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Mário de Luna 1

Nesta parte do curso, há informações básicas e gerais a respeito da biologia e vida das abelhas sem ferrão. Aqui,
abordaremos o tema sem ainda destacar a espécie Tetragonisca angustula (Jataí), que será alvo principal dentro
da parte 2 do curso. Dúvidas, sugestões e criticas serão muito bem vindas. as abelhas indígenas sem ferrão.
Autor: mcmluna@ig.com.br

Cap.1 - As abelhas sem ferrão


Abelhas sem ferrão, também chamadas de indígenas, constituem um grupo de abelhas que apresentam o
ferrão (órgão de defesa) atrofiado, reunindo inúmeras espécies, que ocorrem diversamente de região para
região. Atualmente são conhecidas cerca de 400 espécies distribuídas em aproximadamente 40 gêneros,
sendo que mais de 70% destas espécies ocorrem nas Américas (Velthuis et al, 1997). São abelhas típicas,
brasileiras, diferentemente das Apis mellifera, espécies usualmente criadas para a produção de mel, as
quais foram introduzidas artificialmente no Brasil ao longo da história pós-descobrimento.

Entretanto, enganam-se aqueles que desprezam a capacidade de defesa das abelhas sem ferrão. Embora
não se utilizem tais órgãos, defendem suas colônias tanto de forma indireta, construindo seus ninhos em
locais de difícil acesso (no interior de paredes grossas, topo de árvores altas, cavidades profundas,
ninhos de outros animais agressivos), como também de maneira direta, atacando diretamente os inimigos
que insistem em penetrar em seus ninhos. Quando animais maiores (como o homem) são considerados
como elemento invasor, enroscam-se em nossos cabelos e pêlos, beliscam com suas mandíbulas afiadas
e ainda penetram nos ouvidos e narinas, deixando o inimigo sob estado desconfortável, às vezes
insuportável. Existe uma espécie vulgarmente conhecida como “caga-fogo” (Oxytrigona) que lança mão
de um artifício bastante doloroso. Quando em situação de ataque, ocorre liberação de substância cáustica
a partir de suas glândulas mandibulares, resultando em queimaduras graves (Kerr, 1986 apud Campos,
1994).

Zoologicamente falando, as abelhas sem ferrão pertencem à sub-família Meliponinae, e por isso são
denominadas meliponíneos (atividade = meliponicultura ; criador = meliponicultor). Acompanhe a
classificação até chegarmos à superfamília Apoidea, que engloba todos os tipos de abelhas. Entre
parênteses estão algumas características que agrupam os animais dentro da mesma classificação.

Filo – Arthropoda (membros articulados);


Subfilo – Insecta (insetos);
Classe – Hexapoda (3 pares de patas);
Ordem – Hymenoptera (partenogênese);
Subordem – Apocrita (1 segmento abdominal no tórax);
o

Superfamília – Apoidea.
A Superfamília Apoidea já separa as abelhas de outros insetos, muitos
também sociais, como as vespas (Vespoidea) e formigas (Formicoidea).
A grande característica dos Apoidea é basear sua alimentação na coleta
de néctar e pólen, embora ocorram exceções. Possui exatamente onze
famílias: Melittidae, Colletidae, Halictidae, Oxaeidae, Andrenidae,
Megachilidae, Stenotritidae, Ctenoplectridae, Fidellidae, Anthophoridae e
Apidae (pronuncia-se “Ápide”). Dentro desta última família as abelhas
caracterizam-se pela presença de uma estrutura especializada para o
transporte de pólen, a corbícula (veja a foto). Também reúne algumas
espécies de hábitos sociais mais avançados. Existem quatro
subfamílias: Euglossinae (abelhas das orquídeas), Bombinae
(mamangavas), Apinae (ex.: Apis mellifera) e Meliponinae (abelhas sem
ferrão).

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Os meliponíneos estão divididos nas Tribos Meliponini e Trigonini.


Meliponini , e Trigonini que agrupa um grande número de gêneros e
está distribuída em toda a área de distribuição da subfamília. A
primeira é formada apenas pelo gênero Melipona, exclusiva da
região Neotropical - América do Sul, Central e Ilhas do Caribe
(Campos, 1994), e suas diversas espécies: Mandaçaia (Melipona
quadrifasciata), Uruçu (Melipona scutellaris), Jandaíra (M.
subnitida), Guaraipo (M. bicolor - foto 1), Manduri (M. marginata),
Tujuba (M. rufiventris), etc. A Tribo Trigonini está distribuída em
toda a área de ocorrência da subfamília, e engloba uma série de
diferentes gêneros com suas muitas espécies, tais como: Jataí
(Tetragonisca angustula), Mirins (Plebeia sp.), Borá (Tetragona
clavipes), Irapuá (Trigona spinipes), Canudo (Scaptotrigona
postica), Marmeladas (Frieseomelitta sp.), Caga-fogo (Oxytrigona
tataira), entre outras tantas. foto1 - Guaraipo (M. bicolor)

Assim como nas demais abelhas da Superfamília


Apoidea, a alimentação destas espécies baseia-se na
coleta do néctar (fonte de energia) e do pólen (fonte de
proteína) presente nas flores (foto2). Mas, como exceção
à regra, existem três espécies de meliponíneos (Trigona
hypogea, T. crassipes e T. necrophaga) que utilizam-se
de carcaças animais em sua alimentação. E mais;
algumas espécies como Lestrimelitta limao vivem
apenas roubando ou pilhando mel e pólen de outras
abelhas. São verdadeiros pesadelos na vida de outras
colônias e dos criadores.

No Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem


ferrão, distribuídas por todo o território brasileiro, além
de grande parte de toda a faixa tropical e subtropical do
planeta. Encontramos meliponineos nas Américas desde
foto 2 - Jataí (Tetragonisca angustula)
o norte do México até a região central da Argentina
(Nogueira-Neto, 1997).

Podemos traçar uma tabela bastante simplificada para realçar algumas características básicas que
permitem distinguir as duas Tribos (veja no capítulo 4). Entretanto, identificar uma espécie de abelha não é
tarefa das mais fáceis, que exige muito conhecimento na área. Portanto para descobrir qual espécie
estamos lidando, normalmente se faz necessário consultar um especialista.

Cap.2 - Por que criá-las ?


O principal interesse pela criação racional destas abelhas está no prazer que o manejo periódico da
criação proporciona ao criador, ainda mais se levando em consideração que esta atividade não representa
maiores riscos de acidentes com enxames.

Além do lazer que o manejo proporciona, a atividade pode ainda representar uma renda extra, através da
venda do mel, ou ainda, pela comercialização dos enxames para os interessados em iniciar ou aumentar
uma criação. Uma colônia de Jataí (Tetragonisca angustula) tem sido comercializada por valores que
variam de R$ 20,00 a R$ 50,00, enquanto espécies maiores, como a Mandaçaia, são negociadas por até R$
80,00 (fonte: Jornal Eymba Acuay – dezembro 99).

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Sua criação permite, principalmente, a preservação das


plantas nativas, devido aos serviços de coleta de pólen das
flores prestados pelas campeiras, abelhas coletoras. Ao se
movimentar sobre as flores em busca do pólen, as abelhas
promovem a fertilização das plantas, assegurando a sua
multiplicação e perpetuação. Seus criadores colhem,
indiretamente, os efeitos da polinização: maiores e melhores
frutos e sementes, e a produção do mel das colônias,
conseqüente desta atividade de coleta. Segundo Moreno e
colaboradores (1996), as abelhas sem ferrão executam uma
importante função na perpetuação da floresta e sua
biodiversidade, como polinizadores e parte integrante da teia
foto 3 - mandaçaia e a polinização alimentar.

Campos (1983) salientou que muito mais importante que o mel, é o


incremento da produção de frutos e sementes promovidos por elas. As
abelhas sem ferrão têm, certamente, papel sobremaneira importante na
polinização de diversas plantas, especialmente as nativas. Roubik (1978)
considerou que 84% das espécies visitadas por Melipona são
potencialmente beneficiadas pelos serviços de polinização prestados por
estas abelhas.

Daí a grande importância de se preservar estas abelhas, evitando-se o desmatamento desordenado, as


queimadas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e o extrativismo irracional do mel.

Cap.3 - Organização social


As abelhas sem ferrão são verdadeiramente insetos sociais avançados, apresentando todos os requisitos
citados por Peruquetti (1999) como característica de uma sociedade de insetos avançada: cooperação e
comunicação entre indivíduos; ocorrência de castas sociais com divisão de tarefas (operárias e rainha);
sobreposição de geração (a rainha convive com suas filhas); estocagem de alimento.

As colônias possuem uma rainha, com função exclusiva de reproduzir, várias gerações de operárias, que
fazem as tarefas domésticas, além dos machos, cujo numero vai depender da condição geral da
população. Muitas vezes ocorre surto de produção, ou mesmo a agregação de machos ao redor de uma
caixa. Tal fenômeno em diversas ocasiões reflete a existência de uma rainha virgem prestes a realizar o
seu vôo nupcial. Já tive a oportunidade de observar em Jataí uma aglomeração de machos pousados em
folhas próximas a uma colônia que enxameara dias antes.

Por falar em machos, diferente dos zangões de Apis mellifera, os meliponíneos também exercem
pequenos trabalhos dentro da colônia, como a desidratação do néctar, incubação de favos de cria,
manipulação do cerume, defesa do ninho, etc. (Imperatriz-Fonseca, 1973 ; Kerr, 1990). Cappas (1995)
descobriu que alguns machos de Mandaçaia também possuíam corbícula nas patas traseiras, e
carregavam pólen. Entretanto, é importante salientar que sem operárias não há hipótese qualquer de
viabilidade de uma família de abelhas (leia o trecho sobre machos diplóides).

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As operárias de meliponíneos vivem, em média, de 30 a


40 dias e são quase brancas ao saírem dos favos,
escurecendo com o passar do tempo. Durante a vida
adulta, desempenham diversas funções dentro do
ninho, seguindo relativamente a seguinte ordem:
faxineiras – nutrizes – arquitetas – soldados –
campeiras (confira na tabela abaixo uma síntese das
funções das operárias dentro de uma colônia).

A rainha [foto 4] apresenta o abdômen bem dilatado,


podendo ser localizada facilmente a olho nu.
Normalmente, ela habita a área de cria, realizando a
postura por entre os favos. Existem poucas
observações sobre fuga de meliponíneos, devido à
dificuldade de vôo da rainha fecundada. As condições
que determinam a diferenciação entre uma operária e
uma rainha serão comentadas no capítulo especial foto 4- rainha de M. bicolor realizando
postura sobre os favos de cria
“Determinação de castas em abelhas sem ferrão”.

