Professional Documents
Culture Documents
O VELOCINO
RAYOM RA
* PEDRO PINOTE
* O VELOCINO
rayomra278@gmail.com
http://arcadeouro.blogspot.com.br
2
CAPÍTULO I
NOTÍCIAS DE TIÃO
- Ah bem...! – fez Dino com cara fingida, como se somente agora tivesse
entendido tudo.
- Quando ele voltar de viagem vai ter tanto lê-lê-lê, que eu não vou
querer nem ouvir – afirmou Jorge com certo desânimo.
- Mas ele não viajou!!! – berrou Japonês, assustando todos, logo
tentando retomar o tom de voz normal - Quero dizer..., se viajou antes já
voltou, mas não me disse nada – Japonês se atrapalhava nas explicações.
- Como é que você sabe? – perguntou Zecão.
- Eu estou vindo da casa dele. Ele está doente, lá na cama – falou
finalmente, aliviado.
- Doente? – surpreendeu-se Edu.
- É..., com problemas gastos... – tentava explicar.
- Gastos? Que é isso? – perguntou Dino.
- É aqui, ó..., na barriga, dói muito né! – mostrou batendo com a mão
aberta no estômago.
- Gástricos, seu burro! – corrigiu-o Antônio Carlos.
- Então é... Ele pediu pra eu avisar todo mundo, e a professora dele na
escola, só que amanhã não tem aula.
Silêncio. Zecão olhou para o chão e coçou a orelha. Edu lançou olhar
para Antônio Carlos e depois também para o chão. Jorge e Dino somente
miravam Japonês. Como ninguém falasse Japonês recomeçou:
- A mãe dele disse que ele vai precisar ir ao médico, mas ela não pôde
ainda levar ele – os meninos voltaram todos a encarar Japonês.
- Por que não? – perguntou Jorge.
- Porque ela não pode faltar ao trabalho. Aliás, ele ficou sozinho na casa
todo o dia.
Antônio Carlos pensou em corrigir as últimas palavras de Japonês, mas
diante da situação perdeu o ânimo.
- Mas eu acho que é outra coisa – prosseguiu Japonês.
- O quê – perguntou Dino bastante curioso.
- Ela não tem dinheiro pra pagar o doutor – completou, olhando
novamente para todos.
- Chi.... – lamentou Dino.
- Mas não tem o hospital do I..., INES... – gaguejava Jorge
- INSS! – ajudou-o Antônio Carlos.
- É, esse daí! – apontou para o colega.
- Já se esqueceu da greve? Está dando na televisão. Tem cada fila que
não tem mais tamanho! – lembrou Edu.
- É mesmo! – concordou Jorge desanimado.
- Saber direito eu não sei, mas pela cara dele... – ele encolheu os
ombros, afundando mais ainda o pequeno pescoço, passando uma ideia
muito dramática.
- Que é que tem a cara dele? – Jorge hoje estava realmente muito
perguntador.
- Bem..., tava esquisita, né!
- Esquisita, como? – a curiosidade era geral, mas Dino perguntou
primeiro.
- Assim..., parada. Depois ele me disse que doía a barriga quando comia,
e não podia comer.
- Só por isso? – A inquirição de Dino simplificava tudo.
- É, né..., quem não come morre! –Japonês de novo complicava o
problema.
- Mas demora – resolveu Edu – meu pai disse que pra morrer de fome a
pessoa precisa ir desfinando.
- Desfinando? Como é? – interrogou-o Jorge.
- É ir ficando fino, ora! – respondeu Edu com absoluta certeza.
- É definhando, cavalgadura! – Antônio Carlos mais uma vez não
aguentou.
- Coitado do Tião... – lamentava Jorge ignorando o resto.
- Olhe Turma, eu tive uma ideia - falou Dino subitamente - topa a gente ir
lá agora visitar o Tião?
- É mesmo, a gente até que podia – Edu gostou da ideia.
- Então vamos? – convidava Dino.
- Péra aí, péra aí! – interrompeu Jorge com energia – todos o olharam.
Ele ficou sem graça, mas continuou – a gente não sabe se a doença dele
pega. E se pegar...? Eles se entreolharam. Jorge podia ter razão.
