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Vénus 12
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Ebook65 pages51 minutes

Vénus 12

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About this ebook

Na segunda metade do século 21, ciborgues dotados de inteligência artificial são fabricados em Séries distintas. A Série Vénus é destinada a funções sexuais. A C12, a entidade privada mais poderosa do mundo, lidera a exploração comercial da Série Vénus e pretende dominar definitivamente o mercado com o lançamento de um novo modelo, o Vénus 12, que não se limitará a pensar.

LanguagePortuguês
PublisherManuel Alves
Release dateNov 3, 2013
ISBN9781310357404
Vénus 12
Author

Manuel Alves

https://www.patreon.com/manuelalves--O autor só fala de si mesmo na terceira pessoa quando tem de falar do autor ou, é claro, quando pratica a extraordinária arte da feitiçaria imaginativa — há quem lhe chame Escrita. Se houvesse na minha vida lugar para gatos, teria dois e um seria um Gremlin disfarçado. Tenho um furão e uma hiena — ambos imaginários.--The author only speaks of himself in the third person when he has to speak about the author or, of course, when he conjures the extraordinary art of imaginative sorcery—some call it Writing. If there was any place for cats in my life, I would have two and one of them would be a Gremlin in disguise. I have a ferret and a hyena—both imaginary.

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    Vénus 12 - Manuel Alves

    Adão 2.0

    — Não significa não — disse Adão 2.0.

    Ana ficou de quimono aberto e olhar parado na expressão decidida do ciborgue. Os modelos da Série Vénus não estavam programados para aquilo. Na verdade, Ana tinha a certeza de que estavam programados precisamente para o contrário. Sim a tudo. Que história era aquela de dizer não? A abertura do quimono revelava-lhe as mamas e o sexo, num convite recusado. Sentiu-se um bocado parva com aquilo e apertou o quimono pela cintura.

    — Sai — disse Ana.

    — Desculpe — disse Adão 2.0, com uma preocupação que pareceu pertencer a outra personalidade que retomou o comando da programação. — Não sei o que…

    Sai — disse Ana, numa irritação contida.

    Não faria sentido pôr-se para ali aos berros com uma máquina. Não haveria raiva retribuída e isso derrotava o propósito de se irritar.

    — Foi apenas uma falha de sistema — disse Adão 2.0. — Se apresentar uma reclamação à agência, serei reprogramado e a minha matriz neural poderá não resist...

    Ana tapou a boca ao ciborgue, com a mão, e cravou-lhe as unhas na pele sintética, disposta a arrancar-lhe a metade inferior do rosto.

    — Sais ou eu mesma te faço a reprogramação.

    Adão 2.0 seguiu o indicador da cliente, que apontou para a arma sobre a mesa-de-cabeceira.

    — Ruger SR100 — disse Adão 2.0, em resposta automática, no tom decidido da personalidade que dissera não. — Carregador longo com capacidade para cem projécteis. Modificada com impulsor de campo magnético para disparar discos de metal 12. As modificações são ilegais e a arma é conhecida nas ruas como abre-latas, devido à sua capacidade de perfurar o revestimento interno dos ciborgues Série Ares, das forças policiais. Seria uma reprogramação eficaz.

    Adão 2.0 fechou os olhos e, por instantes, perdeu a noção de onde estava. As pálpebras fechadas revelaram o movimento rápido das pupilas, como se ele estivesse a ser reiniciado. Quando abriu os olhos, tinha a Ruger apontada à cara.

    — Estás infectado — disse Ana, com o dedo no gatilho.

    — Não é possível. O diagnóstico diário…

    — Quem te enviou?

    — A agência.

    — O nome do operador. A merda do nome!

    — O protocolo não permite…

    Ana encostou o cano no meio dos olhos do ciborgue.

    — Quero a merda do nome do cadáver que me enviou um ciborgue infectado. Já!

    — O protocolo não…

    O disparo da Ruger soou como a vibração de uma chicotada a percorrer uma folha de zinco, e a parte de trás da cabeça do ciborgue estourou numa explosão de luz azul que cuspiu estilhaços com fluorescência gelatinosa. O Adão 2.0 ficou sentado na cama, de olhos abertos e boca descaída. O ponto de entrada do projéctil era apenas um traço horizontal entre os olhos, como golpe de bisturi aberto com precisão cirúrgica.

    Metade dos estilhaços arruinou completamente a geometria cubista do Picasso sobre a cabeceira da cama. Ana desceu a arma e encostou o cano ao pénis do ciborgue. Aquele quadro tinha sido uma aquisição dispendiosa e arriscada. Um roubo complicado. Pressionou o gatilho, mas não o suficiente para disparar. Capar um ciborgue morto seria um acréscimo inútil ao prejuízo. Os discos de metal 12 valiam dez vezes o próprio peso em ouro.

    Desenhou, com o indicador, um círculo invisível no pulso esquerdo e pressionou o centro. O ecrã subcutâneo acendeu-se, Ana percorreu a lista de contactos com a ponta do dedo e pressionou «Mulher da limpeza».

    Mulher da limpeza

    O ciborgue morto sentado na cama era uma estátua com a expressão estúpida de alguém apanhado de surpresa na sanita. Mas Ana é que tinha sido apanhada de surpresa. O ciborgue estava infectado mas acusara negativo no diagnóstico. Era um truque novo para o vírus. Mesmo que tivesse sofrido uma mutação, o scâner devia detectar vestígios do código antigo. Se o sintoma de programação dupla se tivesse revelado um minuto mais tarde… nem ia pensar nisso.

    — Mulher da limpeza — disse uma voz grave, depois de um bip, no comunicador junto à porta.

    No ecrã, um tipo careca sorriu para a câmara só com os lábios, sem expressão condizente nos olhos. Ana sabia bem que Otto detestava receber chamadas de trabalho no número pessoal. A noite de folga era para fazer as

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