À Sombra da Casa Azul: Breve itinerário de Vida
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Quando vi Paulo pela primeira vez, na sua torre de marfim da rua Barão de São Borja, eu soube que seríamos amigos. Ele era a ousadia e a cultura refinada que esta cidade não assimilou, um dandy dos trópicos, o Gay Sunshine de uma Mauristaadt sodomita nos becos e repressora nas casas de família.
As lembranças que aqui são contadas não abarcam todas as ricas experiências de uma vida errante, algo de playboy e cigano irresponsável. Mas uma vida cheia de charme, of course. Tampouco traça um panorama linear do que foi a arte pernambucana nos anos 70 e 80 — anos em que Paulo, no Diário de Pernambuco, comentou, divulgou e ajudou artistas locais e de outros estados. À Sombra da Casa Azul surge como flashes, desabafo, o explícito de um sexo para sempre condenado ao profano.
Como amigo, pude vivenciar momentos difíceis de Paulo. Como admirador de sua personalidade e de sua poesia, pude, muitas vezes, sentir orgulho de poder estar perto de alguém tão sensível e culto. Por isso, é para mim difícil dar esse modesto depoimento sobre um conjunto que está entrelaçado num mesmo leitmotiv: vida-obra-dor-esperança.
À Sombra da Casa Azul, para nós que conhecemos intimamente a história de Paulo Azevedo Chaves, faz com que nos envergonhemos de participar de uma sociedade que pode guilhotinar talentos e promover embustes com a mesma desenvoltura de um Tartufo ou Paingloss.
- Raimundo de Moraes
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Book preview
À Sombra da Casa Azul - Paulo Azevedo Chaves
Ficha técnica
Título: À Sombra da Casa Azul: Breve Itinerário de Vida
Autor: Paulo Azevedo Chaves
Revisão: João Máximo, Luís Chainho e Patrícia Relvas
Edição 1.00 de 9 de março de 2015
Copyright © Paulo Azevedo Chaves, João Máximo e Luís Chainho, 2015
Todos os direitos reservados.
Esta publicação não poderá ser reproduzida nem transmitida, parcial ou totalmente, de nenhuma forma e por nenhuns meios, eletrónicos ou mecânicos, incluindo fotocópia, digitalização, gravação ou qualquer outro suporte de informação ou sistema de reprodução, sem o consentimento escrito prévio dos editores, exceto no caso de citações breves para inclusão em artigos críticos ou estudos.
INDEX ebooks
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Lisboa, Portugal
ISBN: 978-989-97764-0-1 (ebook)
Com a mão paciente vamos compondo o puzzle de uma paisagem que é impossível de completar.
Pedro Nava sobre suas atividades de memorialista
Nem tradição nem restrição. Uma moral diferente segundo a energia dos seres. Exuberância é beleza; o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria; nunca saberás o que é bastante se não souberes o que é mais do que bastante.
O Casamento do Céu e do Inferno (1793), de William Blake
E se você não puder ser você mesmo, que adianta ser qualquer outra coisa?
Memórias, de Tennessee Williams
Satisfações, eu vos procuro. Sois belas como as auroras de verão.
Les Nourritures Terrestres, de André Gide
Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou pra lhe abusar...
Mosca na Sopa, música de Raul Seixas
O homem deve ser revoltado? Eu peço-lhe apenas para ser insubmisso. E se ele o for, já será bastante.
Max-Pol Fouchet no livro Panorama de La Poésie Française de Rimbaud au Surrealisme, par Georges -Emmanuel Clancier, Ed. Seghers
Nada mais importa
a canção está perdida
e o canto se arrefece.
Natanael Jr. no poema Epitáfio à Canção Perdida
Sex please
Conheci Paulo Azevedo Chaves quando eu tinha 17 anos. Ele foi uma das estrelas da província pernambucana que eu, naquela época — um adolescente cheio de angústias e perguntas — queria conhecer de perto, adquirir conhecimentos para uma possível vida literária. Lembro que mais ou menos naquele período tive rápidos contatos com Orley Mesquita, Mauro Motta — que achou minha poesia angustiada e solene
, — Alberto Cunha Mello, Terêza Tenório, entre outros.
Mas quando vi Paulo pela primeira vez, na sua torre de marfim da rua Barão de São Borja, eu soube que seríamos amigos. Ele era a ousadia e a cultura refinada que esta cidade não assimilou, um dandy dos trópicos, o Gay Sunshine de uma Mauristaadt sodomita nos becos e repressora nas casas de família.
As lembranças que aqui somam pouco mais de cinquenta páginas não abarcam todas as ricas experiências de uma vida errante, algo de playboy e cigano irresponsável. Mas uma vida cheia de charme, of course. Tampouco traça um panorama linear do que foi a arte pernambucana nos anos 70 e 80 — anos em que Paulo, no Diário de Pernambuco, comentou, divulgou e ajudou artistas locais e de outros estados. (A convivência com os artistas seria, aliás, um ótimo argumento para outro livro). À Sombra da Casa Azul surge como flashes, desabafo, o explícito de um sexo para sempre condenado ao profano.
Como amigo, pude vivenciar momentos difíceis de Paulo. Como admirador de sua personalidade e de sua poesia, pude, muitas vezes, sentir orgulho de poder estar perto de alguém tão sensível e culto. Por isso, é para mim difícil dar esse modesto depoimento sobre um conjunto que está entrelaçado num mesmo leitmotiv: vida-obra-dor-esperança.
À Sombra da Casa Azul, para nós que conhecemos intimamente a história de Paulo Azevedo Chaves, faz com que nos envergonhemos de participar de uma sociedade que pode guilhotinar talentos e promover embustes com a mesma desenvoltura de um Tartufo ou Paingloss.
Raimundo de Moraes
Uma explicação
Assim como eliminei do texto deste livro aspetos ligados às minhas atividades jornalísticas, como colunista do Diário de Pernambuco, também o despi de preocupações literárias, não tentei imprimir-lhe um estilo mais rebuscado ou mesmo escrevê-lo numa linguagem sintaxicamente