixa de prevalecer o teocentrismo, ocorrendo uma reação opositora ao
dogmatismo e uma revivescência do antropocentrismo. Neste processo de
emancipação da Psicologia, encontram-se três fortes correntes filosóficas: o
empirismo crítico, o associacionismo e o materialismo científico.
O empirismo crítico tinha como preocupação central: “como se adquire o
conhecimento?”. Filósofos como Descartes (1596-1650) e Thomas Hobbes (1588-
1679), contrastavam com o nativismo, ao afirmar que não há conhecimento inato,
pois, ele é adquirido (empirismo x nativismo); além do mais, afirmavam que a
obtenção de um conhecimento fidedigno está alicerçada na observação,
1
Como Freire(1997) enfatiza, não quer dizer que com o retorno do antropocentrismo, o cristianismo se extinga,
pois, ele perdura até os dias atuais, exercendo sua influência em todas as áreas e convivendo com as mais
diversas correntes de pensamento, predominado ora uma ora outra.

2
experimentação e na medida; e que a razão é o melhor caminho para se atingir o
conhecimento.
O associacionismo foi de muita importância para o desenvolvimento da
psicologia experimental. Sua questão central concentra-se em querer saber o que faz
com que as idéias se unam e se guiem umas às outras e como estas idéias
associadas se tornam estáveis e duradouras. Tanto James Mill (1773-1836),
elementista, que concebia a mente como um composto de idéias simples e
complexas, associadas por contigüidade; quanto Herbert Spencer (1820-1903),
teórico do associacionismo evolucional que precede a teoria das espécies de Darwin
(1809-1882), contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da psicologia,
através do exame dos problemas, do pensamento, sob a perspectiva de realidade
das ciências naturais.
Apesar do materialismo ser uma tendência que remonta desde o período
Cosmológico, com os filósofos gregos, teve seus princípios da época retomados no
materialismo científico, a terceira corrente de emancipação da psicologia. No
entanto, nesta nova abordagem o princípio está em conhecer qual era o elemento
fundamental que segue a natureza (Água? Fogo? Átomo?), descartando toda uma
perspectiva de sobrenatural, de destino; e, sobretudo, mitos e princípios
deterministas religiosos.2
Como diversas outras ciências, a psicologia também adveio da filosofia.
Baum (1999), aborda em seu livro: “Compreender o Behaviorismo” que todas as
ciências – como a astronomia, química, física, biologia – tiveram sua gênese na
Filosofia, porém, cindiram-se dela, uma vez que, as especulações já não mais o
eram suficientes.
Para Isaac Newton (1642-1727)3, os conceitos de força e inércia, assim como
de corpos celestiais foram além de meras especulações; todavia, partiram de

2
Houveram ainda tendências isoladas na época, que estiveram fora do cenário das correntes científicas e
filosóficas ; tais como : a Psicologia do Ato, criada por Franz Brentano (1838-1917), alemão de origem italiana; a
Psicologia Fenomenológica, com Carl Stumpf (1848-1936) e Edmund Husserl (1859-1938) e a Escola Romântica
e Naturalista (1712-1778) com Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778).
3

William Baum (1999) faz uma explanção evolutiva sobre esta visão filosófica com outras ciências , apontando as
contribuiçõesde Isaac Newton .

