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1 - INTRODUÇÃO
Este trabalho faz uma breve revisão sobre a informação transmitida aos
doentes vítimas de enfarte agudo do miocárdio (EAM), acerca da sua sexualidade.
Pretende-se desmistificar a abordagem da sexualidade pelos profissionais de saúde,
pois esta faz parte da reabilitação total do indivíduo, melhorando a sua qualidade de
vida.
Após o EAM, os doentes têm muitas questões sobre medicamentos, tratamento
e prognóstico. No entanto, como nos diz STEINKE e PATTERSON-MIDLEY (1998),
uma área frequentemente negligenciada, é a função sexual.
A actividade sexual (AS) pode ser exprimida das mais diversas maneiras. Para
a maioria das pessoas a AS significa relação sexual, mas pode simplesmente querer
dizer ter o companheiro ou companheira junto de si, ou só tocar, agarrar e/ou
expressar ternura.
É opinião geral, como constatado na revisão bibliográfica efectuada, que no
campo da reabilitação cardíaca a sexualidade é um aspecto muito pouco abordado,
continuando, ainda, a ser tabu em muitas das ocasiões.
Para BRIGGS (1995), o facto de a AS muitas vezes, não ser abordada com o
doente deve-se por um lado a estes e por outro aos enfermeiros. A autora refere que
em relação aos doentes muitos destes acreditam que retomar a AS após um EAM
poderá ser um perigo para a sua saúde, uma vez que, citando ROSA (1998, p.30),
“… há aumento da sobrecarga cardíaca e esforço cardíaco e, em alguns casos, o
início das queixas da sua doença pode ter ocorrido durante o acto sexual, …”.
Muitas vezes a doença cardíaca é associada ao envelhecimento. Os doentes
que sofreram um EAM podem, segundo BRIGGS (1995), sentir que esta doença se
trata de um último aviso e abster-se da actividade sexual.
Ainda no que diz respeito aos doentes, PAPADOPOULOS et al (1983), no seu
estudo realizado com doentes do sexo feminino, verificaram que uma das suas
principais preocupações era, já não serem consideradas atraentes pelos respectivos
parceiros.
Segundo BRIGGS (1995), a resposta sexual normal passa por quatro fases:
• Excitação - fase em que ocorrem estímulos psicogénicos ou
periféricos que aumentam a tensão sexual resultando em
vasoconstrição.
• Planalto - esta fase ocorre com a tensão sexual intensificada.
Pode demorar 30 segundos a 3 minutos.
• Orgasmo - esta fase pode ser descrita como o clímax da relação.
• Resolução - fase em que o corpo retorna ao seu estado de
descanso.
do EAM. O risco relativo do EAM ocorrer nas 2 horas após a AS é de 2.5 (95% IC,
1.7-3.7), para indivíduos sem história prévia de doença cardíaca, enquanto que, o
risco relativo da AS desencadear o começo de um EAM entre os doentes com
história prévia de angina de peito é de 2.1 (95% IC, 0.8-5.8), e de EAM é de 2.9
(95% IC, 1.3-6.5). Os autores deste estudo concluíram que a AS pode desencadear
um EAM em apenas 0.9% dos casos e que o exercício regular está associado a um
risco decrescente.
Noutro estudo realizado, MÖLLER et al (2001) incluíram todos os cidadãos
suecos com idades compreendidas entre os 45-70 anos e a viver em Estocolmo,
sem história prévia de EAM. Durante o período de colheita de dados foram
entrevistadas 699 pessoas entre o período de Abril de 1993 a Dezembro de 1994,
sendo o número de casos final após a exclusão por informação inadequada e outros
motivos de 659 pessoas.
Dos doentes que não tiveram sintomas premonitórios 1.3% (5/399), estiveram
expostos a AS durante as duas horas antes do EAM. Durante a hora antes do EAM
(0-60minutos) um valor de 2.01 (95% IC, 0.7-6.5), foi encontrado e durante a hora
antes (61-120 minutos) um risco de 1.4 (95% IC, 0.3-5.9) permanece. A estimativa
do risco relativo durante o total das duas horas foi de 1.8 (95% IC, 0.7-4.3). Os
autores concluíram que o risco de EAM aumenta após a AS embora o risco absoluto
seja baixo. Também neste estudo se verfifica que o exercício regular leva a um
menor risco.
