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02/07/2007
Entendo que isso é natural. É difícil que o cidadão comum, que paga
seus impostos em dia e que tenta ensinar aos seus filhos a ética do
trabalho e o valor da honestidade, se convença que ele pode ser, também,
em parte, responsável pelos problemas fiscais do país. Entretanto, é disso
que se trata. O gasto primário do governo central, excluindo as
transferências, passou de 11,1 % do PIB em 1991, para uma estimativa
de 17,8 % do PIB em 2007. Estamos falando de uma variação de mais
0,4 % do PIB de gasto, em média, a cada ano, durante 16 anos. Desse
"delta" de quase 7 % do PIB de gasto a mais, 3,9 % terão sido de maiores
despesas do INSS; 1,3 % do PIB de incremento do gasto com
aposentadorias dos servidores federais; 0,6 % do PIB de LOAS; e 0,5 %
do PIB com Bolsa Família. Sempre tivemos problemas com corrupção
no Brasil e é obviamente correto imaginar que, se tivéssemos instituições
eficientes para punir, disporíamos de mais recursos para atividades
essenciais. Não foi a corrupção, porém, que gerou esse boom de gasto
público no Brasil nos últimos 15 anos. Todos temos direito à indignação
pelo desvio de recursos públicos no Brasil e que, entra governo, sai
governo, continua se sucedendo no que está se tornando tristemente o
país da impunidade. No entanto, daí a considerar que nisso reside a causa
do aumento do gasto público no país, há uma longa distância.
04/07/2007
Os mitos
sobre a
Previdênc
ia Social
Propos
tas
para a
Previd
ência
(I):
idade
mínim
a
Começamos hoje uma série de dez artigos com propostas do que pode
ser encarado como uma espécie de "decálogo previdenciário" no debate
sobre a reforma da Previdência Social. Os dez pontos são: idade mínima;
aumento progressivo da idade mínima; redução da diferença homens-
mulheres; aumento da idade de quem se aposenta por idade; extensão do
período contributivo; transformação dos benefícios rurais em
assistenciais; fim da pensão integral; extinção do regime especial dos
professores; indexação de todas as aposentadorias ao INPC; e aumento
da idade de elegibilidade para o LOAS.
O tema de hoje é a idade mínima. Peço ao leitor que avalie exatamente o
que está sendo proposto, para evitar erros de interpretação. Eu tomo
todos os dias o ônibus para ir ao trabalho, no Rio de Janeiro. Ao passar
por Copacabana, de manhã, constato que no calçadão há muitas pessoas
de meia idade, em torno dos 55 anos, provavelmente aposentadas, com
uma disposição invejável - e louvável - para usufruir a vida. Deduzo que
se trata de aposentados porque a essa hora as ruas estão cheias daqueles
que vão trabalhar. Faço um outro pedido ao leitor: lembre que não há
nada de pessoal nos comentários. Passei os melhores anos da minha
juventude em Copacabana, tenho ótimas lembranças daquela época e, se
as regras não mudarem, eu serei um desses idosos, pois vou poder me
aposentar aos 57 anos. O problema é que no Brasil as pessoas nessa
idade têm uma expectativa de vida próxima à dos países desenvolvidos,
mas se aposentam 8 ou 10 anos antes em relação às pessoas dessa faixa
etária naqueles países.
22/10/2007
19/11/2007
Este nosso quinto encontro sobre as propostas de reforma da
Previdência é sobre outro parâmetro que deveria ser
modificado: o período de contribuição para se aposentar pelo
INSS. Soa antipático tratar da uma situação que na maioria dos
casos individuais envolve valores modestos dos benefícios. O
problema é que, no conjunto, o gasto do INSS é a maior fonte
de despesas do setor público e, na raiz do problema, estão
regras que, em relação ao resto do mundo, são extremamente
benevolentes.
Nos meus tempos de economista do BID, no início da década
de 90, eu trabalhava com a Venezuela e estávamos lidando
com uma consultoria técnica para a adoção do Imposto sobre o
Valor Adicionado (IVA) em momentos em que o preço do
petróleo se encontrava em patamares muito baixos e o país -
tradicionalmente petróleo-dependente - passava por
dificuldades fiscais. Um episódio curioso que vivi naqueles
anos foi quando a missão tomou um táxi e os membros dela
conversavam sobre as idiossincrasias locais e a dificuldade de
conseguir que um país acostumado a viver da receita do
petróleo admitisse a idéia - prosaica no resto do mundo - de
que as pessoas deveriam ser taxadas. Simplesmente, o
motorista de táxi se virou para nós, furioso e começou a
trovejar impropérios contra "os técnicos estrangeiros que
querem impor ao país modelos que podem fazer sentido nos
seus países, mas que não de adaptam à nossa realidade". E
isso porque se tentava colocar em prática um imposto que o
Brasil tinha implementado 30 anos antes!
17/12/2007
11/02/2008