- É mesmo! – concordou meio desanimado Dino, o autor da ideia da
visita.
- Se todo mundo pegar podemos morrer! – A lembrança de Edu já era
uma ameaça.
- O Japonês teve lá e não pegou! – lembrou Dino, embora antes tivesse
concordado com Jorge.
- É cedo ainda pra saber, ele já pode estar contaminado – continuava
Edu – depois, têm certas doenças que aparecem mais tarde. A pessoa ta
toda ruim e não sabe. Meu pai que falou.
- Besteira! – interrompeu Zecão depois de seu longo silêncio, talvez com
um pouco de remorso por ter criticado Tião.
- Besteira nada! Pode perguntar pra quem sabe – confirmava Edu com
infalível certeza.
CAPÍTULO II
A VISITA
A casa velha, por sinal, não era mais velha. O nome permanecera, mas
ela houvera rejuvenescido. Naqueles trinta dias em que Leal se ausentara,
a casa passara por reformas. Todos os dias bem cedo um grupo de
homens chegava e começava a trabalhar. Às tardes, perto das seis horas,
largavam tudo, tomavam banho e se iam, voltando na manhã seguinte.
Como o tempo ajudasse, não chovesse neste mês, exceto por uma ou
outra garoa rápida e não houvesse interrupções, o trabalho fora
concluído. A casa agora, com tábuas novas substituindo as velhas e
apodrecidas, com portas, janelas e telhado recuperados, fora pintada.
E não ficara somente nisto: uma nova calçada fora feita em redor da
casa e criaram jardins com tijolos decorativos pintados à mão,
margeando o muro; aplanaram o chão, plantaram grama, fizeram
pequenos alpendres para trepadeiras e estenderam a calçada até o portão
principal. O muro, da mesma forma, passara por reforma de cabo a rabo:
buracos tinham desaparecido. Ganhara bem maior altura e recebera
excelentes demãos de tinta. Tudo cheirava a novo..., ou a novidade!
mais longe possível. Ao ver aquele homem que não conhecia Tião
arregalou os olhos.
- Bom dia, Tião, como está hoje? - Leal foi logo perguntando. Ele ainda
de olhos arregalados fez gesto com a mão de mais ou menos, passando a
olhar fixamente para a valise do doutor João.
- Este aqui é meu irmão, doutor João, prosseguiu Leal, veio para
examiná-lo. Vamos saber agora o que você tem.
CAPÍTULO III
DE NOVO ARMOU
Tendo cumprido com sucesso a missão que lhe confiara Armou, o Mago
do Tempo, Pedro Pinote voltara à vida normal. Ia à escola, fazia os
deveres de casa e descansava. Sossegara um pouco de sua vontade de
viajar pelos espaços. Talvez se recuperasse da última aventura em que
passara por maus bocados.
Na noite seguinte teve outro sonho com Armou. Mas ele agora o trazia
para uma alta montanha, colocava-lhe o dedo na testa e o menino
passava a ver um vale ao longe. Começou a perceber uma tempestade de
areia. Na medida em que se concentrava nisto um vão ia se abrindo
através da tempestade. Ele, cada vez mais se aprofundando neste vão,
passou a ver imagens que se moviam. Eram homens que lutavam numa
guerra..., e acordou!
Eis que diante deles surge o Mago do Tempo, naquelas mesmas vestes
negras e com o mesmo cajado onde as pedras verdes rebrilhavam.
- Isto quer dizer que terei de me meter na luta para descobrir quem tem
razão? E ainda acabar com a guerra? Armou somente assentiu com a
cabeça e seus verdes olhos lançaram faíscas. Cabelos de Ouro continuou
a perguntar com certa agitação – Mas onde é isto? Como chegar lá? O
que terei de fazer exatamente?
Ele baixou o rosto e passou a examinar o que recebera. O cinto era largo
à frente, afinando nas laterais e fechando atrás com menor largura. Tinha
linhas em ambos os lados, que à distância ele não pudera notar. Pareciam
sinais ou símbolos. O disco ficara exatamente acima de seu umbigo. O
menino voltou a olhar para o Mago do Tempo. Armou logo levantou o
dedo indicador da mão direita adiante do rosto e pronunciou:
“Alah-bha-thar!”
