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RELAÇÃO DOS VINTE E TRÊS CANDIDATOS POTENCIAIS À SUCESSÃO DE JOÃO PAULO II:

1) ROGER ETCHEGARAY – Ex-presidente do Conselho Vaticano para Justiça e Paz e ex-arcebispo de


Marselha. Destacou-se pelo criativo trabalho pastoral.

2) FRANCIS ARINZE – nigeriano, 72 anos. Filho de chefe tribal nigeriano, mostrou-se hábil na expansão do
catolicismo na África; O seu nome tem despontado como um dos favoritos, principalmente por seu diálogo
com os muçulmanos, religião predominante na Nigéria; as relações com o Islã podem ser cruciais para a
Igreja nos próximos 25 anos, dizem os especialistas. Embora o conclave não pareça inclinado a eleger um
negro, seria uma escolha segura por ser um conservador.
Em matéria de ortodoxia católica, é um conservador entre os conservadores, com especial animosidade em
relação à homossexualidade. É o quarto da hierarquia vaticana como prefeito da Congregação para o Culto
Divino e a disciplina dos sacramentos; é um especialista nos assuntos da Cúria.
No aspecto doutrinário se destaca pela intransigência – acha que ativistas gays e políticos católicos
favoráveis ao aborto não devem receber a comunhão.
Prega a abstinência sexual como única forma válida de luta contra a Aids, doença que devasta o continente
africano.

3) CARLO MARIA MARTINI – italiano, tem 78 anos. Foi Arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa; era
um dos favoritos à sucessão de João Paulo II, porém, aposentou-se por estar sofrendo do Mal de Parkson.
Não poderá concorrer à sucessão papal. Para substituí-lo à frente da diocese de Milão, foi nomeado um
Cardeal italiano, mais conservador, com tendências ao centro.

É um grande defensor do ecumenismo entre as Igrejas cristãs e do diálogo com outras grandes religiões
mundiais. Foi ele que articulou o encontro de João Paulo II com os chefes das Igrejas Ortodoxas Russa e
Turca. Graças às suas posições progressistas fez muitos inimigos nos movimentos conservadores ligados a
João Paulo II, como o Opus Dei. Suas cartas pastorais foram traduzidas para várias línguas.

Mantém boas relações com o judaísmo e com os ortodoxos; é considerado um progressista.

Escreveu junto com Humberto Eco o livro “Em que crêem os que não crêem”, no qual debate amplamente a
fé cristã. No Brasil, o livro foi publicado pela Editora Record.

Apesar de estar aposentado, o Cardeal Martini está à frente da ala reformista da Igreja, que deverá ter
significativa influência na eleição do sucessor de João Paulo II. O cardeal Martini chegou a ser considerado o
favorito na linha sucessória do Vaticano, mas perdeu posições na lista depois de ter deixado o cargo de
arcebispo de Milão, em 2002, e revelado que, como João Paulo II, também sofre o mal de Parkinson.
Intelectual jesuíta e lingüista, é considerado pacificador, habilidoso organizador e liberal. Afirmou que temas
controversos, como controle de natalidade e mulheres sacerdotes, poderiam ser vistos sob uma luz diferente
no futuro, o que abalou os conservadores.

4) JEAN-MARIE LUSTIGER – Arcebispo de Paris; nasceu judeu, mas se converteu ao catolicismo. Sua
eleição poderia ser considerada uma afronta aos judeus.

5) BERNARDIN GANTIN – Nativo de Banin e negro; pode ser preterido por um europeu.

6) CAMILLO RUINI – italiano, 74 anos. Vigário geral de Roma e presidente da Conferência dos bispos da
Itália; é um dos cardeais mais influentes da Igreja. É conservador e pode ser um nome de consenso.
Manteve estreitas ligações com João Paulo II, a quem se assemelha nas posições doutrinárias
conservadoras.
É um dos mais ferrenhos defensores da rigidez do Vaticano em relação ao aborto e à união de
homossexuais. Tem boa relação com a Opus Dei. Se for eleito, acredita-se que vá ratificar a doutrina moral e
teológica da Igreja em seus aspectos mais rígidos e deixar de lado iniciativas de maior apelo popular, como
encontros ecumênicos. Politicamente sempre apoiou os partidos italianos de direita e chegou a defender o
envio de tropas ao Iraque.

7) PIO LAGHI – Prefeito da Congregação para a Educação Católica. Diplomata experiente, mas foi
considerado passivo no desaparecimento de presos políticos quando era Núncio Apostólico na Argentina.

