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A importância da Cidade de São Paulo no Ensino

de Administração de Empresas no Brasil.


Embora a tarefa básica do administrador seja obter resultados por meio das pessoas, o
exercício de sua profissão é complexo e desafiador.

A administração é uma das áreas do conhecimento mais impregnadas de complexidade e


de desafios. Esse profissional lida com constantes mudanças, está sempre acometido
pela urgência na tomada de decisões que muitas vezes envolvem vultuosas quantias de
dinheiro e de recursos, sem falar na pressão diária em que um erro pode levar uma
irrecuperável história de fracasso.

Todo esse cenário complexo vem cada dia mais despertando o interesse acadêmico e
atraindo mais interessados em cursar uma faculdade de administração. De acordo com o
o Censo do Ensino Superior, realizado pelo MEC em 2002, 493 mil (14,17%)
universitários brasileiros cursavam administração de empresas em 1.413 cursos pelo
país.

A administração de empresas é também o curso que mais formou profissionais no


Brasil, algo em torno de 250.000 profissionais entre os anos 80 e 99. Número esse
insignificante quando comparado às 4.650.000 empresas existentes no Brasil no final da
década de 90.

A importância da Cidade de São Paulo:

Uma cidade que teve seu berço de fundação embalado por uma igreja e uma escola e
que foi o ponto de partida dos bandeirantes desbravadores de novas fronteiras da pátria,
demonstra possuir no seu “DNA” a essência do desenvolvimento por meio do estudo,
da fé e da determinação. Desde muito tempo, pra cá vieram o capital financeiro
necessário para investimentos em uma economia tão diversificada, além de povos de
várias partes do mundo que, com uma inigualável diversidade de culturas e
pensamentos, ajudaram construir e forjar uma raça de bravos unidos pelo mesmo ideal
de trabalho e de progresso.

Uma abordagem histórica:

No final do século XIX, surgem as primeiras indústrias brasileiras, com desdobramento


da indústria cafeeira. Concentrando-se no setor de bens de consumo não-duráveis, o
processo de industrialização vai paulatinamente envolvendo outros setores. Até a década
de 20, a industrialização brasileira era pouco expressiva e o Brasil tinha sua economia
centrada na exportação do café.

A constante queda do preço do café no mercado internacional, a depressão decorrente da


quebra da bolsa de Nova York em 1929 que freou o comércio mundial, bem como a
escassez de recursos e a dificuldade de importações decorrentes da Segunda Guerra
Mundial afetaram drasticamente o Brasil e fortaleceram um projeto autônomo e
nacionalista defendido pelo Presidente Getúlio Vargas em seu primeiro mandato (1930 a
1945), que alertava para a necessidade urgente de diminuir a grande dependência
externa que a nação possuía no quesito tecnológico e de bens de produção e consumo.
Foi nessa época que Getúlio implementou uma série de medidas que viabilizaram o
processo de industrialização e modificação definitiva da face do país.

A transformação econômica e social pela qual o mundo passou após esse período fez o
Brasil rever sua matriz econômica e produtiva. A partir desta época a economia
brasileira desloca seu foco do campo (agrário) para a cidade (industrial). A agricultura
começa a perder forças para a indústria.

Uma nova categoria de profissionais agora se fazia necessária. Era o técnico capacitado
para enfrentar os novos desafios propostos pelo processo de industrialização que tomava
conta da nação.

Os anos compreendidos entre o final da década de 40 e o início da década de 50 foram


marcados pelo alinhamento de pensamento do ensino superior brasileiro a favor da
escola clássica americana em detrimento do pensamento europeu de gestão. Essa ação
foi influenciada principalmente pelo fato de que no mesmo tempo em que o ensino de
administração estava dando os primeiros passo no Brasil, os Estados Unidos já
formavam 50 mil bacharéis, 4 mil mestres e 100 doutores por ano. Duas importantes
instituições de ensino surgiram nesta época: a Faculdade de Economia e Administração
- FEA/USP e a Escola de Administração Pública – EAESP/FGV.

