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O Segredo do Bruxo
O Segredo do Bruxo
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O Segredo do Bruxo

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Ayden Dracre, o filho mais novo em uma família de feiticeiros notórios, está contente com seus estudos de magia até que Merlin sai de Caldaca para procurar uma forma de remover sua maldição. Enquanto espera a volta de Merlin, Ayden comete um erro que faz com que questione sua magia.

Ele logo descobre que sua tia e Merlin estão em perigo. Para salvá-los, Ayden vai mais longe do que nunca. Com dois inimigos poderosos e uma presença sombria que o assombra, Ayden precisará ter muito cuidado ao escolher em quem confiar. Enquanto isso, Merlin precisa de Ayden quando o passado volta para ameaçar o futuro. 

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateNov 9, 2017
ISBN9781507198261
O Segredo do Bruxo

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    O Segredo do Bruxo - Rain Oxford

    Capítulo 1

    Meça uma dose grande de sulfato de zinco — instruiu Merlin.

    Coloquei uma pequena amostra do pó branco na palma da mão. Magnus me ensinara a medir usando os sulcos na mão. Mas eu precisava ser cuidadoso, pois alguns dos ingredientes que Magnus tinha eram perigosos. Confiei que Merlin não me causaria mal. — Assim?

    Muito bem.

    Larguei o jarro e derramei o pó no pequeno caldeirão. Magnus e eu estávamos em uma das três salas de magia de Magnus. Aquela era a favorita de Merlin porque tinha um estoque de tudo o que ele poderia querer.

    O piso e as paredes eram de pedra. A parede sul era dominada por uma lareira grande, uma janela alta tomava quase toda a parede norte, uma prateleira ocupava toda a parede leste e a porta pesada de madeira ficava na parede oeste. Uma mesa redonda grande no centro da sala estava coberta de ingredientes e ferramentas, incluindo livros, garrafas e queimadores. Itens similares enchiam as prateleiras, penduradas em ganchos pelas paredes e até mesmo do candelabro acima da mesa. No canto sudoeste da sala havia uma árvore baixa, em cujos galhos normalmente uma cobra preta se pendurava. Eu nunca me preocupara com a cobra até que o estoque de veneno de Magnus acabara. Eu era responsável por fazer mais. E odiava aquele tipo de tarefa.

    Eu tinha meu grimório à mão, no qual Merlin me fizera anotar todas as magias que ele me ensinara, especialmente as do mundo dele. Normalmente, o lobo dizia que eu tinha que confiar na magia para que ela desse certo. Neste caso, eu não achava que funcionaria.

    Agora, derrame a garrafa de água aí dentro.

    Esvaziei uma das duas garrafas de água da fonte no caldeirão e acendi um fogo baixo sobre ele.

    Agora, adicione alguns pedaços de zinco.

    Peguei outro jarro e derramei alguns farelos de metal na mão. Em seguida, adicionei-os ao caldeirão e guardei o jarro na prateleira. Eu esperava que ele me dissesse para falar um encantamento, concentrar a mente ou usar a varinha.

    Coloque devagar a moeda de cobre. O cobre precisa ficar em cima do zinco.

    Peguei a pinça, segurei a moeda com ela para colocá-la no caldeirão. Enquanto esperávamos, Merlin fez com que eu pegasse a chapa do queimador, que era uma rocha redonda pequena em um suporte de metal. Eu poderia acender um fogo sobre ela, como fizera com o caldeirão, e queimar coisas. Era uma das invenções de Merlin. Seguindo as instruções dele, acendi o fogo para que ela esquentasse.

    Tire a moeda do caldeirão, mergulhe-a na água para lavá-la e coloque-a no queimador plano.

    Usando a pinça, tirei a moeda e soltei uma exclamação. — É prata!

    Eu falei a você que seria.

    — Mas não usei a varinha nem o cajado! — Eu a mergulhei na água, como ele dissera, e apaguei o fogo sob o caldeirão. Observamos enquanto a moeda lentamente mudava da prata de volta para o cobre. — Não está dando certo.

    Paciência, jovem feiticeiro. Está tudo de acordo com o plano. Tire-a da placa agora e segure-a dentro d’água para esfriá-la.

