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Os Heréticos

Holding refere-se a dois grupos de ‘heréticos’ (sempre tendo em mente, é claro,


que são os vencedores quem escrevem a história, mas isto não os tornam mais corretos).
Ele critica tanto Tvedtness[76] e Bickmore[77] por alegadamente usarem a prática dos
Marcionitas do segundo século como exemplares de batismos vicários, e “é mais
plausível sugerir que os Marcionitas inventaram seu ritual baseados na falsa
compreensão de I Coríntios 15:29,” mas ele está longe de base sua base segura, ao
demonstrar suas premissas Biblicistas novamente quando assume que a razão de
apologistas SUD como Bickmore e Tvedtnes usarem os Marcionitas como um exemplo
é de que alguma forma isto demonstra que Joseph Smith usou a mesma linha de
raciocíneo dos Marcionitas.

Bickmore e Tvedtness, ambos estão tentando mostrar plausibilidade, não para


provar texto de antigos heréticos. Bickmore meramente menciona isto ainda como uma
outra referência antiga; mesmo se os Marcionitas fossem hereges, eles claramente
conheciam alguma coisa da prática Corintiana, e é anacronístico, dada a tabela
cronológica do segundo século, para Holding alegar de que isto poderia ter acontecido
devido a uma má compreensão da “escritura” a qual ainda não existia como uma obra
canônica. Nós simplesmente não sabemos como os Marcionitas conheciam a prática
Corintiana, se isso é de fato o porquê deles praticarem tal ritual.

A referência a Tvedtnes neste contexto é ainda mais enganosa. Tvedtnes apenas


menciona os Marcionitas uma vez, e isto o faz indiretamente, ao citar um repetitivo
anti-Mórmon chamado Luke Wilson, e em um nota de rodapé que diz:

Em um volume da FARMS que está para ser lançado sobre templos da


antiguidade (uma seqüência de Templos do Mundo Antigo), discorro sobre o assunto
em extensão – com vários exemplos textuais – em um artigo intitulado, “Batismo pelos
Mortos no Antigo Cristianismo.” O artigo eliminará quaisquer dúvidas sobre a
disseminada crença em batismo pelos mortos entre os antigos cristãos. Wilson
realmente nota esta prática pelos “heréticos Marcionitas no segundo século e a
Sociedade Efrata, um grupo oculto Cristão na Pensilvânia nos anos de 1700s”
(II.3).[78]

Ironicamente, o argumento de Holding deveria ser para seu companheiro


crítico, não para Tvedtnes. Mas desde que Tvedtnes com certeza refere-se a um artigo
que até aquela data ainda não havia sido publicado, ma que todavia está agora
disponível, vamos dar uma olhada nele. Tvedtnes corretamente indica que os
Marcionitas seriam verdadeiramente considerados um secto apóstata até mesmo por
SUD modernos, mas arrazoa:

“Alguns dispensariam esta evidência baseado no fato de que os Marcionitas


fossem heréticos. Santos dos Últimos Dias, acreditando que a Apostasia já estivesse a
caminho pela época dos Marcionitas e de que nenhum grupo Cristão possuía então toda
a verdade, vêem a prática como um remanescente de um antigo ritual que data desde
tempos apostólicos.”

Os Marcionitas deram uma interpretação literal às palavras de Paulo, “Todavia o


que se farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não
ressuscitam? Por que são eles então batizados pelos mortos?” (I Coríntios 15:29).
Tertuliano, embora reconhecendo em um lugar que os Corintianos praticavam o batismo
por procuração (ver ‘Sobre a Ressurreição da Carne 48), declara em outro lugar que
Paulo esta se referindo a batismo do corpo, o qual está sujeito à morte (ver ‘Contra
Marcião 5.100 [e abaixo nesta Revisão Crítica – M.S.]). São Crisóstomo
semelhantemente rejeita a interpretação de Paulo feita por Marcião e concluiu que a
referência real do apóstolo fosse a profissão de fé no batismo, parte da qual consistia de,
“Eu creio na ressurreição dos mortos” (Homilia 40 sobre I Coríntios 15). Estas palavras,
recitadas antes do batismo, indicaram para Crisóstomo que o batismo era realizado sob
a esperança da ressurreição.