“Rah-tah-bha-lá!”
CAPÍTULO IV
A MISSÃO SE INICIA
O céu estava nublado e não viam o Sol. Cabelos de Ouro virou-se para
um lado pronunciando as palavras que os fariam viajar.
- Falhou! – disse Petisco vendo que não saiam do lugar.
- Esperem! – disse o menino colocando Petisco no chão e remexendo
num dos bolsos, trazendo na mão um objeto.
- Que é isto? – perguntou Teovaldo.
- Uma bússola - achei que nos serviria - explicou-lhes ao mesmo tempo
em que abria a tampa redonda e a observava atentamente. Começou
então a girar procurando a posição leste, que é o nascente.
- Pronto, creio que agora poderemos viajar – informou guardando o
objeto, tomando Petisco novamente nos braços, pensando no lugar, e
sem mesmo saber o motivo, resumiu tudo simplesmente em:
- Senhor do Espaço, a cidade desconhecida!
Petisco entrou logo pela rua e Cabelos de Ouro vinha dois passos atrás.
Olhavam para todos os lados e para o alto, mas não percebiam qualquer
movimento. Estava tudo quieto sem qualquer sinal de vida; isto os
deixava cismados. A rua era comprida e ensombreada; os
paralelepípedos não eram do tipo conhecido, porém mais largos e
irregulares: lembravam placas de pedra. Havia espaço entre alguns deles,
embora a maioria se juntasse e lhes permitisse andar sem problemas.
Estavam lisos e gastos!
- Cabelos de Ouro, farejo algo! – parou de súbito o cão.
- O quê?
18
A CABANA
Eles se viraram, vendo surpresos, bem atrás deles, um pigmeu com uma
lança enorme à mão. Apontava-a em posição de arremesso, chegando
passo a passo. Era negro, vestia-se tão somente com uma tanga escura e
tinha braceletes feitos de pequenos dentes de animais. Ao pescoço, trazia
um colar de conchas com um dente maior parecendo de javali; nos
tornozelos tinha adornos de palha entrelaçada. Petisco rosnou, mas
Cabelos de Ouro acalmou-o:
- Quieto, Petisco, não faça nenhum movimento, ele pode atirar-nos a
lança – e foi se levantando lentamente, sorrindo para o pigmeu – ei,
somos amigos, não lhe queremos mal! Mas o pigmeu parecia não escutar,
continuava a avançar com a lança apontada.
- Ele quer nos matar, currupáco!
O pigmeu parou a três metros fazendo sinal com a outra mão, indicando
para um lado, fazendo gesto para que caminhassem.
- Ouça, amigo, nós... Porém o pigmeu não deixou Cabelos de Ouro
continuar, mexeu a lança nervosamente e trouxe o braço mais para trás,
como se fosse arremessá-la.
- Está bem, está bem! - Cabelos de Ouro mostrou-lhe as mãos abertas -
vamos caminhar!
- Use o disco, Cabelos de Ouro! – lembrou-lhe Teovaldo.
- Ainda não, esperemos para saber o que ele deseja.
- É nos matar, fazer churrasco. Droga de curiosidade!
- Será que ele é canibal? – perguntou Petisco.
- Não sei, mas agora é melhor obedecer e andar.
Chegaram numa clareira e viram uma bonita jovem com longo vestido
branco, amarrada a uma árvore. Ao ver Cabelos de Ouro pediu-lhe:
- Por favor, tire-me daqui! - ele se aproximou e começou a desamarrá-la –
Pensei que ia morrer – disse como quem vai desmaiar, abraçando-se ao
menino e quase caindo.
- Calma moça! – disse Cabelos de Ouro sem saber direito o que fazer.
Petisco ganiu e Teovaldo foi pousar num galho da árvore – Que houve,
quem a prendeu aqui?
- Foram eles! – a moça apontou para adiante e ele se virou para a direção
indicada, nada vendo senão a beirada de um abismo.
- Eles quem?
- Eles, que moram lá embaixo! – ela continuava a apontar já se afastando
do menino. Petisco latiu e falou:
- Alguma coisa me cheira mal. Não gosto disto, Cabelos de Ouro!
- Mas quem são? O que fazem? – insistiu o menino.
