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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Partindo da natureza das ações do Viva Cidadão, ou seja, de sua função maior de
ser um instrumento do Estado que contribua para a construção e/ou consolidação da cidadania
dos maranhenses, facilitando o seu acesso aos documentos de cunho jurídico-institucional que
promovem a inclusão social, este artigo estabelece uma discussão do que, de fato, seja
cidadania, para, a partir disto, se propor a fazer uma análise que avalie os impactos, o
significado e a importância da recente implantação do serviço de emissão do CPF naquele
Órgão. A análise leva em consideração, numa perspectiva comparativa, os resultados obtidos
neste tipo de serviço, em relação ao conjunto total dos serviços oferecidos, como também
busca detectar a percepção que têm aqueles que querem tirar o CPF acerca da importância e
significado do mesmo.
Para isto, este trabalho parte da premissa de que “a ciência consiste em doxai
(opiniões, conjecturas) controladas pela discussão crítica, assim como pela techne
1
Cientista Social, Funcionária Pública Estadual, aluna do curso de pós-graduação em Gestão Estratégica de
Serviços da Faculdade Atenas Maranhense(FAMA/Ma), E-mail: karlacristina.campos@bol.com.br,
2
Assistente Social, Professora e especialista em saúde pública, aluna do curso de pós-graduação em Gestão
Estratégica de Serviços da Faculdade Atenas Maranhense(FAMA/Ma), E-mail: francis_sousa@hotmail.com
3
Turismologa, Assessora Técnica das Unidades Móveis -Viva Cidadão, aluna do curso de pós-graduação em
Gestão Estratégica de Serviços da Faculdade Atenas Maranhense(FAMA/Ma),E-mail:
vicamalheiros@hotmail.com
2
experimental” (POPPER apud LAKATOS e MARCONI, 1986, p. 63), ou seja, que o trabalho
cientifico parte de expectativas de conhecimento prévio, da percepção de problemas e da
formulação de hipóteses ou conjecturas em busca de confirmação ou negação.
Assim, este artigo nasceu, em primeira instância, da experiência acumulada ao
longo de nosso trabalho no Viva Cidadão, com outros serviços, o que nos permitiu detectar
um problema e formular hipóteses que respondessem a certas questões no que diz respeito à
implantação dos serviços de CPF. Por exemplo: há, de fato, uma significativa demanda pelos
serviços de CPF em nosso Estado? Em havendo esta demanda, qual o real impacto da mesma
se considerada no conjunto de todos os outros serviços oferecidos pelo Viva Cidadão?
Existem diferenças qualitativas como, por exemplo, na variável sexo, acerca desta demanda?
Quais os motivos que levam as pessoas a procurar pelo serviço de CPF e qual a sua percepção
acerca do significado de possuir ou não este documento?
Para responder a estas perguntas, faz-se necessário conhecer a história, a estrutura
e a sistemática de trabalho do Viva Cidadão, notadamente das suas unidades móveis,
ambiente da pesquisa de campo; compreender, em nível teórico, as noções, as possibilidades e
os limites da cidadania e a importância e significado do CPF, neste contexto.
Crê-se, portanto, que a inclusão social, a nosso ver, poderá permitir a posse de um
CPF, no âmbito do sistema capitalista do país, colaborando assim para consolidação da
cidadania dos maranhenses, o que justifica e dá a devida relevância ao tema em análise.
3 DEFININDO CIDADANIA
Logo, para atingir a condição de cidadão é preciso estar juridicamente apto, isto
é, a pessoa é, por direito, cidadão quando está “no gozo dos direitos civis e políticos de um
Estado, ou no desempenho de seus deveres com este” (ROSAS, 2001, p. 1). Então cidadania,
“implica em reconhecer-se como membro de um conjunto e, ao mesmo tempo, ser
reconhecido como membro” (CINTRA, p. 1, 2001).