3
esquemas observados e descritivos para compreensão do movimento. Newton,
como outros pensadores romperam com as verdades absolutas da Filosofia, para a
verdade científica, que se baseia na contestação, na refutação, por caracterizar a
ciência como relativa e provisória.
Como as respostas dadas pela filosofia não atendiam mais às necessidades
prementes, estava formado o palco para o surgimento da ciência psicologia. Como
pioneiros do período científico da ciência psicológica, estavam Gustav Theodor
Fechner (1801-1887), alemão, que contribuiu com a publicação de sua obra
“Elementos de Psicofísica” (1860), onde discutia o paralelismo mente x corpo e a
postulação metodológica para testagem das sensações através dos estímulos; e
Wilhelm Wundt (1832-1920), publicando “Elementos de Psicologia Fisiológica”
(1864), além de ter criado o primeiro laboratório experimental em Leipzig
(Alemanha), em 1879, o que lhe concedeu a paternidade da psicologia.
A psicologia estava preocupada neste período em estabelecer-se como
ciência; em banir a idéia de ser o estudo da vida mental e da alma e passar a ser o
estudo da consciência ou dos fatos conscientes. Posteriormente, com Watson e o
behaviorismo, a “luta” estabelecer-se-á em opor-se a processos mentalistas, como a
consciência, em razão de um objeto de estudo passível de observação – o
comportamento.
A estruturação do corpo da nova ciência que desabrochou, dá razão à
formação de cinco tendências ou escolas psicológicas no início do século XX, foram
elas: o Estruturalismo, o Funcionalismo, o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise.
Tanto o Estruturalismo quanto o Funcionalismo preocuparam-se com
conteúdos de teor mentalista. O primeiro, sob representação de Eduard Bradford
Titchener (1867-1927), também define a psicologia como ciência da consciência ou
da mente, como Wundt, e tinha a tarefa de descobrir quais são os elementos que a
estruturam (‘sugestivamente’, o termo prediz); caracterizando um sistema
elementista, atomista e associacionista. Já o segundo, com respaldo em William
James, busca conhecer o funcionamento da mente e de suas operações, de como
atua e em que condições. O foco de estudo estava no aspecto instrumental da
consciência, cuja função é dirigir o comportamento e ajustar o homem às condições

4
ambientais, isto é, ao meio físico e social onde a consciência exerce uma atividade
adaptativa e é um instrumento para a resolução de problemas. Isto faz com que o
funcionalismo se enquadre numa metodologia filosófica pragmatista; em virtude da
função da consciência não se conhecer, mas adaptar-se, envolvendo-se, portanto em
ordem prática de funcionabilidade.
Quanto ao Behaviorismo, o foco deste trabalho, John B. Watson (1878-1988)
não se contentou em “mentalizar”. Ao invés, visou provar que a psicologia para ser
ciência não pode ser tautológica, nem aceitar uma conceitualização determinista.
Buscou na psicologia animal apoio nos métodos que se assemelhavam às das
ciências naturais.
A Gestalt surge na Alemanha com Max Wertheimer (1880-1943) por volta de
1910/1912 e retroalimenta as raízes mentalistas da consciência ao se dedicar ao
estudo da percepção. Estuda os processos psicológicos (aprender, agir, relacionar-
se, motivar-se, etc) a partir das sensações e de uma organização de dentro para fora
e dá relevância ao estudo das relações entres as partes que compõe o todo.
Por último, mas não menos importante, vem Sigmund Freud (1856-1939),
idealizador do movimento psicanalítico. Este se caracteriza pelo maior
distanciamento quanto ao objeto de estudo em relação às outras tendências/escolas
da época (até hoje). Suas preocupações estavam voltadas para o que denominou de
inconsciente, contrapondo-se a todo saber até então configurado, já que tanto a
consciência quanto o comportamento eram presentes nas discussões. Distinguiu os
graus da vida em: consciente, inconsciente e subconsciente, postulou teorias sobre
as fases de evolução do sujeito associados ao seu desenvolvimento sexual e
estudos voltados para pessoas portadoras de perturbações mentais, de modo
especial às acometidas de histeria.
Resgatada a gênese da Psicologia, a seguir serão descritas as bases do
Behaviorismo, a ênfase de nosso trabalho.