Função número de operárias (%) idade (dias)


manipulação de cera e cerume 40 - 65 % 0 - 35
armazenamento de pólen 20 - 35 % 5 - 25
limpeza e transporte de detritos 5 - 20 % 10 - 35
recepção e desidratação do néctar 25 - 30 % 20 - 45
guarda - soldado 2-7% 30 - 40
forrageamento - procura por alimentos 30 - 40 % 20 - 60
adaptação de tabela apresentada por Simões & Bego (1991) apud Velthuis (1997), em pesquisa com três colônias de
Scaptotrigona postica. Veja aqui o gráfico original. - http://www.brasil.terravista.pt/claridade/3630/curso/grafico1.htm

Assim como nas demais espécies de Apoidea (Superfamília que engloba as espécies de abelhas) e na
maioria dos Hymenopteras (Ordem das formigas, vespas, cupins, abelhas, etc.), as fêmeas são originadas
a partir de ovos fecundados, os quais possuem a totalidade do número de cromossomas da espécie. São
então denominados de ovos diplóides e representados pelo símbolo 2n (1n=macho + 1n=fêmea). Por outro
lado, os ovos não fecundados, que por conseqüência apresentam apenas os cromossomos oriundos da
fêmea (1n), originam os machos da colônia. São, então, denominados de ovos haplóides e simbolizados
pela letra n.

Entretanto, quando a colônia se encontra sob os efeitos de certas condições determinantes, não raro é o
surgimento de machos a partir de ovos fecundados (2n). Mas que condições determinantes são estas ? O
Prof. Paulo Nogueira Neto, em seu livro “A Vida e Criação das Abelhas Indígenas sem Ferrão” (1998)
escreveu que tal fenômeno decorre de uma interação entre certos fatores genéticos, principalmente no
que se refere à consangüinidade, e ambientais, tais como condições adversas do clima e escassez de
alimentos.

A consangüinidade é motivada pelo acasalamento (cruzamento) contínuo entre indivíduos de parentesco


estreito, o que conduz a um alto índice de homozigose nos diversos pares de cromossomos que
determinam as características dos indivíduos. Segundo o Princípio de Whiting (1943) esta homozigose
quando apresenta-se em certos alelos sexuais dos Hymenópteros diplóides, determina o nascimento de
indivíduos do sexo masculino. O surgimento de machos diplóides é um efeito considerado altamente
deletério dentro de uma colônia, uma vez que estes indivíduos não desempenham certas funções
essenciais para o funcionamento normal de uma família de abelhas, conforme fora observado
anteriormente. Dentro deste tema destaca-se a teoria (Kerr & Venkóvsky 1982) que afirma pela manutenção
de um grupo de 44 colônias diferentes de cada espécie para que os efeitos da homozogose ao longo do
tempo sejam superados.

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Na já citada obra do Prof. Paulo Nogueira-Neto, existe um capítulo inteiro dedicado ao tema do surgimento
dos machos diplóides. Segundo o Professor, existe uma interação entre os aspectos concordantes com a
Teoria de Whiting (homozigose de certos alelos sexuais) com as condições ambientais hora desfavoráveis
ao desenvolvimento da colônia. Em outras palavras, quando em determinadas situações adversas
(vegetação, clima, mortalidade, etc.) a colônia entra em “estresse”, tornando-se mais vulnerável aos
efeitos de uma eventual condição de consangüinidade.

Alguns pesquisadores afirmam a existência de hormônios influindo na determinação sexual das abelhas,
mais precisamente o papel dos ecdisteróides no desenvolvimento dos ovários em formação (Nogueira-
Neto 1995 ; Rachinsky & Engels 1995 apud Nogueira-Neto 1997). Na hipótese do Prof. Nogueira-Neto, os
ecdisteróides em níveis relativamente baixos em razão de uma situação estressante, acarretariam a
produção de machos diplóides quando os alelos sexuais apresentam-se em homozigose. Por outro lado,
estando a família em franco desenvolvimento, os níveis elevados desta substância inibiriam tal fenômeno,
nascendo fêmeas mesmo em homozigose.

Cap.4 - Estrutura dos ninhos


Apesar da rápida devastação das paisagens naturais de nosso
planeta, ainda podemos localizar inúmeros locais onde as abelhas
sem ferrão constroem suas moradias. Seus ninhos naturais podem
se desenvolver no interior de ocos de árvores, cupinzeiros,
formigueiros abandonados e nos mais variados locais onde
encontram espaço e segurança suficientes para o crescimento da
colônia, como postes, paredes, muros, caixas de força, armários,
pedreiras, caixas-isca, etc.

Na construção e elaboração do espaço dos ninhos, as abelhas


lançam mão de diversos “materiais de construção”. São eles : a
cera pura, o cerume (mistura de cera + resina*) ou ainda o batume
(resina* + barro), destinados a diversas finalidades dentro de uma
colônia.

* a resina está para as abelhas sem ferrão assim como está a própolis para Apis
mellifera. Trata-se de um material escuro de alta viscosidade (pegajoso) .
coletado de exudações e feridas de plantas resinosas. figura 2 - visão interna do ninho

O cerume é utilizado por certas espécies na formação do invólucro que cerca


toda a área dos favos de cria. O invólucro (foto 6) por sua vez é uma estrutura
de aspecto folheado, responsável pela manutenção de uma temperatura
adequadamente propícia ao desenvolvimento larval das futuras abelhas e
zangões. Alguns pesquisadores consideram o invólucro como uma adaptação
arquitetural que ajuda a reter o calor das abelhas imaturas e operárias entre
os favos, também amortecendo a flutuação da temperatura na colméia inteira
(Roubik & Peralta, 1983; Engels et al.,1995). No mesmo trabalho, os
pesquisadores constataram uma superioridade de 2ºC a 3ºC na temperatura
foto 6 - detalhes da área da área de cria em relação ao espaço na colônia fora do invólucro.
de cria envolta pelo invólucro

Em determinadas situações, é normal encontrar colônia que não se utilizam desta estrutura de proteção,
como em locais onde o ninho apresenta bom isolamento térmico em relação ao ambiente externo. Já tive a
oportunidade de capturar uma colônia de Mirim estabelecida em uma cavidade dentro de uma parede
lateral d uma casa. Não havia na ocasião a presença de invólucro. Meses depois, após ser acondicionada
em uma caixa racional, a colônia construiu uma camada de invólucro bastante espessa, fato que me levou
à conclusão de que as abelhas não encontraram na caixa racional a mesma situação de conforto térmico
semelhante àquela vivida quando do abrigo na grossa parede.

