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Eu-universitário: formas de subjetividade
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Eu-universitário: formas de subjetividade

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About this ebook

A investigação que o leitor tem em mãos estuda o sentido atribuído pelos jovens estudantes à sua formação universitária, e vem romper com o senso comum que rotineiramente associa jovem/juventude a problemas/dificuldades.

A análise desses jovens em suas relações consigo mesmos, com pares, família, universidade e sociedade é pautada pelos pressupostos teórico-metodológicos da psicologia sócio-histórica de Vygotsky, fundamentada na perspectiva do materialismo histórico-dialético e compreendida em seu funcionamento psicológico à luz de sua gênese e evolução.

Com os instrumentos apresentadas neste livro, acadêmicos e pesquisadores poderão conseguir maior aprofundamento na pesquisa, que é o objetivo central do ensino e da aprendizagem na universidade, lembrando que a juventude é uma qualidade, e não uma questão de circunstância. Por isso, apesar de nem sempre podermos construir o futuro para nossa juventude, ainda podemos construir nossa juventude para o futuro. Para um mundo melhor, porque é possível. Possível porque mediado pela ótica e pela participação juvenil, tanto numa dimensão estética quanto ética.
LanguagePortuguês
Release dateJan 1, 2017
ISBN9788547305994
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    Eu-universitário - Ivoni de Souza Fernandes

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO PSI

    O conhecimento

    caminha lento feito lagarta.

    Primeiro não sabe que sabe

    e voraz contenta-se com cotidiano orvalho

    deixado nas folhas vividas das manhãs.

    Depois pensa que sabe

    e se fecha em si mesmo:

    faz muralhas,

    cava trincheiras, ergue barricadas.

    Defendendo o que pensa saber

    levanta certeza na forma de muro,

    orgulha-se de seu casulo.

    Até que maduro

    explode em vôos

    rindo do tempo que imaginava saber

    ou guardava preso o que sabia.

    Voa alto sua ousadia

    reconhecendo o suor dos séculos

    no orvalho de cada dia.

    Mesmo o vôo mais belo

    descobre um dia não ser eterno.

    É tempo de acasalar:

    voltar à terra com seus ovos

    à espera de novas e prosaicas lagartas.

    O conhecimento é assim:

    ri de si mesmo

    e de suas certezas.

    É meta da forma

    metamorfose

    movimento

    fluir do tempo

    que tanto cria como arrasa

    a nos mostrar que para o vôo

    é preciso tanto o casulo

    como a asa.

    Aula de vôo, Mauro Iasi

    AGRADECIMENTO

    A Deus, por sua presença constante em minha vida, pois só Ele conhece nossas necessidades, nossos sonhos e nossas fraquezas.

    Ao meu pai, Francisco de Assis (in memoriam), pela pessoa que foi, pelo incentivo que me deu e por ter feito o melhor que podia por mim. À minha mãe, Eny de Souza, pela forte presença afetiva em toda a minha vida.

    Ao meu esposo, Dávison Fernandes, mais que um companheiro, um amigo, um parceiro, a quem desejo dedicar-me por toda vida em gratidão a tudo que tem sido e feito por mim.

    Aos meus filhos, Léverson Fernandes e Dávison Fernandes Júnior, pelo incentivo, apoio, compreensão, cumplicidade, amizade.

    Às minhas princesinhas, Gabriela, Julyanna, Valentina e Bárbara, para quem deixo o meu exemplo de escritora, sempre disciplinada e determinada em minhas ações.

    Sou grata e reconhecida a todos que, de um modo ou outro, estão presentes neste livro com seus dons. Alguns não poderiam deixar de ser nomeados, como a Drª Sônia Margarida Gomes de Sousa, com quem tive o privilégio de compartilhar ideias, convicções, dúvidas e expectativas surgidas no processo de elaboração deste trabalho, e os acadêmicos dos cursos de Medicina e Direito da Universidade Federal de Goiás, pela dedicada parceria e rica contribuição humana e intelectual no decorrer da pesquisa.