Bases do Behaviorismo
Behaviorismo Watsoniano ou clássico

5
Na última metade do século XIX tornou-se costumeiro chamar a psicologia de
“ciência da mente”, pois era mais acessível ao estudo científico do que psiche (usada
pelos gregos). Para o estudo da mente foi proposto o método do introspeccionismo
que deixava pouco à vontade alguns dos psicólogos dessa época, como relata Baum
(1999), em virtude de que tal método científico parecia pouco confiável, vulnerável à
distorções pessoais.
Esta subjetividade não permeava o que difundiam as outras ciências no
mundo inteiro, em que se utilizavam medidas verificáveis e replicáveis em
laboratórios.
Alicerçado no método objetivo, F.C. Donders (1818-1889)4, foi um dos
pioneiros da psicologia objetiva, que visava desenvolver métodos para medir os
processos mentais de forma objetiva. Ele se inspirou num intrigante problema
levantado pela astronomia, em como calcular a hora exata em que uma estrela
estará em determinada posição no céu.
Outra corrente que teve influência na base do behaviorismo foi a psicologia
comparativa, que tinha como pressuposto o fato de encarar o homem não com um
ente à parte, destacado das outras espécies de seres vivos e sim pertencendo a um
continuum, isto é, a idéia de que mesmo as espécies mantendo características
distintas entre si, assemelhavam-se umas às outras, à medida que compartilham
uma mesma história evolutiva. O objetivo era que entendendo a expressão
rudimentar de traços mentais, em espécies mais primitivas, pudesse dar uma idéia
de como se desenvolvia os traços mentais em nossa espécie.
Dentre as influências mais veementes para a posição comportamentalista,
estão os estudos com animais, delineados tanto na Psicologia Animal, como também
através da Psicologia Comparativa, citada anteriormente. A relação entre a psicologia
animal e o comportamentalismo está tão clara, que Watson, citado por
Schultz&Schultz (1981)5, declara:

4
F. C. Donders (1818 – 1889) é descrito em Baum (1999) .
5

Os autores Duane P. Schultz e Sydney Ellen Schultz, na obra: “História da Psicologia Moderna”, retratam todo
o curso histórico tanto da Psicologia, quanto das escolas de pensamento, dentre elas o comportamentalismo

6
“O comportamentalismo é uma consequência
direta de estudos sobre o comportamento
animal[feitos] no decorrer da primeira década
do século XX” (Watson, 1929)”.

Dentre os estudos pertencentes à Psicologia Animal é de crucial importância


citar os trabalhos de Edward Lee Thorndike (1874-1949) e Ivan Petrovitch
Pavlov(1849-1936).
Thorndike é considerado o precursor do behaviorismo. Sua investigação sobre
a conduta animal foi um passo decisivo para a explicação do comportamento através
de controle rigoroso e sistemático. Deu relevante colaboração à educação,
principalmente pela elaboração de princípios de aprendizagem. Entre outros pontos
formulou a lei do exercício: quanto mais freqüente, mais recente e mais fortemente
um vínculo é exercido, mais efetivamente será fixado. Estabeleceu, também, o
princípio do ensaio e erro na aprendizagem.
O conexionismo – abordagem experimental – por ele criado, consiste numa
associação entre situações e respostas. Todavia, apesar de concentrar-se nesta
conexão, Thorndike estava voltado para processos mentais, reportando-se à termos
como “satisfação”, “contrariedade” e “desconforto”, ao discutir os comportamentos
dos seus animais experimentais(como citado por Schultz&Schultz,1981).
Sua base experimental, empregava um equipamento - a caixa-problema -
cujo objetivo era colocar um animal - no caso, o gato - faminto(privado de alimento)
na caixa, e este tinha de aprender a operar um trinco para escapar; tendo como
recompensa da fuga, o alimento que se encontrava fora da caixa. Inicialmente o gato
exigia um comportamento meio “caótico”, empurrando, farejando e dando patadas
para seguir o alimento (o que Skinner mais tarde denominará de comportamento
exploratório). Passando ao processo de aprendizagem, mediante a freqüência da
situação do gato à caixa-problema. A esse tipo de procedimento, Thorndike
denominou de “aprendizagem por tentativa e erro”, formalizando a Lei do Efeito:

( desde as influências/ os primórdios à fundação).

7
“Todo ato que, numa dada situação, produz
satisfação fica associado com essa situação,
de maneira que, quando a situação se repete o
ato tem mais probabilidade de se repetir do
que antes. Inversamente, todo ato que, numa
dada situação, produz desconforto se torna
dissociado dessa situação, de maneira que,
quando a situação se repete, o ato tem menos
probabilidade de se repetir do que antes”
(Thorndike, 1905).