A cidade de São Paulo teve um importante papel no desenvolvimento do ensino de


administração no contexto nacional. Não só por ser a maior cidade do Brasil, mas, desde
longa data, São Paulo era considerada a capital econômica do país e celeiro da iniciativa
privada, o que contribuiu em muito para sediar as grandes empresas que hora iniciavam
suas atividades no país e começavam a demandar uma mão-de-obra especializada.

Esses fatores foram de suma importância para a implantação, na cidade de São Paulo,
da FEA/USP pelo governo do estado e decisivos na sua escolha pela Fundação Getúlio
Vargas para a criação da Escola de Administração de Empresas – EAESP, que em seus
primeiros anos de atividade contou com o apoio da USAID – Agência de Ajuda ao
Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos – onde professores brasileiros iam
cursar Pós-graduação na Universidade de Michigan e a EAESP contava com uma
missão de técnicos americanos empenhados em transferir conhecimento aos alunos aqui
no Brasil.

O crescente processo de industrialização que se deu a partir do final da década de 40


ganhou forças durante o governo de Jucelino Kubischek, com a implantação da
indústria automobilística e se solidificou com o sistema de desenvolvimento econômico
implantado pela revolução de 1964, que favoreceu o surgimento de grandes indústrias
dotadas de tecnologias complexas e burocratizadas, demandadoras de uma mão-de-obra
especializada capaz de enfrentar os novos desafios com competência e profissionalismo.

A inegável importância do administrador devidamente capacitado estimulou a FGV a


criar no início da década de 1960 o primeiro curso de Pós-graduação em Administração
e em meados da mesma década a oferecer curso regular de mestrado.

O grande papel desempenhado pelo administrador levou a regulamentação desta


profissão em 09 de setembro de 1965, com a promulgação da lei nº 4.769/65, que
estabelece que a profissão de técnico em administração é privativa de bacharéis em
administração pública ou de empresas, diplomados no Brasil em cursos regulares de
ensino superior, oficial. No ano seguinte o conselho federal de educação fixou o
primeiro currículo mínimo do curso de administração. A partir desta regulamentação, foi
criado em 17 de janeiro de 1968 o Conselho Federal de Administração, que tem como
missão promover a difusão da Ciência da Administração e a valorização da profissão do
administrador visando à defesa da Sociedade. A criação do CFA serviu de base para o
surgimento dos Conselhos Regionais de Administração – CRA – com a função de
fiscalizar o desempenho da profissão e expedir as carteiras profissionais.

É no final dos anos 60 também, que surgem o Símbolo e o Anel do Administrador.

O curso que começou em São Paulo se expande pelo Brasil:

No final dos anos 60 ocorreu a proliferação das faculdades motivadas pelas


transformações ocorridas na economia. As grandes empresas procuravam cada vez mais
um profissional especializado, capaz de realizar múltiplas tarefas. A evolução do curso
de Administração não estava mais vinculada à Instituição Universitária e sim as
Faculdades isoladas.

Em 1966 o Conselho Federal de Educação estabeleceu o currículo mínimo para o curso


de Administração. As faculdades estavam liberadas para adequar o seu currículo às
necessidades profissionais das praças onde atuavam.

Outro fator que contribuiu para a expansão dos cursos de Administração foi a entrada do
setor privado no seguimento universitário ocorrido nos anos 80.

Hoje em dia, espera-se do profissional de Administração que ele atue acima de tudo
como um Promotor do Desenvolvimento. Este novo desafio está explicito no código de
ética do Administrador.

Atualmente o grande desafio para o ensino de administração no país é promover uma


transformação curricular capaz de adequar o ensino às novas estruturas organizacionais
e a crescente competitividade mundial. Cabe, portanto, aos cursos de Administração
despertar no estudante seu papel de agente de mudanças sociais, econômicas e políticas,
proporcionando seu crescimento pessoal e profissional, por meio da busca constante da
qualidade.

Artigo publicado na Revista Lúmen – volume 10 – número 24 – maio/agosto de 2004

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