    Fiz o que ele disse, embora estivesse cético. Mas fiquei chocado quando a moeda se transformou em ouro ao esfriar. — Uau. A magia do seu mundo é muito mais poderosa do que a minha. É ouro mesmo ou apenas uma ilusão?

    Isto é ciência. Ou alquimia, se preferir. Não é ilusão nem feitiçaria. No entanto, é temporária.

    *      *      *

    Eu gostaria de dizer que era um bruxo ou até mesmo um feiticeiro. O fato era que eu não sabia o que era. Eu era o sétimo filho de uma família de feiticeiros famosos, conhecidos por serem implacáveis e terem poderes malevolentes. Infelizmente, eu sempre fora a vergonha da família, pois, não importava o quanto tentasse usar minha magia para o caos e a destruição, a única coisa que conseguia fazer era bruxaria.

    No meu mundo, bruxos usavam apenas magia de luz e feiticeiros só usavam magia sombria. Ambos eram respeitados por seus talentos e ambos tinham um propósito na vida. Parecia que eu estava destinado a ser um proscrito, pois bruxos e feiticeiros não podiam simplesmente mudar de função.

    Descobri que minha mãe planejava me matar e fui embora de casa para provar do que era capaz. Eu derrotaria o maior bruxo de todas as terras, Magnus. Logo depois, acidentalmente libertei Merlin de uma prisão mágica, chamada syrus. Mas, na época, ele estivera amaldiçoado. Era um bruxo de outro mundo, mas a magia dele não era estritamente de luz. Ele fora forçado a tomar a forma de um lobo e seus poderes foram retirados. Quando ele descobriu qual era minha missão, decidira que Magnus poderia quebrar a maldição. Portanto, ele prometeu me ensinar a ser um feiticeiro malévolo se eu concordasse em ajudá-lo.

    Eu estava esperançoso. Mas, apesar de ele ter me instruído em cada passo do caminho, eu não aguentava ferir pessoas. Mesmo quando consegui um cajado de feiticeiro, a magia sinistra só conseguia ajudar as pessoas. Só depois que encontrei minha tia descobri por que eu era assim. Supostamente, sendo o sétimo filho, eu tinha poderes extras, mas essa magia não era boa nem ruim.

    Quando acabei salvando Magnus e banindo meus irmãos malignos para outro mundo, finalmente desisti de ser algo que eu não era. Simplesmente não fora feito para ser cruel. Infelizmente, isso não me transformava em um bruxo.

    Por três meses, isso não importou. Morei com Magnus e desfrutei da biblioteca magnífica dele. Aprendi sobre novos feitiços e poções, e experimentei-os com a orientação de Magnus e Merlin. Eu até mesmo conseguia usar feitiçaria, desde que fosse apenas na prática. E, depois de muita prática, eu tinha a confiança de que conseguiria matar até mesmo a rocha mais assustadora.

    *      *      *

    Eu não estava pronto para uma mudança, mas Merlin estava. — Você vai embora? — perguntei.

    Não, não vou embora. Só vou ficar longe por alguns dias para que consiga remover esta maldição.

    Larguei o livro e levantei-me. Merlin e eu estávamos na biblioteca. Quando ele entrou, achei que me diria o que me ensinaria a seguir. Mas, em vez disso, ele me disse para fazer um portal para outro mundo.

    — Está bem, vou pegar minha mochila.

    Você sabe o que Dessa disse, Ayden.

    — Que a maldição será removida no dia em que eu morrer. Isso pode significar qualquer coisa. Talvez Dessa esteja errada. Posso ajudar você.

    Não vou colocar você em perigo. A maldição é minha e o erro a corrigir é meu.

    — Erro? Você quer dizer se apaixonar por uma mulher? Você não fez nada de errado!

    Não contei tudo a você. Mande-me para o meu mundo e, quando a maldição for removida, voltarei e continuarei a ensinar magia a você.

    — Se é tão perigoso viajar para outros mundos, certamente tenho que ir com você. Você não pode usar magia.

    Eu sei como sobreviver sem magia. Acredite, voltarei antes mesmo que sinta minha falta. Agora, por favor, faça o que pedi.