É verdadeiro que em outras passagens (ver Romanos 6:3-5; Colossenses 2:12)


Paulo fale de batismo como uma morte simbólica, um sepultamento e ressurreição de
Cristo, e daqueles que desejarem segui-lo para uma nova vida. Não obstante, apesar das
tentativas por alguns dos Patriarcas da antiga Igreja em querer dar um significado
simbólico à passagem de I Coríntios 15:29, a morfologia e sintaxe deste versículo
claramente implica em batismo por procuração.[79] [ênfase acrescentada]

Isto é muito diferente das palavras que Holding põe na boca de Tvedtnes.

O outro grupo mencionado, os Cerintianos, são ainda um caso diferente na


questão. Assumindo que o relato de Epifâneo esteja correto, o racional deles está pelo
menos contido como uma espécie de subconjunto teleológico do racional SUD. Isto é,
mesmo que Holding esteja correto, que sua prática estivesse restringida a crentes não
batizados (e.g. catecúmenos, ou “investigadores”, como podemos hoje dizer), isto está
perfeitamente dentro da normativa prática SUD de hoje. Ao pular os Cerintianos assim
tão livremente, ele realmente nos concedeu um ponto. Que fazemos alguma coisa mais
que os Cerintianos faziam é uma coisa, mas ambos praticamos o batismo vicário pela
“razão certa” (ao contrário dos Marcionitas), é realmente uma clara evidência de que
possuímos um registro de alguém na antigüidade, mas no período pós-apostólico ainda
fazendo a coisa parcialmente correta. (Daí meu termo “subconjunto teleológico” – o
racional Cerintiano está completamente contido dentro de nosso racional; a prática deles
não “prova” a nossa, embora o reverso possa ser verdadeiro, falando estritamente do
ponto de vista lógico, mas de qualquer forma o ponto mais uma vez é demonstrar
plausibilidade). Não muito é conhecido sobre os Cerintianos; eles receberam este nome
devido ao seu fundador, Cerinto, um judeu egípcio converso ao Cristianismo que viveu
pelo fim do primeiro século AD, fazendo de seu rito provavelmente a mais antiga
evidência extra-Bíblica sobre batismo vicário que conhecemos. Eis aqui o relato de
Epifâneo:

"Da Ásia e Gália chegou até nós um relato [tradição] de uma certa prática,
dizendo que quando qualquer um dentre eles morria sem batismo, eles batizavam
outros em seu lugar e em seu nome, de tal forma, ao levantarem-se na ressurreição,
eles não terão que pagar a penalidade de terem falhado em receber o batismo, mas
antes se tornam sujeitos à autoridade do Criador do Mundo. Por esta razão, essa
tradição que até nós chegou conta ser a mesma coisa a qual o próprio Apóstolo se
refere quando diz, ‘Se os mortos absolutamente não ressuscitam, por que se batizam
então pelos mortos?’[80]"
O movimento antecede os Marcionitas por cerca de quase meio século, o que
também se encaixa bem dentro de uma presumida apostasia; uma vez que tal apostasia
“generalizada” debandaria, presumidamente, para cada vez mais longe e criaria cada
vez mais cismas a partir do Cristianismo Apostólico original. Também Marcião era um
Romano, de tal forma que temos agora pelo menos três “alfinetes” em nosso mapa da
Antiga Cristandade em pontos geográficos bem divergentes. O coração da Grécia
(Corinto), a capital do Império (Roma), e a “segunda cidade” e capital intelectual do
Império (Alexandria).

Finalmente Holding fabrica a mesma premissa Biblicista de que os Cerintianos


tinham o exemplo de I Cor 15:29 diante deles para “interpretarem mal”. Nós não
sabemos se isto é verdadeiro. Uma vez que isto (o fim do 1o século) aconteceu muito
tempo antes que o cânon estivesse estabelecido, nós não sabemos o que os Cerintianos –
especialmente dado a sua longa distância até Jerusalém – tinham à mão. Não se pode
simplesmente assumir que possuíam qualquer tipo de texto padrão.

