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PLANO DE AULA Cultura e aprendizagem y historica ‘Sdo intimeros os significados ra iaetmorealrerse Diss 2"; *O que fez 0 Marqués de Pom- ;“O que disse D, Pedro ao receber atribuidos G palavra cultura. O sentido que nos interessa neste See momento € aquele ligado a respondera estas questdes, No entanto, elas, de uma forma ou de outra, nos fo- antropologia que associa a cultura —_ ‘am-olocadas durante nosso processo de aprendizagem histérica na escola aum conjunto de comportamentos Para tais questées nao havia altemat va: a grande tarefa dos estudantes era e valores compartilhados por transcrever ~ ou “achar’, como dizem determinado grupo social ainda hoje ~ ipsis liters as tac" do livro didético ¢ depoie memorizéclas para 0 dia dos exames. Convenhamos que estudar assim, sem estabelecer relagao de significagao ‘com a nossa propria vida, é muito chato € que a maioria dos conhe- cimentos aprendidos estava destinada, mais cedo ou mais tarde, ao esquecimento, Nascida sob a égide da conso- lidacao do estado-nagao, a historia ensinada nas escolas vem passando por grandes ransformagées. Aquele ensino, centrado nos heréis patrios nas datas civicas ¢ religiosas, que tinha por objetivo criar ou fortalecer uma unidade cultural dentro de um ‘mesmo territ6rio - ou melhor, formar e 1st» junhoyjuho 2006, na escola Ber an Cris Moreno, Meson Hie snp an, ecalnen gage rane conformar a Nago -ainda permanece, em muitassituagdes, como resquicio de uma tradigdo escolar que muda muito lentamente. Todavia, na atualidade, pro- fessores © pesquisadores do ensino de historia procuram construir, na pratica cotidiana, uma outra visio que busca utilizar os conhecimentos hist6ricos no intuito de ajudaro alunoaentendera si mesmo e ao mundo que o cerca, além de formaras estruturas de base para que possa continuar sua aprendizagem, Se, na atualidade, podese falar de uma alfabetizag3o no sentido da util zagao social da competéncia alfabética, de uma alfabetizagao estética, uma alfabetizagao matematica ou de uma alfabetizacao cartografica, nos & pos- sivel propor uma alfabetizacao social, sob a dtica das priticas sécioculturais, para a qual as aulas de histériatém uma. contribuigao fundamental a oferecer. Busease, entio, no maic um pascado ‘mort’ a ser venerado, mas uma rear- ticulagao de aspectos de um passado ‘que estao sempre presentes nos diversos ‘espagos ou grupos de convivéncia: na escola, na familia, nas relagdes de tra- balho, na comunidade, nas.praticas de lazer, ete. Desta forma, para entender as intimeras possibilidades de estabe- erortne wien moreso lecer relagio entre passado e presente, langase mao de conceitos e nogdes {que ajudam a estruturar 0 pensamento ‘que vao facilitar a contextualizacao e a significayav dus couteddus estudadus. E assim que, dentre tanias possibilidades a nogdo de cultura tomase um opera- dor epistemol6gico essencial para se ensinar e aprender historia no ensino fundamental. Cultura, culturas Sao inimeros os signifi- ccados atribuidos & palavra cultura, O sentido que ros interessa neste mo- mento é aquele ligado & antropologia que associa a cultura a um conjunto de comportamentos e valores compartilhados por determina- do grupo social. Assim, no campo da cultura encontram sc uma vasta gama de possibilidades e experiéncias, humanas que vao das mais simples posturas corporais aos valores sociais mais abstratos. £ neste propésito que po- demos afirmar que nao existe nenhum ‘serhumano sem cultura, Esta perspectiva sobre a cultura colocouse mais em evidéncia nos meios educacionais brasileiros com a incorporacao do tema transversal Pluralidade Cultural aos Parametros Curriculares Nacionais, em 1997. Com 1 intully de fazer Jes diferesigas algo Positive para o processo escolar, os PCNs recomendavam 0 estudo das diversas manifestagdes étnico-culturais que compoem a sociedade brasileira, sem esquecer das desigualdades sociais eraciais que, em tltima instancia, deter minam a valoragio de lum ou outro aspecto cultural, No enter to,como se