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Teoria Geral do Direito Civil

2º Semestre

PESSOAS COLECTIVAS
São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de bens,
dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica atribui a
Personalidade Jurídica.
É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade de
direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas por pessoas ou por bens, que constituem centros
autónomos de relações jurídicas.
Á categoria das pessoas colectivas pertencem o Estado, os municípios, os distritos, as
freguesias, os institutos públicos (como a Universidade), as associações recreativas ou
culturais, as fundações, as sociedades comerciais, etc.
Há, duas espécies fundamentais de Pessoas Colectivas: as Corporações e as Fundações.
As Corporações têm um substrato integrado por um agrupamento de pessoas singulares que
visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados organizam a
corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.
As Fundações têm um substrato integrado por um conjunto de bens adstrito pelo fundador a
um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuição
patrimonial a favor da nova Fundação, as directivas ou normas de regulamentação do ente
fundacional da sua existência, funcionamento e destino.
A função económico-social do instituto da personalidade colectiva liga-se à realização de
interesses comuns ou colectivos, de carácter duradouro.
Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma comunidade
regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os referidos
interesses colectivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros, excedendo a vida
dos homens ou, em todo o caso, justificando a criação de uma organização estável.
Elementos Constitutivos Das Pessoas Colectivas: O Substrato E O Reconhecimento
O substrato é um elemento complexo, integrado por vários sub-elementos; é o elemento de
facto, o conjunto de dados anteriores à outorga da personalidade jurídica. O reconhecimento,
elemento a que a lei se refere expressamente no artigo 158º, é o elemento de direito,
transformador de uma organização ou ente de facto num ente ou pessoa jurídica. O
reconhecimento é o elemento formal e o substrato o elemento material.
O substrato é o conjunto de elementos da realidade extra-jurídica, elevado à qualidade de
sujeito jurídico pelo reconhecimento.
O substrato é imprescindível para a existência da Pessoa Colectiva. Os seus sub-elementos
dividem-se em:
a) Elemento Pessoal ou Patrimoniais. O elemento pessoal verifica-se nas Corporações. É a
colectividade de indivíduos que se agrupam para a realização através de actividades pessoais e
meios materiais de um objectivo ou finalidade comum. É o conjunto dos associados.
O Elemento Patrimonial intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o fundador
afectou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se habitualmente por
dotação.
Nas Corporações só o Elemento Pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário
do substrato da Pessoa Colectiva. Pode existir a corporação, sem que lhe pertença património.

Estes, bem como muitos dos apontamentos disponibilizados no blog Direito Lusófono, são de autoria desconhecida, ou foram
feitos sem grandes preciosismos, ou, ainda, podem representar temáticas estudadas em anos diferentes dos actuais e que por isso
poderão incorrer em imprecisões normativas ou doutrinais.
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Por sua vez nas Fundações só o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa
Colectiva, estando a actividade pessoal – necessária à prossecução do escopo fundacional – ao
serviço da afectação patrimonial – estando subordinada a esta, em segundo plano ou até,
rigorosamente, fora do substrato da Fundação.
Portanto:
1) Nas Corporações, é fundamental apenas o Elemento Pessoal. O elemento Património,
quando existe, está subordinado ao elemento pessoal.
2) Nas Fundações, é fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a actividade pessoal dos
administradores subordinada à afectação patrimonial feita pelo fundador e estando ao serviço
dela; beneficiários e fundadores estão, respectivamente, além e aquém da Fundação.
b) Elemento Teleológico: a Pessoa Colectiva deve prosseguir uma certa finalidade,
determinante da formação da colectividade social ou da dotação fundacional.
Torna-se necessário que o escopo visado pela Pessoa Colectiva satisfaça a certos requisitos,
assim:
1) Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer negócio jurídico (280º). Assim,
deve o escopo da Pessoa Colectiva ser determinável, física ou legalmente, não contrária à lei
ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons costumes (280º).
2) Deve ser comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades que não
tenham por fim o lucro económico dos associados não há preceito expresso, formulando a sua
exigência, mas esta deriva da razão de ser do instituto da personalidade colectiva. Quanto às
Fundações a exigência deste requisito não oferece dúvidas estando excluída a admissibilidade
duma Fundação dirigida a um fim privado do fundador ou da sua família; com efeito, dos
artigos 157º e 188º/1, resulta a necessidade de o escopo fundacional de ser de interesse
social.
3) Põe-se, por vezes, o problema de saber se o escopo das Pessoas Colectivas deve ser
duradouro ou permanente.
Não é legítimo, a exigência deste requisito em termos da sua falta, impedir forçosamente a
constituição de uma Pessoa Colectiva.
c) Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica, distinta
dos associados, do fundador ou dos beneficiários.
A existência deste elemento radica na circunstância de a constituição de uma Pessoa Colectiva
ter na origem um negócio jurídico: o acto da constituição nas Associações (167º), o contracto
de sociedade para as sociedades (980º) e o acto de instituição nas Fundações (186º). Ora, nos
negócios jurídicos os efeitos determinados pela ordem jurídica dependem, em termos que
posteriormente serão explicitados, da existência e do conteúdo duma vontade
correspondente.
Falta também o elemento intencional nas Fundações de facto e nas Fundações fiduciárias.
Estamos perante a primeira figura (Fundação de facto) quando um indivíduo pretende criar ou
manter uma obra de utilidade pública, financiando-a com uma certa parte do seu património,
mas sem contrair um vínculo jurídico correspondente, podendo, em qualquer momento, pôr
termo à afectação desses bens àquele fim.
Estamos perante a segunda figura (Fundação fiduciária) quando se dispõe a favor de uma
certa Pessoa Colectiva já existente, para que ela prossiga um certo fim de utilidade pública,

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compatível com o seu próprio escopo. São uma manifestação típica de liberdades com cláusula
modal.
d) Elemento organizatório: a Pessoa Colectiva é integrada, igualmente, por uma organização
destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação
unificadora.
Instituição Por Testamento
Este acto tem características diferentes da instituição de herdeiro ou legatário. Todavia este
acto, quando contido num testamento, tem características diferentes das que lhe cabem
quando praticado entre vivos. Assim, é livremente revogável até ao momento da morte do
testador, mas torna-se irrevogável quando o testador faleça.
Por outro lado, se os bens destinados à Fundação consistem na totalidade ou numa quota do
património do falecido, aplicam-se à instituição certas normas privativas da instituição de
herdeiro (2301º, 2068º). Têm que ser observados os requisitos (2204º – 2210º e seguintes).
Instituição Inter Vivos
Trata-se de um negócio unilateral, o Código Civil (457º) reconhece a eficácia vinculativa da
promessa unilateral de uma prestação, embora só nos casos previstos na lei (185º).
A instituição só se torna irrevogável quando for requerido o reconhecimento ou principiar o
respectivo processo oficioso. Portanto, até esse momento, pode o fundador revogar a
disposição (185º/3).
O artigo 185º/4, segundo o qual, aos herdeiros do instituidor não é permitido revogar a
instituição por força das normas sobre a sucessão legitimária. Tal solução está aliás em
conformidade com a regra do artigo 226º.
Resulta igualmente do mesmo artigo 185º/3/4, que o acto de instituição não pode ser
revogado com fundamento em supereminência de filhos legítimos ou outra causa própria da
revogação das doações.
Capacidade Das Pessoas Colectivas
A Capacidade Jurídica das Pessoas Colectivas é um “status” inerente à sua existência como
pessoas jurídicas (67º). É uma Capacidade Jurídica Específica enquanto a das pessoas
singulares é de carácter geral.
A lei refere-se-lhe expressamente para o efeito de a limitar. Essas limitações constam do artigo
160º.
A noção de Capacidade de Gozo, tal como em relação às pessoas singulares, estabelece-se
como medida de direitos ou vinculações de que a Pessoa Colectiva pode ser titular ou estar
adstrita.
Âmbito Da Capacidade De Gozo Das Pessoas Colectivas
O artigo 160º delimita o âmbito das Pessoas Colectivas a partir de um elemento positivo e de
dois negativos:
· Elemento positivo (160º/1): a Capacidade de Gozo da Pessoa Colectiva compreende todos
os direitos e obrigações necessários, e convenientes à prossecução dos seus fins.
· Elementos negativos (160º/2): exclui dessa Capacidade de Gozo os direitos e vinculações
que são vedados por lei à personalidade colectiva, visto serem inseparáveis da personalidade
de singular. A capacidade das Pessoas Colectivas admite a possibilidade da Pessoa Colectiva
ser titular de direitos adequados à realização dos seus fins.

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· Não obstante a especialização consagrado neste artigo (160º) quanto à Capacidade de