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As espécies da tribo Trigonini, como a Jataí, constroem com cerume também
suas entradas, geralmente no formato de canudo (foto 7). Esta entrada mantém
ligação direta com o interior da área de cria. Através desta ligação a família
desvia o excesso de calor produzido principalmente pelas abelhas mais jovens
através da ventilação de suas asas. Não existe evidência de resfriamento
evaporativo por meio da água transportada até a colônia (Roubik & Peralta,
1983).

foto 7- canudo de entrada de Jataí

Por outro lado, as espécies da tribo Meliponini, como a Mandaçaia,


utilizam na construção da entrada de seus ninhos uma mistura de resina
+ barro, denominada de batume conforme já explicado (foto 8). Também
com batume, algumas espécies delimitam suas moradias (figura 3)
quando estas são construídas dentro de cavidades amplas, ou quando se
localizam externamente, como os ninhos aéreos de Arapuá (Trigona
spinipes). Algumas espécies utilizam-se de restos de carcaça animal e
excremento animal para construírem suas moradias, como já observado
em colônias de Jandaíra, Uruçu, Mandaçaia e Irapuá. Nestes casos, torna-
se recomendado cuidado redobrado na extração e manipulação do mel
produzido por estas espécies (ver capítulo sobre manipulação do mel).

No estoque de provimentos, os meliponíneos armazenam seus alimentos


(mel e pólen) em potes muitas vezes ovalados, construídos com cerume.
Existem potes que guardam somente mel ou somente pólen, e os que
guardam uma mistura pastosa desses dois alimentos. Eles ficam
localizados ao redor ou em cima dos favos de cria, geralmente dentro da
camada de invólucro, dependendo do espaço disponível na colônia.
foto 8 - exemplo da entrada de Meliponini.

Em Apis mellifera, as operárias constroem seus favos verticais destinados


tanto para o armazenamento de alimento como para a postura da rainha e
desenvolvimento larval. Os favos de cria dos meliponíneos são normalmente
dispostos horizontalmente na forma de discos empilhados (foto 9), sendo
que algumas espécies apresentam favos em forma de discos em espiral, ou
cria em cachos (foto 10). Separando os vários discos existem pequenos
“pilares” que determinam o local – espaço abelha – pelo qual transita a
rainha na tarefa da postura, além de outras abelhas responsáveis pelo reparo
e construção dos favos ou células de cria.

No Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, divididas em


dois grupos: Meliponas e Trigonas. Através de algumas características,
podemos separar esses dois grupos. O conhecimento e a observação das
várias partes que compõem o corpo das abelhas, torna possível a
identificação e separação das várias espécies existentes nestes dois grupos.
Para descobrir qual é a espécie de abelhas em questão, é necessário foto 9 - discos de favos em colônia de
consultar a opinião de um especialista. Guaraipo

Trigonini Meliponini
tipo de entrada de cerume de barro
número médio
maior menor
de abelhas
Jataí; Mirim; Mandaçaia;
exemplos
Borá Guaraipo; Jandaíra
foto 10 - favos em forma de cachos
fonte : (Luna & Lorenzon, 1999)

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Cap.5 - Biologia e morfologia


A reprodução nas abelhas sem ferrão obedece em geral a uma
seqüência que vai desde a elaboração dos favos onde serão
depositados os ovos, até a saída do inseto adulto para desenvolver
suas funções para a sociedade. O ovo, após ser depositado pela
rainha nas margens do favo de cria (foto 11), é aprovisionado junto
com alimento larval regurgitado constantemente pelas operárias
atraídas pelo feromônio mandibular real (foto 12). Tal seqüência é
denominada de "processo de provisionamento e ovoposição - POP"
e caracteriza-se pela total falta de contato entre as larvas e os
insetos adultos da colônia. Em Apis mellifera, o que ocorre é um
constante abastecimento de alimento larval nos favos de cria que
por sua vez são mantidos abertos até a fase de pupa. Segundo
Velthuis e colaboradores (1997), este último processo é denominado
de "alimentação maciça em oposição ao aprovisionamento
progressivo das abelhas de mel e mamangavas".

foto 11 - célula com ovo em sua borda (Melipona quinquefasciata)


fonte - Velthuis et al. (1997)

Muitas vezes, quando já existe


alimento larval nos favos de
meliponíneos, as operárias
depositam seus ovos haplóides
que mais tarde serão consumidos
pela rainha. São conhecidos como
ovos tróficos e, segundo o
pesquisador Pedro Cappas (via e-
mail) tem sua produção
relacionada com a disponibilidade
de pólen dentro da colônia, o que
se reflete em uma boa condição
corporal das mesmas. foto 13 - fases de preparação da célula :
A - célula aberta e fazia (fase de colar) ;
foto 12 - operárias de Melipona B - célula já aprovisionada ;
quinquefasciata junto com a rainha ao C - célula fechada
redor de uma célula aprovisionada.
fonte - Velthuis et al. (1997)

Quanto à morfologia externa das abelhas sem ferrão, esta segue


praticamente as mesmas características encontradas nas abelhas de
mel (Apis). O seu corpo é dividido em cabeça, tórax e abdômen. Na
cabeça estão os 2 olhos compostos (visão em todas as direções), 3
ocelos ou olhos simples (visão de perto - interior da colônia e flores),
além de um par de antenas, o aparelho bucal (língua, palpos labiais e
mandíbula), e as diversas glândulas tão importantes na regulação dos
trabalhos da sociedade (foto 14).
..
A cabeça é à parte que mais diferencia os machos das operárias. Isto
porque nos machos, a cabeça tem forma mais arredondada e os olhos
maiores, além de possuírem em suas antenas um artículo (foto do
artículo - Wiesse) a mais que nas fêmeas.

