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O avio e o gavio

O gavio obrigou o avio a descer em furiosa algazarra, pois viu nele um outro gavio s sem o g da sua garra. O gavio sempre andou a procurando de outras aves em suas caadas. Mas por causa do avio as crianas amanheciam acordadas. Por causa do avio os homens provindos de dois hemisfrios se faziam flores de espanto em seus abrigos anti-areos. O gavio matutino e cruel era no ar um avio de penas, no tinha estrelas sob as asas, era um cruel gavio, apenas. o grande p!ssaro de metal armado de metralhadoras "ogava a morte sobre a terra sob a forma de estrelas voadoras. Mas agora ei-lo caido e imvel, ou por#ue "! estava ferido #uando o gavio o fez descer ou por#ue caiu convencido. "! trinta crianas grandes, tatuadas e de n!degas nuas danaram durante tr$s luas em torno a#uele gavio morto. Por certo #ue a prpria inoc$ncia mudou de significao, como muda um bu#u$ de hort$ncia entre um avio e um gavio. %em h!, apenas, #ual na f!bula, an"os cruis por inocentes, os #ue se comem uns aos outros& h! inocentes diferentes' O inocente em estado de flor, o inocente por sua nudez, o inocente por falta de culpa, o culpado pelo #ue no fez. (n"os, afinal, todos ns somos, ns, heris da Ordem da )osa. *ue os fatos de ho"e reduziram a inoc$ncia mais dolorosa... Mas ali, na floresta, o #ue havia era a#uele avio ou, antes, a#uele g+avio abatido ainda com as ventas fumegantes. ,m avio a #ue -. antropfagos, filhos de nenhum analfabeto, acrescentaram o /g0 da garra como num cdigo secreto. 1rinta an"os #ue, durante tr$s luas, danaram, rubros como brasas, sem lhe ver o significado nem o por#ue das suas asas. 2caro estaria chorando sobre a#uela ave fabulosa, os p!ssaros cantavam, em bando, na tarde de cristal e rosa. Mas, os trinta an"os, sob um sol ora geomtrico, ora torto, danaram em redor do avio como em redor de um gavio morto.

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