    APRESENTAÇÃO

    Sabe-se que toda leitura envolve um diálogo vivo do leitor com o texto. Na verdade, esse diálogo incessante esteve presente durante o próprio processo de realização da pesquisa.

    A intenção deste livro é apresentar o relato de pesquisa que busca apreender os sentidos e os significados atribuídos por estudantes de Medicina e Direito à sua formação universitária, no contexto do ensino público federal, e compreender as dimensões que se fazem presentes em suas relações consigo mesmos, com seus pares, sua família, a universidade e compreender o funcionamento psicológico à luz de sua gênese e evolução.

    Os motivos que me levaram a considerar a importância e mesmo a urgência de tornar pública a pesquisa em questão são o grande avanço e crescente interesse na perspectiva sócio-histórica, vista como uma abordagem promissora para apreensão do sujeito, constituindo-se dessa forma em um referencial teórico metodológico importante para o trabalho de pesquisa; a relevância das categorias sentido e significado, entendidas no momento como formas privilegiadas para apreensão da singularidade do ser humano.

    Nesse sentido a abordagem sócio-histórica busca compreender a juventude em seu processo constitutivo, em sua gênese histórica e em seu desenvolvimento, enfocando a totalidade na qual está inserida e que lhe dá sentido. A juventude é uma forma de identidade social, pois os fatos sociais que surgem ao longo da vida do indivíduo trazem repercussões psicológicas que influenciam sua formação identitária.

    Como afirmou Vygotsky (2001, p. 10), a constituição do homem se dá pela compreensão de como a singularidade se constrói na universalidade e, ao mesmo tempo e do mesmo modo, como a universalidade se concretiza na singularidade, tendo a particularidade como mediação.

    Levando em consideração que o jovem se pauta pela busca do que é novo para construir sua história, Vygotsky (1996) advertiu que na idade juvenil ocorre o ápice do desenvolvimento das funções intelectuais, ou seja, nesse momento o sujeito é capaz de transformar com plenitude um objeto concreto em um conceito abstrato, um pensamento em um conceito, processo indispensável ao desenvolvimento da individualidade. Desse modo, a passagem ao pensamento por conceitos é o passo decisivo, na idade juvenil, para o desenvolvimento da personalidade e da concepção de mundo do indivíduo (VYGOTSKY, 1996, p. 198).

    A temática abordada leva-nos a acreditar que este trabalho aportará valiosas contribuições tanto no campo da teoria e da metodologia da pesquisa como no campo da formação e prática dos acadêmicos e os estudantes de todos os níveis encontrarão aqui uma fonte importante de informação.

    Ivoni de Souza Fernandes

    PREFÁCIO

    Esta pesquisa vincula-se aos estudos sobre a temática da juventude, que, desde o final do século passado, têm se fortalecido no sentido de ampliar e aprofundar as investigações acerca do universo juvenil, marcado pela diversidade de agrupamentos e organizações, pelas diferenças de classes sociais, diferenças étnicas e religiosas, peculiaridades regionais e de gênero. Nesse sentido, também considera os jovens como agentes sociais historicamente situados, portanto, como produtores de sentidos e significados.

    Destaco o percurso metodológico empreendido por esta investigação, nomeado pela Profª Drª Maria Cecília Minayo de triangulação de procedimentos: questionário, entrevistas individuais e grupos focais. Participaram da pesquisa inicialmente 429 estudantes regularmente matriculados (responderam ao questionário) e na sequência foram selecionados 12 jovens universitários (seis do curso de Medicina e seis do curso de Direito) para participar das entrevistas individuais e do grupo focal. Essa riqueza e complexidade de informações, oriundas do conjunto desses sujeitos, possibilitaram à autora a análise do seu objeto de estudo que resultou neste trabalho.

    A pesquisa expressa também o esforço coletivo empreendido pelo Núcleo de Pesquisa da Infância, Adolescência e Família, que desde 1999 tem se dedicado a estudar e a pesquisar aspectos psicossociais acerca da infância, adolescência e juventude contemporâneas, tais como: trabalho infantil, violência física, psicológica e sexual, abandono, exploração sexual comercial, subjetividade e vínculos familiares. Também desenvolve estudos e pesquisas a partir da temática da violência e suas interfaces com a saúde, educação e direitos sociais.