foto 14 - três ocelos (1); dois olhos compostos (2); duas antenas e seus
artículos (3) cabeça de Oxitrigona (foto do banco de dados da USP)

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As glândulas encontradas na cabeça das abelhas fêmeas são as
seguintes: intramandibular / mandibular / hipofaringeana / salivar da
cabeça. Destaque para a mandibular, responsável pela produção de
feromonas que, na rainha (Feromona Mandibular Real - FMR), controla
diversas funções de acordo com o estágio de vida desta, tais como o
vôo nupcial e o ritual de postura. O feromona mandibular nas operárias
é atuante na comunicação e nos trabalhos realizados na colônia. Em
algumas espécies, serve para outros fins, como visto em Oxytrigona
tataira (caga-fogo) na qual produz-se substância cáustica utilizada
como eficiente arma de defesa. Nos machos é usado na comunicação,
na coordenação de aglomerações na eminência de rainhas virgens e
nos trabalhos, quando estes os executam (Pedro Cappas; via e-mail).
figura 3 - glândulas do corpo da Vale lembrar que, diferentemente das Apis, os machos das abelhas sem
abelha ferrão executam certos serviços dentro da colônia, sendo que alguns
chegam a possuir corbícula em suas patas traseiras.

No tórax não são encontradas muitas glândulas, salvo algumas ramificações das salivares existentes
também na cabeça. Já no abdômen localizam-se diversas outras glândulas importantes, tais como as
glândulas de Dufour e de Koshevnikow mais as glândulas de cera (localizadas no dorso em meliponíneos)
e as tergais. As glândulas tergais são responsáveis pelas chamadas "estradas de cheiro" que são
marcações com feromona corporal (FC) utilizadas pelas forrageadoras ao longo do trecho que identifica a
localização de recursos florais. Vale lembrar que, em abelhas sem ferrão, não existe observação de dança
das operárias para recrutar outras abelhas para o local com presença de flores, como acontece em Apis.
Glândulas localizadas nas patas, mais precisamente as tarsais, também são esponsáveis por este tipo de
comunicação.

Cap.6 - Distribuição geográfica


As abelhas sem ferrão são insetos com altíssimo grau de evolução social, vivendo em colônias
permanentes e dividindo suas funções por entre as castas da sociedade. As abelhas mamangavas
(Bombinae), por exemplo, apresentam um nível menor de evolução social, uma vez que uma só rainha
solitária é responsável pelo início dos trabalhos de surgimento de uma colônia. No início, ela desenvolve
tarefas que mais tarde caberão às operárias da colônia. Nas meliponas, a rainha tem papel diferenciado
das demais abelhas da colônia, assim como distinção quanto a sua morfologia interna e externa, fato que
também ocorre com Apis mellifera.

Nossas abelhas sem ferrão já existem no


mundo desde o período Cretáceo Médio, há
mais ou menos 120 milhões de anos. O
fóssil mais antigo já descoberto foi
encontrado em New Jersey (EUA), e se
tratava de uma abelha operária da espécie
Trigona prisca (Velthuis et al. 1997).
O processo de dispersão geográfica das
abelhas sem ferrão provavelmente teve seu
início antes da separação dos continentes
(deriva continental - Fig. 4), uma vez que
estas abelhas encontram-se hoje
distribuídas por todos os continentes. Já
em Apis mellifera, o seu surgimento parece
ter ocorrido após tal separação, fato que
explica porque estas abelhas não existiam
originariamente nas Américas (lembrando
que estas foram introduzidas durante a Figura 4 - deriva continental. fonte: Velthuis et al. (1997)
colonização).

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Hoje existem cerca de 400 espécies de abelhas sem ferrão, distribuídas em
aproximadamente 50 gêneros, sendo que mais de 300 são encontradas nas
Américas, 60 no sudeste asiático, 50 na África, 4 na Ilha de Madagascar e 10 na
Austrália. Nas Américas, encontramos desde gêneros considerados mais
primitivos, como Plebeia (mirim), aos mais evoluídos, tais como Scaptotrigona
(canudo - foto 15) e Melipona (uruçu, mandaçaia, jandaíra). Para maiores
esclarecimentos, recomendamos a leitura de trabalhos de grande
pesquisadores como Prof. Michener, J.M.F.Camargo e S.F.Sagakami. Em sua
recente obra, Paulo Nogueira Neto (1997) ressaltou que nas Américas, os
meliponíneos são encontrados desde a região central da Argentina até
próximo da fronteira entre México e Estados Unidos.

foto 15 - canudo de entrada característico de Scaptotrigona postica.


fonte: galeria de fotos da USP

Com relação à espécie Tetragonisca angustula


(Jataí - foto 16), no Brasil, sua ocorrência é
registrada de norte a sul (Bortoli & Laroca, 1990).
Entre as subespécies, T. angustula angustula é a
que apresenta zona de tolerância ao clima mais
ampla, distribuindo-se desde o sul do Brasil ao
México. Ou seja, trata-se de uma subespécie de
maior poder de adaptação às mais variadas
condições encontradas em nosso País. Já, T.
angustula fiebrigi se restringe a áreas do
Paraguai, Argentina e Estados do Paraná e São
Paulo (Proni & Beraldo, 1994).

foto 16- Jataí (Tetragonisca angustula)