    Eu queria discutir, mas confiei nele. — Está bem. — Eu deveria saber que Merlin ficaria inquieto e desejaria voltar para o mundo dele. Eu queria tentar remover a maldição. Mas uma vidente chamada Dessa o advertira de que a maldição seria removida no dia em que eu morresse. Ela não disse como eu morreria. Portanto, Merlin queria garantir que eu estivesse longe e seguro no castelo quando se livrasse da maldição.

    Foi assim que acabei criando um portal para Merlin em uma das salas de magia. Raramente usávamos aquela sala porque não tinha um estoque muito grande, mas havia um espaço grande no meio. Não havia mesas nem lareiras, apenas uma prateleira, um candelabro e uma janela. Eu precisava limpar o chão todos os dias porque Merlin me fazia praticar o desenho do portal diariamente.

    Todos os portais tinham o mesmo desenho básico de um pentagrama dentro de um círculo, com um círculo ligeiramente maior em volta. Merlin me fizera criar o pentagrama e os círculos repetidamente até que eu conseguisse fazê-los de forma perfeita. Só depois disso, ensinou-me os símbolos que seriam necessários para viajar para outros mundos.

    Não demorei muito para desenhar a base. Em seguida, pintei no chão os símbolos que Merlin enviou diretamente para a minha mente. Quando eu o libertei do syrus, de alguma forma tínhamos ficado conectados e conseguíamos falar diretamente um na mente do outro. Recentemente, ele conseguira me enviar imagens, que frequentemente usava em nossas aulas.

    Parece ótimo — disse Merlin.

    — Acha mesmo que tenho poder suficiente para fazer isto? E se eu fizer errado?

    Então, eu provavelmente morrerei. Não erre.

    — Talvez seja melhor chamar Magnus.

    Por que eu sempre acredito em você mais do que você mesmo? Peça ajuda, se quiser, mas seja rápido. Estou com pressa para acabar com esta maldição.

    Eu mandara um dos meus irmãos para outro mundo, mas isso acontecera no meio de uma batalha. — Só preciso derramar magia dentro dele, certo? Você disse que são os símbolos que determinam para onde o portal se abre.

    Talvez seja melhor se Magnus fizer isto. Os símbolos determinam para onde o portal se abre, mas eles não têm poder. Pense em uma fórmula matemática na qual...

    — Uma o quê? — interrompi.

    Ele se sentou sobre as patas de trás. — Os símbolos são uma fechadura de combinação. Sua magia é...

    — Não, já me perdi de novo.

    Ele suspirou. — Só confie em mim, jovem feiticeiro. Sua magia não determina o local, mas os símbolos são inúteis sem a magia apropriada. Com a magia imprópria, eu posso ficar preso entre mundos ou até mesmo ser destroçado.

    — Mas... e os meus irmãos? E se eu fiz alguma coisa errada quando os mandei para longe?

    Não fez. Você é um verdadeiro enigma de Caldaca.

    — O que isso significa?

    Estive em mundos em que a magia é temida, em mundos em que não há magia e em mundos em que ela é praticada abertamente. Mas nunca encontrei um mundo como o seu. Em outros mundos, aqueles que praticam magia, usam-na para o bem ou para o mal. No entanto, as pessoas de Caldaca só conseguem fazer uma ramificação da magia. Portanto, feiticeiros não conseguem viajar entre mundos, precisam empregar viajantes. Por causa desse poder raro que você tem, não é limitado.

    — Só achei que queria dizer que tenho magia neutra.

    Esse é o ponto, toda a magia é neutra. É a pessoa que é limitada, não a magia dela. Você e sua tia não são limitados. Provavelmente é por isso que você não é intrinsecamente malévolo como sua família. Infelizmente, apesar de saber que você desejaria que fosse de outra forma, isso significa que eles não podem mudar. As pessoas do seu mundo não podem mudar.

    — Não é uma coisa boa de se dizer.

    Não, não é. Talvez eu só esteja sendo negativo porque passei tanto tempo sem magia. O que quero dizer é que a única coisa que o atrapalha é você mesmo.

    — O que quer dizer?