Quanto a influência de Pavlov, esta foi de suma importância no que tange ao


estudo dos reflexos , concentrando-o nas secreções glandulares e movimentos
musculares objetivos e quantificáveis. Quem já não ouviu falar na situação de
condicionamento da salivação de um cão à uma sineta, no tocante ao estudo da
psicologia? A relevância de Pavlov é extrema, pois, não foi à toa a sua dedicação
incondicional aos estudos, à luta por uma ciência objetiva; e por isso, gerava tanto
fascínio entre seus pupilos6.

O apogeu de seus experimentos é caracterizado pelo Reflexo Condicionado,


no processo de aprendizagem, em que consistia em apresentar um estímulo
condicionado (uma luz acesa, por exemplo); imediatamente apresenta-se o estímulo
não condicionado (o alimento). Após sucessivas apresentações de pareamento entre
a luz e o alimento, o animal passa a salivar ao ver a luz (mesmo sem visualizar o
alimento). Logo, o animal está condicionado ao estímulo condicionando,
acontecendo a aprendizagem.

A notoriedade de tais estudos fez prevalecer uma busca incessante em tornar


a psicologia uma ciência objetiva. Para tanto, de fato agora discorrer-se-á sobre a
“instalação” do behaviorismo, as perspectivas e objetivos de seu fundador, que vão
de encontro a esta tônica.

John B. Watson (1878-1958), um quase religioso7, com histórico de vida


entrecruzada de conflitos familiares, deixado por seu pai aos 13 anos de idade (seu
6
Em Schultz & Schultz ( 1981) pode-se analisar um pouco da vida de Ivan Pavlov.

8
pai fugiu com outra mulher), vivendo em uma situação de extrema pobreza e
carregando nas costas o título de “delinqüente”. (contam Schultz & Schultz, 1981);
“tornar-se” o fundador e defensor do comportamentalismo.

Sua carreira e objetivação com o behaviorismo agarrou-se na luta em alcançar


o patamar de subsidiar uma ciência psicológica objetiva, envolta por métodos
observáveis, sem ranso de introspeccionismo ou quaisquer rastro de subjetividade e
recorrência ao mentalismo.

A sua tentativa de construção da psicologia - de fato científica - teve como


ponto de partida, primeiramente, o fato de que os organismos, sejam animais ou
humanos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e
hábito. Em segundo lugar, que certos estímulos levam os organismos a dar
respostas. A preocupação pois, de Watson esteve muito mais voltada por seu
interesse em tentar demonstrar a necessidade de manter a uniformidade do
procedimento experimental e do método de apresentar resultados, no trabalho com
seres humanos e animais, evidenciando que os mecanismos de respostas são
semelhantes quando submetidos à processos de estimulação em tais; do que por
desenvolver idéias que possa ter acerca das mudanças que por certo virão no
escopo da psicologia humana (já com Skinner, terão desdobramentos tais questões
pragmáticas para com a vida humana).

Ou seja, a vertente de Watson está em firmar uma metodologia que


proporcione à Psicologia uma tonicidade científica ao seu objeto de estudo – o
comportamento (vale ressaltar que Behavior, é uma palavra inglesa que significa
comportamento). Já objetivando desde a introdução do termo para psicologia, que
passava a ser conceituada como “Ciência do Comportamento”, hoje aceita
universalmente.

7
Considerado insolente e preguiçoso na infância e juventude, Watson se matricula na Unversidade Furman, dos
batista, em Greeville aos dezesseis anos decidido a ser ministro religioso, promessa feita á sua mãe ( este antes de
morrer o liberou da “dívida”.

9
Indubitavelmente, os métodos do comportamentalismo foram um “atentado” e
teor de repúdio aos “ditos psicólogos” (os mentalistas com seus estudos acerca da
consciência) e através do método introspeccionista). Porém, os mais jovens,
provenientes da década de 20, apoiavam na surdina o movimento, que foi crescendo
gradativamente e alcançou popularidade com público leigo, pois, todos estavam
interessados e/ou curiosos na proposta de Watson de uma sociedade baseada no
comportamento cientificamente modelado e controlado.

