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APRESENTAÇÃO 17
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Henrique Souto
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Recursos vivos marinhos
fixou os limites do MT em 12 milhas, mas não delimitou a ZC, Mar Territorial, Zona Contígua e Zona Económica Exclu-
situação que se mantém até à actualidade. siva não representam figuras com o mesmo grau de interesse
Além destas zonas, a CNUDM refere que um estado costeiro para os estados costeiros: no Mar Territorial o estado costeiro
pode reclamar áreas do leito e subsolo do oceano além do limi- possui soberania absoluta, tal como se se tratasse do seu terri-
te das 200 milhas quando o bordo exterior da margem conti- tório continental ou insular, salvo o direito de passagem
nental se situe para além desse limite. Este último aspecto care- inofensiva de embarcações de outros estados; a Zona Contí-
ce de uma delimitação científica precisa, pelo que Portugal criou gua serve, sobretudo, como zona tampão na qual o estado
em 1998 uma Comissão Interministerial para a Delimitação da pode exercer acções de fiscalização.
Plataforma Continental que deverá apresentar uma proposta de Na sua ZEE o estado ribeirinho possui “direitos de soberania
extensão da Plataforma Continental até ao ano de 2009 . para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão
Portugal passou, pois, desde 1977, a contar com uma ZEE dos recursos naturais, vivos ou não vivos das águas sobrejacen-
de 1 714 800km2, assim repartida: 319 500km2 em Portugal tes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se
Continental; 984 300km2 na Região Autónoma dos Açores e refere a outras actividades com vista à exploração e aproveita-
411 000km2 na Região Autónoma da Madeira. Em face da mento da zona para fins económicos, como a produção de
possível futura extensão da Plataforma Continental, Portugal energia a partir da água, das correntes e dos ventos” (CNUDM,
poderá ainda alargar o seu espaço marítimo. Art.º 56, 1a). Além disso, o Estado costeiro possui jurisdição no
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Recursos vivos marinhos
ton.
28 300
12 500
2 900
Carapaus
Sardinha
Cavala
Pescadas
Atum e similares
Polvos
Restantes
Peixe-espada preto
41 816 26 714
27 717 34 478
Pescadores
47 214
Pescado (toneladas)
223 884
1900 1905 1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950
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O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Recursos vivos marinhos
103 euros
29 000
12 750
2 900
Carapaus
Sardinha
Cavala
Pescadas
Atum e similares
Polvos
Restantes
Peixe-espada preto
0 25 50 km
134 986
35 781
n/d
23 923
1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2002
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O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Recursos vivos marinhos
R. A. Açores
Atum e similares 1 918 24,5 2 262 9,6
Carapau negrão 1 472 18,7 2 362 10,0
Goraz 531 6,8 5 144 21,8
Outros 3 919 50,0 13 833 58,6
Total 7 840 100 23 601 100
R. A. Madeira
Atum e similares 2 819 37,1 6 653 43,6
Carapau negrão 358 4,7 672 4,4
Cavala 289 3,8 409 2,7
Peixe-espada preto 3 873 51 6 702 43,9
Outros 260 3,4 823 5,4
Total 7 599 100 15 259 100
Continente
Carapau 14 189 10,7 20 407 9,0
Cavala 5 131 3,9 1 984 0,9
Faneca 3 031 2,3 5 385 2,4
Peixe-espada preto 2 692 2,0 6 848 3,0
Sarda 2 908 2,2 1 470 0,6
Sardinha 63 577 47,9 38 015 16,7
N Berbigão 3 517 2,6 1 323 0,6
Polvos 8 158 6,1 38 882 17,1
0 25 50 km
Outros 29 604 22,3 112 904 49,7
Total 132 807 100 227 218 100
TAB média por embarcação (%) Número de embarcações Portugal 148 246 266 078
23,8 2 917
6,5
246
que se refere a “colocação e utilização de ilhas artificiais, insta- actividade e aos recursos, sendo famosa a sua política de abate
lações e estruturas”, “investigação científica marinha” e “protec- de embarcações que, entre outras consequências, tem levado
ção e preservação do meio marinho” (id., 1b). ao desaparecimento de alguns tipos de barcos tradicionais de
A enorme ZEE portuguesa representa, pois, um grande Portugal.
potencial económico para o país, sobretudo se se considera- Assim, a evolução recente da pesca em Portugal, se analisada
rem recursos ainda não exploráveis, mas representa, também, pela óptica das quantidades desembarcadas e quando compa-
uma enorme responsabilidade face à preservação de tão exten- rada com outros países da Europa e com o Mundo, mostra bem
sa área marítima. o comportamento peculiar das pescas nacionais no contexto
global. Tendo registado um máximo histórico de capturas em
1964, e ao contrário do comportamento das pescas noutros paí-
O sector das pescas ses, a produção nacional nunca mais voltou a aproximar-se dos
quantitativos dos anos 60 e a ligeira melhoria registada no início
A adesão do país à Comunidade Económica Europeia (CEE; dos anos 80 voltou a cair a partir de 1986, ano da adesão à CEE.
