You are on page 1of 3

ESCOLA SECUNDÁRIA DE EMÍDIO NAVARRO – VISEU

SUSPENSÃO DA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO


DOCENTE INTRODUZIDO PELO DEC. REGULAMENTAR Nº2/2008

Exmo. Senhor Primeiro Ministro


Exma. Senhora Ministra da Educação
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
Com conhecimento ao Exmo. Senhor Presidente da República
Com conhecimento ao Conselho Científico para Avaliação Docente
Com conhecimento aos Grupos Parlamentares da Assembleia da República
Considerando que

1. o modelo de Avaliação de Desempenho dos Professores, introduzido pelo Decreto


Regulamentar nº2/2008, para além de ser burocrático, contém incongruências e injustiças, pelo
que se torna inexequível, carecendo de rigor, credibilidade, eficácia, transparência,
imparcialidade e, acima de tudo, justiça, tendo por base um princípio de estagnação de carreiras;
2. este modelo tem sido imposto unilateralmente, lesando a tranquilidade nas escolas,
fragilizando o equilíbrio físico e emocional do corpo docente, secundarizando a sua função
primordial, ou seja, a prática pedagógica e educativa com os alunos, colocando em causa, por
consequência, o sucesso educativo;
3. a avaliação dos professores e a sua consequente progressão na carreira não pode ser
condicionada pelo uso de direitos constitucionalmente consagrados como a maternidade, a
doença e o nojo;
4. as quotas impostas no Decreto Regulamentar nº 2/2008 para as menções de “Excelente” e
“Muito Bom” desvirtuam, desde logo, qualquer perspectiva dos docentes verem reconhecidos os
seus efectivos méritos, conhecimentos, capacidades, competências e investimentos na carreira;
5. o Código do Procedimento Administrativo impede que um Órgão ou Agente da
Administração Pública intervenha em actos ou questões em que tenha interesses semelhantes
aos implicados na decisão. Este modelo de Avaliação atenta contra tal normativo, já que os
professores avaliadores, por delegação de competências, concorrem com os professores por si
avaliados, no mesmo processo de progressão na carreira, disputando com eles os lugares nas
quotas definidas, o que torna este processo ilegal e imoral;
6. num relatório de Julho de 2008, o Conselho Científico para a Avaliação de Professores
(CCAP), alerta para “…o risco da avaliação se constituir num acto irrelevante para o
desenvolvimento profissional dos docentes, sem impacto na melhoria das aprendizagens dos
alunos…”;
7. em suma, devido a todo o clima negativo e potenciador de desequilíbrio no ambiente
escolar, gerado por este processo de imposição unilateral de um modelo de avaliação
comprovadamente errado, urge a sua imediata suspensão,
os professores da Escola Secundária/3 de Emídio Navarro de Viseu signatários desta Moção
decidem suspender a sua participação neste processo de Avaliação de Desempenho, negando-se a
entregar os objectivos individuais previstos no Decreto Regulamentar 2/2008, focalizando a sua
atenção e dedicação diárias no trabalho com os alunos, aguardando que o Ministério da Educação
proceda à imediata suspensão deste modelo de Avaliação de Desempenho e declaram-se
absolutamente disponíveis para participar na elaboração de um novo modelo de avaliação que, para
além de justo, equilibrado e imparcial, se torne num instrumento formativo e facilitador da efectiva
qualidade no ensino público.

Documento de tomada de posição dos professores da Escola Sec/3 de Emídio Navarro face ao modelo de ADPD – 1
INTERVENÇÃO DO PROFESSOR JERÓNIMO COSTA

Caros colegas,

Como primeiro subscritor do pedido de convocação desta reunião geral, assumo fazer
convosco um balanço genérico do que têm sido – e continuam a ser – as dificuldades
com que nos confrontamos há mais de três anos.

Tentarei ser breve, embora devesse ser exaustivo por tantas serem as razões de objectivo
descontentamento que nos assistem.

Abrirei um único parêntesis: a avaliação de desempenho dos docentes é um assunto


demasiado sério para ser esgrimido em constantes campanhas políticas que mais não
têm conseguido do que intoxicar o país, retirando à escola a tranquilidade e aos
professores a dignidade, ambas necessárias para uma e os outros cumprirem cabalmente
a sua missão.

