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Projecto de Intervenção.

Jornada Lorca

YERMA
“A imagem da fecundidade castigada com a esterilidade”

Federico Garcia Lorca comemoraria 110 anos em 2008. A sua “Yerma”,


poema trágico, na classificação do poeta, foi escrita e posta em cena em
1934 com sucesso e escândalo proporcionais. “Yerma” e Garcia Lorca são
os motes deste Projecto de Intervenção do 4º ano do Curso de Teatro e
Educação da ESEC: menos pelo destino trágico que lhes foi imposto, mais
pela plenitude da vida que sublinharam e alardearam, tendo o palco como
bandeira.

Tomando a vida do artista como inspiração e rastro, engendramos estes


momentos, estas tertúlias a ambicionar um território de encontros dos
muitos fazeres e fazedores reunidos numa jornada a trocar um poema por
uma canção, uma cena por uma crónica, um esboço por uma dúvida, outra
canção e mais um poema. São, em suma, encontros despretensiosos: não
vá aqui se pensar que havemos de produzir resultados, estruturas,
organizações e documentos. Aprendizes do ofício e da vida, ao abrigo e
incentivo da singularidade deste curso e desta escola, tentamos reproduzir
uma prática fértil dos artistas à época: a do reconhecimento de um espaço
multiterritorial que ultrapassando as diferenças e as paredes de cada
fazer, nos baptiza a todos como da mesma tribo, fruto do imaginário das
cidades e do tempo em que convivemos e, portanto, com elas implicados e
misturados.

A escolha, pois, do poema trágico como instrumento cénico do nosso


Projecto de Intervenção dá-se sob a inspiração da protagonista de Garcia
Lorca. Na procura do filho tão ardentemente desejado, o caminho de
“Yerma” é entender os porquês do não, seja da terra infértil porque
conformada ao dia-a-dia do jeito que se apresenta, sejam os porquês da
esterilidade (ou de uma fertilidade artificial) que não gera em todos e em
cada um, revolta, insubmissão, desconforto.

A tragédia clássica é um impedimento colectivo gerado pelos deuses. Mas


se na contemporaneidade os deuses esvaziaram os céus, quem agora os
usurpa? O filho interdito que é símbolo e metáfora à cena ditatorial,
agrária, moralista e atrasada da Yerma de 1934, deveria hoje no tempo da
nanotecnologia, dos telemóveis, da moderníssima e sofisticada
comunicação social, dos processos democráticos consolidados, nascer forte
e robusto. Se é verdade que não há deuses que o impeçam, nos tempos
que correm, a peça haveria de ter seus motivos superados. Ainda mais
sendo a protagonista, parte de uma elite mediana, vivendo
confortavelmente, usufruindo à larga dos bens de consumo e comunicação
terrenos e capitais. Mas o céu, agora habitado por antenas e valores
virtuais, sonha-se a si próprio e sonha por nós, função de que nos aliviou,
enquanto docemente nos vigia. Assim, a privação do filho tão desejado, já
nem deveria existir, já que o filho é parte de um imaginário cauterizado, no
desfiar dos dias que se encadeiam uns iguais aos outros, onde não há
futuros melhores a pensar. “Yerma”, hoje, deve abdicar da sua capacidade
de indignação, de surpresa, de sonho: deve parar de imaginar, esterilizar-
se, resignar-se. O futuro é hoje e a história acabou?!!!!
Esta é a tragédia.

A fertilidade artificial, engendrada por e a interesse de poucos, têm-nos


arrancado, aos muitos, as capacidades de convívio, de fantasias e de dores
colectivas. Assim, a vida vai ficando estúpida e sem força para gerar,
procriar, prover. Sem arte. Que é filha da providência e da dor, e mãe da
necessidade. A poesia do ser é “Yerma”. A sua capacidade de interrogar-se
é a que quisemos fazer nossa.

Marco Antonio Rodrigues,


Joana Mattei
O Teatrão
Elenco
Equipa de criação de “Yerma”
Ficha Técnica e Artística:

