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15 contos de fadas e seres mágicos em um bosque infinito.
[Contos da zamina]
Às portas do inverno, Casimiro, um camponês ancião, encontra no bosque uma Fada Zâmia. Está presa em uma armadilha de laço, inconsciente e com uma de suas asas de folha de castanheira quebrada. Decidirá levá-la para sua cabana para poder cuidá-la. Ao acordar, Isnala a Zâmia, pede para passar o inverno com ele, prometendo, em troca, contar-lhe histórias dos reinos que houve e dos que haverá. Assim irá descobrindo os seres maravilhosos que habitam o bosque da Zamina. Casimiro aceita, encantado, trato e decide, por sua vez, contar as histórias que aprendeu de sua mãe quando era criança. Venha conhecer os Liunes, os Friiiils, os Diminutienses e muitas novas criaturas mágicas.
Autor
1
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O velho Casimiro vivia em sua cabana de pedra, na montanha, perto do grande Bosque da Zamina.
Vivia só, ou quase, porque no andar térreo de sua casa havia um estábulo com duas vacas, Pita e Pota, que davam leite todos os dias, e um burrinho cinza, Pito, que ajudava a carregar lenha no bosque e a levar o leite que sobrava para a vila, para vendê-lo.
Na vila o chamavam de o Resmungão
, e não sem razão, porque o velho resmungava o dia inteiro, todos os dias.
Resmungava de manhã e de noite, se chovia e se fazia sol. Resmungava quando sua sopa estava fria e quando estava quente.
Resmungava quando suas vacas davam pouco leite, porque não teria para vender e quando davam muito, porque seria muito trabalhoso carregar os galões nos quais levava o leite no burro.
Nem ele mesmo se lembrava quando tinha começado a resmungar e resmungar sem nunca parar.
Uma manhã, com os primeiros flocos de neve caindo sobre sua remendada touca de lã, saiu com seu burrinho em direção ao bosque, para percorrer seus caminhos em busca dos pedaços de pau que o vento pudesse ter derrubado no solo para levá-los para seu fogão a lenha e ficar quentinho no inverno que se avizinhava.
Resmungava dos pedaços de pau que eram muito longos e dos que eram muito curtos, dos que estavam muito secos e dos que estavam molhados.
O burrinho Pito, de repente, ficou parado no caminho. Apesar de seu amo ter puxado o cabresto, ele não andou para a frente, mas se desviou para a esquerda do caminho.
— O que você está fazendo, Pito, burro mau? —resmungou Casimiro.
Mas Pico não obedeceu e o velho camponês começou a perder as estribeiras e a gritar com ele.
—Fique em silêncio um momento, por favor, Casimiro —disse o burro de repente.
—Como, calar a boca? E, principalmente, desde quando você sabe falar? Você é um burro, e os burros não sabem falar.
—Você também não sabe, Casimiro. Só sabe resmungar. Deve haver uma zâmia do bosque próximo daqui.
—Uma zâmia?
—Foi isso que eu disse. Outros as chamam de fadas. Tem que estar por aqui, senão, não estaríamos nos entendendo. Quando há uma zâmia dos bosques por perto, todos os seres vivos se entendem.
—Onde será que está?
E procuraram e procuraram, até que Casimiro viu uns cordéis brancos amarrados em um matagal. Era uma armadilha para coelhos.
—Olha, uma armadilha de caçador. Aí está a pobrezinha, presa pelo laço.
—Até parece, Pito! Não vejo nada, só umas folhas de castanheira amarradas com o laço da armadilha.
—Você tem que soprar sobre o nó que está vendo. As zâmias cobrem seu corpo com esporos de cogumelo invisível para que os humanos não as vejam. Assim, quando voam, vocês acreditam que são só umas folhas levadas pelo vento. Se você soprar forte, elas sairão.
Resmungando para si mesmo, Casimiro se aproximou do nó e soprou devagarinho.
—Você tem que soprar mais forte —disse o burrinho.
E o camponês encheu seus pulmões tudo que pôde e soprou e soprou até ficar sem ar.
O pequeno ser, de um palmo de altura, que foi aparecendo diante dele, era tão bonito e estava tão indefeso que seu coração, sempre cheio de queixas e mau humor, se inundou de ternura tão de repente que as lágrimas encheram seus olhos.
Toda sua roupa era feita de pequenas folhas belamente entrelaçadas entre si com delgados talos de capim e tinha uma longa cabeleira verde que chegava até sua finíssima cintura.
A zâmia estava presa no laço pelas asas e não se mexia.