- Venha, vou mostrar-lhe – ela se adiantou um passo, segurando-lhe a
mão, levando-o para a direção do abismo.
CAPÍTULO VI
ÁGUAS E VENTO
ante o vento e quase caia. Petisco, mais a frente, começou a ser arrastado
na areia, fechando os olhinhos que não conseguia mantê-los abertos.
- Segure-se, Teovaldo, estou indo! – gritou o menino, mais preocupado
com o papagaio.
Teovaldo bem que tentava segurar-se, mas não conseguia. Ainda mais
que folhas, galhos secos, poeira e areia, vinham voando de todos os
lados atrapalhando-lhe os movimentos. Ele procurava abrir as asas a fim
de se equilibrar, mas o vento o empurrava para trás e ele de novo era
arrastado e rolava.
Cabelos de Ouro olhou para o rio e não teve coragem de voltar, ainda
mais que suas águas estavam revoltas levantando perigosas e altas
ondas. Tudo estava contra eles! Sem outra escolha resolveu procurar
terra firme, caminhando na mesma direção do vento.
CAPÍTULO VII
Nada. Não via nem ouvia nenhum sinal do cãozinho e começou a sentir
uma grande tristeza. De repente, um jato de luz azul foi lançado do muro,
se enfiando lá na frente, debaixo de um galho pesado de uma árvore
caída. A luz abriu-se sobre um monte de folhas, formando um pequeno
tubo. Cabelos de Ouro correu para lá e passou a remexer na pilha de
folhas. Alegrou-se quando finalmente viu a pata do amigo.
- Petisco, você está bem? – gritou puxando-o.
- Estou Cabelos de Ouro – respondeu fechando os olhinhos por causa
do vento e da poeira – tive de ficar quieto por que não conseguiria mesmo
caminhar. Então as folhas me cobriram e o galho que caiu sobre elas me
prendeu. Mas o que é isto? – perguntou se referindo ao muro de luz.
- O grão de milho trouxe um gigante que nos salvou. Mas vamos sair
logo daqui! – falou, retirando o cão daquele emaranhado de galhos e
folhas e se levantando. Teovaldo subia-lhe ao pescoço tentando se
libertar da camisa. Cabelos de Ouro o colocou no ombro, uma vez que ali
o vento os alcançava com menos força.
Entraram para o meio da gruta. Cabelos de Ouro viu que existiam várias
aberturas no teto, por onde entrava luz. Não havia mais nada, exceto a
parede arredondada construída da própria pedra e o chão liso.
- Tudo aqui foi muito bem trabalhado – mostrou o menino para Petisco
que procurava farejar.
- Sinto cheiro de complicações - disse Teovaldo.
- Não sinto nada - disse Petisco.
- Não vejo saída alguma, como pode?
O anão da vara, parecendo ser maior mandante que o outro, fez sinal
com a mão mandando que abrissem espaço. A multidão obedeceu em
silêncio. Ele grunhiu e fez sinal para que trouxessem alguma coisa. Logo
surgiram vários anões puxando cordas. O ruído de rodas fez Cabelos de
Ouro entender que traziam um veículo.
CAPÍTULO VIII
A GEMA DE CRISTAL
Mais adiante Cabelos de Ouro se viu ante uma passagem mais larga,
pois as altíssimas paredes se afastavam permitindo que andasse com
desembaraço. Mal tinha dado poucos passos levou grande susto. Detrás
36
Mais adiante, depois de pequena curva das paredes, viram que a luz
rosada tinha novamente ficado mais forte.
- É dali que ela sai – Cabelos de Ouro apontou para a direção. Mas não
pode prosseguir além de três passos por que a luz se tornara novamente
intensa, jorrando para todos os lados.
- Uiii! Não consigo enxergar, meus olhos doem! Ele tentava proteger-se
colocando o braço adiante. Petisco e Teovaldo também protegeram seus
olhos. A luz era muito forte e Cabelos de Ouro ficou de costas. A luz
cessou e ele pode novamente se virar, caminhando e circundando a
pequena curva.
- Um... monólito... de cristal! – espantou-se, parando e vendo diante de si
aquela forma.