ensina principalmente “aquilo que se 6, a intengao, embora possa se detectar muitos avangos, acaba esbar- rando, ainda hoje, na pré- ria tradigdo escolar envolta de etnocentrisino, ainda que inconsciente, na qual uma cultura é apresentada como a Gnica aceitavel correta, E neste sentido que poucos esforcos em favor da abordagem cu- tural conseguem escapar dos estere6- ipos e da caricatura das tradigdes de um povo. Gf0.0¢B rast « junhofuto 2006 Neste sentido, a abordagem cultural, que ainda buscamos, acaba se tornan- do uma chave para a compreensio da propria condicao humana e do enten- dimento de alunos e professores como sujeltos sécio-culturais. Eassim que estu- daras diversas culturas, no passado eno presente, como um outro “diferente” nos faz pensar em nés mesmos e em nossos préprios valores. A capacidade de ter espanto ou perplexidade com nossos alos mais corriqueiros -e que nos pare- ‘cem mais naturais— pode si verdadeira revolugao na viso que se const ificaruma jobre os outros e sobre si mes- mo. A nogao de cultura, pensada desta ‘maneira, contribui para a formacao de um olhar indagador perante o mundo capaz de questionar os seus proprios valores ¢, a partir disso. aprender a ler as varias histrias presentes nos hébitos alimentares, nas maneiras de se vesti, de construir moradias, de organizar 0 espaco pablico, etc. Isso nos faz, também, considerar que somos todos di- ferentes ¢, a0 mex mo tempo, muito parecidos, pois estamos inseridos em redes de comportamentos e simbolos as quais damos o nome de culturas, £ isto mesmo: culturas no plural! Somos seres multtidentitarios. Pertencendo a lum grupo ou sociedade manipulamos diferentes formas de pensamento her- 14 | GitnceBrastt junhajuto 2006 dadas ou cansentidas, em sua maioria, inconscientes. Ganhamos com esta constatagao a possibilidade de esta- belecer valores como a tolerancia e 0 respeito matuo. Emais: ao voltarmo-nos para nossa propria sociedade e observé- la por outros angulos, ganhamos maior cconsciéncia de que grande parte dos rnossos habitos e valores é construfda historicamente e, porisso, ¢ passivel de mudanga, Resta dizer que ao ressaltara nogao de cultura nas aulas de hist6ria no se pretende apenas salientar as diferencas, retribalizando um mundo jé carente de dialogo, de aceitagdo e compreensio nituas. Ao contrdrio, a dimensao uni versal do ser humano, oriunda do ides rio iluminista, 6 ainda mais acentuada 0 incorporara perspectiva de instaurar ‘maneiras de se conhecer a si mesmo 208 outs. A concepgao de ensino de histéria que intentamos superar, trabalhada ‘como algo exterior aos alunos, algo que nao Ihes diz respeito, acaba, a médio prazo, por gerar atitudes de distancia. ‘mento, indiferenga ou passividade. A Incorporasao de uma perspectiva cul tural 6 um dos elementos que podem nos ajudar a demonstrar que 0 conhe- cimento que tratamos nas nossas aulas de hist6ria diz respeito a vida de cada ume de todos. Perens a mE importante que 0 professor colo- que como um dos objetives no seu planejamento 0 desenvalvimento da nocao de cultura. Desde principio da escolaizacio pode-se trabalhat com as ciangas o que é naturale 0 que é cultural Natural é comer. Comer com garfefacaé cultural. Dormiré natural Dormirem redes & cultural. Os habitos limantares cn im rnote ms ressante para tabalhar este assunto As receitas familiares contam muito da nossa histéra. Culturas diferentes espalhadas portodo o Brasilinterditam alguns alimentos eelegem outros. Com oavancar do processo escolar os estu- dantes poderao comecar a perceber ‘quemuitasdestas escolhas, paraalém dainfluénciado ambiente, tém relacao com 0 desenvalvimenta histérica de cada agrupamento social | Muitas vezes trabalha-se aida de fol Clore na escolacomouma crstalizaga0 ‘temporal de uma cultura que um dia foiviva, Acultura é sempre dinamica. A ‘compreensao das expressoes culturais, ‘seda pela contextualizaea0. 