Autor: Federico Garcia Lorca


Encenação: Marco Antonio Rodrigues
Espaço Cénico: Marco Antonio Rodrigues e José Baltazar
Preparação Corporal/Gestual e Assistência de Encenação: Joana Mattei
Desenho de Luz: Francisco Beja
Figurinos: Helena Guerreiro
Adereços e Montagem Cenário/Maquinaria: José Baltazar
Fotografia: Paulo Abrantes
Grafismo: Sofia Frazão
Costureira: Fernanda Tomás
Operação de Luz: Jonathan Azevedo
Operação de Som: Filipe de Gois
Elenco: Ana Sofia Neves, Ana Teresa Neto, Cátia Agria, Emília Fernandes, Frédéric
Pires, Helena Ávila, Helena Freitas, Patrícia Martins, Rita Nanita, Rui Raposo, Telma
Piedade
Direcção de Produção: Isabel Craveiro
Produção Executiva e Intervenção: Ana Sofia Neves, Ana Teresa Neto, Cátia
Agria, Emília Fernandes, Frédéric Pires, Helena Ávila, Helena Freitas, Patrícia
Martins, Rita Nanita, Rui Raposo, Telma Piedade
Coordenação Divulgação: Inês Almeida
Produção Gráfica: Margarida Sousa
Legalidades: Ricardo Brito
Direcção Técnica: Jonathan Azevedo
Produção: ESEC/ O TEATRÃO 2007
13 Fev 14 Fev 15 Fev 16 Fev 17 Fev 19 Fev
4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira Sábado Domingo 3ª Feira

20h00 20h30 20h30 20h30 20h30 20h30


Discurso de Discurso de Discurso de Discurso de Discurso de Garcia Discurso de Garcia
Garcia Lorca Garcia Lorca Garcia Lorca Garcia Lorca “Arte Lorca “Arte acima de Lorca “Arte acima
“Arte acima de “Arte acima de “Arte acima de acima de tudo” tudo” lido por de tudo” lido por
tudo” lido por tudo” lido por tudo” lido por lido por Isabel Fernando Taborda António Fonseca
Isabel Craveiro Ricardo Brito Ricardo Brito Craveiro
20h30 21h 21h
Cena Lua e 21h 21h 21h Jovens ciganos Alunos do 2º ano de
Feiticeira de Manuel Guerra Cena Lua e Cena Lua e cantam poemas de TE lêem poemas de
Bodas de lê poemas de Feiticeira de Feiticeira de Lorca c/ caixas Lorca
Sangue – Garcia Lorca Bodas de Bodas de Sangue flamencas
Alunos 3º ano Sangue – – Alunos 3º ano 21h30
TE 21h30 Alunos 3º ano TE Espectáculo “Yerma”
21h Espectáculo TE 21h30
José Cid canta “Yerma” 21h30 Espectáculo “Yerma” 23h30
poemas de Espectáculo Discussão
Garcia Lorca 23h30 21h30 “Yerma” 23h30
Discussão c/ Espectáculo Discussão c/ Fernado
21h30 alunos de “Yerma” 23h30 Taborda - Bonifrates
Espectáculo Teatro e Discussão c/
“Yerma” Educação 23h30 Teatro Sardanisca
Discussão de Bruscos
23h30
Discussão
C/ Clube de
Teatro de
Condeixa
20 Fev 21 Fev 22 Fev 23 Fev 24 Fev
4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira Sábado Domingo

20h30 20h30 20h30 20h30 20h30


Discurso de Discurso de Discurso de Discurso de Discurso de Garcia
Garcia Lorca Garcia Lorca Garcia Lorca Garcia Lorca “Arte Lorca “Arte acima de
“Arte acima de “Arte acima de “Arte acima de acima de tudo” tudo” lido por Isabel
tudo” lido por tudo” lido por tudo” lido por lido por Ricardo Craveiro
António António Ricardo Brito Brito
Fonseca Fonseca 21h
21h 21h Cena Lua e Feiticeira
21h 21h Cena Lua e Manuel Guerra lê de Bodas de Sangue –
José Cid canta Alunos de Feiticeira de poemas de Garcia Alunos 3º ano TE
poemas de Música ESEC Bodas de Lorca
Garcia Lorca Sangue – 21h30
21h30 Alunos 3º ano 21h30 Espectáculo “Yerma”
21h30 Espectáculo TE Espectáculo
Espectáculo “Yerma” “Yerma” 23h30
“Yerma” 21h30 Discussão
23h30 Espectáculo 23h30
23h30 Discussão “Yerma” Discussão
Discussão c/ Amadores de
c/ Grupo 23h30 Pereira do Campo
Amador de Discussão c/:
Teatro de Máfia
Taveiro Encerrado para
Obras
Teatro Amador
de Sobral de
Ceira

A Jornada Lorca começa diariamente às 20h. No foyer do Museu dos Transportes


existirão dois espaços distintos, aquele que inclui a bilheteira terá continuamente a
passar em projecção alguns documentários sobre o autor. Existirá ainda algum
material para consulta. Na outra parte do foyer recriaremos um pátio andaluz, com
um fontanário, muitas flores e comida. Um ambiente informal onde se pretende a
participação de todos antes e após o espectáculo “Yerma”.

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