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A OUTRA REALIDADE Krishnamurti's Notebook, Edit.

Gollankz, Londres, 1976 A aurora chegava lentamente; as estrelas ainda brilhavam e as rvores ainda estavam recolhidas; nenhum pssaro piava, nem mesmo as pequenas corujas que voavam ruidosamente pela noite fora, de rvore em rvore. Estava tudo estranhamente silencioso, excepo do bramido do mar. Sentia-se o aroma de muitas flores, das folhas em decomposio e do solo hmido; o ar estava muito calmo e o perfume estava em todo o lado. A terra esperava pelo amanhecer e pelo dia que chegava; havia expectativa, pacincia e uma estranha serenidade. A meditao continuou com essa serenidade e essa serenidade era amor; no o amor de alguma coisa ou de algum, nem das imagens ou dos smbolos, das palavras. Era simplesmente amor, sem sentimentalismo nem emocionalismo. Era algo completo em si mesmo, despojado, intenso, sem raiz, sem direco. O som daquele pssaro longnquo era esse amor; ele era em si mesmo a direco e a distncia; estava ali sem tempo e sem palavras. No era uma emoo que se desvanece e pode ser cruel; o smbolo, a palavra podem ser substitudos, mas no a coisa real. Sendo despojado, o amor era extremamente subtil e sem oferecer qualquer resistncia, e por isso indestrutvel. Tinha a fora inatingvel daquela outra realidade, o incognoscvel, que chegava atravs das rvores e estava para alm do mar. A meditao era o som daquele pssaro, um som nascido do vazio e era o bramido do mar espraiando-se sobre a areia. O amor s pode existir no vazio total. A aurora, ainda no iluminada, estava ainda longe no horizonte, e as rvores escuras estavam ainda mais escuras e cheias de intensidade. Na meditao no h nenhuma repetio, nenhuma continuidade do hbito; h a morte de todo o conhecido e o desabrochar do desconhecido. As estrelas tinham-se apagado e as nuvens despertavam com o Sol que chegava.

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