Gozo de direitos, admite-se que a Pessoa Colectiva pratique actos convenientes à prossecução
dos seus fins, consagra-se, por conseguinte, o princípio da especialidade do fim, mas com uma
larga atenuação do seu rigor.
Receber liberdades por acto entre vivos ou “mortis causa” – a solução negatória da capacidade
não pode substituir à face do Código Civil, o artigo 1033º/2-b, atribuí às sociedades capacidade
testamentária passiva e, quanto a doações a sua aceitação não é mais destoante do fim
especulativo da sociedade do que se deve atribuir-lhe igualmente capacidade para as receber,
todavia por força do artigo 160º/1, subsiste a incapacidade de as sociedades fazerem doações.
Síntese
As Pessoas Colectivas são dominadas pelo princípio da especialidade, o que tem de ser
entendido com um alcance amplo. Portanto, se é verdade que a Capacidade de Gozo da
Pessoa Colectiva está dominado pelo seu fim, segundo a sua própria natureza (estatuto) isso
significa que há uma capacidade diversa para as pessoas em concreto, dadas as várias
categorias de Pessoas Colectivas que existem.
A Capacidade de Gozo das Pessoas Colectivas abrange direitos de natureza patrimonial,
essencialmente, mas não estão vedados às Pessoas Colectivas direitos de natureza pessoal,
ex.: direito ao bom-nome, à honra, distinções honoríficas.
Inclusive, há Pessoa Colectivas a quem estão conferidos também certos direitos políticos,
nomeadamente aqueles que são conferidos aos partidos.
Competência Dos Órgãos Das Pessoas Colectivas E A Relação Com A Capacidade De Gozo
A competência respeita aos seus órgãos, embora estes sejam parte da Pessoa Colectiva, não
são a Pessoa Colectiva em si.
A competência das Pessoas Colectivas é o complexo dos poderes funcionais, que são
conferidos a cada órgão para o desempenho dos fins da Pessoa Colectiva. O conjunto das
competências dos diversos órgãos, asseguram a Capacidade de Gozo de cada Pessoa Colectiva.
A Capacidade de Gozo coloca-se no plano da própria Pessoa Colectiva, e na sua actuação,
ocorre por intermédio dos seus órgãos.
A repartição de competências entre os vários órgãos das Pessoas Colectivas pode resultar da
lei ou dos estatutos. A lei intervém supletivamente quando os estatutos forem omissos em
relação a repartição de competências. É deixado no nosso Direito uma ampla liberdade na
estipulação destas matérias. No entanto, há situações em que a lei estipula a título vinculativo,
imperativo (ex.: artigo 172º/2; 981º).
As deliberações de um órgão para além da sua competência, que envolvam a violação da lei ou
dos estatutos são anuláveis (177º). Podem requerer a anulação, o órgão da Administração ou
qualquer associado que não tenha votado a deliberação, no prazo de seis meses, este prazo
conta-se normalmente a partir da data em que a deliberação foi tomada. Para um associado
que não tenha sido regularmente convocado para a reunião da assembleia, o prazo só começa
a correr a partir da data em que ele teve conhecimento da deliberação (178º/1 e 2).
Capacidade De Exercício Das Pessoas Colectivas
A Capacidade para o exercício de direitos ou Capacidade de agir consiste na aptidão para pôr
em movimento a Capacidade Jurídica por actividade própria sem necessidade de se ser
representado ou assistido por outrem. Ora as Pessoas Colectivas carecem de um organismo
físico-psiquico, só podendo agir por intermédio de certas pessoas físicas, cujos actos
projectarão a sua eficácia na esfera jurídica do ente colectivo. Logo, as Pessoas Colectivas, não

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podendo agir elas mesmas, mas apenas através de determinadas pessoas singulares, estariam
necessariamente privadas daquela capacidade.
Este regime é mais complexo que o da Capacidade de Gozo. A Pessoa Colectiva pode ter
Capacidade de Exercício das Pessoas Colectivas é uma capacidade juridicamente organizada
(tese positivista).
Por outro lado a tese negativista, defendida pelo Prof. Cabral de Moncada, que diz, que as
Pessoas Colectivas não têm vontade psicológica própria, ignora a circunstância que as Pessoas
Colectivas têm órgãos impostos por lei. A Capacidade de Exercício como distinta da
Capacidade de Gozo não tem aplicação das Pessoas Colectivas, pela natureza das coisas;
carece quem a represente, as pessoas que representam os órgãos, igualar estes ao órgão das
pessoas singulares é um grosseiro antropomorfismo!
Não há necessidade de comparar os órgãos da pessoa singular e da Pessoa Colectiva. Os actos
dos órgãos desta são actos próprios dela, sendo através dos seus órgãos que a Pessoa
Colectiva se relaciona no mundo social.
O órgão não deve ser reduzido a simples representante da Pessoa Colectiva, e deve-se ter em
consideração os actos próprios deste para se aferir a Capacidade de Exercício.
Tem Capacidade de Exercício, não pelo facto de ter capacidade natural de agir, mas na
circunstância, pelo que o Direito lhe atribui de meios técnicos necessários para ela poder
exercer os seus direitos.
As Pessoas Colectivas nunca seriam incapazes (na medida em que o direito lhe afira a
capacidade), não está totalmente correcta, pois o direito pode limitar a Capacidade de
Exercício (a Incapacidade de Exercício, a falta dos titulares dos órgãos).
Responsabilidade Contratual Das Pessoas Colectivas
I – Responsabilidade contratual.
A responsabilidade contratual das pessoas colectivas não pode oferecer dúvidas. Seria uma
situação de favor, injustificável, a exclusão dessa forma de responsabilidade, com o reverso
desfavorável para a própria pessoa colectiva de, dificilmente, encontrar quem com ela
transaccionasse a crédito. Devem portanto responder pelos factos dos seus órgãos, agentes ou
mandatários que produzam o inadimplemento de uma obrigação em sentido técnico. Assim
resulta claramente do artigo 165° «as pessoas colectivas respondem civilmente»: esta
expressão abrange quer a responsabilidade contratual, quer a extracontratual), aplicável às
associações, às fundações e também às sociedades, por assim o justificar a analogia das
situações (157°, in fine) e por força do artigo 6°, n.º 5, do Código das Sociedades Comerciais.
O princípio geral do nosso Código, em matéria de responsabilidade contratual, está enunciado
no artigo 798° do Código Civil. Daí resulta ser necessário para o surgimento da obrigação de
indemnizar que tenha havido culpa do devedor no não cumprimento, estabelecendo-se no
artigo 799° uma presunção refutável (tantum juris) de culpa no caso de não cumprimento
defeituoso. Deve, portanto, verificar-se a culpa dos órgãos ou agentes da pessoa colectiva pelo
inadimplemento da obrigação.
É óbvio que, para existir responsabilidade contratual (obrigacional) das pessoas colectivas, é
necessário que o contrato, donde emerge a obrigação infringida, tenha sido celebrado por
quem tinha poderes para vincular a pessoa colectiva em causa. São, porém, problemas
diferentes: o da representação sem poderes e o da responsabilidade por não cumprimento de
uma obrigação eficazmente assumida pela pessoa colectiva.

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O artigo 165° estatui que as pessoas colectivas respondem nos mesmos termos em que os
comitentes respondem pelos actos ou omissões dos seus comissários. Nestes termos, desde
que o inadimplemento tenha sido culposo e dele resultem danos, o ente colectivo responde
para com o credor, não se tornando necessário mais nenhum requisito. E o que resulta do
artigo 800°, para o qual se deve considerar como feita a remissão do artigo 165°, na hipótese
da responsabilidade contratual. Aliás, se se considerar que a remissão é feita para o artigo
500°, o que não nos parece exacto, o regime é o mesmo, em virtude de o inadimplemento da
obrigação se dever sempre considerar como tendo ocorrido «no exercício da função que lhe
foi confiada».
II – Responsabilidade extracontratual.
A responsabilidade extracontratual das pessoas colectivas é a melhor solução de jure
condendo, por força do princípio de justiça segundo o qual quem emprega determinadas
pessoas para vantagem própria deve suportar os riscos da sua actividade. Ao alargamento das
potencialidades do sujeito na satisfação dos seus interesses próprios deve corresponder a
responsabilidade pelos danos causados por esse alargamento «ubi commoda, ibi incommoda».
E à face do Código Civil? A solução afirmativa do problema da responsabilidade extracontratual
está expressamente consagrada no artigo 165° para os actos praticados por órgãos
(representantes), agentes ou mandatários.
Em que termos surge a obrigação de indemnizar os danos causados na qual se concretiza a
responsabilidade?
O artigo 165° remete para a responsabilidade dos comitentes por actos dos seus comitidos. Tal
responsabilidade – na hipótese da responsabilidade aquiliana – consta do artigo 500°,
integrado nas disposições relativas à responsabilidade pelo risco (responsabilidade objectiva),
isto é, em que se prescinde da culpa do responsável. Resulta desta disposição que, para a
pessoa colectiva responder, se devem verificar os pressupostos seguintes:
1) Que sobre o órgão, agente ou mandatário recaia igualmente a obrigação de indemnizar (art
500°, n.º 1): desde logo, que tenha havido culpa da pessoa simples que praticou o acto ilícito
causador do dano (Art. 483°), salvo se se tratar de matérias onde se responde sem culpa
(acidentes causados por veículos: Art. 503°; danos causados por animais: Art. 502°; danos
causados por instalações de energia ou gás: 509°; acidentes de trabalho; etc.) ou do caso ainda
mais excepcional de responsabilidade por intervenções lícitas (estado de necessidade: 339°,
n.º 2, 2.ª parte). Mais se toma necessário que o acto tenha causado danos e que estes estejam
em relação de causalidade adequada com aquele.
2) Que o acto danoso haja sido praticado pelo órgão, agente ou mandatário no exercício da
função que lhe foi confiada.
Quando pode considerar-se o acto praticado no exercício das funções?
A concretização deste ponto pode dar origem a dificuldades apreciáveis. A doutrina propõe
critérios vários para o esclarecer. Assim, diz-se que o órgão ou agente deve ter procedido em
tal veste ou qualidade ou ter actuado por causa das suas funções e não apenas por ocasião
delas, e precisa-se que basta que o acto se integre no quadro geral da respectiva competência.
Haverá responsabilidade da pessoa colectiva se, por caso fortuito ou culpa, o gerente de uma
sociedade ou um motorista, conduzindo uma viatura, em serviço da sociedade, causam danos
a terceiros; mas não já se fazem um desvio no percurso para tratar de assuntos pessoais,
ocorrendo então o acidente, ou se a utilizam para passear a família. Igualmente, se um órgão
de uma pessoa colectiva pratica um acto ilícito na conclusão de um negócio para o ente
colectivo (dolo, coacção) - são os casos chamados de responsabilidade pré-contratual ou in
contrahendo aos quais, porém, não é certo que não deva aplicar-se antes o regime do artigo
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800° -, mas não já se aproveita para furtar um objecto à contraparte ou se a injuria, ou se