Cap.7 - Caixas racionais


No interior do Brasil é comum encontrarmos abelhas sem ferrão sendo criadas em troncos de árvores
cortados e fechados com barro. Para dar condições ao homem de coletar o mel devidamente de maneira
prática e higiênica, foram criados diversos tipos de caixas racionais para as mais diversas espécies de
abelhas. Entre os inúmeros modelos idealizados até o presente, destacamos aqui alguns mais conhecidos
e citados na literatura especializada :

modelo capel modelo isis


modelo juliana

modelo baiano
modelo Kerr
modelo PNN

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Mário de Luna 10

Aqui, apresentaremos o modelo UFRRJ, o qual utilizei em


meu trabalho com Jataís na Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro e ainda utilizo em minhas colônias em
Caxambu, sul de Minas Gerais. Também, este modelo foi
adotado pela Cooperativa Apícola do Rio de Janeiro
(Cooapi-Rio) que oferece cursos periódicos sobre criação
de abelhas sem ferrão em sua sede, na cidade de Niterói -
RJ.

O modelo UFRRJ é uma adaptação do modelo


proposto pelo Dr. Warwick Kerr e apresentam as
seguintes partes: ninho, gaveta, melgueira e tampa
(Figs. 5, 6 e 7). No ninho, estão localizados os
vários favos de cria, envolvidos pela camada de
invólucro e conectado à entrada por um canal de
cerume. As gavetas são colocadas com a simples
intenção de aumentarmos a altura do espaço da
área de cria, uma vez que esta apresenta tamanho
variável principalmente na vertical, de acordo com
o estágio de desenvolvimento da colônia. A
melgueira, colocada na parte superior da caixa,
possibilita uma colheita de mel sem que a área da
cria fique exposta. figura 6 - caixa e suas partes
figura 5 - modelo UFRRJ
É na melgueira que se localizam os potes de mel e pólen. Logo após a
transferência para este tipo de caixa, devemos transferir todos os potes de
alimento para este compartimento, de modo a condicionar as abelhas a
construir novos potes nesta área como também trabalhar os já existentes.
Muitas vezes, as abelhas podem construir potes de alimento novamente na
área em torno dos favos de cria. É recomendável que o criador transfira-os
para a melgueira deixando assim, mais espaço para o crescimento da cria. O
figura 7 - compartimentos e
número de melgueira vai depender, também das floradas da região e da
suas funções
disponibilidade do criador em coletar o mel (detalhes no capítulo “colheita e
manuseio do mel”). As dimensões internas variam de acordo com a espécie
em questão. Para espécies menores podemos trabalhar com dimensões que
variam em torno de 14 x 14 x 18 cm (mirim) ou 18 x 18 x 20 cm (jataí),
enquanto que para espécies maiores (mandaçaia, uruçu, jandaíra, etc.),
aumentamos estas dimensões para valores próximos de 20 x 20 x 25 cm.

Diferentemente dos modelos propostos na criação de Apis mellifera, como o Langstroth, não existe
qualquer rigidez em termos de dimensionamento do espaço interno da caixa. Em Jataí, não encontramos
diferença marcante na largura dos discos de favos construídos na natureza. Porém em relação à altura do
ninho, existe variação mais significativa, fato que determinou a necessidade da criação de expansões, que
são as gavetas já mencionadas. Os orifícios de entrada das caixas também variam de acordo com a
espécie. Para Jataís, utilizamos 1,5 a 2,0cm de diâmetro.

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Mário de Luna 11

Cap.8 - Ferramentas do criador


O criador de abelhas sem ferrão precisa de poucas ferramentas para usar no dia a dia do
meliponário, local onde se instalam as colônias para serem criadas.

Um formão (Fig. 10) é usado para a abertura das caixas, como também, na
raspagem e retirada dos excessos de resina coletada e batume. Sua ponta
não necessita ser larga quando se trata de abelhas pequenas como as
Jataís. Tal ferramenta pode ser improvisada com outros materiais como
figura 10 - formão de apicultor chaves de fenda maiores. Aliás, por falar em improviso, esta é uma
característica marcante da criação de abelhas sem ferrão. O que vale é a
criatividade do meliponicultor !

Com uma pequena mangueira (7 x 1 cm) cortada ou um tubo


de vidro (tubo de ensaio - Fig. 8) tampado com um chumaço
de algodão em uma ou ambas as pontas, fornecemos o
xarope de alimentação artificial (mistura de 50% água + 50%
açúcar ou mel de Apis) sem que haja maiores vazamentos e,
principalmente, mortes por afogamento de abelhas. O
afogamento de abelhas ocorre geralmente quando lançamos
mão de alimentadores mal dimensionados, onde o xarope
não fica revestido por alguma camada (papel, algodão, tela)
na qual as abelhas pousam para iniciar a coleta da mistura.
figura 8 - tubo de ensaio tampado com algodão &
isolador, colocado nos cavaletes contra a subida de
inimigos rasteiros
Usando uma faca de ponta fina, uma pequena espátula (Fig. 9), ou ainda uma chave de fenda
fina o criador faz a revisão do ninho, removendo cuidadosamente o invólucro que envolve a
cria. Nesta atividade é preciso cuidado para não danificar demasiadamente este importante
elemento de regulação térmica.

Se a proteção é contra os predadores rasteiros (ex.: formigas), as caixas devem ser colocadas
sobre cavaletes individuais ou coletivos, não esquecendo da colocação dos isoladores
(Fig. 8).