Embora, banido no meio acadêmico em virtude de sua regressa vida pessoal,


marcada por embaraços extra-conjugais, Watson ainda publicava artigos que se
sustentavam em seus pressupostos teóricos do comportamento, em revistas
populares, de circulação livre, que atingiam estudantes, donas-de-casa, operários. O
que popularizou ainda mais a psicologia; proporcionando uma epidemia por sua
disseminação em meados das décadas de 20 à 30.

Com relação aos métodos, Watson sumaria que seriam: a) a observação, com
ou sem instrumentos; b) os métodos de teste; c) método do relato verbal e d) os
métodos do reflexo condicionado.

Falar de Reflexo Condicionado remete a mencionar, talvez, o mais popular de


todos os estudos do comportamentalismo, isto é, o pequeno Albert. Bom, Watson
demonstrou sua teoria das respostas emocionais condicionadas em seu estudo
experimental com Albert, um bebê de onze meses, que foi condicionado a ter medo
de um rato branco, que ele não temia antes das tentativas de condicionamento.
Sempre que o rato lhe era mostrado, seguia-se um ruído bastante forte; dentro de
pouco tempo, a mera visão do rato produzia sinais de medo na criança. Watson
demonstrou que esse medo condicionado pode ser generalizado para outros
estímulos como um coelho, um casaco de pele branca, ou mesmo as barbas de
papai noel.

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Instinto, emoção, aprendizagem e pensamento passaram do status de
tautologias mentalistas ao topo de respostas condicionas. Coisas que pareciam
herdados podiam ter sua origem no treinamento da infância, assim, não é que as
crianças nasciam com aptidão para ser grandes músicos ou atletas, mas eram
influenciados pelos pais nestas direções, através do reforço e encorajamento, não
reduzindo tal processo à concepção de que seria algo instintivo, exemplificando.

Eduard Chace Tolman (1886-1959) – torna-se notado com o estudo de


variáveis intervenientes (ou seja, é o que acontece no organismo que provoca uma
dada resposta comportamental diante de um estímulo. O que antes associava E-R,
passa a figurar E-O-R, onde O é organismo) e o mapa cognitivo (padrão de sinais
no processo de aprendizagem); Edwin Ray Guthrie (1886-1959), contribui com a
aprendizagem por tentativa (princípio por contiguidade é sua base) e Clark Leonars
Hull (1884-1952), acreditava e defendia que a aprendizagem não pode acontecer na
ausência de reforço; e portanto, compatível com o pensamento de Thorndike e a Lei
do Efeito, denominou a força da conexão E-R vinculada da força do hábito
(enfatizando sobremaneira o efeito proativo do reforço). Estes
neocomportamentalistas foram sem dúvida perpetuadores e incentivadores na luta
behaviorista, porém, foi com Burrhus Frederick Skinner (1904-1990) que a
perpetuação bem como expoência máxima do comportamentalismo instaurou-se.

2.2.2. Behaviorismo Skinneriano ou radical


Skinner, diferente de Watson relata que não lhe faltou afeto e que seu
ambiente de infância era estável. Gostava de ir a escola e não teve histórico de
rebeldia ou delinquência. Porém, o sistema de psicologia de Skinner é sob muitos
aspectos um reflexo das suas primeiras experiências de vida. Ele considerava a vida
como um produto de reforços passados, e acreditava que todos os aspectos de sua
experiência pessoal remontavam apenas a fontes ambientais8.

8
Schultz & Schultz (1981) relata sucintamente a biografia de Skinner.

11
“Escritor” de longa data (gostava de escrever quando criança) seus poemas e
histórias não faría-mo-nos imaginar que cederiam lugar para a postulação de
princípios tão “seguros” e precisos no desenvolvimento de uma Ciência do
Comportamento. Porém, após tantas desilusões amorosas, Skinner descarta de vez
seu lado poético, e inspirado por Watson e Pavlov, decide transferir seu interesse
literário pelas pessoas para um interesse mais científico, quando em 1928, inscreve-
se numa pós-graduação de psicologia em Harvard.

