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de que o trabalho do artista est na sua habilidade de escolha do material e do suporte para se comunicar. O tema se consolida como uma rede de grandes efeitos, cujas causas cabem ao espectador, ele deve imaginar e escolher. A atividade de organizao do olhar sobre as obras parece se distanciar dos meios oficiais, acadmicos e crticos, na direo da sensibilidade individual, forjada na auto-exposio voluntria s manifestaes artsticas e na vivncia dos estmulos difusos da convivncia social. O espectador foi paulatinamente sendo liberado do conhecimento histrico e estilstico, uma vez que a sua sensibilidade e percepo se tornaram as bases da fruio, mais concretas e pertinentes, j que ele deve completar a obra. Um duro efeito de isolamento est em processo: o espectador no se atira obra, ao contrrio se coloca diante dela numa distncia segura, para que ela no o envolva, no o faa desenvolver associaes e cruzamentos. Apenas a contemplao gil e assptica, nada comprometedora. Uma imaginao que v e no compartilha. O projeto da abstrao (TREVISAN, 1988:33) de atingir a universalizao, e por isto excluir a emocionalidade, que estaria ligada individualidade, revelou uma frmula cruel: a obra passa a ser constituda de recursos de sugesto, o espectador estimulado a deflagrar em sua mente uma imagem pessoal relativa a ela, e isto, nos tempos atuais, ao invs do reconhecimento e da troca, implantou a desiluso, a insegurana. Isolados nas percepes individuais, os espectadores no vivem dilogos com ou sobre as obras. A desmaterializao do tema e das relaes coletivas est paralisando o espectador, e o artista. Como Obaluai, danam escondendo sua sensibilidade, se limitando ao silncio ou s aparies discretas e fugidias. A solido sua proteo contra as perguntas, mas os impede de usufruir do prazer.
TREVISAN, Armindo. A Dana do Sozinho. SP. Perspectiva. 1988. VIRILIO, Paul. A Arte do Motor.Traduo Paulo Roberto Pires.SP. Estao Liberdade. 1996.