No grupo dos doentes que normalmente realizam pouco exercício o risco
relativo é de 4.4 (95% IC, 1.5-12.9), enquanto que o risco relativo é de 0.7 (95% IC,
0.1-5.1) para os doentes com um padrão de exercício mais activo.
PARZELLER, RASCHKA e BRATZKE (2001), investigaram o número de
mortes relacionadas com a AS no registo de autópsias realizadas ao longo de 27
anos. Em 26901 autópsias realizadas, apenas 48, ou seja, 0.18% revelaram morte
natural durante a AS. Destes, 45 eram homens com uma média de 60,6 anos de
idade. O primeiro EAM foi a causa de morte em 12 e repetição de EAM foi a causa
de morte de 13. Do total de óbitos, 36 ocorreram durante ou depois de uma relação
sexual e 12 depois de outra AS. Grande parte dos óbitos (75%), ocorreu fora da
relação conjugal, sendo a maioria deles com prostitutas jovens.
Num outro estudo, realizado na mesma área por UENO (1969) cit in STEIN
(2000), concluiu-se que 34 dos 5559 casos de morte súbita ocorreram durante o
negativo o doente pode iniciar a sua AS. No risco intermediário, foram incluídos
todos os doentes que sofreram um EAM entre o período de 2 a 6 semanas. Neste
ponto intermediário encontram-se todos os doentes cuja condição cardíaca é incerta.
Neste caso, o doente pode ter ainda um risco considerável de o coito causar
isquémia e re-enfarte, assim como uma arritmia maligna. Este risco deve ser
avaliado através do teste de stress físico. No alto risco foram incluídos todos os
doentes que sofreram um EAM à menos de 2 semanas. Trata-se do período com
máximo risco para o doente pelo que a AS não é recomendada durante este período
(DEBUSK et al, 2000).
A parceira habitual deve ser incluída no aconselhamento ao doente. Em geral,
determinadas guidelines podem ser de grande ajuda a todos os doentes após EAM
e profissionais de saúde.
STANEK (1985) cit in RERKPATTANAPIPAT, STANEK e KOTLER (2001)
apresenta algumas situações em que a AS deve ser evitada:
•Durante as 3 horas que se seguem a uma refeição “pesada”;
•A seguir a ingestão de bebidas alcoólicas;
•Expostos a temperaturas extremas;
•Momentos de maior cansaço;
•Quando houver limitações no tempo disponível.
5 - ESTRATÉGIAS DE ENSINO
abordagem parece segundo STEINKE (2002), ideal para a abordagem deste tópico
bastante sensível.
6- CONCLUSÃO
A sexualidade faz parte de todo o ser de uma pessoa, no entanto, muitas vezes
ela é colocada em segundo plano.
Após ter ocorrido um EAM, o ensino sobre a AS é de extrema importância, no
entanto, muitas vezes este não é realizado ou não é abordado da forma mais
adequada.
Pelos estudos consultados verifica-se que a AS acarreta diversas alterações
fisiológicas que, no entanto, em situações normais são equivalentes a uma
actividade de vida de intensidade moderada.
Exceptuando o estudo de MASTERS e JONHSON (1966) cit in STEIN (2000),
que foi realizado em laboratório, verifica-se que a frequência cardíaca, a pressão
arterial e o consumo metabólico são equivalentes a uma actividade de vida diária
moderada, atingindo o seu máximo durante o orgasmo, como se pode constatar
através dos estudos de HELLERSTEIN e FRIEDMAN (1970), STEIN (1977) cit in
STEIN (2000) e BOHLEN et al (1984) cit in DRORY (2002). Sendo assim parece ter
algum fundamento o doente poder iniciar a sua AS assim que conseguir subir dois
lanços de escadas seguidas.