0s cantos, lendas, dancas, jogos, festas eoracdes ‘ganham sentido quando situados em ‘seu contexto, A adaptacao da festa junina, por exemplo, ariginalmente festa paga da colheita ~ mais tarde incorporada da tradicao religiosa em homenagem aos santos Joao, Pedro e Ant6nio ao cantexto brasileira ~ revela muito da nossa rica histria e mistura de tradigbes, Adaptada & nossa socie- dade predominantemente agricola, sala de especialmente & colheita do milho, somada a danga da fuadritha vinda da Europa no séciila 19 @ amalgamada 0s nossosritmos regionais, as festas juninas so um dos, momentes oportunas da tradigao escolar para situar os diferentes significados atribuides aos diversos elementos, culturais em seuscontextos: a fogueira, os baldes,os patos tipicos, as dangas, etc. O estudo das diversas culturas indigenas, igualmente, é ‘momento importantissimo para odesenvolvimenta da nacio de cultura. Nolugar dotracicional Dia do indio’trabalhado,, ‘muitas veres, cama cultura marta, ram imagens dn ining rorte-americanos, do século 19, divulgadas pelo cinema, que tal abordar as diversas manifestagtes culturais vivas presentes em todo teritrio nacional? Sim, pode-se traba- thara presenca dos povos indigenas antes do contato com (0s europeus, mas e hoje como estes grupos estao? Primeiramente ¢ preciso deixar claro que se fala de culturas indigenas, pois se tratam de dversos grupos sociais que trazem tadigbes, valores e formas de se organizar muito diferentes entee si Para entender melhor esta situacio recomendamos alguns sites da internet, de facil acesso, como o do CIMI (wiw.cimi.orgbr) ou 0 do Instituto Sécio- ‘Ambiental (www. socioambiental org), que razem inimeras informagoes que podem ser adaptadas para a sala de aula, ‘A multipicidade de relages com anatureza,com osagrado €€ profano, 0s diversos mitos sobre a origem do universo, da Terra, da vida, 0s ritos de passagem, o nascimento, 0 casamento,etc, quando comparados aosmesmos aspectos daculturatida comolegitima presente em nossa saciedade da0.umaidéta muito clare daquiloquechamamos decultura ‘como.um moda de explicaro mundo ea nds mesmos, ‘Anogaode cutura serve também para abordarasrelagdesde género desde oiniciodo processo de escolarizario.Adivisio senual dotrabalho eos habitos emaneiras de agiratribuidos ‘ao masculinoe.ao feminino variam conforme aculturaeesta constatacdoleva pensar os papéis conferidos @ homens ‘mulheres na nossa propria sociedade. aula Pies: Cast séries) 1m Anocdo de cultura é grande aliada da aprendizagem hist rica de S* 8% séries, mesmo nos curriculos organizados «de maneira cronoldgica. Aprender a ver 0 passade como tum “outro diferente" ajuda 2 evitaras armadilhas do ana: cronismo, Jése disse que “o contexte éum utrotexto" é preciso entioque os alunos percebam que canfiguragdes culturals distribuidas no espaco e no tempo engendram maneiras de ver, de pensar e agir muito diferentes das de sua sociedade, 1m Ao trabalhar temas cléssicos da histria do Brasil como a ocupagae do teritrio nacional ea constituigéo da po- pulagao brasileira € possivel abordar as desigualdades profundas a que foram submetidas as diversas etnias que conviveram historicamente neste terrtério a que hoje chamamos de Brasil e, a0 mesmo tempo, ratar de ‘exemplas de hibridismos, miscigenacao e resistencias que demanstrem que, admitindo ou nao, cuturalmente somos, em maioria afro-brasileiros, amerindios, uso: brasileirs, etc 1m Neste nivel de ensino, além de aprofundar au expandir o que}éfoitrabalhadona 1*a 4" série, pade-se inserros al nos em questdes contemporaneas, como as discussdes que envolvem aidéiade cultura de massas, por exemplo, Neste camino, a proposta é estudar a rearticulagSo de diversos elementos culturais em torno do consumo. Nao faz sentido, ent3o, simplesmente condenar tudo o que os lungs gostam de ouvir ou ver, como se nés professores: vivéssemos isolados do mundo ouvindo Beethoven Trata-seaquideentender a sociedade do entretenimento e de tomar estes elementos cul {urais objeto de estudo em sala de aula, tratando os estudantes como sujeitos capazes de reinter- pretar constantemente 0 que Ihes é oferecido ao consumo. 0@ kro « pooja 208 | 15

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