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Assim como a corça


Lucas 18:9-14 e Salmo 42:1-2
Rev. Alcenir Oliveira
Primeira Igreja Presbiteriana de Richmond, CA
9 de janeiro de 2011

Há nesse texto um retrato das duas faces da igreja na palestina do início século I.
De um lado temos uma igreja auto-suficiente, madura, cheia de orgulho de si, pura, santa.
Um povo que se considera santo, verdadeiros seres celestiais, imunes ao pecado. Essa é a
igreja dos fariseus, escribas, mestres da lei, juízes, sacerdotes, levitas e outras autoridades
do templo e das sinagogas.
Do outro lado vemos uma igreja atolada no sofrimento. Uma igreja cuja dor está
entalada na garganta de tal forma que já não consegue chorar. Uma igreja que não se
sente digna de olhar para o teto do templo, pois pode ser surpreendida vendo ali a imagem
de Deus e então ser fulminada por morte subta por ter contemplado a glória de Deus
indignamente.
Essa igreja é a igreja dos publicanos, aquelas pessoas consideradas abomináveis
pela outra igreja; aquelas pessoas tão pecadoras que até o inferno estava rejeitando;
aquelas pessoas cuja impureza era contagiosa, doentia aos olhos da outra igreja.
Essa igreja era a igreja dos samaritanos, aquelas pessoas que carregavam o estigma
de pessoas mestiças; aquelas pessoas que eram descentes da mistura provocada no Reino
do Norte pelos assírios, vindo de outra nacionalidade e tendo sido forçados a se converter
à religião dos Israelitas; uma igreja indigna das promessas de Abraão aos olhos da outra
igreja.
Essa igreja é a igreja dos cegos que voltaram a ver, dos coxos que voltaram a
andar, dos possessos que foram libertos, dos leprosos que foram curados, das prostitutas
cujos pecados foram perdoados por Jesus Cristo.
Essa era a igreja de Zaqueu que teve que subir numa árvore para conseguir ver o
Mestre, pois era toldado, impedido, barrado, afastado pelos santarrões da outra igreja.
Essa é a igreja para onde foram chamados os humildes pescadores da Galiléia que
seguiram ao mestre incodicionalmente até à Cruz, até à sepultura, ressurreição e o
estabelecimento do Reino de Deus com a descida do Espírito Santo sobre eles narrada em
Atos 2.
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Diz Jesus Cristo que os crentes daquela outra igreja confiavam em sua própria
justiça desprezavam os crentes dessa igreja.
É interessante notar que essas duas igrejas frequentavam o mesmo templo. Será
que nos dias de hoje encontramos também essas duas igrejas frequentando os nossos
templos? Certamente temos e, oxalá se a igreja farizáica não é ainda mais cruel do que
esta narrada no texto de Lucas em epígrafe. Pois nós sabemos que existem
frequentadores de igreja que têm o dom maligno da observação e da crítica destrutiva.
Não tomam parte em nada, não se envolve com nenhum ministério, não praticam a
misericórdia. Pelo contrário, se julgarem conveniente são capazes de destruir ministérios
com suas críticas. Como por exemplo, dizendo que os componentes do grupo de louvor
se vestem fora da moda, é o maior vexame; os instrumentistas só tocam um
acompanhamento básico, é a maior pobreza; os cânticos selecionados são antigos,
alguns até parecem hinos tradicionais; com um grupo de louvor desse, jovem nenhum
fica nessa igreja. Isso é apenas um exemplo, entre outras críticas. Entretanto, quando são
abordados pelos líderes da igreja para assumir algum trabalho nunca podem ou não
querem.
A igreja dos publicanos e pecadores, apesar de suas carências em habilidades
grandiosas, tem um prazer imenso de ir à casa do Senhor para orar, ouvir a palavra e se
alimentar dela; louvar e adorar a Deus, independente de serem os cânticos ricos de
poesia, o topo do sucesso no mercado Gospel; o que eles querem é expressar para o
Deus altíssimo que eles o amam, a ele pertencem, são membros do Corpo de Cristo, e
sua graça lhes basta.
As duas igrejas subiram ao templo, cada uma representada por um membro.
Ambos membros fizeram a oração que era a cara da sua igreja.
O membro da igreja dos santarrões, em pé, orava no íntimo agradecendo por
não ser ladrão, corrupto, adúltero, publicano; agradecendo também porque podia jejuar
duas vezes por semana, e que podia dar o dízimo de tudo que produzia.
Certamente, o santarrão fariseu se escandalizou quando seus ouvidos captaram
a oração do membro da outra igreja.
Lá estava ele, entre lágrimas. Como o filho pródigo, abria o seu coração para o
Pai dizendo: Senhor eu pequei de tal forma que não sou digno de ser chamado teu
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filho, mas a minha miséria é tamanha que eu clamo pela tua misericórdia, pois não
conheço ninguém na terra, nem da tua própria igreja, que perderia tempo com um
miserável como eu, indigno até mesmo de dirigir a palavra a ti Senhor.
Fico imaginado a face daquele homem. A imagem do camponês “roceiro” no
Brasil, humilde, que vem de longe. Sem o menor jeito com o povo da cidade, entra na
igreja e senta no banco de trás, próximo da parede, põe o chapéu cobrindo a face do
outro lado e, com a cabeça meio abaixada, olha para frente no altar, põe a mão no
peito, uma lágrima começa a deslizar no seu rosto, e então ele começa a murmurar uma
oração:
Sinhô Deus, “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó
Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.
Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? ....Abismo chama abismo
ao rugir das tuas cachoeiras; todas as tuas ondas e vagalhões se abateram
sobre mim. Conceda-me o SENHOR o seu fiel amor de dia; de noite esteja
comigo a sua canção. É a minha oração ao Deus que me dá vida. (Salmos
42:1-2 e 7-8)”.
A corça é um animal de pequena estatura, arisco e de costume migratório. Diz
um escritor que “Ela tem uma característica interessante: a corça não suporta o
confinamento. É um animal dotado de olfato privilegiado que lhe possibilita sentir
cheiro de água a quilômetros de distância. É capaz ainda de perceber, metros abaixo da
superfície, a existência de um lençol de água. Em regiões desérticas da África e do
Oriente Médio, empresas construíram quilômetros de aquedutos sob a superfície
terrestre. E as corças sedentas, ao pressentirem a água jorrando pelo interior dos dutos,
correm por cima das tubulações na tentativa de encontrarem a nascente, ou então um
possível local por onde essas águas pudessem ser alcançadas”.
É esse o panorama que Davi via diante de si para se comparar: “Como suspira
a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha
alma tem sede de Deus, ... “ (Salmos 42:1-2).
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Tenho ouvido questionamentos sobre porque as orações de algumas pessoas