    Ai, céus. Esqueça. Pegue seu cajado e mostrarei a você como ativar o portal.

    Fechei os potes de tinta, saí da sala e subi a escada correndo. Meu quarto era a primeira porta à direita ao chegar ao topo da escada da ala leste. O castelo era imenso e bastante solitário, considerando que só havia Merlin, Magnus e eu. Havia tantos aposentos desocupados que chegava a ser ridículo, mas nunca mencionei o assunto ao bruxo poderoso porque eu sabia o motivo de o castelo estar vazio.

    Meu quarto era extravagante, com uma cama imensa, móveis elegantes e uma lareira enorme. As cobertas eram azuis e mais macias do que qualquer outra que eu tivesse usado antes. O baú no pé da cama, o guarda-roupa e a escrivaninha sob a janela eram de madeira escura com detalhes dourados. Eu tinha uma banheira funda no canto leste, com uma divisória de seda azul e dourada. O cajado estava apoiado no guarda-roupa. Eu o peguei e voltei depressa à sala de magia.

    Merlin esperava pacientemente, exatamente como eu o deixara. — Tem certeza de que não posso ir com você?

    Eu ficaria arrasado se, de alguma forma, causasse a sua morte. Como não sabemos o que Dessa viu, sua segurança vem em primeiro lugar.

    — Ela deveria ter lhe dito mais.

    A divinação é a magia mais perigosa que existe. Portanto, confie que sua amiga sabe quando falar e quando manter silêncio. — Ele andou até o centro do círculo. — Você consegue, Ayden. Confie em você mesmo, para variar.

    Assenti e ajoelhei-me diante do círculo. — Dê-me as instruções. — Antes que ele conseguisse fazer isso, ouvi um sussurrar assustador e olhei para o baú pequeno que ficava na prateleira do meio da estante. — Por que ela faz isso?

    A quimera está tentando nos atrair para soltá-la. Se conseguisse escapar, sem dúvida mataria quem a restou. Agora, esvazie a mete e visualize que está olhando diretamente para cima, para o céu noturno. — Fiz como ele instruiu. — Olhe para o portal e imagine que consegue ver através dele, que consegue ver o céu. Enquanto faz isso, derrame sua magia sobre ele.

    Tentei encaixar a lembrança do céu escuro e das estrelas dentro do círculo externo do chão de pedra. Quando fiz isso, as linhas e os símbolos brancos se destacaram.

    Viu que os símbolos e as linhas estão mais claros?

    — Sim.

    Muito bem. No espaço escuro do portal, alinhe as estrelas com as linhas.

    Fiquei assustado quando fiz isso, pois minha energia imediatamente desapareceu. Era como se o portal tivesse se aberto para a escuridão como um buraco. Em seguida, o portal começou a puxar minha magia. Ele só drenava a magia, mas senti os efeitos no corpo imediatamente. Comecei a suar e a respirar mais depressa, como se tivesse corrido. Até mesmo meus músculos sentiram o esforço.

    As linhas e os símbolos brilhantes ficaram mais intensos, até que o brilho fosse forte demais para os olhos. — Fique em segurança — disse eu no momento em que ele desapareceu.

    *      *      *

    Um mês depois...

    — Há alguma coisa errada! Ele já ficou longe por tempo demais!

    Magnus suspirou. — Eu já lhe disse, Ayden, vou avisar no minuto em que eu souber de alguma coisa.

    — Não é o suficiente! Ele já deveria ter voltado!

    — Bruxos são pessoas solitárias. Tenho certeza de que ele removeu a maldição e está aproveitando para usar a magia excessivamente.

    — Não sem me falar. Há alguma coisa errada!

    — Merlin é mais velho do que eu. Ele sabe se defender.

    Senti a energia me percorrer e só tive tempo suficiente para tirar a varinha do bolso antes que a ponta acendesse. Na última vez em que eu ficara chateado, minha calça tinha ficado em chamas, o que acontecera na noite anterior durante o jantar. Eu me levantei, afastei o prato do café da manhã e saí da sala. Não conseguia comer quando me sentia assim. A meio caminho até o quarto, mudei de direção e fui para fora.