Ele também faz a enganosa declaração de que “os mais antigos dados Coptas
vieram do quarto século, e é, portanto de relevância marginal concernente ao que
estava acontecendo no Novo Testamento. Todavia Tvedtnes reconhece que fatores
sociais possam ter conduzido a aceitação de tal ritual no Egito enquanto outras igrejas
o rejeitaram”. Ele então segue em adicionar uma sentença na qual implica que Tvedtnes
chegou a uma conclusão específica; i.e., a de que os Coptas usaram a mesma linha de
raciocíneo que DeMaris supôs que os Cristãos Corintianos seguiram, mas essa
conclusão não está em lugar algum no trabalho de Tvedtnes.

Aqui está o que Tvedtnes escreveu:

Dúzias de antigos textos Cristãos falam do batismo pelos mortos e a prática


havia se tornado tão distorcida por volta do quarto século que alguns estavam
batizando os cadáveres dos mortos ao invés de usarem procuradores, o que acabou
resultando na proibição de tais práticas no Sínodo de Hipo e no terceiro Concílio de
Cártago. Mas o batismo vicário pelos mortos continuou até mesmo após aquele tempo
entre os Cristãos do Egito e Etiópia e entre os Mandeus do Iraque e Irã. Todos estes
ainda continuam com a prática, embora em uma escala mais restrita.{10} Wilson pode
estar correto em dizer que a “a prática do batismo pelos mortos de fato nunca se
tornou amplamente difundida”, mas ele claramente ignora o fato de que ela foi
praticada na antiga Cristandade fora da área de Corinto.{11}

{10}. Entre estes grupos, batismo é realizado apenas para parentes falecidos; não se
realiza nenhuma tentativa correspondente para fazer pesquisa genealógica. Tal como era
também a antiga prática SUD (por exemplo, em Nauvoo), até que a revelação veio para
Wilford Woodruff e a Sociedade Genealógica de Utah foi estabelecida, veja Thomas G.
Alexander, Things in Heaven and Earth: The Life and Times of Wilford Woodruff, a
Mormon Prophet (Salt Lake City: Signature Books, 1991), 322—23. Um sacerdote
Ortodoxo Sírio me informou que sua igreja também continua com a prática, mas ele não
me providenciou ainda com qualquer documento que apoiasse sua declaração.

{11}. Em um volume que está preste a ser lançado pela FARMS sobre antigos templos
(uma seqüência para Templos do Mundo Antigo), discorro sobre o assunto
extensivamente - com numerosos exemplos textuais - em um artigo intitulado, "Batismo
pelos Mortos no Antigo Cristianismo”. O Artigo acabará com quaisquer dúvidas sobre a
difundida crença em batismo pelos mortos entre os primeiros Cristãos. Wilson
realmente nota esta prática entre a “herética seita dos Marcionitas no segundo século e
pela Sociedade Efrata, um grupo oculto Cristão nos idos de 1700 na Pensilvânia”.

Em outras palavras, em nenhum lugar da seção sobre os Coptas Tvedtnes refere-


se a DeMaris – essa ligação está apenas na mente de Holding, o que estaria tudo bem,
mas deveria ele dizer a seus leitores de onde veio esta ligação (de sua própria mente).
Note que Tvedtnes indica que pelo 4o século a prática havia se tornado distorcida, o que
é exatamente o que esperaríamos se estivesse acontecendo uma apostasia gradual.
Existem referências a DeMaris, que a trataremos no devido tempo, mas esta não é uma
delas.

Todavia existe ainda um outro problema com as palavras de Holding, ao chamar


a decisão dos Coptas de “sociológica” ele totalmente passa por cima da razão exata
deles continuarem com o batismo vicário, e a razão do porquê foi isto mesmo
mencionado; afinal, já havia sido mencionado o anátema do (terceiro) Concílio de
Cártago (397 AD) contra a prática. Não é apenas possível, mas altamente provável que
igrejas mais remotas possam tanto ter escolhido ignorá-lo ou até mesmo nunca terem
ouvido falar dele.