fumando, por descuido provoca um incêndio.
Bastará todavia, por vezes, que o acto se integre formalmente nas funções do órgão, mesmo
que tenha sido praticado em vista de um interesse próprio do seu autor. É que o artigo 500°,
n.º 2, estatui que a responsabilidade se mantém, ainda que o acto seja praticado
intencionalmente. Será preciso que o acto, embora doloso, tenha sido praticado em vista de
interesses da pessoa colectiva, ou em conexão com eles? Ou haverá responsabilidade mesmo
quando se visavam apenas interesses próprios, como no caso do gerente de uma sociedade,
em serviço desta, provocar intencionalmente um acidente, por inimizade pessoal com o
ofendido?
Parece que será ir longe de mais responsabilizar a pessoa colectiva, se o acto foi
intencionalmente praticado para realizar um objectivo meramente pessoal, sem conexão com
os interesses da pessoa colectiva. É que, nessa hipótese, há um nexo de mera ocasionalidade
entre as funções do órgão ou agente e o acto. Sendo assim, os actos intencionais (dolosos),
referidos no artigo 500°, que não excluem a responsabilidade do ente colectivo, são os que
visaram exclusiva ou conjuntamente interesses da entidade representada. Só será legítimo ir
mais longe e responsabilizar uma sociedade por actos dolosos dos seus órgãos ou agentes,
praticados em vista de fins pessoais, mas integrados formalmente no quadro geral da sua
competência, se o agente aproveita uma aparência social que cria um estado de confiança
(boa fé) do lesado na lisura do comportamento daquele - p. ex., informações falsas prestadas a
título oficial; o gerente ou o empregado de um banco, sem poderes suficientes, recebem uma
quantia de um particular para fins de investimento, com a intenção de a dissipar em proveito
próprio; etc.
Ao lado da pessoa colectiva fica igualmente adstrito à obrigação de indemnizar o órgão, agente
ou mandatário (500°/1). Mas qual o regime desta obrigação plural (pluralidade passiva):
conjunção (parciariedade) ou solidariedade? Trata-se de uma obrigação solidária (497°, n.º 1,
aplicável por força do 499°): claro que responderá apenas a sociedade, se não for determinado
o órgão ou agente culpado do acto desencadeador de responsabilidade.
A pessoa colectiva que tiver satisfeito a indemnização ao lesado tem direito de regresso contra
o órgão, agente ou mandatário, podendo exigir-lhe o reembolso de tudo quanto haja pago,
desde que tenha havido culpa deste no plano das relações internas. Tratar-se-á normalmente
de uma responsabilidade contratual do órgão ou agente para com a pessoa representada.
Por outro lado, também o órgão, agente ou mandatário, desde que tenha satisfeito a
indemnização à vítima, pode exercer a acção de regresso ou recursória contra a pessoa
colectiva, se não houve da sua parte culpa que o responsabilize no plano das relações internas.
AS COISAS
Com efeito há entes susceptíveis de serem objecto de relações jurídicas que não são coisas em
sentido jurídico.
Características que a coisa deve revestir:
a) Individualidade - Existência autónoma ou separada (uma casa é uma coisa, não o sendo
todavia cada uma das pedras ou das paredes que a integram, enquanto absorvida ou incluída
no todo).
b) Probabilidade - Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém (não são coisas os bens
que escapam ao domínio do homem, de qualquer homem, como por exemplo, e por
enquanto, as estrelas, os planetas, etc., ou os que, por falta de possibilidade de delimitação ou

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captura, são necessariamente aproveitados por todos os homens, como, por exemplo, a
camada atmosférica, a luz solar, etc.
c) Utilidade - Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas (o homem é a
medida e o critério do relevo jurídico das coisas; por isso não são coisas, pois para nada
servem, uma gota de água, um grão de areia, etc.).
Inversamente não é necessário:
a) Que se trate de bens de natureza corpórea (a energia eléctrica é uma coisa como o são os
objectos dos direitos de autor e da propriedade industrial);
b) Que se trate de bens permutáveis, isto é, com valor de troca (pode tratar-se de bens com
valor meramente pessoal);
c) Que se trate de bens efectivamente apropriados (pode tratar-se das "res nullius", como os
animais bravios ou os peixes não apropriados, ou de coisas abandonadas ou "res derelictae";
basta, portanto, que sejam bens apropriáveis).
Património
Na linguagem dos juristas a palavra património conhece várias acepções.
O património global - Tem-se então em vista o conjunto de relações jurídicas activas e passivas
(direitos e obrigações) avaliáveis em dinheiro de que uma pessoa é titular. O património é
integrado por direitos sobre as coisas (propriedade, usufruto, etc.), direitos de crédito,
obrigações e outros direitos patrimoniais.
O património autónomo - Na esfera jurídica de uma pessoa existe normalmente apenas um
património. Em certos casos, porém, seremos forçados a concluir existir na titularidade do
mesmo sujeito, além do seu património geral, um conjunto de relações patrimoniais
submetido a um tratamento jurídico particular, tal como se fosse de pessoa diversa - estamos
perante um património autónomo ou separado. O critério preferível é, em coerência com a
principal função jurídica do património, o da responsabilidade por dividas.
Património autónomo ou separado será, assim, o que "responde por dívidas próprias".
(exemplo: património autónomo no direito privado português é a herança).
O património colectivo - apresenta-se-nos quando, inversamente, um único património tem
vários sujeitos. Duas ou mais pessoas, que possuem - cada uma - o seu património que lhes
pertence globalmente., ou seja, não se confunde com a compropriedade ou propriedade em
comum.
Na propriedade em comum ou compropriedade, figura de procedência romanística, estamos
perante uma comunhão por quotas ideais, isto é, cada comproprietário ou consorte tem
direito a uma quota ideal ou fracção do objecto comum, (artigo 1408º; 1412º).
O património colectivo é, pois, determinado por uma causa ou escopo.
TEORIA GERAL DO FACTO JURÍDICO.
Facto Jurídico - É todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante. Esta
relevância jurídica traduz-se, principalmente, senão mesmo necessariamente, na produção de
efeitos jurídicos.
Classificação dos factos jurídicos:
I - A primeira grande classificação dos factos jurídicos é a que se pode estabelecer entre factos
voluntários ou actos jurídicos e factos jurídicos involuntários ou naturais.

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Os factos voluntários resultam da vontade como elemento juridicamente relevante; são


manifestação ou actuação de uma vontade; são acções humanas tratadas pelo direito
enquanto manifestações de vontade.
Os factos jurídicos involuntários são estranhos a qualquer processo evolutivo - ou porque
resultam de causas de ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade não tem
relevância jurídica.
II - Os factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos podem ser:
Ilícitos - quando contrários à ordem jurídica e por ela reprovados; importam uma sanção para
o seu autor (infractor de uma norma jurídica).
Lícitos - quando são conformes á ordem jurídica e por ela consentidos.
III - Os factos voluntários ou actos jurídicos podem, segundo outra classificação de carácter
fundamental, distinguir-se em:
Factos voluntários - são negócios jurídicos, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais
declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes
com o conteúdo da vontade das partes.
Os efeitos dos negócios jurídicos produzem-se - como é comum dizer-se " ex voluntate " e não
apenas " ex lege ". É o que sucede com o testamento e com os contratos.
Actos jurídicos - são factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não tenham
sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordância entre a
vontade destes e os referidos efeitos.
Os efeitos actos jurídicos "stricto sensu" produzem-se - diz-se comunmente - "ex lege" e não
"ex voluntate". (artigo 805º n.º 1), (artigos 464º e ss.), (artigo 583º) e (artigo 82º).
IV - Dentro de simples actos jurídicos é usual fazer-se uma distinção entre:
1- Quase negócios jurídicos ou actos jurídicos quase - negociais - traduzem-se na
manifestação exterior de uma vontade (dirigida a alguém). É o caso da interpelação do
devedor, da gestão de negócios, da notificação da cessão de créditos, da reclamação por vícios
(artigo 471º do Código Comercial), da fixação do prazo referido no artigo 808º do Código Civil,
etc.
2- Operações jurídicas, também designadas na doutrina estrangeira pelas expressões actos
materiais, actos reais ou actos exteriores - traduzem-se na efectivação ou realização de um
resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos jurídicos. É o caso da
acessão industrial, da especificação, da ocupação de animais ou coisas moveis, da descoberta
de um tesouro, dos achados, das invenções industriais, da criação artística, literária ou
científica, da aquisição ou perda de posse por acto material, etc.
AQUISIÇÃO, MODIFICAÇÃO E EXTINÇÃO DE RELAÇÕES JURÍDICAS
Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurídicos consistem
fundamentalmente numa aquisição, numa modificação ou numa extinção de relações
jurídicas.
Aquisição: Um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele.
Aquisição de direitos é, pois, a ligação - criação de um laço de pertinência - de um direito a
uma pessoa.

Estes, bem como muitos dos apontamentos disponibilizados no blog Direito Lusófono, são de autoria desconhecida, ou foram
feitos sem grandes preciosismos, ou, ainda, podem representar temáticas estudadas em anos diferentes dos actuais e que por isso
poderão incorrer em imprecisões normativas ou doutrinais.
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Constituição de direitos: A constituição de um direito é o seu surgimento, é a criação de um