“Aquele que aqui chegar não deve mais voltar sem o que busca. Terá de
lutar mais para obter a chave que o conduzirá ao objetivo. Até agora
37
Ao final do túnel parou. Tinha ali uma área circular feito um patamar.
Havia suficiente claridade e a luz rosa voltou pelo túnel.
- É como se fosse um poço; lá em cima é aberto – apontou o menino,
logo continuando – Acho que já sei, é uma cratera de vulcão.
- Vulcão, Cabelos de Ouro? E se começar a sair fogo? – Petisco ficou
preocupado.
- Tomara que não, ou estaremos fritos.
- Super fritos, currupáco!
CAPÍTULO IX
O ROUBO DE GOULAN
O túnel veio terminar numa escadaria para cima, estreita, na qual caberia
somente uma pessoa de cada vez. Cabelos de Ouro foi logo subindo. Ao
término dos degraus viu-se diante de três entradas de túneis.
- Temos de escolher um deles. Alguém tem alguma sugestão?
- Qualquer um serve a gente vai se lascar mesmo! – Teovaldo estava
irritado.
- Nada farejo. Para mim são todos iguais – Petisco virava o focinho de
um para outro túnel.
- Então escolho o do meio!
Estavam diante do templo que era imensa construção. Tudo era pedra. A
fachada quadrada apoiava um triângulo. Ele empurrou uma das portas e
entraram.
Petisco pulou para seus braços e ele foi tateando a parede. O ruído que
tinham escutado parara, porém ouviam agora algumas vozes. Logo ele
chegou ao final do túnel, observando lá embaixo um enorme salão muito
bem iluminado por várias tochas nas paredes. No fundo do salão havia
um trono onde um daqueles seres de Zuin se sentava. Soldados o
rodeavam ou tiravam guarda por todos os cantos. No centro daquele
lugar existia largo pilar com uma pira, e dentro da pira brilhava uma fraca
luz. Dois outros seres escutavam as palavras ameaçadoras daquele que
se sentava ao trono. Cabelos de Ouro os reconheceu imediatamente:
- Isdam e Nathar! Eles os pegaram! Aquele então deve ser Goulan!
- E quantos soldados! – admirou-se Petisco. Eles procuraram prestar
atenção no que falavam. Goulan estava furioso:
- Digam logo, onde está o intruso?
- Não sabemos, Goulan, ele desapareceu sem nos dizer onde ia –
respondeu Nathar.
- Mentira. Vocês mentem e vão se arrepender por isto. Como ele poderia
sumir no ar?
- Ele tem poderes mágicos – falou desta vez Isdam – são superiores aos
seus. Ele foi enviado pelos deuses para destruí-lo. Devolva-nos a chama
sagrada enquanto é tempo.
- Nunca! Ela é minha! É de Goulan, o maior sacerdote que reinará sobre
Zuin. Ninguém irá impedir-me!
- Onde está a chama sagrada, Goulan? – perguntou Isdam
- Ali em seu verdadeiro altar! – ele apontou para a pira no meio do salão.
45
- Por que ela não brilha como em nosso templo? – Isdam continuava a
perguntar. Goulan se levantou falando de punhos fechados,
raivosamente:
- Ela vai brilhar diante de mim!
Falando isto ele notou pela primeira vez o cinto que Cabelos de Ouro
trazia à cintura e que neste instante começava a rebrilhar suavemente.
- Que é isto? - apontou.
- É meu cinto de ouro.
- Pra que serve?
- Pra muita coisa. Ele estendeu a mão para examiná-lo, porém Cabelos
de Ouro pronunciou:
- Alah-bha-thar! E o cinto desapareceu imediatamente.
- Sumiu! – Goulan, espantado, olhava o rosto do menino. Isdam e Nathar
sorriram. Ele ficou furioso e gritou:
- Soldados, inflamem-se! Acabem com estes três intrusos!
Não vendo outra saída, Cabelos de Ouro retirou um grão de milho de seu
bolso lançando-o para o alto e o soprou. Uma explosão aconteceu e uma
luz branca se espalhou por todo o ambiente. Em seguida, a luz se
concentrou ao alto do salão, formando enorme bola de espuma. Os
soldados pararam para olhar aquilo. Imediatamente começaram a sair
dezenas de bonecos da bola de espuma que se atiravam sobre os
soldados inflamados, grudando-se neles, abafando suas chamas. Eles
caiam ao chão, gemiam e rolavam. Goulan recebeu um daqueles bonecos,
também caindo.