8) ÂNGELO SODANO – italiano, 77 anos. Foi secretário de Estado do Vaticano de 1990 até o falecimento de
João Paulo II; foi praticamente o segundo homem na hierarquia do Vaticano; pelo posto que ocupou,
exercendo grande influência junto a João Paulo II, e junto a Cúria Romana. É uma peça importante na
estrutura do Vaticano com muitos inimigos. Nos anos 70, foi núncio apostólico no Chile, sem se opor a
Augusto Pinhochet, de quem se considera amigo, tendo apoiado uma diocese que ajudava as vítimas da
repressão. Em 2002, apresentou sua demissão, mas João Paulo II pediu que ficasse, o que o alçou ao status
de forte candidato a papa. Caiu em desgraça ao admitir uma renúncia de João Paulo II, durante a piora de
seu estado de saúde. Além disso carece de experiência pastoral, valorizada pelos cardeais na escolha do
líder da Igreja.
Sua longa carreira diplomática conta com experiências no Equador e no Uruguai e como núncio apostólico no
Chile, onde organizou o encontro do papa com o General Augusto Pinochet em 1987.
Hábil diplomata, viajou para diversos países transmitindo a mensagem do papa e verificando pessoalmente
as situações locais.
Todas as autoridades mundiais, depois de serem recebidas pelo papa, se encontravam com Sodano para
aprofundar as negociações com o Vaticano.

Como não há conclave sem que o secretário de Estado esteja entre os favoritos, a continuidade do
pontificado de João Paulo II, teria continuidade com o Cardeal Ângelo Sodano.

O último secretário de Estado a chegar ao papado foi Pio XII em 1939.

O Cardeal Sodano divide com o Cardeal alemão Joseph Ratzinger a aproximação papal e a presença na Cúria
Romana; o grupo do Cardeal Sodano está do lado oposto ao estilo de João Paulo II, pois, não tolera a idéia
fixa de João Paulo II sobre a importância do mea-culpa da Igreja Católica pelos seus erros históricos.

9) STANISLAW DZIWISZ – Polonês, 65 anos, secretário pessoal do papa desde quando Karol Wojtyla era
arcebispo de Cracóvia.

Na hierarquia do Vaticano, Dziwisz consta como Prefeito Adjunto da Casa Pontifícia.


Como amigo pessoal de João Paulo II, é o único ouvinte dos segredos do papa, revelados em polonês.
Foi ordenado ao sacerdócio em 1963 e promovido a bispo em 1998. Em 2003 o papa o nomeou arcebispo de
São Leão, uma arquidiocese honorífica.

Considerando a dificuldade de comunicação do Pontífice, os vaticanistas comentam que Dziwisz tem o


controle de suas palavras e acabou erguendo um muro polonês que o circunda.

10) DIONIGI TETTAMANZI – italiano, 71 anos. É o Arcebispo de Milão. Nos últimos cem anos, todas as
vezes que o Arcebispo de Milão esteve entre os papabili, foi eleito papa pelo conclave (Pio XI e Paulo VI). O
seu nome passou a ser lembrado entre a população italiana; o principal motivo seria a união dos setores
reformistas e moderado da Igreja Católica, mas arriscar um palpite pode ser prematuro, pois, o próprio João
Paulo II não deixou de ser uma surpresa em 1978.
Intelectual, ex-reitor do seminário e escritor (ajudou João Paulo II a escrever algumas de suas encíclicas).
Tem muitos amigos e também alguns inimigos. Suas posições ora conservadoras, ora liberais, fazem dele um
mediador entre as forças que disputam o poder no Vaticano.
Em 2001, quando era cardeal de Gênova e a cidade sediou a tumultuada reunião do G8, Tettamanzi saiu em
defesa de sindicalistas e jovens rebeldes que protestavam. No entanto, apoiou a controversa encíclica de
Paulo VI, de 1968, contra o uso de anticoncepcionais.

11) CRISTOPH SCHOENBORN – austríaco, 60 anos. É considerado um homem de ampla capacidade


intelectual, lingüista, bom comunicador, um teólogo completo, especialista em filosofia e psicologia.
Acima de tudo, é tido como profundamente religioso.
Entretanto, poucos no Vaticano gostariam de um pontificado que pudesse durar três décadas ou mais.
Pertence à Ordem dos Dominicanos, fundada na Espanha na Idade Média, por Domingos de Gusmão. Os
Dominicanos foram encarregados pelo papa Gregório IX de conduzir a Inquisição.
Cristoph Schoenborn é conservador e ajudou a escrever a nova versão do catecismo universal católico.
Ganhou pontos ao ascender à frente da diocese de Viena num momento turbulento, quando seu antecessor,
o ultraconservador cardeal Hans Hermann Groer, estava envolvido num escândalo de abuso sexual.