direito que não existia anteriormente. Toda a constituição de um direito implica a sua
aquisição, dado não existirem direitos sem sujeito.
II - Tipos fundamentais de aquisição de direitos:
Aquisição originária - o direito adquirido não depende da existência ou da extinção de um
direito anterior, que poderá até não existir; quando o direito anterior exista, o direito não foi
adquirido por causa desse direito, apesar dele.
São casos de aquisição originária, a ocupação de coisas móveis (artigos 1318º e ss.); a
usucapião (artigos 1287º e ss.); a aquisição de direitos de autor pela criação literária, artística
ou científica.
Aquisição derivada - o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na
titularidade de outra pessoa; a existência anterior desse e a sua extinção ou limitação é que
geram a aquisição do direito pelo novo titulo, é que são a causa dessa aquisição.
São casos de aquisição derivada a aquisição do direito de propriedade, ou de outro direito real,
por força de um contrato (venda, doação, troca, etc.), a aquisição de um crédito ou de uma
relação contratual por cessão, aquisição de direitos por sucessão "mortis causa", etc.
Dentro da aquisição derivada pode distinguir-se entre:
Aquisição derivada translativa - (a mais vulgar) - o direito adquirido é o mesmo que já
pertencia ao anterior titular.
Assim, se um indivíduo adquire o domínio de um prédio por compra, doação ou sucessão
mortis causa, legítima ou testamentária.
Aquisição derivada constitutiva - o direito adquirido filia-se num direito (mais amplo) do
anterior titular. Forma-se à custa dele, limitando-o ou comprimindo. Mas não preexiste como
entidade autónoma e específica na esfera jurídica dessa pessoa.
Ex.: É o caso de o proprietário de um prédio constituir (por venda, etc.) uma servidão ou outro
direito real - de gozo ou de garantia - a favor de outrém.
Aquisição derivada restitutiva - Tem em vista a hipótese de o titular de um direito real
limitado (servidão, etc.) se demitir dele, unilateral ou contratualmente (a titulo gratuito ou a
titulo oneroso), recuperando assim ipso facto o proprietário a plenitude dos seus poderes, em
virtude da conhecida elasticidade ou força expansiva do direito de propriedade.
Ex: Servidão de passagem.
Distinção entre aquisição derivada e sucessão (+ extensa).
A sucessão é o sub-ingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relações jurídicas
determinadas ou determinadas relações jurídicas de outrem. Rigorosamente coincide apenas,
portanto, com a aquisição derivada translativa, pois só nesta é que o direito adquirido é o
mesmo do anterior titular. A sucessão refere-se igualmente ás dividas e não só aos direitos.
Distinção entre aquisição derivada e aquisição originária.
“Ninguém pode transferir para outro, mais poderes do que os que tem".
Na aquisição originária a extensão do direito adquirido depende apenas do facto ou titulo
aquisitivo. Na aquisição derivada a extensão do direito do adquirente depende do conteúdo do
facto aquisitivo, mas depende ainda da amplitude do direito do transmitente, não podendo
em regra ser maior que a deste direito.
Este principio caracterizador da aquisição derivada comporta, todavia excepções.
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a) Dos institutos do registo predial, do registo de automóveis e registos similares (aeronaves,


navios, quotas comerciais). Por força destes institutos devem ser inscritos com o fim de lhes
dar publicidade, os diversos actos inerentes a bens imóveis, a veículos automóveis ou aos
restantes bens indicados, em particular os actos de que resulte a aquisição de direitos reais
sobre os mesmos bens.

O registo não é meio de aquisição dos direitos, sendo o acto plenamente eficaz "inter partes",
seus herdeiros ou representantes, mesmo na falta de registo. A consequência da falta de
registo é a ineficácia do acto em relação a terceiros (artigos 4º e 5º do Código do Registo
Predial - Dec. Lei n.º 224º/84, de 6 de Junho).
Modificação de direitos
Tem lugar a modificação de direitos quando, alterado ou mudado um elemento de um direito,
permanece a identidade do referido direito apesar da alteração ocorrida.
O direito é o mesmo e não um direito novo.
Modificação subjectiva - se tem lugar uma substituição do respectivo titular, permanecendo a
identidade objectiva do direito. Tem lugar, uma sucessão no direito.
Modificação objectiva - se muda o conteúdo ou o objecto do direito, permanecendo este
idêntico.
- Muda o conteúdo, se por exemplo é concedida pelo credor ao devedor uma prorrogação do
prazo para o cumprimento.
- Muda o objecto, se por exemplo não cumprindo o devedor culposamente a obrigação, o seu
dever de prestar é substituído por um dever de indemnizar.
Extinção de direitos
A extinção de direitos tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de uma
pessoa. Quebra-se a relação de pertinência entre um direito e a pessoa do seu titular.
Extinção subjectiva - ou perda de direitos, se o direito sobrevive em si, apenas mudando a
pessoa do seu titular.
Extinção objectiva - se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para
outra pessoa. É o que acontece se há destruição do objecto de direitos.
DO NEGÓCIO JURÍDICO E DO SIMPLES ACTO JURÍDICO
Os negócios jurídicos são actos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de vontade,
dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob tutela do
direito, determinando o ordenamento jurídico, a produção dos efeitos jurídicos conformes à
intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
Relação entre a vontade exteriorizada na declaração negocial e os efeitos jurídicos do negócio.
Teoria dos efeitos jurídicos - Para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais como a lei
os determina, são perfeita e completamente correspondentes ao conteúdo da vontade das
partes. Haveria uma vontade das partes dirigida à produção de determinados e precisos
efeitos jurídicos.
Este ponto de vista não fornece o correcto diagnóstico ou o correcto critério para a
determinação da relação que intercede no negócio jurídico entre a vontade dos seus autores e
os efeitos jurídicos respectivos. Aliás, a ser esta doutrina correcta, só os juristas
completamente informados sobre o ordenamento podiam celebrar negócios jurídicos.
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Teoria dos efeitos práticos - As partes manifestam apenas uma vontade de efeitos práticos ou
empíricos, normalmente económicos, sem carácter ilícito. A estes efeitos práticos ou empíricos
manifestados, faria a lei corresponder efeitos jurídicos concordantes.
Também esta concepção é inaceitável. Tal como define o negócio jurídico este não se distingue
dos compromissos ou convenções celebrados sob o império de outros ordenamentos
normativos (cortesia, moral, praxes sociais, etc.).
Teoria dos efeitos práticos-jurídicos - é o ponto de vista correcto. Os autores dos negócios
jurídicos visam certos resultados práticos ou materiais e querem realizá-los por via jurídica.
Tem, pois, também uma vontade de efeitos jurídicos.
Há uma intenção dirigida a um determinado efeito económico juridicamente garantido.
Negócios de pura obsequidade - Estes são promessas ou combinações da vida social, às quais
é estranho o intuito de criar, modificar ou extinguir um vínculo jurídico ( por exemplo, o
convite para um passeio, para um jantar, etc. ).
Acordos ou gentlemens's agreements - Estas convenções são combinações sobre matéria que
à normalmente objecto de negócios jurídicos, mas que, excepcionalmente, estão desprovidas
de intenção de efeitos jurídicos. É o caso de um empréstimo de honra ou de uma disposição de
bens para depois da morte, em que o disponente confia pura e simplesmente na
honorabilidade dos herdeiros a quem cumpre executar a disposição.
ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Elementos essenciais - São os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio.
São eles a capacidade das partes (e a legitimidade, quando a sua falta implique e não apenas
ineficácia), a declaração de vontade sem anomalias e a idoneidade do objecto.
Pode igualmente falar-se de elementos essenciais no sentido de cada negócio típico ou
nominado (venda, locação, doação, mutuo, etc.). Trata-se agora das cláusulas que contra
distinguem um certo tipo negocial dos restantes tipos. São as características próprias de cada
modalidade negocial, que a separam dos tipos vizinhos.
Elementos naturais - São os efeitos negociais, derivados de disposições legais supletivas. Não
é necessário que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos,
podendo, todavia, ser excluídos por estipulação previamente formulada.
São exemplos de normas supletivas, e consequentemente de efeitos correspondentes a
elementos naturais dos respectivos tipos de negócio jurídico, os artigos 964.º (doação), 885.º
(compra e venda), 1030.ºº (locação), etc.
Elementos acidentais - São as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das
estipulações que não caracterizam o tipo negocial em abstracto, mas se tornam
imprescindíveis para que o negócio concreto produza os efeitos a que elas tendem.
É o caso das clausulas de juros, da clausula condicional.
Negócios entre vivos - destinam-se a produzir efeitos em vida das partes. A esta categoria
pertencem quase todos os negócios jurídicos, por força dos interesses gerais do comércio
jurídico, a tutela das expectativas da parte que se encontra em face da declaração negocial.
Negócios "mortis causa” - destinam-se a produzir efeitos depois da morte da respectiva parte
ou de alguma delas. São negócios "fora do comércio jurídico", ou seja, na sua regulamentação,
os interesses do declarante devem prevalecer sobre o interesse na protecção da confiança do
destinatário dos efeitos respectivos. Exemplo: o testamento.

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Os negócios formais ou solenes são aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade da
observância de determinada forma, o acatamento de determinado formalismo ou de
determinadas solenidades.
Os negócios não solenes (consensuais, tratando-se de contratos) são os que podem ser
celebrados por quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial; a lei não
impõe uma determinada roupagem exterior para o negócio, artigo 219.º.
Negócios reais - São aqueles negócios em que se exige, além das declarações de vontade das
partes, formalizadas ou não, a prática anterior ou simultânea de um certo acto material.
Negócios sucessórios (por exemplo, o testamento, pactos sucessórios, renúncia à herança,
mas não já partilha) este principio sofre importantes restrições resultantes de algumas normas
imperativas do direito das sucessões (sucessão legitimária, proibição dos patos sucessórios,
etc.).
Negócios familiares pessoais (casamento, perfilhação, adopção) a liberdade contratual está
praticamente excluída, podendo apenas os interesses celebrar ou deixar de celebrar o negócio,
mas não podendo fixar-lhes livremente o conteúdo, nem podendo celebrar contratos
diferentes dos previstos na lei.
Negócios familiares patrimoniais (convenções antenupciais) existe, com alguma largueza, a
liberdade de convenção (artigo 1698.º), sofrendo embora restrições (artigos 1699.º; 1714.º).
Negócios reais (por exemplo, venda ou doação de coisa certa e determinada, negócio
constitutivo de hipoteca, renúncia à hipoteca) o principio da liberdade contratual sofre
considerável limitação derivada do principio da tipicidade ou do "numeros clausus", visto que
"não é permitida a constituição com carácter geral, de restrições ao direito de propriedade ou
de figuras parcelares deste direito senão nos casos previstos na lei" (artigo 1306.º). Só podem
constituir-se direitos reais típicos, embora essa constituição possa resultar de um negócio
inominado ou atípico.
Negócios obrigacionais (por exemplo, venda ou doação de coisa indeterminada,
arrendamento, denúncia de arrendamento) vigora o principio da liberdade negocial, quase
inconfinadamente, quanto aos contratos, abrangendo a liberdade de fixação do conteúdo dos
contratos típicos, de celebração de contratos diferentes dos previstos na lei e de inclusão estes
e quaisquer cláusulas (artigo 405º); quanto aos negócios unilaterais, vigora, porém o principio
da tipicidade (artigo 457º).
Negócios pessoais são negócios cuja disciplina, quanto a problemas como o da interpretação
do negócio jurídico e o da falta de vícios da vontade, não tem que atender às expectativas dos
declaratários e aos interesses gerais da contratação, mas apenas à vontade real, psicológica do
declarante.
Negócios patrimoniais, por exigência de tutela da confiança do declaratário e dos interesses
do tráfico, a vontade manifestada ou declarada triunfa sobre a vontade real, assim se
reconhecendo " o valor social da aparência ".
Negócios onerosos ou a titulo oneroso pressupõem atribuições patrimoniais de ambas as
partes, existindo, segundo a perspectiva destas, um nexo ou relação de correspectividade
entre as referidas atribuições patrimoniais (normalmente traduzidas em prestações). Cada
uma das partes faz uma atribuição patrimonial que considera retribuída ou contrabalançada
pela atribuição da contraparte. Cada uma das prestações ou atribuições é o correspectivo (a
contrapartida) da outra, pelo que, se cada parte obtém da outra uma vantagem, está a pagá-la
com um sacrifício que é visto pelos sujeitos do negócio como correspondente.