Portanto, a efetiva cidadania pressupõe uma pessoa numa contínua busca de
autonomia, que, segundo Levy apud Abbate (1994, p. 483), “manifesta-se como capacidade
humana de autodeterminação por leis (ou finalidade) subjetivas”. Logo, observa-se neste
conceito de autonomia que o homem é um ser “em projeto”, num contínuo processo de pôr,
em formato jurídico, no debate com os seus semelhantes, os seus desejos e necessidades.
Portanto, mais do que a consciência de pertencer a uma sociedade e de legalmente
ser reconhecido por ela, mais do que a previsão, através de leis, dos direitos civis, dos direitos
políticos e dos direitos sociais de uma pessoa dentro de seu país (MARSHAL apud VIEIRA,
2001), é sempre um aspecto fundamental da cidadania a efetiva participação. Daí a grande
utilidade do conceito de Janosky, enfatizando que cidadania é “a pertença passiva e ativa de
indivíduos num Estado-Nação com certos direitos e obrigações universais em um específico
nível de igualdade”. (JANOSKY apud VIEIRA, p. 1).
Sem dúvida, os papéis são, ainda, a forma legítima de registro histórico e
documental dos indivíduos, ainda que, atualmente, sejam reconhecidos como uma forma
arcaica de registrar fatos. O primeiro documento que legitima essa inclusão social é a certidão
de nascimento. A partir deste, abrem-se as portas da existência social para os indivíduos, além
de ser um pré-requisito para a obtenção de outros igualmente importantes. Estar com todos os
documentos necessários é uma condição sine qua non para o estabelecimento da igualdade
social.
Os documentos passam a ser um requisito básico para o reconhecimento do
homem enquanto ser social com condições plenas de exercer seus direitos e deveres de
cidadão. Obviamente que não são apenas bens materiais que valem e que legitimam esta
inclusão, existe algo muito maior, como a dignidade humana e a alegria de ser aceito e
reconhecido como pessoa.
Na obra “O Monge e o Executivo”, James Hunter afirma que “os maiores prazeres
da vida são totalmente grátis” (p. 41). Concorda-se com ele e compreende-se a perspectiva
que tem em mente, mas, controversamente, observa-se que nas sociedades capitalistas a
maioria dos prazeres da vida, tem um preço. O próprio ato de documentar-se, muitas vezes,
custa caro, quase sempre são pagas taxas com valores considerados elevados para a realidade
5
de grande parte da população que pouco ou nada tem e essa realidade torna-se mais evidentes
nos Estados mais pobres do País.
Neste sentido, a dita democracia “utópica” torna-se real a partir do instante em
que os diferentes grupos sociais que lutam pela construção e efetivação dos direitos de outros
se unem em prol da construção de uma sociedade mais justa e digna, colaborando para a
promoção da cidadania. O Estado entra nesse bojo não somente como mediador, mas,
igualmente, como provedor desta cidadania, à medida que desenvolve políticas públicas que
facilitem a acessibilidade da pessoa de incluir-se socialmente.
Sabe-se que a realidade da maioria da população é crítica, e esse triste quadro
pode ser sentido nos indicadores sociais da maioria das cidades brasileiras. Por tudo isto,
diante destas situações adversas, várias medidas já foram tomadas e o Estado, em parceria
com a sociedade civil, tem participado ativamente do processo de resgate da cidadania,
prestando serviços públicos de qualidade para a comunidade, visando garantir à mesma o
acesso e a inclusão social. São ações isoladas e distantes do ideal, mas esta ação do Estado é,
de fato, crucial, pois, como alerta o jurista Dalmo Dallari, “a cidadania expressa um conjunto
de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de
seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada
de decisões, ficando numa posição inferior dentro do grupo social”.
O grande desafio do Estado nesta direção é justamente transformar a cidadania
em algo mais que uma possibilidade, transformá-la em algo concreto, ao preparar e dar meios
para que seus cidadãos possam atuar efetivamente.
básico para que ele tenha condições de exercer seus direitos e deveres para com as esferas
econômica, financeira e tributária do capitalismo no Brasil.
O CPF é o registro dos cidadãos junto à Receita Federal brasileira no qual devem
constar todos os contribuintes e que armazena informações fornecidas pelo próprio
contribuinte e por outros sistemas de dados da Receita Federal. A posse de CPF pelos
cidadãos não é obrigatória, mas é necessária para a maior parte das operações de cunho
econômico-financeiro.
