You are on page 1of 3

de 2 dez.

2008
do caroo de uma hora
extra a substncia vtrea
oleosa
fugaz como a vontade
etrea como a sensatez
em nenhum recipiente
pude cont-la a contento
escapava sempre um tanto
s vezes
dobrava de tamanho
aos poucos
s gotas
preencheu o espao
to meu conhecido
era sedutora
envolvente
a bruma que nascia
pois era bruma
era um vapor invisvel
que fez sumir as paredes
a paisagem da janela
os hbitos convenientes
e os meus ps
se ainda lembrava o que eram
fiquei sem v-los
deixei-me
entregue essncia do caroo
das horas
inalei
comi
bebi
despi-me
despido
cobri-me
com ela
no era dor
era antes um frio
das pontas dos cabelos at
a boca do estmago
enredou-me
vivia dentro e fora de mim
impossvel conter
quando
do fundo da garganta
nasceu o ltimo murmrio
a coisa cristalizou-se
virou gelo
rocha
diamante
vidro
era o vidro em mim
o vidro das horas
o vidro das razes do tempo
de toda rvore vtrea que
o tempo
da seiva vtrea
sangue do que no se v
era o vidro em mim
no mais nas horas
preenchendo os vos entre as partculas da poeira
do tecido
das estrelas
era o vidro em mim
deixou de ser primordial
ou quintessencial
era em mim
era eu
como prprio das coisas nascidas
ou tiradas da rvore que d os frutos do tempo
o vidro que tinha
a mim cristalizado
sumiu
voltaram as roupas
as paredes
as janelas
a paisagem
os sapatos
da essncia das horas
restou s
uma gota
que escorreu
pela
testa
at
a ponta do nariz
intempestiva
decidida
livre
lanou-se no
espao
num mergulho que s eu percebi
at o choque derradeiro contra o piso
sa
fechei as janelas
tranquei as portas
segui como pude
[vivo como consigo]
ainda intocada
no piso onde caiu a ltima gota
da substncia vtrea
oleosa
extrada do caroo
de uma hora
uma esperana
de uma outra rvore
com um tempo distinto
misturado
a um tanto de poeira
dessa poeira que sou eu

You might also like