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Negócios gratuitos ou a titulo gratuito caracterizam-se, ao invés, pela intervenção de uma


intenção liberal (animus donandi, animus beneficiandi). Uma parte tem a intenção,
devidamente manifestada, de efectuar uma atribuição patrimonial a favor da outra, sem
contrapartida ou correspectivo. A outra parte procede com a consciência e vontade de receber
essa vantagem sem um sacrifício correspondente.
Nos negócios gratuitos cria-se, e há acordo das partes sobre este ponto - uma vantagem
patrimonial para um dos sujeitos sem nenhum equivalente. O acto é a titulo gratuito quando
for realizado com uma particular intenção ou causa que é a de proporcionar uma vantagem à
outra parte.
Contratos comulativos e contratos aleatórios
É uma subdivisão a estabelecer dentro dos contratos onerosos. Nos contratos aleatórios as
partes submetem-se a uma álea, uma possibilidade de ganhar ou perder. A onerosidade
consiste na circunstância de ambas estarem sujeitas ao risco de perder, embora no final de
contas, só uma venha a ganhar.
Exemplos de contratos aleatórios: jogo, aposta (artigos 1245.º e ss.), seguro (artigos 425.º e ss.
Do Código Comercial), renda vitalícia (artigo 1238.º), risco (artigo 626.º do Código Comercial),
venda de coisa futura, com carácter aleatório ou " emptio spei " (artigo 880.º, n.º 2), venda de
bens de existência ou titularidade incerta ( artigo 881.º ).
Os contratos de jogo e de aposta não são válidos. Nem constituem fonte de obrigações civis.:
porém, quando lícitos, são fonte de obrigações naturais (artigo 1245.º).
Negócios parciários São uma subespécie dos negócios onerosos. Caracterizam-se pelo facto de
uma pessoa prometer certa prestação em troca de uma qualquer participação nos proventos
que a contraparte obtenha por força daquela prestação.
Negócios de mera administração e negócios de disposição - são os correspondentes a uma
gestão comedida e limitada, donde estão afastados os actos arriscados, susceptíveis de
proporcionar grandes lucros, mas também de causar prejuízos elevados
A DECLARAÇÃO NEGOCIAL
Pode definir-se a declaração de vontade negocial como o comportamento que, exteriormente
observado, cria a aparência de exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial,
caracterizando, depois, a vontade negocial como a intenção de realizar certos efeitos práticos,
com ânimo de que sejam juridicamente tutelados e vinculativos.
Dá-se assim um conceito objectivista de declaração negocial, fazendo-se consistir a sua nota
essencial, não num elemento interior - uma vontade real, efectiva, psicológica, mas num
elemento exterior - o comportamento declarativo.
Numa declaração negocial podem distinguir-se normalmente os seguintes elementos:
a) A declaração propriamente dita (elemento externo) - consiste no comportamento
declarativo;
b) A vontade (elemento interno) - consiste no querer, na realidade que normalmente existirá e
coincidirá com o sentido objectivo da declaração.
O elemento interno pode decompor-se analiticamente em três sub-elementos.
a) A vontade de acção - consiste na voluntariedade (consciência e intenção) do
comportamento declarativo.

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Pode faltar a vontade de acção. Assim acontece se uma pessoa, por acto reflexo ou
distraidamente, sem se aperceber do facto, faz um gesto e este objectivamente aparece como
uma declaração negocial (por exemplo: aceitação de uma proposta).
É igualmente o caso da coacção ou violência absoluta (coacção física) - é esta a hipótese mais
viável e significativa de falta de vontade de acção.
b) A vontade da declaração ou vontade de relevância negocial da acção - consiste em o
declarante atribuir ao comportamento crido o significado de uma declaração negocial. Este
subelemento só está presente se o declarante tiver a consciência e a vontade de que o seu
comportamento tenha significado negocial vinculativo - consciência e vontade de que o seu
comportamento produza efeitos negociais no campo do direito.
Pode faltar a vontade de declaração. Uma pessoa, julgando subscrever uma simples ficha de
assinatura para o arquivo de um banco, assina uma declaração negocial. Um indivíduo entra
num leilão e faz um gesto de saudação a um amigo; segundo as praxes do lugar esse facto
significa uma oferta de certa importância pelo objecto leiloado, sem que a pessoa disso se
tenha apercebido. Alguém subscreve um contracto, julgando assinar uma carta de felicitações.
c) A vontade negocial, vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado - consiste
na vontade de celebrar um negócio jurídico de conteúdo coincidente com o significado
exterior da declaração. É uma vontade efectiva correspondente ao negócio concreto que
apareceu declarado.
Pode haver um desvio na vontade negocial. É o caso de o declarante ter atribuído aos termos
da declaração um sentido diverso do sentido que exteriormente é captado. Uma pessoa quer
comprar a Quinta do Mosteiro e declara querer comprar a Quinta da Capela - que é um outro
prédio - por julgar erradamente que a Quinta do Mosteiro se chama Quinta da Capela.
Declaração negocial expressa é quando a mesma é feita por palavras, escrito ou quaisquer
outros meios directos, frontais, imediatos de expressão de vontade. Ex: artigo 957.º
(responsabilidade do doador pelos ónus ou vícios do direito ou da coisa doada), artigo 731.º
(renúncia à hipoteca).
Declaração negocial tácita quando, do seu conteúdo directo se infere um outro, isto é, quando
se destina a um certo fim, mas implica e torna cognoscível, lateral/, um auto regulamento
sobre outro (quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam). Por
exemplo: o pagamento pelo inquilino de rendas antecipadas é uma tácita declaração de
prorrogação do contrato para o tempo a que elas respeitam; o cumprimento da obrigação
depois de consumado o prazo prescricional é renúncia do devedor à prescrição, etc. ), artigo
217.º n.º 2. Ex.: artigo 302.º (renúncia à prescrição), artigo 2056.º (aceitação de herança).
Declaração negocial presumida
A declaração negocial presumida tem lugar quando a lei liga a determinado comportamento o
significado de exprimir uma vontade negocial, em certo sentido, podendo ilidir-se tal
presunção mediante prova em contrário, artigo 350.º, n.º 1 e 2. Ex.: artigo 926.º (vendas a
contento e vendas sujeitas a prova).
A declaração negocial ficta tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuído um
significado legal tipificado, sem admissão de prova em contrário, artigo 350.º n.º 2.
Ex.: artigo 923.º n.º 2 (aceitação das vendas feitas sob reserva de a coisa não agradar ao
comprador).
O Protesto acontece, quando, emitido certo comportamento declarativo, pode o declarante
recear que lhe seja imputado, por interpretação, um certo sentido. Para o impedir, o

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declarante afirma abertamente não ser esse o seu intuito. Ou seja, observa-se uma contra
declaração.
O Protesto tem o nome de Reserva, quando consiste na declaração de que um certo
comportamento não significa renúncia a um direito próprio, ou reconhecimento de um direito
alheio.
Forma da declaração negocial
Vantagens e inconvenientes do formalismo negocial
O formalismo negocial tem as seguintes vantagens principais:
a) Assegura uma mais elevada dose de reflexão das partes. Nos Negócios formais, o tempo,
que medeia entre a decisão de concluir o negócio e a sua declaração, permite repensar o
negócio e defende as partes contra a sua ligeireza ou precipitação, dá-lhes oportunidade de
medirem a importância e os riscos do acto. No mesmo sentido concorre a própria solenidade
do formalismo;
b) Separa os termos definitivos do negócio da fase pré-contratual (negociação);
c) Permite uma formulação mais precisa e completa da vontade das partes;
d) Proporciona um mais elevado grau de certeza sobre os perigos ligados à falível prova de
testemunhas;
e) Possibilita uma certa publicidade do acto, o que interessa ao esclarecimento de terceiros.
Estas vantagens pagam-se, porém, pelo preço de dois inconvenientes principais:
a) Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;
b) Eventuais injustiças, derivadas de uma desvinculação posterior de uma parte do negócio,
com fundamento em nulidade por vício de forma, apesar de essa parte ter querido
efectivamente o acto jurídico negocial.
Ponderando as vantagens e inconvenientes do formalismo negocial, sancionou o Código Civil
(artigo 219.º) o princípio da liberdade de forma ou consensualidade (sendo este último termo
rigoroso, apenas, para os contratos).
Consequências da inobservância da forma no nosso direito:
a) Inobservância da forma legal - Em conformidade com a orientação da generalidade das
legislações e com os motivos de interesse público que determinam as exigências legais de
forma, o Código Civil liga à inobservância da forma legal a nulidade, e não a mera
anulabilidade.
A nulidade deixará de ser sanção para a inobservância da forma legal, sempre que, em casos
particulares, a lei determine outra consequência (artigo 220.º). Pode suscitar-se, a este
propósito, o problema de saber se o nosso direito, nalguns casos, não considerará certas
formalidades como simplesmente probatórias ou “ad probationem".
Há que tomar em conta o artigo 364.º do actual Código Civil, integrado nas disposições sobre
direito probatório material constantes do mesmo.
Admite-se nestes casos, como meio de suprimento da falta do documento, a confissão
expressa.
Artigos a considerar: 222.º ; 223.º ; 227.º
b) Inobservância da forma convencional - Rege a este respeito o artigo 223.º. É óbvio que,
tratando-se de averiguar quais as consequências da falta de requisitos formais que a lei não