12) GIOVANNI BATTISTA RE – italiano 71 anos. O seu nome passou a ser lembrado depois da sua
exoneração do posto de substituto da Secretaria de Estado do Vaticano. Era idéia de João Paulo II nomeá-lo
como subsecretário de Estado, mas o grupo de comando não suportou a idéia de um homem de confiança do
papa com tantos poderes.
Conhece como poucos o funcionamento interno do Vaticano. Isto pode tanto ajuda-lo, como prejudica-lo na
disputa pelo papado. Os cardeais podem estar procurando um administrador que fique no Vaticano e arrume
a casa, depois do papado de João Paulo II, caracterizado por muitas viagens.
Giovanni Battista Re vem trabalhando na burocracia do Vaticano desde 1979, tendo assumido posições-
chaves no Secretariado de Estado.
Em 2002 João Paulo II o nomeou chefe da Congregação dos Bispos. A falta de experiência com as dioceses
fora de Roma é considerada o seu ponto fraco.

13) GODFRIED DANNEELS – belga, 71 anos. O arcebispo de Bruxelas é um dos principais defensores da
divisão do poder entre o Vaticano e os bispos católicos do mundo. Na polêmica questão do uso de
preservativos para combater a Aids, diz preferir que os soropositivos se abstenham do sexo. Se, no entanto,
ele praticarem sexo sem preservativo, estarão violando o sexto mandamento “Não matarás”.
A afirmação abriu um precedente na campanha da Igreja contra a contracepção. Danneels também já se
mostrou favorável à nomeação de mais mulheres em funções importantes na hierarquia do Vaticano, mas
não chegou a dizer que concorda com a ordenação de mulheres.

14) JOSÉ DA CRUZ POLICARPO – português, 69 anos. É o cardeal de Lisboa e pertence à ala mais
moderada dos cardeais do conclave. Assim como fez João Paulo II, prega o diálogo entre as religiões,
incluindo as não-cristãs e valoriza os ideais de outras crenças.
Recentemente, permitiu que uma conferência ecumênica fosse realizada em Fátima, um dos maiores centros
de peregrinação católica. Por causa dessa e de outras atitudes, Policarpo já foi criticado por setores mais
conservadores da Igreja. Pouco conhecido fora de Portugal, ele tem se destacado por fazer uma ponte entre
as dioceses da Europa e da América Latina.

15) NICOLÁS DE JESUS LOPEZ RODRIGUEZ – dominicano, 68 anos. É um conservador doutrinário e um


ferrenho opositor da Teologia da Libertação. Emergiu como uma das principais figuras da Igreja na América
Latina depois de se tornar arcebispo de São Domingos, na república dominicana em 1981.
Sua mensagem tem sido de posições sócio-econômicas progressistas, de um lado, e de conservadorismo
doutrinário de outro.
Ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz dos bispos dominicanos, foi operacionalmente importante na
abertura de um centro de ajuda para iimigrantes haitianos e camponeses dominicanos. Um ponto contra ele,
é a sua falta de experiência na burocracia do Vaticano.

16) IVAN DIAS – indiano, 68 anos. Arcebispo de Bombaim na Índia. Passou a maior parte da vida adulta
servindo à Igreja fora da Índia.
Isto explicaria o fato de ser um prelado asiático mais em sintonia com o pensamento conservador do
Vaticano do que com idéias sobre um papel mais social da Igreja.
Os católicos representam apenas 1,8% da população indiana, e enfrentam problemas com grupos
nacionalistas hindus.
Ivan Dias reflete as opiniões de João Paulo II de que a Igreja tem o direito de converter fiéis na Índia.
Rejeitou advertências de que o proselitismo poderia conduzir a perseguição.
Ivan Dias tem defendido a mensagem conservadora do Vaticano sobre assuntos morais, denunciando o
aborto e os atos homossexuais.

17) CLÁUDIO HUMMES – brasileiro, 70 anos.


É o arcebispo de São Paulo. Compartilhava com João Paulo II a fidelidade à tradição e aos dogmas da Igreja,
mas ao mesmo tempo tem posição mais flexível em relação a mudanças no mundo.
Apesar de não ser da linha progressista, conquistou o respeito dos movimentos sindicais. Nos anos 70, era
bispo de Santo André, na região industrial do ABC paulista e abrigou sindicalistas perseguidos pelo governo
militar, durante as greves do metalúrgicos.
Defende a Igreja das críticas por condenar o homossexualismo e os métodos contraceptivos, mas admite
que esta deve estar aberta a grandes questões do mundo atual e preparada para ser mais flexível diante dos
avanços da ciência e da luta por direitos das minorias.