Do aprendiz ao mestre, há vários aspectos importantes em que a posição de


Skinner representa uma renovação do comportamentalismo Watsoniano. Schultz &
Schultz (1981) descrevem:

“Seu tipo exclusivamente descritivo de


comportamentalismo radical se dedica ao
estudo das respostas; volta-se para descrever,
e não para explicar, o comportamento. Ele só
se ocupava do comportamento observável e
acreditava que a tarefa da investigação
científica se traduz em estabelecer
relacionamentos funcionais entre as condições
de estímulo controlados pelo experimentador e
a resposta subsequente do organismo.”

Uma das premissas que difere o comportamentalismo skinneriano do


watsoniano, é de que neste os sujeitos têm uma condição passiva, por serem
observados pelo experimentador que, por vezes, introduz o estímulo; enquanto
àquele opera no ambiente e “eleva-se” à uma condição de sujeito atuante, isto é,
ativo no seu processo de aprendizagem.

Por falar de operar, Skinner lega em seu estudo com ratos, utilizando um
instrumento, que ficou divulgadamente conhecido como “Caixa de Skinner”,
conceitos como Comportamento Respondente e Comportamento Operante (a
conceitualização do Behaviorismo Radical será retomada no tópico seguinte). De

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forma exemplificada: o comportamento do rato ao pressionar a barra e receber
comida é operante; ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a
barra. O recebimento da comida é o reforço por sua emissão de comportamento. Já
o comportamento respondente, conceitua-se ao comportamento do “cão de Pavlov”
que responde ao estímulo condicionado (a luz acesa) produzindo uma resposta
condicionada (salivação).

Desta experiência básica inicial, outras foram à frente, e programas de reforço


criados para as pessoas receberem notável reconhecimento. O berço de ar –
projetado para mecanizar o cuidado infantil – que utilizou com sua própria filha; bem
como a máquina de ensinar (inventada pelo psicólogo Sidney Pressey, nos anos 20),
promovida por Skinner, foram notoriedade pública.

Entretanto, um marco de transposição da tecnologia do comportamento, em


que tentou transpor para sociedade mais ampla suas descobertas de laboratórios,
Skinner estabeleceu um programa de controle comportamental. Este “brasão” data
de 1948, quando publicou Waldem Two, um romance que descreve uma comunidade
rural de mil membros na qual cada aspecto da vida é controlado pelo reforço positivo.
Apesar de na época ter sido arduamente atacado nas resenhas e uns só pouco
milhares terem sido vendidos até a década de 60; hoje o livro é significativamente
popular, com vendagem superando muitos milhões.

Enfim, a modificação do comportamento mediante o reforço positivo é uma


técnica popular em hospícios, fábricas, prisões e escolas, onde é utilizado com o
objetivo de transformar comportamentos animais ou indesejáveis em
comportamentos mais aceitáveis e desejáveis.

No recente artigo de Henry L. Roediger (2004)9, ele aborda sobre o que


acontece com o behaviorismo?
9
Traduzido por Roosevelt R. Starling, e publicado na Revista Brasileira de Análise do Comportamento 9
referência bibliográfica), 2005.

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Apontadas as “altas” e “baixas” do mesmo, ao fazer uma breve retomada
evolutiva; perpassando do auge ao que ele denominou não de declínio, mas, sobre
vitória, pois, o fato de ser menos discutido e debatido hoje em dia , é porque na
verdade ele venceu o debate intelectual(o comportamento venceu!). Apesar das
constantes tentativas de abafar a corrente fundamentada de pensamento seja nas do
início do século XX com a metodologia introspeccionista, seja na derrocada da
década de 60 com o cognitivismo, cujo retrata um retrocesso , um atraso em resgatar
a postura mentalista, ‘re-lançando’ termos como pensamento, emoção, etc. Isto é
tão evidente, que o próprio autor(Roediger,2004) - sendo cognitivista - assume este
‘ato falho’ – diria Freud – ou esta ‘discriminação’ – termo preferível, é claro – diria
Skinner.

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