Tvedtnes, em seu novo trabalho sobre as antigas práticas templárias, também


menciona o Sínodo de Hipo, realizado em 393, que declarava, “a Eucaristia não deve
ser dada a corpos mortos….nem batismo conferido sobre eles” (incidentalmente, as
mesmas palavras iriam ser usadas em Cártago cinco anos mais tarde)[81]

Um outro grupo dissidente ao qual Holding não menciona é o secto dos


Mandeus, um ramo sincrético do Cristianismo e religiões orientais, que também
praticaram batismos vicários. [82]

Existe, adicionalmente, um número de pseudoepígrafes, outras referências ante-


Nicéianas e obras místicas Judaicas e Coptas posteriores que se referem às almas dos
mortos sendo lavadas ou batizadas após suas mortes, e a partir daí sendo trazidas até a
um mais elevado (usualmente um terceiro) reino dos céus.[83] Uma miscelânea destas
fontes, em adição àquelas que são abordadas neste artigo, as quais discutem tanto a
pregação das almas em um reino no meio do caminho entre a morte e o Julgamento
Final, e/ou os efeitos que as pessoas vivas podem ter no destino destas almas, Tvedtness
lista: Arnobius, Clemente de Alexandria, Odes de Salomão, Epístola dos Apóstolos,
Atos de Pilatos, Zózimo, O Apócrifo de João (parte da biblioteca de Nag Hammadi),
Apócrifos Bíblicos Irlandeses, A Penitência de Adão, Apócrifos Coptas no Dialeto do
Alto Egito, A Vida de Adão e Eva (Apocalipse), Apocalipse de Paulo, I Enoque, Sepher
ha-Razim: O livro dos Mistérios, The Zoha. [84]

Uma vez que Holdings aparenta subestimar a importância das fontes Coptas
(Egípcias e Etiópicas) que Tvedtness menciona em seu trabalho anterior que se encontra
on-line, aqui estão as referências adicionais que Tvedtness faz em seu mais novo artigo;
nos dá a razão do porque não devíamos nos surpreender de que o batismo vicário é
praticado na igreja Copta, possivelmente até o dia de hoje:
1. A visão geral Egípcia dos mortos era de que eles continuavam a viver numa forma
espiritual, esperançosos da ressurreição do corpo. Grande cuidado era portanto
tomado para preservar o corpo através do embalsamento e do encarceramento do
corpo em túmulos rochosos.

2. Havia uma grande ênfase no antigo Egito sobre a adequada performance dos
rituais, tanto para o mundo dos vivos como para o mundo dos mortos. Mesmo
quando o falecido não tivesse vivido uma vida digna de louvor, era típico designar
para ele justiça e negar qualquer malefícios de seu passado. A menos que seu
coração ou outras facetas de seu ser o traíssem diante dos deuses que se assentavam
no julgamento do seu espírito, rituais mágicos e talismãs eram empregados para
assegurarem sua passagem de forma segura para dentro dos mundos de glória.

3. Iniciação, incluindo a purificação pela água, era já estendida tanto na vida terrena
como nos rituais mortuários que precediam o enterro. Isto era prontamente
identificado com o batismo Cristão tanto para vivos como mortos.

4. A grande honra e respeito demonstrados em relação ao ancestral de alguém no


antigo Egito era refletida no edifício e manutenção dos templos mortuários, onde
comida e bebida eram trazidas para o espírito do falecido e onde rituais necessários
para a passagem segura através dos perigos do mundo vindouro eram realizadas.
Com tal atitude em relação ao progenitor de alguém, não é de se admirar que os
Egípcios Cristianizados estivessem contentes em continuar com uma prática de
ordenanças vicárias para aqueles que já haviam dantes partido.[85]

A respeito dos rituais Etíopes, Tvedtness relata:

Cristianismo se espalhou do Egito para Etiópia, onde a igreja Abissínia foi


fundada. Houve muita influência Egípcia na Etiópia, incluindo a influência de práticas
Egípcias pré-cristãs, especialmente aquelas associadas com rituais realizados em favor
dos falecidos. É, portanto, nenhuma surpresa vermos o batismo pelos mortos ser
mencionado em documentos Etíopes.[86]

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