    Merlin se fora fazia tempo demais. Eu sabia que havia algo errado. Era a despreocupação do bruxo com a vida de Merlin que me incomodava tanto. Ninguém mais conseguia ouvir Merlin e eu tinha que falar por ele. Magnus não conhecia Merlin como eu. Para o velho bruxo, Merlin era apenas um lobo.

    Eu queria ir atrás de Merlin, mas Magnus não deixou, insistindo que eu não duraria um dia em outro mundo sem ajuda. Não gostei da opinião dele. Talvez eu não fosse um feiticeiro decente, mas sobrevivera aos meus irmãos durante anos e duvidava de que houvesse alguém mais perigoso que minha família.

    Capítulo 2

    Mergulhei os pés na água morna do riacho claro. Depois de discutir com Magnus sobre Merlin nos três dias anteriores, eu só queria ficar longe dele. Até mesmo a biblioteca perdera a atmosfera pacífica, pois eu já lera todos os livros existentes no meu idioma.

    Magnus e Merlin me disseram que eu só estaria seguro dentro do terreno do castelo, mas era horrível ficar preso. Apesar de o velho bruxo ter colocado magia para avisá-lo se alguém tentasse entrar no castelo, os lacaios dele não o informaram quando eu saí. Passar por cima do muro de pedra que rodeava o castelo era fácil. Na primeira vez em que saí do castelo sozinho, apenas alguns dias depois da minha chegada, encontrei um riacho no meio da floresta. Desde então, uma das coisas favoritas que eu gostava de fazer era ir até lá e praticar a magia que tivesse vontade.

    Merlin não estava mais preocupado em só me ensinar magia sombria, mas agora estava ansioso para me ensinar magia para que eu me defendesse de minha mãe. Eu não acreditava que houvesse tal magia. Esperara que, ao derrotar Magnus, deixaria minha mãe orgulhosa e que ela mudaria de ideia sobre me matar. Como eu me juntara a Magnus contra os meus irmãos, não havia a menor chance de que isso acontecesse. Quando minha mãe viesse atrás de mim, não seria uma ameaça leve. Na verdade, eu esperava ser torturado antes de morrer e não havia bruxaria que pudesse me salvar.

    Merlin sugerira irmos atrás de minha mãe primeiro, mas ele não a entendia como eu. Apesar de ser bem conhecida no lugar onde eu nascera, ela enviara alegremente os filhos para realizar seus desejos e era muito mais poderosa do que as pessoas imaginavam.

    Ao me sentar na grama com os pés dentro d’água, movi a varinha no ar de forma aleatória. Eu pretendera praticar o feitiço que Magnus me ensinara, mas só fiquei mais irritado. Não gostava de não poder ajudar Merlin.

    Deixei a varinha de lado e comecei a abrir os laços da camiseta. Era uma tarde perfeita para nadar. Um movimento ao meu lado foi o único aviso antes que minha varinha fosse levada por um borrão laranja. Eu me virei no momento em que a raposinha parou para olhar para mim. Ela estava com a varinha na boca e correu para a floresta antes mesmo que eu conseguisse pensar no que fazer. Minha varinha era perigosa nas mãos erradas.

    Infelizmente, eu não estava acostumado a andar descalço e não pegara as botas, portanto, não conseguiria alcançar a raposa. Fiquei surpreso quando ela parou logo antes de ficar fora de vista e esperou até que eu quase a alcançasse. Em seguida, correu novamente antes que eu conseguisse pegar a varinha. Ela estava brincando comigo ou estava levando-me para algum lugar.

    Como eu não conseguira explorar muito por causa das preocupações de Magnus, não conhecia bem a área e estava completamente perdido. A raposa claramente sabia para onde estava indo e desviava-se das árvores e das rochas com facilidade. Eu, por outro lado, consegui arranhar os joelhos e machucar os dedos dos pés em quase tudo.

    Eu já estava sem fôlego quando percebi que havia o som de água corrente à frente. A raposa estava levando-me para um rio. Ela conhece a floresta, deve estar indo para uma toca escondida ou algo parecido. Mas não, não estava. Ao sairmos da floresta, vi o rio largo cortando a clareira ao pé da montanha. A raposa correu diretamente para lá.