No Brasil, o CPF foi concebido a partir de 1965, quando foi mencionado pela Lei
4.862, de 29 de novembro daquele mesmo ano, em seu Art. 11, assim redigido: “As
repartições lançadoras do Imposto de Renda poderão instituir serviço especial de Registro das
Pessoas Físicas, no qual serão inscritas as pessoas físicas obrigadas a apresentar declaração de
rendimentos e bens” (BRASIL, 2006, p. 1).
Em 1968, o Registro de Pessoas Físicas seria transformado no Cadastro de
Pessoas Físicas, o atual CPF, por força do Decreto-Lei nº 401 de 30/12/68, sendo que, no seu
Art. 2 se expõe a natureza, a finalidade e o alcance do cadastro: “A inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas (CPF), a critério do Ministro da Fazenda, alcançará as pessoas físicas
contribuintes ou não do Imposto de Renda e poderá ser procedido ex officio” (Idem, p. 2).
Porém, se num primeiro momento o CPF tinha um teor essencialmente coercitivo
e de fiscalização, pois visava um maior controle dos rendimentos dos contribuintes que
deviam prestar informações à Receita Federal, através da Declaração de Imposto de Renda,
por outro lado, com o tempo, o CPF ultrapassou esses limites e se tornou um documento
fundamental no cotidiano do brasileiro.
Isto implica dizer que a inscrição no CPF é o ato no qual o contribuinte é incluído
no cadastro da Secretaria da Receita Federal, recebendo assim um número único e definitivo e
é, sem dúvida, o passaporte para que o cidadão não apenas seja cobrado por seus deveres na
esfera da ordem econômica, financeira e tributária.
No caso do Viva Cidadão, a implantação dos serviços do CPF nas unidades
móveis é fruto de uma longa negociação com a direção da Receita federal. Já antes de 2003,
quando foram retomadas as articulações para a implantação destes serviços, o Viva já
ambicionava oferecer este serviço, por entendê-lo fundamental. Naquele ano, o Governo do
Estado chegou a assinar um convênio com a Receita Federal, mas vários pontos do contrato
referentes à Receita não foram esclarecidos e não atendiam às necessidades do Viva Cidadão,
já que os custos estavam muito altos. Somente após três anos desta tentativa, em 2006,
7
finalmente foi selado um acordo para que pudesse ser oferecido o serviço, iniciando no mês
de outubro de 2006, mês que serve de referência inicial para a realização desta pesquisa.
5 METODOLOGIA
levaram a tirar o CPF e, também, quanto ao sexo. Todos os outros gráficos apresentados
consideram o quantitativo total de atendimentos de emissão de CPFs ou os totais gerais de dos
atendimentos realizados, numa perspectiva comparativa entre os dados. Passa-se, então, ao
estudo de caso propriamente dito.
6 ESTUDO DE CASO
140000
116013
120000
102200
100000
80000
60000 46177
41900 38480
35288 34548
40000
21820 Previstas
20000
0 Realizadas
Out Nov Dez Total
42%
Serviços de emissão de CPF
58% Todos os outros serviços
São Luís
Munim e Lençóis Maranhenses
60000 Itapecuru
Baixo Parnaíba
48786
50000 Baixada Maranhense
Lagos Maranhenses
40000 Pindaré
Alto Turi
30000 Pré-Amazônia
Tocantins
19646
20000 Cerrado Maranhense
Sertão Maranhense
10000 Centro Maranhense
95
02
28
49
92
82
78
79
63
96
54
91
34
32
Médio Mearim
26
27
25
24
22
19
9
15
17
2
14
14
81
61
0 Leste Maranhense
1 Total pesquisado
constante de aumentos em relação às metas previstas desde o primeiro mês considerado até o
último. Fica, portanto, patente o forte impacto que teve este serviço no conjunto geral dos
atendimentos realizados pelo Viva Cidadão e, mais importante, dando conta de anseios e
necessidades da população, consubstanciados nesta alta demanda. É o que se pode observar
comparando-se os gráficos 4 e 5 a seguir referenciados.