- Bem feito! – comemorava Teovaldo.
- Vá, Isdam – insistia o menino – tenho certeza de que você pode. Ela o
aceitará. Leve-a para Zuin, ao verdadeiro templo! Isdam olhou para Nathar
e este confirmou com aceno de cabeça. Isdam então foi subindo os
degraus em redor do pilar, aproximando-se da pira. Estendeu as mãos
para a chama e a tomou. Era pequena e fraca, e ele pode transferi-la de
uma palma para a outra, descendo com ela.
- É diferente de qualquer outra, é pura! Veja! – mostrou-a tranquilamente
para Cabelos de Ouro.
Ele chamou uma carruagem que os levou para fora da cidade. Tomaram
o caminho das montanhas, parando à entrada de uma gruta. Isdam
ordenou que os condutores da carruagem aguardassem e entrou na gruta
com Cabelos de Ouro e seus amigos. Era uma mina de cristais de várias
tonalidades. Havia muitos túneis; cada um levava a um veio de uma
determinada cor de cristal. Este, por onde entraram, era todo branco e
transparente. A mão de Isdam acendeu-se, iluminando todo o caminho,
48
Realmente ela pulsava, ficando ora menor ora maior, exatamente como
um coração. Ele colocou-a num dos bolsos e falou:
- Se o que nos resta fazer é continuar, vamos em frente. Tenho uma
ideia.
Ele foi até a pedra da esquerda, próximo de onde os três amigos antes
estiveram e começou a forçá-la. E como acontecido da outra vez, no lado
oposto, esta passou também a girar e mostrar um vão.
- Abriu! Lá vamos de novo! - falou Teovaldo.
CAPÍTULO X
Uma alta escadaria apareceu após terem passado sob uma cortina de
trepadeiras. A névoa não lhes permitia que a enxergassem com nitidez.
Mas perceberam que ali havia uma grande construção. Cabelos de Ouro
iniciou a subida. Em certo ponto puderam saber que lugar era aquele.
- Um castelo cinzento! – falou Cabelos de Ouro com admiração.
- Com muitas torres! – admirou-se também Petisco.
Cabelos de Ouro virou-se para fugir, mas às suas costas mais criaturas
vinham se aproximando. Ele correu para um canto, encostando-se à
parede sem a menor chance de escapar.
- Eles vão nos pegar! – falou Petisco afobado.
- O grão, use o grão! – gritou Teovaldo. Cabelos de Ouro meteu a mão no
bolso, mas não teve tempo.
- Uáu, cuidado! – gritou Teovaldo, e desapareceram dali. O chão se
abrira e foram engolidos por um alçapão.
53
Cabelos de Ouro firmou o olhar, mas nada viu. Foi andando naquela
direção e conseguiu perceber um vulto.
- Quem é? – parou, sentindo Petisco encostar-se na sua perna.
- Sou eu! – uma voz fina e fraca respondeu.
- Eu quem? – insistiu.
- Gunther, o guardião do velocino! – a voz era agora mais forte.
- Guardião... do velocino? – repetiu interrogativamente Cabelos de Ouro,
resolvendo aproximar-se mais, já começando a enxergar melhor. Tratava-
se de um anão, ou melhor, de um gnomo que ali estava sentado.
- Não consigo vê-lo direito, senhor...
- Gunther! – ele confirmou o nome – vou dar um jeito. Ele se levantou e
apesar da escuridão Cabelos de Ouro pôde perceber que não se tratava
de um gnomo dos menores. Este era quase do seu próprio tamanho e
começou a recitar:
- Não repare..., eh...., sei fazer pequenas mágicas. Só que esta demora
um pouco. Aguardaram por quase um minuto e nada aconteceu. Cabelos
de Ouro voltou a perguntar:
- Que você fez para estar nesta prisão?
- Foi Etnéa..., ela me prendeu aqui..., eh..., depois de roubar o velocino.
Nada pude fazer, sua magia foi mais forte.
- Mas o velocino não foi roubado há séculos?