No que se refere à posição sexual que o doente deve adoptar, também nesta
área alguns estudos foram realizados, contradizendo a ideia de que o homem deve
ficar por baixo. Nos estudos de NEMEC et al (1976) cit in STEIN (2000) e BOHLEN
et al (1984) cit in DRORY (2002), foram estudadas várias posições não se tendo
verificado diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito ao pico da
pulsação nas diferentes posições. No entanto, no estudo de BOHLEN et al (1984) cit
in DRORY (2002), o consumo de VO2 é menor quando ocorre auto estimulação ou
estimulação pelo parceiro pelo que parece ser indicado aconselhar o doente a iniciar
a sua AS por esta prática.
No que se refere à resposta fisiológica do organismo à AS, parece que esta é
maior em situações de stress como é o caso das relações extra matrimoniais. O
caso descrito por CANTWELL (1981) e UENO (1969) cit in STEIN (2000), assim o
parecem indicar no entanto, estes estudos são escassos para retirar conclusões
definitivas.
Um dos factores que parece condicionar a AS dos doentes após terem sofrido
um EAM, é o medo de se sentirem mal ou morrerem durante a relação. No entanto,
embora tal possa ocorrer, pelos estudos observados, parece que esse risco é baixo.
No estudo de MULLER et al (1996), parece que o risco parece está circunscrito às
primeiras duas horas após a AS.
Noutro estudo, realizado por MÖLLER et al (2001), equivalente na sua
metodologia ao estudo anterior, os valores obtidos foram semelhantes.
Em ambos os estudos foi possível ainda verificar que praticar exercício
regularmente leva a uma redução do risco de um EAM.
Muitos são os doentes que após terem sofrido um EAM reduzem ou abdicam
da sua AS, o que se traduz normalmente numa menor qualidade de vida. Estudos
como o de VACANTI e CARAMELLI (2005), e DRORY et al (1998), assim o parecem
demonstrar. Em ambos os estudos houve um número significativo de doentes que
não retomaram a sua AS e daqueles que a retomaram, uma percentagem
significativa teve uma redução significativa da frequência e satisfação sexual.
Alguns factores como a idade, depressão e nível educacional, são apontados
como intervenientes neste facto como se pode verificar no estudo de DRORY et al
(1998).
Os profissionais de saúde não podem deixar de estar atentos a estes factos e
devem por isso ter um papel mais activo. Vários estudos indicam que a informação
transmitida aos doentes não é suficiente e dos grupos de profissionais que poderiam
intervir, os enfermeiros parecem afastar-se deste processo. Os estudos de YILMAZ e
EMIROGLU (2005), STEINKE e PATTERSON-MIDGLEY (1998), PAPADOPOULOS
et al (1983), e o estudo realizado por TEIXEIRA et al (2001), apresentam valores
entre os 60 e 70% em relação ao número de doentes que não receberam
informação alguma sobre sexualidade durante o tempo de permanência no hospital.
Os enfermeiros parecem que têm contribuído para estes números pois no estudo de
YILMAZ e EMIROGLU (2005), verificou-se que os enfermeiros não participaram no
processo de ensino ao doente e no estudo de STEINKE e PATTERSON-MIDGLEY
(1998), o pessoal de enfermagem apenas abordou esta questão com 3% do total
dos sujeitos.
No que se refere à melhor estratégia de ensino para abordar esta temática com
os doentes, os estudos são ainda escassos. No entanto, na bibliografia consultada,
duas estratégias parecem ter resultados positivos. O estudo realizado por LINDEN
(1995) cit in STEINKE (2002), demonstrou que a utilização de material como um
manual e uma cassete áudio para o doente levar para o domicílio pode trazer
benefícios para este.
No mesmo sentido, embora com a utilização de material de apoio diferente, o
estudo de STEINKE (2002), parece ir de encontro ao estudo anterior. A utilização de
métodos adicionais na educação do doente parece ter benefícios inequívocos para
este, no entanto, mais estudos nesta área seriam necessários para obter conclusões
mais fidedignas.