No encerramento das atividades, as caixas devem, sempre que possível, ser fechadas e
lacradas com fita adesiva na tentativa de minimizar os riscos de ataques de predadores da
natureza como as formigas. Já presenciei a perda de duas colônias de Jataí devido a ataques
noturnos de formigas Camponotus sp. em caixas que se encontravam envelhecidas e com
fendas sem vedação. O uso de fita adesiva se faz ainda mais recomendável após a colocação
de alimentadores internos, responsáveis pela atração destes e de outros inimigos. Nestas
ocasiões, na falta de fita adesiva, o criador pode mesmo improvisar a vedação das frestas com
figura 9
barro.
espátula
Em criações que envolvem espécies mais agressivas, como a borá (Tetragona clavipes), é necessário o
uso do véu de apicultor. Na lida com Jataís, o criador deve apenas proteger os ouvidos contra uma
eventual entrada de abelhas no interior do ouvido, fato que causa enorme desconforto e até mesmo
desespero. Para tal, podemos simplesmente tampa-los com bolotas feitas com papel ou folhas
amassadas.

Na tarefa de coleta do mel, é importante ter em mãos seringa e peneira, entre outros materiais,
dependendo do método utilizado (mais informações em “colheita e manuseio do mel”) -
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http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3630/curso/cap1.htm
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Cap.9 - Instalação do meliponário


I - Onde criar ?

Na escolha do local (foto 17), o criador deve observar algumas


características que venham levar conforto às abelhas e viabilidade ao
desenvolvimento das famílias, sob pena de despertar a necessidade de
fuga (enxameação) com conseqüente perda de colônias. São alguns
aspectos a ser observado:
a) Fonte de alimento e água – Toda família de abelhas precisam visitar
flores para coletar o pólen (fonte de proteína) e o néctar (fonte de açúcar),
além da água, e levar para as outras abelhas da colônia. Desta forma, é
importante que o local possua uma boa quantidade de flores atrativas às
abelhas e água limpa não muito distante. As faltas de água naturais podem
ser contornadas com bebedouros artificiais.
b) Ventos – As colônias não devem ficar em locais de intensa e freqüente
ventania. A existência de barreiras naturais, como árvores, é fundamental
na quebra destas correntes de vento.
c) Sombras – O ideal na criação destas abelhas, é a colocação das caixas
em locais sombreados, seja em galpões ou aproveitando o sombreamento
das árvores. Deve-se evitar aquelas que produzem frutos pesados em
razão de possíveis danificações por queda sobre as caixas. Em caixas
colocadas ao ar livre, devemos proteger as abelhas com cobertura de
telha, pois o excesso de sol poderá derreter o cerume, matar a cria e foto 17 - Fotos extraídas da
fermentar o mel. Telhas de barro, protegem melhor contra a incidência dos página de Davi Said Aidar
raios solares, entretanto o uso de telhas de amianto não compromete em http://tamandua.inpa.gov.br/
nada a regulação da temperatura da colônia. ~aidar/thumbs.shtml

d) Predadores rasteiros – Conforme já exposto, formigas doceiras ou carnívoras podem eliminar uma
família inteira. Devemos descartar locais de intensa ocorrência de formigueiros e lançar mão do uso de
isoladores (Fig. 8 / Cap.VIII) na tentativa de barrar a subida destes inimigos nos cavaletes e caixas. No
meliponário da UFRRJ utilizei isoladores contendo talco em seu interior, com bons resultados. Nas
formigas e demais insetos, a simples impregnação de qualquer substância aderente em suas antenas
causam total perda de controle e direção.

e) Predadores voadores - Infelizmente, não existe método capaz de garantir isolamento contra os
problemas causados por marimbondos, vespas, abelhas ladras, forídeos, etc. O criador deve sempre
manter o local próximo às suas caixas limpos de ninhos destes predadores. Já mencionamos
anteriormente que existem espécies de abelhas sem ferrão que não possuem corbícula, são ladras, pois
vivem apenas da pilhagem de outros ninhos (ex.: Lestrimelitta limao). Quanto aos forídeos, mosquinhas
brancas que utilizam o pólen como substrato para o desenvolvimento de seus inúmeros ovos, estes
merecem um capítulo especial, tendo em vista a voracidade de suas larvas, que podem exterminar uma
família em pouco tempo de infestação.

f) Poluentes – As abelhas não devem ser criadas em locais de intenso lançamento de poluentes. Especiais
cuidados devem ter com o uso dos pesticidas químicos, um dos responsáveis pela extinção de várias
espécies de insetos. Segurança – Cuidados na prevenção de furtos no meliponário devem ser tomados
pelo criador. É muito mais fácil roubar caixas destas espécies que enxames de abelhas melíferas.

II - Que espécie de abelhas criar ?


Antes de qualquer decisão sobre qual espécie de abelha criar, é
importante conhecer quais os tipos mais comuns que ocorrem
na sua região. Uma boa opção é conversar com apicultores
tradicionais, pois muitos, além de conhecer, até criam certas
espécies de abelhas sem ferrão.

http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3630/curso/cap1.htm
Mário de Luna 13
Qualquer tentativa de trazer colônias de regiões diferentes da sua é desaconselhada. Existe risco das
abelhas não se acostumarem ao novo local e até morrerem. Muitas espécies são adaptadas a um limite
estreito de umidade e temperatura. Devemos respeitar estas condições que garantem sua sobrevivência.

Na literatura, diversos são os danos citados quando são introduzidas colônias de meliponíneos e outros
Apoidea em um novo ambiente, principalmente quando esta transferência envolve regiões de climas
diferentes. São exemplos de efeitos deletérios a inibição da postura na rainha, ocorrência de posturas
inférteis, ausência de realeiras, ausência de machos, inexistência de vôos núpcias, problemas ligados a
termorregulação da colônia, até a queda na eficiência defensiva com conseqüente morte por predação
(Kresàk, 1970; Gurr, 1972; Tasei, 1975; Pacheco & Kerr, 1989; Ribeiro, 1989; Sharma et al., 1990; Nogueira-
Neto, 1997; Luna & Lorenzon, 1999).