140000
116013
120000
102200
100000
80000
60000 46177
41900 38480
35288 34548
40000
21820
Previstas
20000
Realizadas
0
Out Nov Dez Total
60000
48786
50000
40000
30000 25640
21197
17726
20000
10475 9710 9863
10000 5455 Previstas
Realizadas
0
Out Nov Dez Total
70,00%
58,50%
60,00%
50,00%
41,50%
40,00%
30,00%
20,00% Masculino
10,00% Fem inino
0,00%
120,0%
Bolsa Família
80,0%
Aposentadoria
60,0% Emprego
Currículum
40,0% 34,8%
Exigência outros Órgãos
20,4% 19,0%
20,0% 13,3%
Ser cidadão
3,1% 6,0%
1,0% 1,9% 0,5%
0,0% Total de pesquisados
De acordo com o gráfico, vê-se que, de fato, há uma importante demanda voltada
para o recebimento de benefícios de programas governamentais, caso do Bolsa Escola, com
20,4% e do Bolsa Família, com 19,0%. Encontra-se também a necessidade de receber a
aposentadoria, com 13,3%, sendo bastante significativo o número de pessoas que estão
tirando o CPF por exigência de outros Órgãos, reforçando a importância do CPF não apenas
no âmbito da esfera tributária e fiscal, mas para que o cidadão tenha condições de atuar no
âmbito das variadas relações econômico-financeiras que ocorrem no país.
É importante também citar, como dado significativo, que 6,0% dos pesquisados,
ou seja, 937 pessoas responderam que estavam tirando o CPF para ser cidadão. Em um Estado
com graves problemas sociais e econômicos, é sempre importante constatar um dado como
este, em que quase mil pessoas demonstram ter consciência da importância de um documento
como o CPF para concretizar sua dimensão de cidadania.
Por isto, acredita-se que tal serviço implantado pelo Viva Cidadão é fundamental
não só pelo impacto que tem em relação às atividades do Órgão, mas, sobretudo pelos
benefícios que pode propiciar à população, notadamente no tocante à sua cidadania.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
forma, constatou-se que a demanda por este documento foi bastante alta nas regionais
visitadas pelas unidades móveis, demonstrando ser uma necessidade dos habitantes do Estado.
Outro aspecto também importante, diz respeito ao fato de que a demanda por
inscrições no CPF não difere substancialmente de homens para mulheres, ou seja, é uma
necessidade igual para ambos os sexos. Por último, pôde-se constatar que a população sente
uma grande necessidade de tirar este documento, seja para ter acesso a benefícios
governamentais, seja para atuar junto aos mais diferentes órgãos, isto é, pela consciência que
tem de que não pode atuar na esfera da ordem econômico-financeira se não tiver o CPF e,
mais importante ainda, que possuir tal documento contribui para que se tornem, de fato,
cidadãos, conforme manifestado por uma parcela dos entrevistados.
Portanto, a partir do significativo impacto que teve a implantação dos serviços de
emissão de CPFs no conjunto geral dos serviços prestados pelo Viva Cidadão e pela grande
importância e alcance que efetivamente tem a posse deste documento, conforme constatou-se
na pesquisa, contribuindo assim para que se possa colocar mais um tijolo na construção da
cidadania da população do estado, fica a confirmação de que este serviço precisa ser mantido
e expandido, haja vista a intensa e premente demanda da população de nosso estado.
ABSTRACT
REFERÊNCIAS
ABATTE. Solange L’. Educação em Saúde: uma nova abordagem. Disponível em: www.
Scielo.br/pdf/csp/v10n4a08.pdf. Acesso em: 16 dez. 2007.
_______ . Secretaria da Receita Federal. Cadastro de Pessoa Física. Disponível em:< www.
Receita.fazenda.gov.br >. Acesso em: 27 dez. 2006.
HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. 20.
ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. São Paulo:
Atlas, 1986.
SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 3 ed. Rio de
Janeiro: WVA, 1997.