hoje União Europeia – UE), em 1986, veio introduzir novas No contexto da produção das pescas dos estados que hoje inte-
alterações no sector das pescas e a perca da autonomia nas gram a UE, o país assume posição modesta, apenas se colocando
negociações com países terceiros, o que levou, já na década de à frente da Bélgica, da Finlândia e da Grécia, encontrando-se
90, e no seguimento das percas de oportunidades de pesca em muito longe dos níveis das principais potências haliêuticas,
diversos pesqueiros externos, ao fim de uma das pescarias como a Dinamarca e a Espanha. Todavia, quando verificados
externas mais tradicionais (Marrocos). Sendo no essencial outros indicadores, Portugal revela-se, na UE como um dos
uma política conservacionista, a política de pescas da UE veio Estados mais dependentes da pesca, quer pelo número de pes-
introduzir no sector mais restrições no acesso à profissão, à cadores empregues e sua relação com a população activa total,
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Recursos vivos marinhos
Pescadores
matriculados por porto
e por arte, 2002
3 700
1 560
520
180
Sardinha
Bacalhau
Arrasto
Outras N
0 25 50 km
quer pelo consumo de pescado que revela (cerca de 60kg de No ano de 2002 foram descarregadas pela frota nacional cer-
pescado por habitante/ano). Este consumo, de longe o mais ele- ca de 200 mil toneladas de pescado, 81% das quais correspon-
vado da UE, quando comparado com os níveis de produção, dentes a capturas em pesqueiros nacionais: cerca de 70% em
tem conduzido a uma balança comercial extremamente defici- águas de Portugal Continental (divisão IX do ICES), 7% em
tária – com um ritmo crescente – entre as exportações e as águas da Região Autónoma dos Açores (divisão X do ICES), 4%
importações dos produtos da pesca, que de uma situação de em águas da Região Autónoma da Madeira (divisão 34.1.2 do
quase equilíbrio no início da década de 1980 passou para um CECAF). Os restantes 18% foram capturados em pesqueiros
défice superior a 600 milhões de euros em 2002, sendo só o externos. Este pescado foi descarregado na sua quase totalidade
bacalhau responsável por cerca de 40% desse valor. no estado fresco ou refrigerado, com excepção do capturado em
O panorama das pescas nacionais no início do século XXI é, pesqueiros externos, que por motivos de conservação tem de
pois, substancialmente diferente do verificado durante grande ser congelado a bordo. A quase totalidade da produção portu-
parte do século anterior. guesa é desembarcada em portos nacionais.
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Recursos vivos marinhos
Produção de conservas de pescado por espécies Nesse mesmo ano, as descargas de pescado fresco e refri-
e por centro conserveiro, 2002 gerado, por regiões portuguesas, demonstram o pouco ‘peso’
que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores têm no
contexto nacional.
% %
Continente 90 85
R. A. Açores 5 9
R. A. Madeira 5 6
Total 100 100
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Recursos vivos marinhos
Água doce
29
34 521
Água Marinha
568
Água doce
Água salgada
Toneladas 1 131
Água doce
12
4 520
Água Marinha
N
70
0 25 50 km
Água doce
Água salgada
Evolução da balança comercial dos produtos atum), embora conseguindo manter nos últimos anos níveis
de pesca, 1993/2002 de produção aceitáveis, foi ultrapassado pelo de congelados; o
sector de secos e salgados luta com as dificuldades inerentes
Milhares de euros
ao acesso à matéria-prima (maioritariamente bacalhau),
0
enquanto outras formas de conservação, como as semi-
-100 000
conservas e os fumados, tendem a desaparecer.
-200 000 Outros recursos marinhos que têm perdido importância
-300 000 em Portugal são as plantas marinhas e a extracção de sal
marinho. A apanha de algas, outrora largamente utilizadas
-400 000
como adubo natural na agricultura, tem vindo a perder
-500 000
importância, e as estatísticas referentes à apanha de algas para
-600 000 utilização industrial revelam valores pouco significativos e
-700 000 decrescentes (em 2001, cerca de 500 toneladas – peso em
seco, no Continente e na Região Autónoma dos Açores). A
-800 000
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 extracção de sal, noutros tempos presente em toda a costa
portuguesa, apresenta-se hoje praticamente restrita ao Algar-
ve, cuja produção no ano de 2002 representou 94% do total,
sendo a restante repartida entre a Ria de Aveiro (3%), o estuá-
rio do Mondego (1,6%) e o estuário do Sado (1,4%).