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Os professores da Escola Secundária Jaime Cortesão, reunidos no dia 5 de Novembro de 2008,

consideram inaceitável a imposição de um modelo de avaliação de desempenho com total falta de


transparência, de sentido de justiça e igualdade de oportunidades, que não tem em conta a
heterogeneidade da realidade das escolas e que já provou não ser exequível:

1) Está a ser posto em prática à revelia de toda uma classe e desvirtua as capacidades, o mérito, o
rigor e a competência, a favor de uma política meramente economicista e desumana;

2) Obriga os professores a desdobrarem-se em múltiplas tarefas burocráticas, despropositadas e


desajustadas – elaboração de documentos e respectivas fichas de registo de competências,
evidências, grelhas de análise e avaliação, portefólios, guiões de objectivos individuais, de
autoavaliação, etc – cujo objectivo não é o de planificar o processo educativo, mas espartilhar a
actividade docente com critérios redutores e inexequíveis, que contribuem perversamente para a sua
avaliação, inviabilizando a progressão na carreira à grande maioria;

3) Consome tempo muito para além do horário de trabalho estipulado por lei e energias que
deveriam ser canalizadas para a preparação de aulas e diversificação de estratégias, para a
investigação e para a formação, não melhora a qualidade de ensino e não valoriza profissionalmente
os professores;

4) Pauta-se pela subjectividade dos seus parâmetros que inviabilizam qualquer avaliação objectiva e
justa e, portanto, passível de ser questionada em qualquer momento e desviando a avaliação dos
mais elementares princípios de equidade, justiça e universalidade, numa afronta acrescida à
dignidade dos professores, que abandonam precocemente o ensino a um ritmo jamais visto;

5) Utiliza parâmetros supostamente da responsabilidade individual do professor, quando de facto,


esses parâmetros são da responsabilidade de uma colegialidade docente;

6) Põe em causa o dever de imparcialidade dos docentes, já que os torna parte interessada na
avaliação dos seus alunos, contrariando o princípio de "não haver bons juízes em causa própria";

7) Subordina-se a parâmetros como o sucesso, o abandono escolar e a avaliação atribuída aos


alunos, desprezando a realidade socioeconómica, cultural e familiar em que os alunos se inserem e
sobre as quais o professor não tem qualquer controlo e/ou responsabilidade, responsabilidades essas
que devem ser procuradas nas políticas sociais e educativas;

8) Não distingue a situação específica de cada docente, nomeadamente os que leccionam turmas
com situações problemáticas ou com maiores dificuldades de aprendizagem, ou aqueles que
leccionam tipos de ensino cujos regimes de avaliação e progressão são completamente distintos do
ensino regular – docentes que leccionam ensino profissional, cursos EFA, formação modular ou dos
Centros de Novas Oportunidades, entre outros;

9) Não respeita a especificidade da área de especialização de cada docente e pretende avaliar com
os mesmos instrumentos professores em início, meio e final de carreira;

10) Obriga os professores avaliadores a pactuar com uma avaliação "entre pares", geradora de um
ambiente de suspeição na escola e, para a qual, a grande maioria não tem apetência, formação nem
tão pouco experiência em supervisão. É ainda de salientar a situação dos avaliadores aos quais
foram delegadas competências, que serão simultaneamente avaliados pelo seu Coordenador e cujas
funções de avaliadores só serão efectivamente legalizadas após a entrada em vigor do novo OGE;

11) Limita os resultados da avaliação e compromete a sua imparcialidade, ao aplicar quotas;

12) Despreza valores de justiça, tolerância, solidariedade, cooperação e, com ameaças, pretende
retirar a nossa capacidade de intervenção como cidadãos e profissionais da educação;

13) Não promove uma avaliação formativa, contrariando as práticas cooperativas e colaborativas
que os professores sempre desenvolveram, fomentando a competição e o conflito;

14) Esquece o objectivo principal da acção educativa – os alunos e as suas aprendizagens – e


transfere para os professores a responsabilidade das fraquezas do sistema;

Em face do exposto consideramos ser direito e dever dos professores,

- lutar por um processo de avaliação justo, formativo e formador, que regule a qualidade de ensino e
que garanta a igualdade de oportunidades;

- lutar por um modelo de avaliação sério, exequível e rigoroso, que cumpra os princípios de
equidade, justiça e universalidade, inerentes ao sistema público de educação;

- lutar por um modelo de avaliação que transmita claramente a fundamentação dos seus
pressupostos e que permita operacionalizar a sua prática;
- lutar por um modelo de avaliação de desempenho cuja relevância, coerência e credibilidade sejam
reconhecidas pela comunidade educativa;

- suspender a participação neste processo de avaliação, resultante do Decreto Regulamentar n.º


2/2008 de 10 de Janeiro, exigindo a sua revogação.

Aprovado por unanimidade e assinado em reunião conjunta dos quatro Departamentos da Escola
Secundária Jaime Cortesão - Coimbra

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