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Ah! Tempos... Era 31 de dezembro de 2011.

Por estradas de terra bem conservadas, admirvamos a paisagem com rvores crestadas pelo sol inclemente do vero seridoense. Revamos nas indicaes de entradas nomes de stios relacionados nossa infncia: Pinggua, Moreira, Imburanas, Parelhas, gua doce e por fim Manhoso. Nosso destino objetivado. Plnio pilotava nossa Pajero TR4 sem dificuldade, sob as orientaes do guia dos sertes Sr. Erivan. Enquanto Paulo, Plnio e Erivan divagavam sobre o que foram aquelas vivendas e como esto hoje. Eu caminhei sobre as pegadas memoriais e indelveis de meus avs. Vov Viginha apalpando meu rosto para me reconhecer. Minhas tias na luta diria na cozinha, na mquina de costura, na limpeza da casa. O leite tirado de manh cedo e fervido em alguidar de barro com gosto de pegado, a tapioca do caf da tarde cortada em losangos. O tocar do bzio chamava os trabalhadores para refeio. Vov D Brito de culos, vermelho, ofegante, no armazm pesava o algodo em caroo para benefici-lo. No engenho os tachos fumegantes apuravam o mel at o ponto de rapadura. Despejar a massa sobre as formas era imagem encantadora e ao perigosa. Raspas de rapadura com raspas do tacho de queijo. Delcia inesquecvel. As mquinas de beneficiamento em movimento... Homens trabalhando... Era o ano de 1939. Andei sobre as pegadas de meus pais. Minha me gravida, ariava o tacho com areia fina de rio e palha seca de milho. Ensinava as primeiras letras aos pequenos e a noite as oraes. Armava as redes. Lidava na cozinha e na casa, remendava roupas, costurava. Sempre atenta, mas no impedia nossas fugas para o banho de aude. Veio grande seca o aude secou. gua s na cacimba no poro. Meu pai cortava xique-xique para alimentar o gado. Cortava jurema para vender na cidade. Ainda havia muitos foges a lenha. Quando veio chuva, o aude sangrou, a oficina de queijo voltou a funcionar. Tudo ficou no passado... De onde eu retornei. Do engenho de rapadura nada restou. Das edificaes h uma pequena runa. Para quem conhece a histria lembra os ideais do passado. A casa do stio quase inalterada, os currais envelhecidos. O aude cheio. Grande lmina d gua refletindo a luz das estrelas. Nenhum sinal de vida humana. Nenhum sinal de vida animal. Os sertanejos abandonaram suas propriedades? Ento para que servem as boas estradas de acesso? Ah! Tempos... Dalva Brito Janeiro de 2012.

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