    — Pare! Ninguém consegue saltar tão longe! — gritei. Eu só queria avisar a criatura, mas, de alguma forma, a magia dentro de mim chamou a varinha. Senti a energia esquentar meu sangue como se fosse raiva e a varinha emitiu uma luz vermelha violenta na boca da raposa. Subitamente, a raposa caiu e rolou no chão.

    Para o meu horror, o animal não fez movimento algum para impedir que rolasse para a água. Eu não pensei e saltei na água atrás dela. Felizmente, não estava vestindo o manto de feiticeiro, caso contrário, isso teria sido impossível. Como eu precisara nadar bastante para sobreviver aos meus irmãos, era um nadador decente, mas nunca tentara nadar em águas tão violentas. Nadei com a corrente em direção à raposa, que subia e descia na água sem fazer o menor esforço para respirar.

    A água corria tão depressa e de forma tão violenta que eu mal conseguia ver. Finalmente e de forma inesperada, agarrei a raposinha, percebendo por que ela estava tão imóvel. Era culpa minha! A magia congelara a raposa e ela não conseguia nadar.

    Eu a segurei contra o peito e mantive sua cabeça acima da água. Ela estava imóvel como uma pedra. Tentei recuperar a varinha, mas isso teria quebrado os dentes dela, que eram muito necessários. Foi quando ouvi a cachoeira. Esforcei-me para ver acima das ondas e notei, com clareza, que estávamos indo na direção da queda d’água. Parei de tentar pegar a varinha e, em vez disso, nadei com todas as forças para a beira.

    Apesar de não estarmos muito longe, a corrente nos puxava para o meio e eu não conseguia nadar muito bem com apenas um braço. Manter a cabeça da raposa fora d’água era impossível. Concentrei-me na varinha que estava na boca da raposa e imaginei que estávamos flutuando para fora da água. Eu levitara um navio pirata gigantesco e isso deveria ser fácil.

    Mas não foi. Tentei com todas as forças lançar o feitiço, mas só serviu para sermos arrastados para baixo da superfície.

    Subitamente, estávamos caindo. Não tive tempo de fazer uma magia nem de me preocupar com ser esmagado nas rochas abaixo. Só consegui fechar os olhos, abraçar a raposa e esperar. Proteja-nos.

    Depois de um momento, ainda ouvi a água batendo em volta. Eu ainda estava vivo. Melhor ainda, não estava afogando-me. Abri um pouco os olhos e depois arregalei-os ao ver o que estava acontecendo. Eu estava flutuando sobre o rio com uma bolha enorme em volta de mim. A água batia contra a bolha e era refletida. Era uma proteção, mas nem mesmo Magnus conseguia criar uma proteção contra os elementos. A única pessoa que eu sabia ser poderosa o suficiente para fazer isso era minha mãe.

    Enquanto a bolha flutuava lentamente para a praia, olhei em volta em busca de minha mãe, mas não havia ninguém à vista. Havia apenas minha varinha, brilhando com uma luz azul. De forma não intencional, eu criara uma proteção muito mais poderosa do que aquela que me fora ensinada.

    Eu sempre achara que a magia dos bruxos era tão poderosa quanto a magia dos feiticeiros e era apenas uma combinação de motivação e experiência que tornava uma pessoa mais poderosa que as outras. De acordo com Merlin, minha magia neutra teoricamente significava apenas que eu conseguia fazer feitiçaria e bruxaria, não que era bom em uma delas.

    Resolvendo me preocupar com isso mais tarde, deitei a raposa gentilmente no chão e tentei acordá-la. Apesar de ainda não conseguir tirar a varinha de sua boca, uma boa parte do cabo saía pelo lado. Eu o segurei, fechei os olhos e concentrei-me. Cure.

    A magia dentro de mim se moveu, mas a raposa não.

    Concentrei-me ainda mais na cura. Minha mãe nunca me ensinara a ajudar as pessoas, mas remover maldições era algo que eu aprendera por conta própria. Deixei a magia passar pela varinha e para a raposa, e encontrei meu próprio feitiço. Curar a raposa com a maldição não daria certo, ela teria que ser removida.

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