Muito devagarinho, com muito, muito cuidado, a desamarrou e viu que uma de suas preciosas asas em forma de folha de castanheira, de cor amarela, que estas adotam no outono, estava quebrada.
Recolheu uns musgos e fez uma caminha diminuta para levá-la para sua casa e assim poder cuidá-la.
Durante seu caminho de volta para a cabana, não podia parar de olhar para ela e observar se ainda respirava.
Ao chegar em casa, levou o burrinho Pito para o estábulo e começou a tirar os arreios e a descarregar a lenha, enquanto deixava a fadinha em sua cama de musgo sobre uma pedra que se destacava junto ao dintel da porta.
—Amigo Casimiro, você percebeu? Como você estava ocupado ajudando outra pessoa, não resmungou nem uma única vez em todo o caminho.
—É verdade, Pito. O que está acontecendo comigo? Será que estou doente?
De repente, do fundo do estábulo, escutou uma nova voz: era Pita, sua vaca mais velha.
—Não, Casimiro, você não está doente.
—Vocês também falam?
—Agora você entende a todos nós —disse Pito.
—O que está me acontecendo, Pita?
—Acontece que, para variar, você está se preocupando com alguém que não é você mesmo, e isso fez com que você fosse feliz de verdade pela primeira vez na tua vida.
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2
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Casimiro observou a zâmia durante horas, que continuava com os olhos fechados. Colocou sua caminha de musgo dentro de uma sandália, um velho tamanco de madeira descasado que tinha e a aproximou do fogão a lenha para que ficasse quentinha.
Quando Isnala, pois assim se chamava sua protegida, acordou, já era muito tarde. Casimiro estava fazendo uma sopa de alho com pão frito em seu fogão, de costas para ela.
Pensou em sair voando, mas com a asa quebrada era impossível e estava muito longe do bosque para ir caminhando.
—Que bom o cheiro da sopa! —disse Isnala.
Casimiro derrubou a concha na panela, de susto.
Sua tilintante voz era tão bela como o resto de sua minúscula pessoa.
—Você acordou! Como você está, pequena?
—Acho que salvo pela minha asa quebrada, estou bem. Você me tirou da armadilha?
—Sim, Pito, meu burro, te viu e eu te tirei dela. Você quer sopa? Deve estar faminta.
—Sim, obrigada. A propósito, me chamo Isnala.
—E eu, Casimiro.
Casimiro tirou um dedal de madeira entalhada de sua caixa de costura, encheu-o com sopa e aproximou-o da sua nova amiga.
—Casimiro, posso ficar na tua casa até que brotem em mim as asas novas na primavera? É que sem elas não chegarei nunca à minha casa.
—Claro, além do mais o inverno está para chegar. Elas voltarão a crescer então?
—Sim, elas nascem na primavera, duram todo o verão, depois no outono mudam de cor e começam a murchar, para terminar caindo quando começa o inverno.
—Fique aqui todo o tempo que você quiser.
—Te proponho um trato, Casimiro. Como sou pequeninha e não poderei te ajudar muito, em troca de ficar na tua casa e de que você continue fazendo para mim essa sopa tão gostosa, te contarei contos novos cada vez que você quiser.
—Você vai me contar histórias do povo das zâmias?
—Vou te contar todas as histórias do bosque da Zamina, que é de onde venho, e de seus habitantes: histórias das zâmias voadoras, dos zâmios, dos friiils de pedra, dos liuunes cabeça de capim e dos reinos que houve e dos que haverá.
A ideia deixou o Casimiro muito feliz, que aceitou em seguida o trato. Adorava que contassem histórias para ele e, quando era pequeno gostava também de contá-las; e fazia tanto tempo que não tinha ninguém que contasse para ele, nem ninguém para quem contar, que já nem se lembrava.
—E eu te contarei as histórias que minha mãe me contava quando era pequeno, umas alegres, outras tristes, mas de cada uma você aprenderá algo.
—E na primavera, se você desejar, deixarei que você me acompanhe o trecho que você quiser até o Bosque da Zamina.
E assim passaram o inverno, contando histórias um para o outro de frente para o fogo do fogão a lenha, enquanto do lado de fora, o mundo ficava branco pela neve.
1
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O dia tinha ficado muito longo para Saucel. Quase nem se lembrava quantos coletes de folhas tinha costurado nem quantos sapatos havia remendado. Tinha combinado com sua preciosa Isnala, que morava do outro lado do bosque, para borboletearem juntos de tarde, e não podia pensar em mais nada.
Quando terminou de costurar o último botão de madeira do último
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