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exige, mas as partes convencionaram, a resposta ao problema posto deve ser pedida, em
primeiro lugar, à vontade das partes.
Perfeição da declaração negocial
A declaração negocial com um destinatário ganha eficácia logo que chegue ao seu poder ou é
dele conhecida. As declarações não receptivas tornam-se eficazes logo que a vontade se
manifesta na forma adequada, artigo 224.º, doutrina da recepção quanto ao momento da
conclusão dos contratos.
A proposta contratual mantém-se durante os prazos referidos no artigo 228.º n.º 1.
Irrevogabilidade da proposta - artigo 230.º. Nova proposta - artigo 233.º.
Interpretação e integração dos negócios jurídicos
A interpretação nos negócios jurídicos é a actividade dirigida a fixar o sentido e alcance
decisivo dos negócios, segundo as respectivas declarações integradoras.
Trata-se de determinar o conteúdo das declarações de vontade e, consequentemente, os
efeitos que o negócio visa produzir, em conformidade com tais declarações, e virá a produzir,
se não houver qualquer motivo de invalidade.
A interpretação não pode ser abandonada ao senso empírico de cada intérprete, mas deve
partir-se por regras ou critérios cuja formulação é, precisamente, o objecto da teoria da
interpretação dos negócios ou hermenêutica negocial. A teoria da interpretação pode ver,
frequentemente, alguns dos seus resultados convertidos em verdadeiras normas jurídicas
dirigidas ao juiz e às partes - onde se fixam princípios ou critérios interpretativos. É o caso dos
artigos 236.º e ss. Código Civil.
A teoria da interpretação dos negócios jurídicos tem dado lugar à formulação de concepções
opostas.
Para as concepções subjectivistas o intérprete deve buscar, através de todos os meios
adequados, a vontade real do declarante. O negócio valerá com o sentido subjectivo, isto é,
como foi querido pelo autor da declaração.
Para as posições objectivistas ou declarativistas o intérprete não vai pesquisar a vontade
efectiva do declarante, mas um sentido exteriorizado ou cognoscível através de certos
elementos objectivos. O objecto da interpretação não é a vontade mas a declaração como acto
signigficante. É uma interpretação normativa e não uma interpretação psicológica. Não se dá
relevo necessariamente à vontade real do declarante, nem sequer necessariamente à vontade
do real declaratário. Não estamos perante uma mera averiguação de factos; há que averiguar
factos, mas a conclusão, a partir deles, é a valoração jurídica e critério normativo.
Entre as doutrinas objectivistas merece referência, por ser a melhor das suas variantes, a
chamada teoria da impressão do destinatário; a declaração deve valer com o sentido que um
destinatário razoável, colocado na posição concreta do real declaratário, lhe atribuiria;
considera-se o real declaratário nas condições concretas em que se encontra e tomam-se em
conta os elementos que ele conheceu efectivamente mais os que uma pessoa razoável, quer
dizer, normalmente esclarecida, zelosa, e sagaz, teria conhecido e figura-se que ele raciocinou
sobre essas circunstâncias como o teria feito um declaratário razoável.
Posição adoptada.
A posição preferível "de jure constituendo", para a generalidade dos negócios, é a doutrina da
impressão do destinatário. É a posição mais razoável. É a mais justa por ser a que dá tutela
plena à legítima confiança da pessoa em face de quem é emitida a declaração.

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O Código Civil define o tipo de sentido negocial decisivo para a interpretação nos termos
daquela posição objectivista: "a declaração vale com o sentido que um declaratário, possa
deduzir do comportamento do declarante", artigo 236.º n.º 1.
Quando a interpretação leve a um resultado duvidoso, o problema deve ser resolvido nos
termos do artigo 237.º, que coincide substancialmente com o regime do Código anterior: nos
negócios gratuitos prevalece o sentido menos gravoso para o disponente e, nos negócios
onerosos, o que conduzir ao maior equilíbrio das prestações.
Maior objectivismo - é o que sucede nos negócios solenes ou formais. Quanto a estes, o
sentido objectivo correspondente à impressão do destinatário, isto é, o sentido
correspondente à doutrina geral, não pode valer se não tiver um mínimo de correspondência,
embora imperfeita, no texto do respectivo documento (artigo 238.º n.º 1).
Maior subjectivismo - é o caso das disposições testamentárias. Consagra-se, quanto à sua
interpretação, o sentido subjectivo, com o limite do "contexto do testamento”, artigo 2187.º
n.º 1.
Integração (tem lugar perante lacunas do negócio jurídico)
O critério a utilizar para o efeito de realizar a integração dos negócios jurídicos lacunosos é
anunciado no artigo 239º.
Observam-se então 3 critérios (soluções) alternativos mas sequenciais.
1.º Ressalva a hipótese de existir disposição especial, como será o caso, sempre que haja
disposição supletiva aplicável, directamente - o que poderá verificar-se, apenas, nos negócios
típicos - ou por analogia.
2.º Na falta de disposição supletiva que possa aplicar-se, o artigo 239.º remete para a vontade
hipotética ou conjectural das partes - "a que elas teriam tido se houvessem previsto o ponto
omisso".
3.º Estabelece-se, todavia, que o juiz se deverá afastar da vontade hipotética ou conjectural
das partes, quando a solução, que estas teriam estipulado, contrarie os ditames da boa fé;
neste caso, deve a declaração ser integrada de acordo com as referidas exigências da boa fé,
isto é, de acordo com o que corresponde à justiça contratual (ao que as partes devem querer
agora e não propriamente o que deveriam ter querido).
A divergência entre a vontade e a declaração
Formas possíveis de divergência:
Divergência intencional - acontece quando o declarante emite, consciente e livremente, uma
declaração com o sentido objectivo diverso da sua vontade real - quando a divergência é,
portanto, voluntária.
A divergência intencional pode apresentar-se sob uma de três formas principais:
a) Simulação - O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real,
por força de um conluio com o declaratário, com a intenção de enganar terceiros. É o caso da
chamada venda fantástica: A finge vender um prédio a B, por conluio com este, a fim de
prejudicar os seus credores; não querem na realidade vender nem comprar, mas apenas criar
uma aparência danosa para aqueles terceiros.
b) Reserva mental - O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade
real, sem qualquer conluio com o declaratário, visando precisamente enganar este. Por
exemplo A declara comprar a B um automóvel para o enganar, não tendo na realidade a

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intenção de fazer qualquer compra, tendo feito a declaração por julgar erradamente que a lei
exige escritura pública para a venda de automóveis;
c) Declarações não sérias - O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua
vontade real, mas sem intuito de enganar qualquer pessoa (declaratário ou terceiros). O autor
da declaração está convencido que o declaratário se apercebe do carácter não sério da
declaração. Pode tratar-se de declarações jocosas, didácticas, cénicas, publicitárias, etc.
Divergência não intencional - quando o dissídio em apreço é involuntário - porque o
declarante se não apercebe da divergência ou porque é forçado irresistivelmente a emitir uma
declaração divergente do seu real intento. A divergência não intencional pode consistir:
a) No erro - obstáculo ou na declaração - O declarante emite a declaração divergente da
vontade real, sem ter consciência dessa falta de coincidência. Trata-se de um lapso, de um
engano, de um equívoco. É o caso que se nos apresenta quando o declarante incorre num
lapso linguae ou lapsus calami, ou quando o declarante está equivocado sobre o verdadeiro
nome do objecto, dando-lhe uma denominação que, na realidade, corresponde a outro
objecto.
b) Na falta de consciência da declaração - O declarante emite uma declaração, sem sequer ter
a consciência ( a vontade ) de fazer uma declaração negocial, podendo até faltar
completamente a vontade de agir.
c) Na coacção física ou violência absoluta - O declarante é transformado num autómato,
sendo forçado a dizer ou escrever o que não quer, não através de uma mera ameaça, mas por
força do emprego de uma força física irresistível que o instrumentaliza e leva a adoptar o
comportamento; é o caso, por exemplo, de alguém, agarrando a mão de outrem, o fazer
desenhar a sua assinatura num documento ou de alguém, numa assembleia geral onde se vota
pelo sistema de levantados ou sentados, forçar outrem, agarrando-o a ficar sentado.
Teorias que visam resolver o problema da divergência entre a vontade e a declaração. São as
seguintes:
a) Teoria da vontade - propugna a invalidade do negócio (não vale nem a vontade real nem a
declarada), desde que se verifique uma divergência entre a vontade e a declaração e sem
necessidade de mais requisitos.
b) Teoria da culpa "in contrahendo" - parte da teoria da vontade, mas acrescenta-lhes a
obrigação de indemnizar a cargo do declarante, uma vez anulado o negócio com fundamento
na divergência, se houve dolo ou culpa deste do dissídio entre a vontade e a declaração e
houve boa fé por parte do declaratário; a indemnização visa cobrir o chamado interesse
contratual negativo ou interesse de confiança, isto é, visa repor o declaratário lesado com a
invalidade, na situação em que estaria se não tivesse chegado a concluir o negócio.
c) Teoria da responsabilidade - assenta na mesma ideia da teoria anterior, com a simples
diferença de em caso de dolo ou culpa do declarante, e estando de boa fé o declaratário, o
negócio ser válido; dá-se mais atenção ao argumento da necessidade de proteger a confiança,
por se considerar, com justeza, insuficiente a tutela concedida pela teoria da "culpa in
contrahendo"; começa a aceitar-se, assim, a ideia, de ser legítimo que um declarante responda
pela aparência exterior da sua vontade como se tivesse querido esse sentido aparente.
d) Teoria da declaração - enquanto a teoria da vontade arranca da consideração de que a
essência do negócio está apenas na vontade do declarante (dogma da vontade), a teoria da
declaração, embora de modo diverso, em conformidade com as suas modalidades, dá relevo
fundamental à declaração, ou seja, ao que foi exteriormente manifestado.
Comporta diversas modalidades:

