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A perda da aurola

Eia! qu! tu aqui, meu caro? Tu, num lugar reles! tu, o bebedor de quintas-essncias! tu, o saboreador da ambrsia! Na verdade, h nisto qualquer coisa que me surpreende. Meu caro, conheces o meu pavor dos cavalos e das viaturas. H pouco, ao atravessar o boulevard a toda a pressa, e ao saltar na lama atravs desse caos movimentado onde a morte avana a galope de todos os lados ao mesmo tempo, a minha aurola, num movimento brusco, caiu-me da cabea no lodo do macadame. No tive coragem para a apanhar. Julguei menos desagradvel perder as minhas insgnias do que partir os ossos. E depois, disse comigo mesmo, h males que vm por bem. Agora posso passear incgnito, fazer ms aces, e entregar-me crpula, como os simples mortais. E eisme aqui, semelhante a ti, como vs! Devias ao menos mandar anunciar essa aurola, ou faz-la reclamar pelo comissrio. Por coisa alguma! Acho-me bem aqui. S tu me reconheceste. Para mais, a dignidade aborreceme. E tambm penso com satisfao que algum poetastro a vai apanhar e cobrir-se com ela impudentemente. Fazer algum feliz, que alegria! e sobretudo um feliz que me far rir! Ora pensa em X ou em Z! como ser divertido!

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