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Wellington Pereira∗
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As mídias e as linguagens totalitárias. 3
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4 Wellington Pereira
vro, Le discours d’information médiatique- modernidades, que pode ser um bom meio
la construction du miroir social3 . de apreender a globalidade societal: a me-
A “doação” de uma interpretação das for- táfora (...)”4 .
mas sensíveis do mundo, no discurso jorna- A recusa do uso da metáfora como fer-
lístico, não leva em consideração as experi- ramenta para a compreensão dos fatos soci-
ências vivificadas por indivíduos de socieda- ais no jornalismo impresso evidencia como
des distintas que produzem, antes de tudo, o jornalismo, sobretudo o informativo, privi-
formas estéticas que definem os diferentes legiar apenas o que é da ordem da “objetivi-
processos de sociabilidade, provocando um dade”.
instinto de combinação que serve para fugir Para veicular a sensibilidade dos perso-
das dominações normativas que representam nagens e narradores, enfatizando, também,
uma ameaça à democratização dos discursos as habilidades estéticas dos leitores, o jor-
na narrativa jornalística. nalismo cultural deveria assumir a condição
Em verdade, caberia a um das especiali- de sujeito semiótico, saindo do plano linear
dades da prática jornalística, o jornalismos dos relatos, dos enunciados que “objetivam”
cultural, recuperar, através de seus gêne- os acontecimentos para “realçar” as atitudes
ros, a formas sensíveis engendradas por cada dos indivíduos.
grupo em sociedade, procurando entender as Na lógica discursiva do jornalismo cultu-
manifestações artísticas como representação ral, as atitudes estéticas dos sujeitos são aca-
do mundo sensível. çapadas pelo tempo da obsolescência do es-
Mas o jornalismo cultural procura real- petáculo, negligenciado a riqueza do imagi-
çar a produção estética a partir das regras nário dos diversos grupos sociais.
da sociedade de consumo. Isto nos remete No jornalismo cultural, a difusão do ima-
a duas premissas: 1) as diferenças estéticas ginário de povos distintos se faz através de
são anunciadas em função do “evento”; 2) uma linguagem de antecipação, que nos faz
as narrativas que tratam de fatos inscritos no pensar as produções artísticas a partir de mo-
campo da fenomenologia são tratados como delos estético e sociais preestabelecidos, e da
fatos que não pertencem à construção refe- obsolescência da sociedade de consumo. As-
rencia da linguagem do jornalismo informa- sim, o significado das manifestações cultu-
tivo. rais se esgota na fragmentação dos sujeitos e
O que predomina é o exercício descritivo de suas culturas.
das ações dos indivíduos e das formas estéti- Na verdade, o jornalismo cultural, com
cas e políticas, sem considerar a importância pretensões a veicular as manifestações estéti-
de figuras de linguagem, como a metáfora, cas, não estabelece uma organização de sen-
na interpretação e construção das realidades tidos(epistème), mas a ocultação destes. Por
sociais, como nos explica Michel Maffesoli: isto, nos cadernos culturais, vender as ex-
“Há uma outra categoria, também ampla- pressões artísticas é mais importante do que
mente desconsiderada ao longo de toda a interpretá-las.
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CHARAUDEAU, Patrick- Le discours MAFFESOLI, Michel- Elogio da razão Sensível,
d’information médiatique, Paris, Nathan, 1997. Petrópolis, RJ, Vozes, 1998, p.147.
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