parecem ser mais poderosas que de outras. A palavra de Deus diz que quem pede recebe.
Jesus diz que muitos pedem errado.
Digo sempre que a diferença entre um crente e outro é de que aqueles que buscam
um relacionamento pessoal com Deus são honrados por Ele. Aqueles que pedem a
presença, a intimidade com Deus, porção dobrada do Espírito para fazer o ministério, que
procuram se chegar mais a Deus, Ele se chegará a eles. Quando a igreja tiver sede de Deus
como a corça busca água, como a terra seca anseia pela água, é então que as portas se
abrirão para o derramamento do Espírito. É nesse momento, que às necessidades materiais
que, apesar de muito necessárias e pelas quais lutamos no dia-a-dia, mas que diante de
Deus toma um caráter secundário, começam a serem satisfeitas abundantemente porque
Deus estará honrando aqueles que buscam uma intimidade de relacionamento com Ele.
Antes do Espírito Santo descer em Atos 2, os discípulos permanciam em oração em
Jerusalém. Para que haja avivamento, para que a igreja seja envolvida pelo Espírito Santo,
ela precisa subir à presença de Deus em oração.
Se queremos um avivamento para a Igreja, um derramamento do Espírito Santo,
precisamos buscar mais a presença Deus nas nossas vidas do que as bênçãos materiais de
Deus, como fez o publicano, como fez Davi.
O Fariseu considerava que já tinha todas as bençãos necessárias e portanto estava
satisfeito conformado, na sua zona de conforto. Não precisava, portanto, de Deus da
mesma forma que o publicano. Não tinha o mesmo anseio por Deus como o tinha o
publicano, como anseia a corça por água.
Mas enfim, como é que a corça suspira e anseia pelas águas? É com ousadia,
com insistência, com desejo de encontrar o mais rápido possível, correndo, buscando,
farejando. Sem parar, todos os dias. Jamais se confinando na sua zona de conforto. E
nós? Será temos essa constância no nosso relacionamento com Deus? Será que
abrimos o nosso coração e compartilhamos as nossas dificuldades, as nossas
limitações e os nossos pecados, como o públicano? Será que manifestamos a ele o
nosso desejo de ver a igreja crescer, não só em número, mas no poder de sua
adoração, louvor, oração e proclamação da Palavra? Será que temos sede de sua
presença como Davi quando diz “... e habitarei na casa do Senhor para todo sempre”?
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Temos corrido, buscado e nos desesperado por mais dEle em nossas vidas?
Temos buscado na fonte certa, diariamente? Ou temos nos contentado com a
mediocridade do nosso "confinamento"?
A maioria dos crentes e das pessoas em geral têem os seus “confinamentos”. Coisas
que nos prendem, nos engessam, nos acomodam, e nos impedem de sair em busca da água
fresca que tanto precisamos. Podem ser pessoas, situações, um objeto ou animal de
estimação, um tipo de atividade que amamos e não abrimos mão dela para nada mais, ou
até mesmo “pequenos reinos” que construímos para nós mesmos (“meu emprego”, “meu
ministério”, “meu evento”, “meu happy-hour”, “meu clube”, “meu show”, “meu video-
game”, “meu site de relacionamentos”, etc).
Precisamos, como a corça, sair e correr em busca do que precisamos. Precisamos de
olfato aguçado gerado pelo Espírito Santo para ir à fonte certa, que é Cristo. Ele mesmo
disse em Mateus 7:7-8.“Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a
porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que
bate, a porta será aberta.
Amém

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