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* A modalidade primitiva e extrema - característica dos direitos formalistas, onde se consagra


uma adesão rígida à expressão literal - se a forma ritual foi observada, produzem-se certos
efeitos, mesmo que não tenham sido queridos.
* As modalidades modernas e atenuadas (mais adoptadas entre nós) - em particular a
doutrina da confiança - a divergência entre a vontade real e o sentido objectivo da declaração,
isto é, o que um declaratário razoável lhe atribuiria, só produz a invalidade do negócio, se for
conhecida ou cognoscível do declaratário. (artigo 244.º).
Outra solução declarativista - doutrina da aparência eficaz - subscreve os resultados da
doutrina da confiança, mas limita-a, propugnando a invalidade, também, para a hipótese de o
declaratário, não se apercebendo do dissídio entre a vontade real e o sentido objectivo, ter,
todavia, compreendido um terceiro sentido; quer dizer, a validade do sentido objectivo só será
de aceitar, em vez da invalidade, se o declaratário confiou efectivamente nesse sentido. (artigo
247º).
Simulação
O conceito de negócio simulado está explicitamente formulado no artigo 240.º n.º1.
Os elementos integradores do conceito, referidos naquela disposição, são:
a) Intencionalidade da divergência entre a vontade e a declaração.
b) Acordo entre declarante e declaratário (acordo simulatório), o que, evidentemente, não
exclui a possibilidade de simulação nos negócios unilaterais.
c) Intuito de enganar terceiros.
A distinção entre simulação absoluta e simulação relativa tem importância derivada de esta
última gerar problema solucionado pelo artigo 241.º n.º 2. Enquanto o negócio simulado é
nulo, e na simulação absoluta se não põe mais nenhum problema, na simulação relativa surge
o problema do tratamento a dar ao negócio dissimulado ou real que fica a descoberto com a
nulidade do negócio simulado.
Modalidades da simulação relativa:
A simulação relativa manifesta-se em espécies diversas consoante o elemento do negócio
dissimulado a que se refere (simulação subjectiva ou dos sujeitos e simulação objectiva ou
sobre o conteúdo do negócio).
Efeitos da simulação relativa:
O negócio fictício ou simulado está ferido de nulidade, tal como na simulação absoluta.
O negócio real ou dissimulado será objecto do tratamento jurídico que lhe caberia se tivesse
sido concluído sem dissimulação (artigo 241.º). Nestes termos poderá o negócio dissimulado
ser plenamente válido e eficaz ou poderá ser inválido, consoante as consequências que teriam
lugar, se tivesse sido abertamente concluído.
Efeitos da simulação quanto aos negócios formais
Os problemas suscitados pela aplicação aos negócios formais da doutrina geral da simulação
relativa encontram a sua resposta no artigo 241.º n.º 2. Aí se estatui que "se, porém, o negócio
dissimulado for de natureza formal, só é válido se tiver sido observada a forma exigida por lei".
Haverá portanto, indiscutivelmente um negócio dissimulado válido se as partes fizerem
constar as declarações, que integram o seu núcleo essencial, de uma contradeclaração (escrito
de reserva ou de ressalva) com os requisitos formais exigidos para esse negócio.

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E se não existe uma contradeclaração, sendo certo, todavia, que o tipo de formalismo exigido
para o negócio dissimulado foi observado, embora do documento conste o negócio aparente e
não o acto oculto (por exemplo, lavrou-se uma escritura pública, donde consta uma venda de
imóveis, quando na realidade se fez uma doação ou vice-versa).
O artigo 241.º n.º 2 parece consagrar nesta hipótese, a solução da nulidade do negócio
dissimulado, tal como foi preconizada por BELEZA DOS SANTOS e estava reconhecida por
assento de 23 de Julho de 1952.
Diversa era a solução sustentada por Manuel de Andrade, para quem o negócio dissimulado
não devia ser nulo, se as razões que estão na base da exigência da sua forma ficaram
satisfeitas com a observância das solenidades próprias do negócio simulado.
O Código Civil parece ter repudiado esta orientação e aderido à doutrina de BELEZA DOS
SANTOS e do Assento citado.
Se há restrições à arguição da simulação pelos próprios simuladores
O artigo 242º n.º 1 atribui legitimidade aos próprios simuladores para a arguição da nulidade
do negócio simulado, mesmo que a simulação seja fraudulenta.
Advirta-se, no entanto, que esta possibilidade de a nulidade ser invocada pelos próprios
simuladores sofre uma apreciável restrição indirecta por força do artigo 394.º n.º 2 .
Arguição da simulação contra terceiros interessados na validade do negócio jurídico
O artigo 243.º consagra expressamente a regra da inoponibilidade da simulação a terceiros de
boa fé, que era já a correspondente à corrente dominante entre nós, mesmo na falta de um
texto nesse sentido, por ser uma solução postulada por elementares exigências de justiça e
segurança.
No Código Civil, conforme já se referiu a propósito da distinção entre aquisição derivada e
aquisição originária, as anulabilidades bem como as nulidades provenientes de causa diversa
da simulação, são inoponíveis a terceiros de boa fé, desde que se verifiquem certos requisitos,
constantes do artigo 291.º; a inoponibilidade da simulação não depende, porém, desses
requisitos, pelo que há um regime especial da inoponibilidade da simulação a terceiros de boa
fé (artigo 243.º), em confronto com o regime geral da inoponibilidade das nulidades e
anulabilidades (artigo 291.º).
No artigo 243.º n.º 3, estabelece-se uma presunção de má fé, em desfavor do terceiro que
adquiriu o seu direito depois do registo da acção de simulação.
Conflitos de interesses entre terceiros interessados na nulidade e terceiros interessados na
validade do negócio jurídico
1.Conflito entre credores comuns ou quirografários do simulado alienante e credores comuns
do simulado adquirente. Deve dar-se preferência aos interesses dos últimos, salvo se os
créditos duns e doutros são anteriores ao negócio simulado, continuando, todavia, nesta
última hipótese, a manter-se aquela preferência, se os credores do adquirente fictício
obtiveram penhora ou arresto sobre os bens transmitidos pelo acto simulado, antes de
proposta pelos credores do transmitente a respectiva acção de simulação.
2.Conflito entre credores comuns do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente. Parecem dever prevalecer os interesses dos subadquirentes do simulado
adquirente.
3.Conflito entre subadquirentes do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente. Visto que as duas aquisições são havidas como válidas, trata-se do problema geral

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da incompatibilidade entre direitos reais adquiridos do mesmo transmitente: prevalece a


venda mais antiga ou a que primeiro foi registada.
Prova da simulação
A prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por terceiros é livre, podendo ser feita
por qualquer dos meios admitidos na lei: confissão, documentos, testemunhas, presunções,
etc., dado que a lei não estabelece qualquer restrição.
Quanto à prova da simulação pelos próprios simuladores, a lei estabelece, quando o negócio
simulado conste de documento autêntico ou particular, a importante restrição constante do
artigo 394.º n.º 2, já do nosso conhecimento: não é admissível o recurso à prova testemunhal
e, consequentemente, estão também excluídas as presunções judiciais (artigo 351.º).
Reserva mental
É escassa a possibilidade prática da reserva mental como vício específico dos negócios
jurídicos.
Na nova lei os efeitos desta figura são determinados pelo artigo 244.º n.º 2, onde se estatui a
irrelevância da reserva mental, excepto se for conhecida do declaratário. Por consequência a
declaração negocial emitida pelo declarante, com reserva, ocultada ao declaratário, de não
querer o que declara, não é, em princípio, nula.
Deixará, todavia de ser assim, sendo o negócio nulo, como na simulação, se o declaratário teve
conhecimento da reserva, por desaparecerem então as razões que justificam aquele princípio
geral. Se o declaratário conheceu a reserva, não há confiança que mereça tutela.
Não bastará para a relevância da reserva a sua cognoscibilidade, sendo necessário o seu
efectivo conhecimento.
A rigidez desta doutrina poderá, todavia, ser atenuada, nalguns casos, por aplicação da
cláusula geral do artigo 334.º - abuso do direito. Com efeito excederá, muitas vezes, os limites
impostos pela boa fé ou pelos bons costumes - por ser clamorosamente contrária ao sentido
jurídico prevalecente - a pretensão do declaratário, no sentido da validade de uma declaração
que o respectivo autor emitiu, com reserva mental,. Para trazer vantagem ao declaratário (por
exemplo, para dissuadir do suicídio ou dum acto patrimonialmente ruinoso).
Declarações não sérias
Infere-se do artigo 245.º. Nota fundamental: a divergência entre a vontade e a declaração,
embora intencional, não visa enganar ninguém, pois procede-se na expectativa de que a falta
de serenidade não passe despercebida.
Modalidades - Declarações jocosas, cénicas, didácticas, publicitárias, etc. Apesar de existir uma
finalidade jocosa ou jactanciosa, a chamada "graça malévola" é reserva mental e não
declaração não séria. Fala-se de graça malévola para designar as situações em que a
declaração, emitida com uma intenção jocosa ou torcista, é feita na expectativa de que a outra
parte se deixará enganar, isto é, cairá no engano.
Efeitos - Em princípio, a declaração carece de quaisquer efeito (artigo 245.º). Se o declaratário
conhecia a falta de serenidade da declaração ou ela era exteriormente perceptível, parece
nem chegar a haver uma verdadeira declaração negocial. É o caso das declarações cénicas,
didácticas ou em jogos de sociedade.
No artigo 245.º n.º 2, prevêem-se casos marginais: aqueles, possíveis sobretudo nas
declarações jocosas (graça pesada) e publicitárias, em que a declaração foi feita em
circunstâncias que induzem o declaratário a aceitar justificadamente a sua serenidade.