As alterações introduzidas no Estatuto da Carreira Docente, que em tempos foi, por


alguns de nós, denunciado, abriram caminho à primeira de todas as arbitrariedades: o
concurso para professores titulares, valorizando apenas a ocupação de cargos e
unicamente nos últimos sete anos, independentemente de qualquer avaliação
pedagógica, científica ou técnica.

Depois, todos nos recordamos do que foi acontecendo e, nesse acontecer, nem sequer
me ocuparei de questões estritamente laborais. Seguirei para a avaliação.

Como todos nos lembramos, a tutela criou dois novos órgãos:


- o Conselho de Escolas (CE) e
- o Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP)

Pretendia-se que ambos servissem de parceiros para o ME implementar, sem


resistências, a avaliação de desempenho, através das disposições do Dec.- Lei 2/2008.

Colegas, não tenhamos ilusões:


- O Conselho Científico, através de duas recomendações e um relatório de Julho de
2008, sempre alertou para as dificuldades de implementação do modelo, de tal modo,
que, pouco tempo após a tomada de posse, a presidente pediu a aposentação. O
elemento que assumiu o seu lugar demitiu-se pouco depois e, há largos meses (Julho de
2008), que este órgão não reúne.
- O Conselho de Escolas votou, por maioria, a suspensão do modelo. Os dois órgãos
criados pela tutela ou são críticos e não funcionam ou votam maioritariamente contra;
- Os presidentes dos C. Executivos, do Distrito de Viseu, votaram maioritariamente pela
suspensão;
- Os presidentes dos C. Executivos da R. Centro e das restantes regiões seguiram a
mesma linha de rumo;
- O sindicato dos Inspectores da Educação e do Ensino já manifestou a sua discordância
com o modelo e denuncia, hoje mesmo, pressões e tentativa de governamentalização da
Inspecção;
- A Plataforma, constituída por todos os sindicatos da educação, não se cansa de
justificar a suspensão do modelo;

2
- Grupos de movimentos autónomos de professores seguem a mesma linha de rumo;
- Todos os grupos parlamentares, com a excepção do grupo que suporta o governo,
pediram a suspensão do modelo;
- Personalidades do partido do governo, entre elas, António José Seguro, Ana
Benavente, Manuel Alegre, Helena Portugal, entre outros, manifestam a sua
preocupação com os “tiques autoritários” e a intransigência da tutela.
- Personalidades da cultura e da ciência têm manifestado o seu desconforto e repulsa
pelos ataques continuados aos professores, entre eles, João Lobo Antunes, Vasco Graça
Moura, Nuno Crato, Santana Castilho, Joaquim de Azevedo e tantos outros que seria
fastidioso enumerar.
- Escolas de referência, com destaque para a D. Maria de Coimbra, entre tantas outras
que pediram a suspensão, onde também a nossa se integra, levam-nos a reiterar – agora
com veemência - dadas as pressões que começam a exercer-se sobre os CE’s, através da
ameaça de se lhes aplicar o SIADAP, na efectiva suspensão do modelo “geocêntrico” de
avaliação de professores.

Um modelo de avaliação que, pelo segundo ano consecutivo, experimenta dificuldades


de toda a ordem e obriga a despachos consecutivos, não pode ser um bom modelo; não
deve continuar a desestabilizar as escolas e a desacreditar os professores.

Três penúltimas linhas:


Uma, para saudar os professores desta escola que têm sabido manter-se unidos contra a
maior de todas as contrariedades que é preciso vencer;
Outra, para deixar expresso o nosso apoio ao PCE e aos Coordenadores de
Departamento, pelas públicas posições de unidade e de contestação das arbitrariedades e
injustiças deste modelo;
A última, para todos aqueles – e são já bastantes – que apesar da sua longa experiência e
dedicação, foram “empurrados para fora do ensino” pela adversidade das disposições
que procuramos corrigir.
Uma última consideração:
A senhora Ministra disse hoje, no Porto, que os professores enfrentam uma tarefa
espinhosa porque nunca lhes foi exigido tanto. Queremos que saiba que o nosso
problema não é a exigência mas a obstinação e a cegueira de quem não nos escuta e de
quem sistematicamente não nos respeita. Portanto seguiremos na defesa da escola
pública e na defesa do nosso bom nome, enquanto profissionais dedicados à causa do
ensino e da educação, assim saibamos continuar unidos.

You might also like