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O Ser Humano Dentro de Mim
O Ser Humano Dentro de Mim
O Ser Humano Dentro de Mim
Ebook102 pages2 hours

O Ser Humano Dentro de Mim

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About this ebook

O que pode haver em comum entre uma menina, um ex-presidiário e uma mãe de família? "O Ser Humano Dentro de Mim" apresenta três personagens que, em algum mento de sua existência, perderam sua humanidade aos olhos da sociedade. Três personagens, três histórias paralelas, uma mesma história.  

LanguagePortuguês
PublisherKarine Vivier
Release dateApr 6, 2019
ISBN9781547580354
O Ser Humano Dentro de Mim

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    O Ser Humano Dentro de Mim - Karine Vivier

    O Ser Humano Dentro de Mim

    Karine Vivier

    ––––––––

    Traduzido por ALINE SASSON 

    O Ser Humano Dentro de Mim

    Escrito por Karine Vivier

    Copyright © 2019 Karine Vivier

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por ALINE SASSON

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    O SER HUMANO DENTRO DE MIM

    Karine Vivier

    ∞∞∞

    A menina estava com água até o meio dos quadris. Com os olhos semicerrados ela se abandonou às carícias das ondas que ondulavam suavemente sobre suas pernas. Os gritos e risadas das outras crianças que brincavam na água despreocupadamente chegaram até ela como um murmúrio indistinto. A menina tinha sido uma entre elas, mas em um passado que lhe parecia agora muito distante. Era quando Papai ainda vivia. Papai. Quanto tempo fazia que ele partira para o céu? Ela não conseguia mais se lembrar. Ela tinha perdido a noção do tempo desde que não freqüentava mais a escola.  Os dias agora pareciam todos iguais. Ela arregalou os olhos em um esforço final para tentar lembrar. O pai dela. Grande e forte. Tinha que ver a facilidade com que ele a levantava. Ela tentou se lembrar da cor dos olhos, mas a imagem desapareceu. Ela olhou para um ponto e pareceu à garota que, se pudesse alcançá-lo, a memória voltaria para ela como que por mágica. Ela avançou um pouco mais na água. O mar a chamou. Ela queria afundar ainda mais até que as ondas a envolvessem completamente, quando uma mão repousou de repente em seu ombro.

    « Putinha, mas o que você está aprontando? Faz uma hora que estou te chamando. Vamos acabar sendo notados com suas besteiras. Com os olhos banhados pelo sol, a menina respondeu: Eu quero aprender a nadar. O tapa caiu.

    Eu não trouxe você aqui para fazer você se sentir doce, hein? Você realmente não tem muito no crânio. O que mais você terá quando for nadar? Eu não tenho a fazer. Há pessoas importantes que contam comigo, cabeça de nó. Você entendeu? Resmungou o homem, batendo na cabeça da menina. Vá trabalhar, sem vergonha. Você vê o loiro sentado sozinho lá? Vá brincar de irmã mais velha. Você sabe o que tem que fazer. Eu vou sentar nas escadas perto do cais. E especialmente não esqueça, eu tenho um encontro hoje à noite, às seis

    A menina obedece ao homem e parte para se sentar perto da criança. Ele tinha talvez quatro anos. Ela o rondou e mecanicamente começou uma conversa. « Olá, posso brincar com você,  como você se chama? »

    - Paul, respondeu a criança.

    Seus cabelos cor de mel emolduravam um rosto de olhos verdes. Ele tinha os traços tão delicados que se tivesse cabelos mais compridos, poder-se-ia confundi-lo com uma menina.

    Você sabe construir túneis para os carros? Perguntou a criança.

    Você está sozinho aqui? perguntou a menina lançando um olhar em volta como tinham lhe ensinado a fazer.

    - Ah não, estou com a mamãe.

    - E onde está a tua mamãe?

    A criança aponta para uma senhora idosa absorvida na leitura de um livro, sentada a uma distância de cerca de três metros, a menina calcula mentalmente. Ela era bastante corpulenta, não devia se  mover muito rápido. O homem viria logo em seguida. A menina mergulhou as mãos na areia para desenhar uma trincheira. Os olhos da criança brilham e ele sorri: « Você vai construir um túnel para mim?"

    - Sim, respondeu a menina.

    « Tenho sorte, você é boazinha.»

    A menina se pôs a construir túneis enquanto a criança rolava metodicamente seus carrinhos imitando o som de um motor. A criança olhou para ela com gratidão, mas a garota manteve a cabeça teimosamente baixa. Apesar da distância entre eles, ela sentiu a impaciência e raiva do homem que estava esperando perto da praia. Ela olhou para a criança e rapidamente perguntou: Você está com fome? Você quer um lanche?

    Sim, quero. Você é realmente muito boazinha, respondeu a criança.

    Ele ainda sorria para ela e a menina baixou o olhar. Alguma coisa a desestabilizou. No entanto, ela já tinha feito isto dezenas de vezes sem pensar. Era sempre o mesmo cenário. « Você não está aqui para pensar », o homem repetia para ela. « você está aqui para fazer o que eu mando ». Da primeira vez, tinha sido em outra praia que se parecia com esta. Ela tinha levado outra menina, menor que ela, para tomar lanche dentro da caminhonete estacionada perto da praia. O homem dentro do carro sorrira quando as duas meninas chegaram até ele. « Eu estou besta? », ele havia dito saindo de seu carro, « os biscoitos ficaram no porta malas». « Vai você na frente », ele acrescentara duramente. Ele tinha aberto o porta malas e empurrado a outra menina para dentro, e ela começara a gritar a plenos pulmões quando a porta se fechou bruscamente. Depois, a caminhonete  partira aos trancos e eles rodaram por horas. A garota tinha acabado de dormir e seu rosto estava grudado na janela. O que aconteceu depois, ela não se lembrava muito bem.

    ∞∞∞

    Denis Papin se acostumou a levantar de madrugada. Ele era como um autômato e dormia pouco. Os distúrbios do sono começaram durante o seu encarceramento e não cessaram desde então, mesmo após a sua libertação. Durante aqueles dez anos de prisão, ele pensou que estava ficando louco. Especialmente à noite. Ele se sentava na escuridão de sua cela, mantendo os olhos abertos e esperando, seu coração batendo. O menor som de passos o fazia recuar e se endireitar na cama. Tudo poderia acontecer, ele sabia disso. Disseram a ele. Os caras como ele na cadeia terminavam com um soco estômago. Os chuveiros, a cantina e o passeio haviam se transformado em tantas provações que pontuaram sua vida cotidiana. Denis Papin viveu o medo em seu estômago.

    Mas nada havia acontecido naqueles primeiros meses de encarceramento. Assim que estourava uma briga, ele tratava de se afastar furtivamente, apressando o passo. Nunca se misturava aos outros e esforçava-se para permanecer discreto, sempre retraído. Os outros detentos nunca lhe dirigiam a palavra. Ninguém fazia perguntas, nem mesmo os carcereiros. Era como se ele não existisse, como se tivesse se tornado invisível desde que adentrara os muros da prisão. Acabou por se convencer de que ninguém sabia quem era ele. Via, de vez em quando, outros passarem por maus bocados. Berros, gritos, barulhos de socos e soluços chegavam à sua cela. Ele olhava para a parede, aterrorizado, esperando a sua vez chegar, mas ninguém estava interessado nele. Deixaram-no em paz, até aquele dia fatídico.

    Era o dia 16 de fevereiro. Denis Papin ainda

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