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Sanciona-se, a esse respeito, a mesma solução (a declaração carece de qualquer efeito)


corrigida, porém, no interesse do declaratário, pela responsabilidade do declarante pelo
chamado interesse negativo ou da confiança (responsabilidade pré-negocial) e não a solução
da validade da declaração.
Dá-se lugar à indemnização por "culpa in contrahendo" - respeitante aos prejuízos que
advierem.
Certas hipóteses particulares merecem tratamento especial. Assim:
1 - Se o declaratário se apercebeu do dissídio entre a vontade real e a declarada e conheceu a
vontade real do declarante, o negócio valerá de acordo com a vontade real (artigo 236.º n.º 2).
As razões que estão na base da doutrina da declaração - tutela da boa fé do declaratário - não
colhem nesta hipótese.
2 - Se o declaratário conheceu ou devia ter conhecido o erro, o regime aplicável continua a ser
anulabilidade e não a nulidade verdadeira e própria.
3 - Se o declaratário aceitar o negócio como o declarante queria, a anulabilidade fundada em
erro não procede (artigo 248.º). A validação do negócio, nesta hipótese, tem uma explicação
análoga à da situação indicada em (1).
4 - O erro de cálculo e o erro de escrita, ostensivamente revelados no contexto da declaração
ou nas circunstâncias que a acompanham, não dão lugar à anulabilidade do negócio, mas
apenas à sua rectificação. (artigo 249.º).
5 - Se o declaratário compreendeu um terceiro sentido que não coincide nem com o querido
pelo declarante, nem com o declarado (por exemplo, o contrato consta de um documento,
assinado por ambas as partes, onde o preço esta objectivamente cifrado em francos franceses;
o vendedor, entende-o porém em francos suíços e o comprador em francos belgas), quid iuris?
O artigo 247.º pode não permitir anulabilidade, tal como aliás, poderia não a permitir a
doutrina da confiança, pois B, destinatário da declaração, pode não saber nem dever saber do
erro. O negócio deve todavia ser anulado, pois nada justifica valê-lo como um sentido
objectivo - preço em francos franceses - em que nenhuma das partes confiou. É a solução
correspondente à "teoria da aparência eficaz" que deve ser admitida, neste ponto, como
correctivo da teoria da confiança.
A doutrina da aparência eficaz visa atingir os fins visados com a teoria da confiança sem os
exceder e, portanto, não faz valer a declaração no sentido objectivo, a não ser que o
destinatário confie efectivamente nesse sentido. Assim, no caso de divergência entre os
sentidos querido, declarado e compreendido, torna a declaração anulável, como parece mais
razoável, enquanto a doutrina da confiança a faz valer no sentido declarado. A hipótese que
estamos a considerar constitui um caso especial de dissenso, a merecer tratamento
igualmente especial e, nesse sentido, se pronuncia, para as hipóteses deste tipo, a própria
doutrina defende concepções e soluções mais "objectivas" do negócio. Esse tratamento
especial, já o dissemos, e o da anulabilidade sem a exigência dos requisitos do artigo 247.º
Vícios da vontade
Modalidades de vício : (temos 2 tipos)
Vícios autónomos são os que constituem por si mesma causa de invalidade nos negócios
jurídicos em geral; o erro, o dolo, incapacidade acidental.
Vícios não autónomos, constituem apenas um dos elementos para a invalidade de certos
negócios jurídicos. Por Ex.: a lesão no negócio usurária – art. 282º -

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O erro como vício da vontade


O erro - vício traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma qualquer
circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efectuar o negócio.
Se tivesse exacto conhecimento da realidade - o declarante não teria realizado qualquer
negócio ou não teria realizado o negócio nos termos que o celebrou.
Trata-se, pois, de um erro nos motivos determinantes da vontade, daí que os juristas alemães
falem do erro - motivo a propósito do erro como vício da vontade.
Modalidades:
a) Erro sobre a pessoa do declaratário: erro sobre a identidade (este será, quase sempre, um
erro obstáculo) e erro sobre as qualidades;
b) Erro sobre o objecto do negócio, este pode ser de duas formas objecto mediato (sobre a
identidade ou sobre as qualidades), ou sobre o objecto imediato (erro sobre a natureza do
negócio). Mediato --» pode incidir sobre a identidade ou qualidade do objecto. Há um erro
sobre a qualidade do objecto – Se A compra a B uma mula quando pensava estar a comprar
uma água.
Imediato --» pode haver um erro sobre a natureza; ex.: A compra a B um relógio que +possa
ser de ouro, mas que é de prata dourada (em matéria de).
c) Erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratário nem ao objecto do negócio
(artigo 252.º): é uma noção residual, correspondente ao erro acerca da causa (de direito ou de
facto) do Código anterior e abrange igualmente o erro sobre a pessoa de terceiro.
Pressuposição – é um erro na formulação, refere-se ao futuro e caracteriza-se como a
convicção por parte do declarante, decisiva para a sua vontade de efectuar o negócio de que
certa circunstância se verificara ou de que se manterá um certo estado de coisas.
Ex.: A compra de um terreno com base em que perto virá a passar uma auto-estrada, ou com
base em que a paz e a atmosfera rural (art. 437º), existente não virá a ser perturbado pela
construção de vias rápidas.
Condições gerais de relevância do erro
1. o erro é essencial - quando tem um papel decisivo na determinação da vontade da
declarante de tal modo que foi causa da conclusão do negócio em si mesmo, e não apenas dos
seus termos.
Ou seja, se o declarante conhecesse a circunstância sob que incidiu o erro não teria celebrado
qualquer negócio ou celebraria um negócio de outro tipo negocial com um projecto ou com
outra pessoa, trata-se e erro que atinja os motivos determinantes da vontade. – art. 252º -
2. o erro é incidental - quando influi apenas nos termos do negócio em que sem esse erro o
errante celebraria o mesmo tipo de negócio com a mesma pessoa e objecto mediato, embora
com outros termos ou cláusulas .
O regime do erro incidental : o negócio é anulável, quando se não possam determinar esses
termos com segurança, ou com bastante probabilidade ou quando se prove que a outra parte
não teria aceite tais erros.
Propriedade do erro - o erro é próprio quando versa sobre outro elemento que não a
existência de qualquer requisito legal da validade do negócio caso contrário, será um erro
impróprio sendo a causa de invalidade do negócio, não o erro mas a falta do requisito legal.

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Por exemplo: A contacta com B julgando erradamente maior, quando afinal B só tem 17 anos;
é o negócio jurídico em causa exige a maioridade. O negócio não é inválido por erro de A, mas
por falta de capacidade jurídica de B.
Condições de desculpabilidade do erro e de individualidade do erro:
- o erro é desculpável quando não provem de uma extraordinária ignorância ou falta de
sagacidade ou de diligência incorrendo nele uma pessoa normal. (casamento - art. 1636º - uma
norma segundo a qual o erro tem de ser desculpável).
- quanto à individualidade do erro, o erro é individual ou singular quando seja exclusivamente
do errante e não de toda a gente em geral, então o erro é comum .
Art. 251º e 252º - não fala do requisito da individualidade do erro. E justifica-se por maioria da
razão que o erro comum seja relevante
Qual o regime para a generalidade dos negócios jurídicos feridos de erro-vício ?
R: é o regime da anulabilidade, e tem legitimidade para arguir a anulabilidade – art. 287º - o
errante, ou ,se as tiver, os seus herdeiros.
Depende:
- do negócio estar cumprido – art. 287º/1, tem 1 ano para pedir a anulabilidade.
- do negócio não estar cumprido – art. 287º/2, arguida a anulabilidade.
ATENÇÃO : 287º/1 diz que pode arguir a anulabilidade pessoas que são o errante no ano
subsequente à cessação do vício que lhe serve de fundamento.
NOTA: só se pode impedir as nulidades.
DOLO
Dolo positivo : decorre de condutas activas intencionais ou não intencionais, mas conscientes
para fazer incorrer o declarante em erro, ou para manter o erro em que o declarante se
encontra; ou para encobrir o erro em que o declarante se encontra. Mas para tanto são
precisas sugestões ou artifícios. Por Ex.: mentiras ou encenações
Dolo negativo : decorre de condutas omissivas que consistam em não esclarecer o declarante
do seu erro e pressuponham a existência do dever de ilucidar nos termos do art. 253º/1, ou
seja, bem com a dissimulação pelo declaratário.
Dolus bonus/ dolo bom - art. 253º/2/1ª parte : artifícios usuais e toleráveis.
Ex.: no casamento cada um dos elementos tenta realçar as suas qualidades.
Dolus malus / dolo mau - é relevante, é o dolo não tolerável, não usual que visa enganar o
outro de um modo consciente ou até malévolo .
O erro pode provir do declaratário ou de terceiro:
- declaratário - é preciso que se trate de um dolus malus, em que há uma intenção ou parte do
declaratário de prejudicar o declarante, não é necessário, que o dolo seja unilateral --» art.
254º/4 (o dolo bilateral).
- terceiro - de acordo com art. 254º, n.º2, todas as condições para a relevância do dolo
proveniente de terceiro tem também de ser as condições próprias do dolo proveniente do
declaratário.
1. existe um conhecimento efectivo, um conhecimento do terceiro. Há uma nulidade absoluta
pelo enganado face ao declaratário, ao terceiro enganante e a outros interessados.

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2. não houve conhecimento ou cognoscibilidade do dolo de terceiro, mas ao terceiro


enganante ou outro terceiro que devesse conhecer ou conhecesse adveio por força de negócio
do uso directamente algum direito, há então uma anulabilidade relativa face a terceiros e não
ao declaratário.
Efeitos do dolo - anulabilidade (art. 254º/1)
Pressupostos da coacção exercida pelo declaratário:
1. tem de haver essencialidade da coacção que ele seja determinante da vontade do
declarante decisiva quanto à conclusão do negócio. Art. 255º/1
2. intenção de extorquir a declaração ( parte n.º 1 do art.255º ) e que a declaração negocial
tenha sido efectivamente extorquida ( 1ª parte do art. 256º )
3. ilicitude da ameaça, a ameaça viola determinadas normas jurídicas e a violação pode
resultar da ilegitimidade dos meios empregues. Ex.: um credor tem uma divida perante um
devedor. Ele pode escrever uma carta dizendo que vão para tribunal. E só tem direito a ir para
tribunal, não pode agredir. A ilegitimidade pode resultar do fim.
4. Caso de haver um exercício abusivo extranegocial de um direito. EX: o sobrinho ameaça
abandonar imediatamente o tio paralítico com quem vive, se este não lhe doar 1000 contos.

Estes, bem como muitos dos apontamentos disponibilizados no blog Direito Lusófono, são de autoria desconhecida, ou foram
feitos sem grandes preciosismos, ou, ainda, podem representar temáticas estudadas em anos diferentes dos actuais e que por isso
poderão incorrer em imprecisões normativas ou doutrinais.
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