Cap.10 - Povoamento e ampliação


I - Captura de colônias
Após a escolha do local e da espécie de abelha, o
criador deve partir para a aquisição de colônias,
através da compra de outros criadores ou pela
captura de enxames naturais, uma alternativa muito
mais barata, embora mais trabalhosa.
Desaconselha-se a captura de colônias em áreas
preservadas, ou que acarrete em derrubada de
árvores. A captura é recomendada em locais nos
quais os enxames estão sujeitos ao extermínio.

Na captura, após a localização da colônia, devemos


retirar com cuidado o material (pedra, tijolo,
madeira, solo, etc.) que esconde as abelhas até o
foto 18 - abertura de tronco para
contato direto com a área do ninho (foto 18 e 19). É
captura de um enxame de meliponíneo.
necessário tempo e paciência, sob pena de
Fotos extraídas da página de Davi Said Aidar -
condenar a colônia à morte, situação esta comum
http://tamandua.inpa.gov.br/~aidar/thumbs.shtml
entre os principiantes.
Inicialmente, deve ser transferido para a caixa o
conjunto de favos de cria protegido pelo invólucro,
tomando-se o cuidado para não amassar os favos e
nem coloca-los de cabeça para baixo. não sendo
possível transferir todos os discos de favos de
maneira compacta, ao empilha-los na nova caixa
devemos sempre preservar o espaço abelha que
existe naturalmente entre os discos. Para tal,
podemos fazer bolinhas com cera de Apis para servir
como pilastras de sustentação destes espaços.
É necessária toda a atenção neste momento, pois a
rainha certamente estará caminhando por entre os
favos (foto 20). Em caso de queda da rainha, jamais
deveremos toca-la com as mãos, o que poderia levar
as operárias à não aceita-la novamente no ninho.
foto 19 - ninho de Nogueirapis butelli escondido sob o solo
Nestes casos, uma folha pode ser usada para
recoloca-la sobre os favos.

http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3630/curso/cap1.htm
Mário de Luna 14
Em seguida, deverá ser
feita a transferência dos
potes de alimento que
estiverem fechados,
guardando os potes
rompidos ou abertos para
retornarem vazios no
futuro. Potes abertos, com
o alimento exposto,
atraem formigas, outras
abelhas, moscas, forídeos
foto 20 - rainha de Jataí sobre os favos e outros inimigos (foto 21). foto21 - detalhes dos potes e pólen rompidos

Por último, as caixas deverão ser fechadas e lacradas com fita adesiva, podendo-se usar até barro na falta
deste material. Se possível espere o anoitecer para levar a caixa para o meliponário, para que retorne o
máximo de abelhas, que por hora estavam coletando alimento e materiais no campo (forrageando).

Junto ao processo de captura, o criador pode aumentar o número de caixas do seu meliponário através da
divisão de colônias.

II - Divisão de colônias
A divisão de colônias só é recomendada em colônias fortes e em épocas de florada expressiva. Lembre-
se: “Mais vale uma colônia forte que duas medianas”. A forma de divisão vai depender de qual grupo
(Melipona ou Trigona) pertence à espécie de abelha. Falaremos primeiro da divisão em Trigonas, já que
estamos destacando a criação de Jataís.

II / A - Divisão em Trigonas (Jataí, Mirim, Cupira, Borá) (Fig. 10):

a) Observar na área dos discos de favos se existem realeiras, células maiores


(normalmente única) localizada na periferia do disco de favo. Estas realeiras,
que aparecem temporariamente, são as únicas células que darão origem às
rainhas. Se já existir uma rainha, poderão ser descartadas ou a colônia entrar
em divisão espontânea. A divisão artificial é um método forçado;

b) Transferir o disco com realeira para uma nova caixa e mais 2 a 3 discos de
outras colônias de coloração mais clara e de fundo escuro (favos de cria
nascente). Arrumar estes discos, procurando estabelecer um pequeno espaço
entre eles – o espaço abelha – basta colocar uma bolinha de cerume entre eles.
Revestir todo o ninho com invólucro de cerume ou, caso não disponha, com
lâmina de cera alveolada das abelhas melíferas;

c) Dividir entre as caixas os potes de alimento, lembrando-se de descartar os


já perfurados e danificados, principalmente os de pólen. Potes rompidos de
pólen servem de substrato ideal para a colocação de ovos de forídeos,
mosquinhas brancas que na sua fase inicial são capazes de destruir um ninho
em pouco tempo de ação;

d) Levar a colônia-mãe, que ficou com a rainha velha, para um local distante de
3 a 6 metros da colônia-filha e colocar a nova colônia em seu lugar. Desta
forma, reforçamos a nova caixa com a chegada das campeiras que estavam
trabalhando no campo.

figura 10 - divisão em trigonas passo a passo

http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3630/curso/cap1.htm
Mário de Luna 15
II / B - Divisão em Meliponas (Uruçu, Mandaçaia, Jandaíra):

Este grupo segue os mesmos passos que das Trigonas. A diferença está apenas nas realeiras, que este
grupo não constrói. A diferenciação em rainha parece estar ligada a fatores genéticos, enquanto que em
Trigonas também esteja relacionado com a questão alimentar das realeiras. Sendo assim, para obter
uma nova rainha basta transferir discos de cria nascente para a caixa-filha, organizando um ninho com
uns 3 discos. Desta maneira, certamente será possível dividir artificialmente a colônia deste grupo de
abelhas.

A divisão pode ser factível ao fracasso. Antes de aventurar-se em fazer, o meliponicultor deve procurar ter
boa prática no manejo de suas colônias além de conhecer sua biologia e organização social.

http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3630/curso/cap1.htm

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