    Coube a mim, nesse processo, o privilégio de orientar a autora desta pesquisa. E o fiz imbuída do lugar teórico-metodológico que ocupo no campo da Psicologia Sócio-Histórica, no qual a concepção de ciência e de produção do conhecimento fundamenta-se nas reflexões teóricas de Lev Seminovitch Vygotsky (1896-1934), psicólogo russo, conhecido pelo seu esforço em superar os reducionismos teóricos da psicologia da sua época, baseados em dicotomias como objetividade-subjetividade, homem-sociedade e significado-sentido. A adesão de Ivoni Fernandes a essa perspectiva teórica foi fundamental para a realização da pesquisa.

    Formulo meus agradecimentos pelo honroso convite para prefaciar este livro. Tê-la como orientanda ao longo de quatro anos possibilitou-me uma convivência significativa, intensa e profunda, bem como o grande compromisso que teve com a realização da pesquisa. O universo empírico extenso que a pesquisa abarcou não a fez desanimar, pelo contrário, foi uma operária que trabalhou incansavelmente, buscando apreender das falas dos jovens as dimensões subjetivas investigadas. Fez deste trabalho o exercício daquilo que C. Wright Mills nomeou tão sabiamente de artesanato intelectual.

    Uma pesquisa não se encerra em si mesma, suas conclusões devem ser compreendidas como um convite a novos estudos, que possam ampliar o conhecimento, ainda mais quando se trata de um fenômeno de intensa complexidade, que revela uma teia de relações atravessadas por aspectos históricos, sociais, políticos, econômicos e psicológicos. É preciso que mais pesquisas abarquem esse universo, a fim de contribuir para a compreensão da multifacetada realidade dos jovens na sociedade contemporânea.

    Por fim, deixo o convite à leitura do livro. Certamente, ele será capaz, por si só, de dizer muito mais do que foi possível transmitir até aqui.

    Profª Drª Sônia M. Gomes Sousa

    Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia

    Pontifícia Universidade Católica de Goiás

    LISTA DE ABREVIATURAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    Perspectiva sócio-histórica de juventude

    O método de estudo

    Procedimentos metodológicos utilizados

    Questionário

    Entrevista individual

    Grupo focal

    Estrutura da pesquisa

    capítulo 1

    JOVENS UNIVERSITÁRIOS: DIMENSÕES SOCIOECONÔMICAS, FAMILIARES E CENÁRIO CULTURAL-ACADÊMICO DOS SUJEITOS PESQUISADOS

    1.1 Contextualização das famílias dos sujeitos pesquisados

    1.2 Perfil dos jovens pesquisados

    1.3 Percurso acadêmico dos sujeitos pesquisados

    1.4 Vida universitária dos jovens pesquisados

    1.5 Dimensões subjetivas

    1.6 Sujeitos entrevistados

    capítulo 2

    SOCIEDADE E FAMÍLIA: ESPAÇO DE PODER E MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO

    2.1 Sociedade: significados atribuídos

    2.1.1 A sociedade em suas relações de proximidade e seus atravessamentos

    2.1.2 Sociedade: o estabelecimento de uma crítica

    2.2 Os significados e os sentidos atribuídos à família

    2.2.1 Família: importante espaço de socialização

    2.2.2 Escolarização dos pais e apoio aos filhos

    2.2.3 Importância que atribuem aos estudos

    2.2.4 Vivência familiar: sentidos atribuídos à família

    2.2.4.1 Francisco

    2.2.4.2 Davi

    2.2.4.3 Daniela

    2.2.4.4 Juliana

    2.2.4.5 Joyce

    2.2.4.6 Gabriela

    2.2.4.7 Adriana

    2.2.4.8 Victor

    2.2.4.9 Eny

    2.2.4.10 Levi

    2.2.4.11 Paula

    2.2.4.12 Luciana

    capítulo 3

    O PERCURSO ACADÊMICO E O CONHECIMENTO ATRIBUÍDO PELOS SUJEITOS À SUA FORMAÇÃO

    3.1 Trajetória escolar: o que mais marcou a minha vida estudantil

    3.2 Decisão: a escolha do curso

    3.3 Significado de fazer um curso superior

    3.4 Leitura: ampliação do conhecimento 

    3.5 Formação acadêmica: espaço de valorização mediado

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Eleger como tema de estudo a juventude é uma forma de participar do debate contemporâneo sobre o sujeito jovem, assim como de contribuir para que esse debate efetivamente inclua as diversas e complementares juventudes existentes na atualidade.

    A escolha desse tema deu-se especialmente por três razões. Inicialmente, por entender a relevância de estudar a temática da juventude tendo como base a psicologia sócio-histórica. Em segundo lugar, pelo interesse em compreender como esses jovens são constituídos no contexto universitário contemporâneo. E, finalmente, para tentar apreender os sentidos e os significados que os estudantes pesquisados atribuem à formação recebida, assim como a outras dimensões de sua existência.

    A presente investigação teve como propósito estudar essa temática de modo a apreender o sentido atribuído pelos jovens estudantes à sua formação universitária e tentar romper com o senso comum que rotineiramente associa jovem/juventude com problemas/dificuldades. O intuito foi justamente provocar a discussão sobre juventude a partir do jovem que, pelo menos pela aparência do ingresso e da permanência no ensino superior, obteve o sucesso do ingresso, se sente integrado e não apresenta grandes dificuldades para permanecer em seu processo formativo.

    Outra causa que despertou meu interesse pelo tema foi a experiência como orientadora educacional, desenvolvendo trabalho de acompanhamento escolar. Durante esse período de atuação na área, tive a oportunidade de atender jovens de ambos os sexos que procuravam orientações para melhor compreender suas vidas.

    No decorrer do atendimento a estudantes de escolas públicas estaduais, várias temáticas associadas à vivência da própria juventude frequentemente apareciam, tais como: dificuldades de relacionamento com pais, irmãos, professores e colegas de sala; inquietações, principalmente em sala de aula; angústias, depressão e conflitos amorosos. Um fato importante a ser levado em consideração é que a maioria dos jovens atendidos fazia parte de classes sociais populares, enquanto os jovens da Universidade Federal de Goiás (UFG), sujeitos desta pesquisa, pertencem a classes sociais mais privilegiadas. Esse aspecto é relevante, pois vem ressaltar que a juventude não é igual para todos, já que as condições sociais, econômicas e culturais interferem ou influenciam na própria vivência/experiência do que é ser um jovem ou ter uma juventude.

    A participação em pesquisas qualitativas, somada à experiência de orientadora educacional com jovens, levou-me ao desejo de investigar a temática da juventude em uma perspectiva qualitativa, como uma busca pessoal e profissional, no sentido de obter mais subsídios que me possibilitassem ocupar um lugar mais crítico no campo do debate sobre a juventude. Ademais, esta é uma tentativa de colaborar não só para a melhor compreensão desse grupo social, como também de contribuir com os profissionais que, de modo geral, têm a juventude como tema de investigação, assim ampliando o debate e a compreensão científica sobre o assunto.

    Nesse trabalho, tive o propósito de buscar respostas para o seguinte problema de pesquisa: quais os sentidos e os significados atribuídos pelos estudantes de Medicina e Direito à sua formação universitária? Durante a investigação, estudou-se a juventude não como uma fase natural do desenvolvimento humano, mas como fenômeno construído social e historicamente.

    Importante esclarecer que o problema de pesquisa não foi a juventude propriamente dita, mas sim o sentido atribuído pelos jovens estudantes pesquisados à sua formação universitária. A concepção de juventude adotada nesta pesquisa serviu como pano de fundo para o estudo, tanto do ponto de vista teórico como metodológico. Sendo os sujeitos da pesquisa jovens, faz-se imprescindível ter uma compreensão da juventude como fenômeno social.

    Para sua consecução, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: compreender

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