- Isso, isso! – repetiu engraçadamente – falou bem, há séculos. Há
séculos estou preso aqui sem poder sair!
- Como é que pode? – duvidava Cabelos de Ouro.
54
- Roubar o velocino? Pra ela foi fácil, eu é que falhei..., eh..., dormi em
serviço.
- Mas, séculos? Você é tão velho assim, Gunther?
- Ora, dez séculos não é tanto tempo assim. Funcionou! – ele gritou e
pulou. Cabelos de Ouro não entendeu nada – Funcionou! – gritou
novamente – eles estão chegando, consegui, veja! Cabelos de Ouro olhou
para trás e viu dois pirilampos que entravam pela janela.
- Agora teremos luz! Aqui amiguinhos, aqui! – ele acenava com a mão.
CAPÍTULO XI
O VELOCINO
- O velocino precisa voltar, ele não lhe pertence! – insistia ainda Cabelos
de Ouro.
- Basta! Soldados ataquem-nos, destruam-nos! – ela gritava com todas
as forças, apontando o dedo em direção dos quatro. Seu rosto estava
agora tomado de uma expressão de ódio.
- E agora, menino..., que fazemos? – Gunther perguntou assustado.
- As palavras, Gunther, tente lembra-las!
- Não consigo..., eu conheço, mas não consigo!
CAPÍTULO XII
O ÚLTIMO COMBATE
CAPÍTULO XIII
ÚLTIMAS SURPRESAS
- Pedro, onde esteve? São quase seis horas, o jantar está quase pronto!
- Estive passeando, mãe, muito longe.
- Longe? Onde?
- Noutros mundos! – disse rindo e ela também riu.
- Sempre imaginando coisas. Vá tomar seu banho enquanto termino o
jantar.
Pedro olhou para todos os lados, nada vendo. Procurou escutar algum
ruído diferente, mas inutilmente. Então desistiu.
- Creio que somente saberei mais tarde. Vou usar de novo o cofre para
guardá-los.
também por que isto ainda acontece se sabemos que não é justo
trocarmos a razão das coisas por objetos. Não foi assim?
- Sim! - confirmou simplesmente.
- Bem meu filho, aquela tristeza pela qual o povo de Anthar passou por
mil anos no continente em que habitava em meio a montanhas, onde
nenhum estrangeiro jamais chegou, está terminada. Foi necessário
recuperar o velocino para eles, mas agora os tempos são diferentes. Aos
poucos saberão que não é o velocino que lhes trará alegria e felicidade,
mas terão de conquistá-las com esforço próprio e muito trabalho. O
enigma da gema de cristal que você resolveu também eles entenderão.
Saberão que a força e o poder estão neles próprios, que o cristal
precisará viver neles mesmos, em seus corações. Descobrindo isto, não
irão mais adorar a estátua como antes, somente a respeitarão pela grande
magia que nela existe. Tanto Anthar como Camar continuarão a ver a luz e
perceber a energia que o velocino produzirá: pequenos fenômenos por
assim dizer-se. Entretanto, saberão que isto não é tudo e as soluções
verdadeiras de seus problemas terão de ser procuradas em suas mentes
e corações.
* * *
- E boa noite para todos. Já são seis horas em ponto! – falou Leal aos
seus ouvintes.
- Seis horas! - espantou-se Sebastiana.
- Puxa, passou tão rápido! – reconheceu Antônio Carlos.
- Uau! Que história legal! – quase gritou Tião.
- Boa, boa! – repetiu Japonês. Leal escutava aquilo com grande
satisfação.
- Bem, creio que já abusei demais da hospitalidade de dona Sebastiana –
disse Leal se levantando, no que foi acompanhado de Esmeralda que
procurava desamassar o vestido com as mãos.
- Imagine! Foi um prazer seu Leal. Pode voltar sempre..., e a menina
também.
- Obrigada – agradeceu Esmeralda. Saíram todos.
67
* PEDRO PINOTE
* O VELOCINO
"Esta obra está protegida por direitos autorais. Sua reprodução deverá
ser solicitada diretamente ao autor. É proibida qualquer alteração do
conteúdo ou fazer plágios de seus personagens”.
Rayom Ra
http://arcadeour.blogspot.com.br
rayomra278@gmail.com.br