18) OSCAR RODRIGUEZ MARADIAGA – hondurenho , 62 anos. É considerado um defensor dos pobres e
acredita que a solução para países em desenvolvimento está na justiça social.
Critica a dívida externa e diz que os países pobres não deveriam continuar com uma dívida que já pagaram
com juros. Foi ordenado sacerdote em 1970 e tornou-se bispo em 1978.
Além de espanhol, fala inglês, francês, alemão, italiano, português, grego e latim. Costuma dizer o que
pensa, seja em casa ou no exterior.
Numa visita a Roma, em 2002, afirmou que João Paulo II deveria ter a coragem de renunciar. Também já
demonstrou que gostaria que o próximo papa fosse do terceiro mundo.

19) JORGE MARIO BERGOGLIO – argentino, 68 anos. É o primeiro jesuíta a tornar-se cardeal da
Argentina. É considerado um moderado na doutrina e um reformista no âmbito social. Nascido em uma
família de classe média de origem italiana, convive desde a infância com problemas respiratórios, que o
obrigam a viver com apenas um pulmão desde os 20 anos.
Em 1958 se uniu à Companhia de Jesus (Jesuítas).
Sua candidatura ao papado foi mencionada pela primeira vez em novembro de 2002, pelo vaticanista Sandro
Magister. O cardeal Camilo Ruini, um dos mais influentes da Itália, também o reconheceu como um possível
candidato à sucessão de João Paulo II.

20) ANGELO SCOLA – italiano, 63 anos. É o primeiro cardeal da Comunhão e Libertação, um dos
movimentos da Igreja que contaram com o apoio de João Paulo II.
Nomeado em 2003, é tido como um conservador de mente aberta e um bom administrador.
Scola que fala inglês fluentemente, foi professor e reitor na Universidade Laterana.
Em 1955, tornou-se diretor do Instituto João Paulo II para o casamento e a família. Diz-se que teria ajudado
João Paulo II a escrever várias encíclicas recentes, nas quais o papa reiterou sua defesa ferrenha das idéias
católicas tradicionais em termos morais.
Seu pai era caminhoneiro e ele costuma dizer que tem muito orgulho de vir de uma família pobre.

21) DARIO CASTRILLON HOYOS – colombiano, 74 anos. É um dos principais candidatos da América
Latina, por ser um dos mais experientes, e está na faixa de idade preferida pelo Vaticano.
É conservador e habilidoso, atuando com destaque ao desviar as Igrejas do continente da teologia da
libertação.
Foi nomeado por João Paulo II no comando da Congregação do Clero, que lida com os padres de todo o
mundo. Foi extremamente leal a João Paulo II.
Em 1997 foi acusado de aceitar dinheiro de traficantes de drogas na Colômbia, porém, segundo ele, uma
pessoa que quis mudar de vida, doou tudo o que tinha à Igreja.

22) ENNIO ANTONELLI – italiano, 68 anos. É arcebispo de Florença; foi nomeado cardeal por João Paulo II
em 2002. é membro do Conselho Pontifício para os Laicos e para a comunicação social. Declarou
recentemente que o novo papa seguirá as linhas traçadas por João Paulo II, de fidelidade ao Concílio
Vaticano II, uma nova evangelização, um diálogo ecumênico e inter-religioso, com especial atenção aos
jovens e à família, incluindo a defesa dos direitos humanos e da paz.
Durante a guerra no Iraque, liderou vigílias com grupos muçulmanos, o que lhe valeu acusações de ser
antiamericano. Fala italiano, francês, inglês e um pouco de alemão. Foi secretário-geral da Conferência dos
bispos italianos.

23) JOSEPH RATZINGER = FOI O CARDEAL ESCOLHIDO PARA SER O SUCESSOR DE JOÃO PAULO
II:

No dia 19 de Abril de 2005, o Colégio Cardinalício, reunido no conclave realizado na Capela


Sistina, para eleger o sucessor de João Paulo II, elegeu o Cardeal alemão Joseph Ratzinger para
suceder a João Paulo II.

A eleição de Ratzinger, que escolheu o nome de Bento XVI, confirma o papado conservador de
João Paulo II, ou seja, a linha da tradição veio para ficar.

