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MOÇÃO

Com conhecimento a:

Conselho Geral Transitório


Conselho Executivo
Conselho Pedagógico
DREC
Gabinete da Senhora Ministra da Educação
CCAP

Os professores do Agrupamento de Escolas António José de Almeida vêm por este


meio, manifestar o seu desagrado pela forma como o actual modelo de Avaliação
Docente está a ser implementado pelo ME, propondo que a aplicação do mesmo seja
suspensa, invocando para o efeito, os princípios e evidências que a seguir se
enunciam:

1. A Avaliação de Desempenho é necessária e demasiado importante,


sobretudo, pelos desafios que em si mesma encerra e que visam
ultrapassar fragilidades individuais e colectivas, sempre numa perspectiva
de melhoria de todos os intervenientes no processo de ensino-
aprendizagem.
2. É hoje evidente que o modo como o processo de Avaliação de Desempenho
foi implementado afogou as instituições em actividades e rotinas
burocráticas que prejudicam gravemente o trabalho dos professores com os
alunos, e são responsáveis por uma destabilização generalizada nas
escolas.
3. Sabemos que não há modelos objectivos de avaliação, por isso,
consideramos que a melhor forma de gerir eventuais subjectividades que,
inevitavelmente, se associam ao acto de avaliar, passa pela criação das
condições necessárias (que, manifestamente, não existem de momento)
para que o mesmo seja exequível e aceite por todos como um processo de
melhoria efectiva de desempenho, ou seja, pela manutenção de um clima
de cooperação, reflexão, consenso, partilha, transparência e reciprocidade,
e que seja, em última análise, (re)compensador a todos os níveis.
4. Contudo, a forma como o actual modelo de Avaliação de Desempenho se
iniciou (1º Concurso para Professor Titular/ Formação intensiva, de curta
duração para “avaliadores”) e se tem vindo a implementar, põe em causa e
inviabiliza os princípios, anteriormente referidos, tornando visível alguma
conflitualidade latente que se traduz no avolumar de um mal estar geral que
se tem vindo a alastrar e a provocar alterações graves no normal
funcionamento da nossa escola, que decorrem, nomeadamente:

• Do enorme gasto de tempo e energias dos professores e órgãos de


gestão para organizar um processo que se baseia numa
perspectiva, essencialmente, quantitativa, burocrática,
administrativa e economicista, inconsistente e inadequada, no que
se refere à complexidade e diversidade de saberes e recursos em
análise, reduzindo-a a um processo infindável de preenchimento de
fichas, de reformulação de documentos internos, de duplicação de
procedimentos que dão lugar a um número também infindável de
reuniões que excedem, em muito, o tempo de estabelecimento e
que contribuem para a desmotivação e exaustão dos professores
impedindo-os de dedicar as suas energias ao que realmente define
a sua profissão, isto é, a preparação das aulas, a elaboração de
materiais, a identificação e construção do apoio individualizado, a
consolidação da relação pedagógica, as questões da avaliação dos
seus alunos, a construção do seu projecto individual de formação, a
investigação, a inovação...
Acresce que há fichas de avaliação para todos os gostos de acordo
com as decisões de cada escola, o que transforma o processo de
avaliação numa autêntica lotaria para os professores avaliados.
• Da ausência de oportunidades de formação específica, para os
avaliados e avaliadores, uma vez que o nosso Agrupamento de
Escolas, com a recente reformulação dos CFAE, deixou de
pertencer ao Centro de Formação Ágora, tendo sido incluído num
outro Centro, cujo plano de formação para avaliados está já
actualmente a ser concretizado, sem que tenham sido criadas
oportunidades de formação para os professores avaliados deste
Agrupamento.
• Do desgaste físico e psicológico decorrente das questões
enunciadas, que se traduz por uma quebra de qualidade na vida
familiar e profissional da maioria dos professores que, muito
provavelmente, terá como consequência uma diminuição da
qualidade do ensino e um aumento das situações de doença dos
professores, bem como de situações de antecipação de reforma.

5. Consideramos, da maior gravidade, que a Avaliação de Desempenho esteja


condicionada pelo “progresso dos resultados escolares esperados para os
alunos e redução das taxas de abandono escolar, tendo em conta o
contexto socioeducativo” (Artigo 18º, ponto 1, alínea c) do Decreto
Regulamentar nº 2/2008) sem que haja qualquer referência, no diploma, a
outros condicionalismos e variantes externas que não dependem da acção
exclusiva do professor e que, por esse motivo, não devem condicionar a
sua avaliação, transformando todo este processo numa clara pressão para
a obtenção de sucesso educativo a todo o custo, perversidade, de resto, já
denunciada pelo próprio CCAP.

6. Consideramos, igualmente, que a aplicação do modelo de Avaliação de


Desempenho indicia a violação do Princípio da Igualdade consagrado no
Artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, ao estabelecer um
paralelo entre a avaliação interna e a avaliação externa, sendo este critério
apenas aplicável às disciplinas que têm exame a nível nacional.

7. Consideramos, ainda, que de acordo com os artigos 44º e 51º do Código de


Procedimento Administrativo, vários professores deste Agrupamento se
encontram, legalmente, impedidos de participar no processo de Avaliação
de Desempenho devido a conflito de interesses.

8. Consideramos, finalmente, incompreensível que tendo sido constituído um


CCAP, com um papel primordial em todo este processo, este órgão se
encontre praticamente inactivo, em virtude da aposentação da sua
Presidente e da demissão de, pelo menos, mais um dos seus membros.

Penacova, 23 de Outubro de 2008

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