1. Recomendação nº2 do CCAP A recomendação nº 2 do CCAP refere, entre outros aspectos, que: • “o progresso dos resultados escolares dos alunos não seja objecto de aferição quantitativa” • “De momento não existem instrumentos de aferição para determinar com objectividade o progresso dos resultados escolares. • “A produção de instrumentos de aferição fiáveis e de reconhecida credibilidade científica é uma tarefa complexa e morosa, a desenvolver por instâncias competentes e alheias ao processo de avaliação de desempenho”
As recomendações do CCAP são validadas pelo Decreto
Regulamentar 2/2008 que refere no ponto 2 do artigo 6º: “Os instrumentos de registo são elaborados e aprovados pelo Conselho Pedagógico (…) tendo em conta as recomendações que forem formuladas pelo conselho científico para a avaliação de professores.” 2. Perversidade da Diagnose
• A necessidade de traçar objectivos com base nos resultados
e no progresso quantificado dos alunos, está a forçar os docentes, por via da formação sobre avaliação de desempenho, a fazer módulos de diagnose que duram entre dois a quatro blocos de 90 minutos. • Como tal diagnose é inicial e intermédia, os alunos passarão entre 4 a 6 blocos de 90 minutos em diagnóstico, pelo menos, logo, sem estar a trabalhar os conteúdos curriculares. • Desta maneira, tendo em conta que os programas curriculares são letra de lei, o modelo de avaliação do ME força ao incumprimento da lei e subverte a pertinência pedagógica da diagnose. 3. Competência Científica dos Avaliadores
• A organização da escola em “mega-departamentos” promove
casos de observação de classes, no mínimo, questionáveis. Professores de Educação Física a observar Artes Visuais, de Inglês a observar Francês, de Agro-pecuária a observar Matemática, de Geografia a observar Filosofia, de Educação Especial a observar Educação Musical. • É natural, pois, que os avaliados tenham relutância em reconhecer a autoridade dos avaliadores. • O argumento de que a observação deve incidir só sobre aspectos pedagógicos é, pedagogicamente, absurdo. Tal separação não é possível. Isso seria admitir que a didáctica é igual em todas as áreas. 4. O Monstro Burocrático
• À expressão “monstro burocrático” surge muitas vezes a ideia de
que os professores já não conseguem dar aulas. Não lhes resta tempo para a sua preparação e para o necessário investimento na investigação. • Ainda estamos no início do ano lectivo e do processo de avaliação e os docentes já estão sobrecarregados de burocracia. • O modelo do ME tem demasiados documentos implicados, tantos, que se perde o horizonte e a objectividade da avaliação. • Em cima de tudo isto o ME apresenta uma aplicação informática que não dispensa os outros instrumentos, logo, é mais um conjunto de documentos para os professores preencherem. Mais, tal aplicação não serve a melhoria de práticas do avaliado mas a ânsia de controlo da administração. 5. Incorrecção Científica das Fichas de Registo • O Despacho 16872/2008 consagra os instrumentos de registo, vulgo, fichas de avaliação e respectivas ponderações. • Contudo, diversas destas fichas contêm erros conceptuais e científicos que trarão inevitáveis problemas aquando da sua implementação. • Estes documentos promovem a observação/avaliação daquilo que não é observável avaliável. • Alguns exemplos de incorrecções: - Mais do que uma pergunta em cada interrogação. Chegam a ser seis! - Presença de critérios de avaliação não controlados pelo avaliado. - Tentativa de quantificar o inquantificável como a “relação pedagógica”. - Confusão entre “objectivos de aprendizagem” e “objectivos de desenvolvimento”. - Confusão entre "desenvolvimento de capacidades" e "aquisição de competências" . - Uso da 3ª pessoa na ficha de auto-avaliação em vez da 1ª pessoa. - Colocação dos conceitos de “ciência”, “pedagogia” e “didáctica” no mesmo plano. - Invenção do conceito de “recursos didáctico-pedagógicos” - Uso do conceito de “clima favorável” como critério de avaliação. - Confusão metodológica grave: não é em sede de 2preparação e organização das actividades lectivas” que as crianças participam no seu planeamento. - Outros… muitos outros… 6. Sobreposição de Calendário
• A complexidade do modelo de avaliação do ME está a
gerar, mesmo nas escolas com o processo mais adiantado, problemas previsíveis de calendário. • A conclusão do processo de avaliação em 2008/2009 terminará, caso não hajam reclamações, em Outubro/Novembro de 2009. Ora, por essa altura já os decentes têm de estar, de novo, a traçar objectivos! 7. Conflito de Interesses
• De acordo com o Código do Procedimento
Administrativo, artigos 44º, 45º, 46º, 48º e 51º, o facto de os docentes serem avaliadores dos alunos e avaliados através dos seus resultados torna os professores em parte interessada no seu próprio acto avaliativo. • Não se põe em causa a ética dos docentes que saberão manter a distância e o rigor mas assinala-se o erro grosseiro de um modelo de avaliação que promove a ilegalidade. 8. Resistência Escola a Escola
• São já muitos os estabelecimentos de
ensino onde os professores em reunião geral, de departamento, de conselho pedagógico e até da comissão coordenadora da avaliação de desempenho manifestaram a sua reprovação pelo modelo de avaliação do ME e declararam a sua suspensão. 9. Ministério não acredita no seu próprio modelo
• O próprio ME parece não acreditar na capacidade do
modelo, na sua eficácia e na sua implementabilidade, senão vejamos: 1) Porque propõe alterar a delegação de competências via Orçamento Geral do Estado? 2) Porque lança um aplicativo informático? 3) Porque cria equipas de apoio às escolas? 4) Porque diz a Senhora Ministra às escolas e aos avaliadores para simplificarem?