Ratzinger exerceu o cargo de desde 1981 é o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ex-
Santo Ofício, durante 23 anos, desde 1981. Foi implacável nessa função; nesse período puniu 140
religiosos e teólogos, dentre eles o brasileiro Leonardo Boff, um dos mais destacados defensores
da Teologia da Libertação.

Ao que tudo indica, Ratzinger foi eleito com muito mais que os 77 votos – 2/3 do total –
necessários; compareceram ao conclave 117 cardeais de todo o mundo.

A eleição de Ratzinger foi uma das mais rápidas da história, tendo durado apenas dois dias, tendo
contado com o apoio e a influência da “Opus Dei”, uma organização católica espanhola
conservadora, considerada uma Igreja dentro da Igreja.

Ratzinger é o primeiro papa alemão eleito desde a Idade Média, cerca de 900 anos, e o segundo
papa não italiano eleito consecutivamente, pois João Paulo I era polonês.

A Igreja que Ratzinger vai dirigir, é a Igreja cujo perfil foi traçado pelo Concílio Vaticano II e
configurada por João Paulo II durante os seus 26 anos de papado, mais universal e menos
romana. É uma Igreja mais contextualizada com o presente e os desafios do futuro. Ratzinger é
um conservador. Este será o seu grande desafio – manter a configuração dada por João Paulo II
e continuar avançando, apesar do seu perfil conservador.

Na última missa antes da realização do conclave, Ratzinger leu um sermão que era uma
declaração de princípios e que passaria a valer como um programa de governo, defendendo
justamente o que mais divide a Igreja, a resistência da ortodoxia aos novos tempos.

Ele vai continuar o conservadorismo de João Paulo II sem à sua simpatia, mantendo a posição
intransigente do Vaticano com relação à prevenção da Aids – que já ceifou milhares de vidas,
principalmente no continente africano, combatendo também as pesquisas biogenéticas, sendo
também contra qualquer flexibilização dos dogmas e costumes da Igreja.

Não deixa de ser surpreendente, que logo nas primeiras horas como papa, ele tenha mudado o
seu discurso conservador, adotando uma posição mais moderada e propondo inclusive, um
diálogo com as outras religiões, que ele combateu com o documento “Dominus Jesus”.
Os desafios de Ratzinger são imensos. Logo após a sua eleição, a Espanha, um dos países mais
católicos da Europa, onde na Idade Média a inquisição foi mais forte, anunciou o reconhecimento
da união civil entre gays e lésbicas, ignorando as posições conservadoras da Igreja.

A administração de Ratzinger será menos dinâmica do que a de João Paulo II, dado que ele não
tem o carisma do papa anterior para mobilizar as grandes massas e nem realizar tantas viagens
como o papa anterior realizou.

Alguns analistas o situam apenas como um “burocrata da cúria romana”, e não um Pastor. Este
aspecto deverá caracterizar o desenrolar da sua administração. Mas ao mesmo tempo, Ratzinger
está numa encruzilhada; a menos que fique no início do caminho, terá que optar por seguir um
dos dois caminhos disponíveis:

retomar o programa de reformas do Concílio Vaticano II, convocando um novo Concílio


Ecumênico– ou então – atuar mantendo a Igreja estacionada, nos moldes da Cúria Romana, que é
tradicionalista – isto é, de forma mais centralizada, voltada apenas para aspectos administrativos
e não pastorais. Ele está com 78 anos, sendo um dos papas mais idosos já eleitos; ao que tudo
indica será um curto período de governo – uma etapa de transição – que ainda não se sabe para
onde – deixando para o seu sucessor, a concretização de metas que o conservadorismo retarda.

De certa forma, a sua eleição é apontada apenas como um meio de diminuir a velocidade de
inserção da Igreja no mundo atual. Se ele vier a optar por este rumo, estará apenas adiando e
acumulando problemas para o seu sucessor resolver, que, quando for eleito encontrará um
mundo mais transformado do que o atual, perante o qual o conservadorismo da Igreja não
poderá resistir, caso ela queira continuar existindo como instituição e Igreja.

Cabe uma indagação: qual será o tipo de transição que Ratzinger vai colocar em prática? Para
onde ele quer levar a Igreja? O mundo aguarda com expectativa. Vamos esperar e acompanhar
os fatos.

A eleição de Ratzinger contrariou a velha lógica do Vaticano, que diz que “quem entra papa, sai
cardeal”. Desta vez deu zebra, que poderá ter mais ou menos listas, de acordo com o
desempenho de Ratzinger.

Assim é possível que esse seja um papado de curta duração, que marque uma fase de transição.

Vamos aguardar os acontecimentos.

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