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...a poesia é o pensamento do poeta escrito com palavras que ganham outros
sentidos numa mancha gráfica harmónica.
Introdução
Esta minha antologia poética consiste nos poemas que escolhi conforme os
meus gostos, preferências e maneiras de ver as coisas.
Também coloquei uma frase da minha autoria para iniciar este trabalho, uma
letra de música, enfim, tentei diversificar o meu trabalho ao máximo.
Florbela Espanca
Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que
não a reconheceu como filha. Porém com a morte de Antónia em 1908, João e
sua mulher Maria Espanca criaram a menina. O pai só reconheceria a
paternidade muitos anos após a morte de Florbela.
Em 1903 Florbela Espanca escreveu a primeira poesia de que temos
conhecimento, “A Vida e a Morte”. Casou-se no dia de seu aniversário em
1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917,
inscrevendo-se a seguir para cursar Direito, sendo a primeira mulher a
frequentar este curso na Universidade de Lisboa.
Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de
Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios
de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a
encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela
segunda vez, com António Guimarães.
O Livro de Soror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto, e
seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário
Lage. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente
e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.
Tentou o suicídio por duas vezes em Outubro e Novembro de 1930, às
vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o
diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de
Dezembro de 1930, utilizando uma dose elevada de veronal. Charneca em Flor
viria a ser publicado em Janeiro de 1931.
Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada,
inquieta, transformando os seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta
qualidade, carregada de erotização e feminilidade.
Ser Poeta
Florbela Espanca
Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Florbela Espanca
Se tu viesses
ver-me hoje à tardinha
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Florbela Espanca
Tarde de mais...
Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...
Florbela Espanca
A vida
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Florbela Espanca
Saudades
Florbela Espanca
Alexandre O'Neill
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
Alexandre O'Neill
O amor
é o amor
O amor é o amor -e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
Alexandre O'Neill
Cesário Verde
Cesário Verde
Eugénio de Andrade
Poeta português, nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia,
Fundão, no seio de uma família de camponeses. A sua infância foi passada com
a mãe, na sua aldeia natal. Mais tarde, prosseguindo os estudos, foi para
Castelo Branco, Lisboa e Coimbra, onde residiu entre 1939 e 1945. Em 1947
entrou para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, em
Lisboa. Em 1950 foi transferido para o Porto, onde fixou residência.
Eugénio de Andrade
Ruy Belo
Ruy Belo nasceu em S. João da Ribeira, pequena aldeia do concelho de Rio
Maior, em 1933. Foi aluno do liceu de Santarém e cursou Direito, primeiro na
Universidade de Coimbra, depois na Universidade de Lisboa, onde se diplomou
em 1956. De partida para Roma, doutorou-se em Direito Canónico na
Universidade de S. Tomás de Aquino. Em Lisboa, viria a frequentar também a
Faculdade de Letras, terminando em 1967 a licenciatura em Filologia
Românica. Além de actividade no domínio editorial, Ruy Belo foi também
professor. Leitor na Universidade de Madrid desde 1971, regressou ao país em
1977, vindo a falecer de modo súbito no ano seguinte.
Luís de Camões
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
que em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.
üa graça viva
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha:
bem parece estranha,
mas bárbara não.
Presença serena
que a tormenta amansa:
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
(popular)
GLOSAS
Mário de Sá-Carneiro
Vinicius de Moraes
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-
se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma
lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia
do mundo que o reflecte. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de
emoção, as que são o património de todos, e, encerrado em seu duro
privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Vinicius de Moraes
Reinaldo Ferreira
Poeta natural de Barcelona, filho do famoso jornalista com o mesmo nome,
que nos anos 20 se celebrizou por assinar as suas peças sob o pseudónimo
«Repórter X». Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os
estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde
se fixou. Colaborou em algumas publicações de Maputo (a então cidade de
Lourenço Marques) e da Beira: Capricórnio, Itinerário, Paralelo 20, etc. A sua
poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus Poemas
(1960). Uma segunda edição, de 1966, vinha acompanhada de um prefácio de
José Régio, que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu largos elogios. A sua
poesia pode ser enquadrada na tendência presencista, encontrando-se também
elementos que a ligam ao simbolismo e ao decadentismo. Se nos seus poemas
imperam a ironia, o niilismo e o absurdo, existe por outro lado um forte pendor
humanista, visível na crítica a certos mitos.
Marta
Marta,
Protagonista da tragédia ideada
E que eu não fiz,
De esperara que eu a criasse,
No meu intuito adormeceu feliz.
Dormiam lá também o sono antigo
Ilda, Miguel,
A lírica Raquel,
E todos quantos
Acham não ser comigo.
Aromas só
E pó antes do pó.
Reinaldo Ferreira
Quem dorme à noite comigo?
Reinaldo Ferreira
António Gedeão
Analise
O poema está organizado em versos, irregulares, ora curtos, ora longos, que
criam ritmo. Para a musicalidade concorrem as aliterações das sibilantes, das
vibrantes, das nasais (“Sem ruído vibram os espaços. / Sobre a areia o tempo
poisa”)
As sensações visuais (“brancos”, “redondas”, “leve”), auditivas (“silencioso”,
sem “ruídos”), de movimento (“agitação”, “abrem-se”, “baloiça”, “avança”,
“dança”, “vibram”, “poisa”) criam imagens do fundo do mar, envolto num certo
mistério.
O porquê?
De um vasto leque de poemas, eu fiz esta escolha, pois foram os que eu mais
apreciei. No geral o tema predominante é o amor, mas também abordei
outros.
Os poemas, de autoria de Florbela Espanca, fascinaram-me não só pela sua
maneira de escrever, utilizando uma variada quantidade de pontuação, como
pelos temas, apesar de eu ter escolhido mais sobre o amor. Florbela tem uma
escrita acessível, de fácil compreensão, o que torna a leitura dos poemas
simples e agradáveis.
Nos de Alexandre O´Neill, gostei da conciliação de uma atitude de vanguarda,
surrealismo e experiências próximas de concretrismo, que se manifestam no
carácter lúdico do seu juízo de palavras. O poema “há palavras que nos
beijam” considerei bastante interessante que “as palavras” estejam a
simbolizar os sentimentos.
No poema de Cesáreo Verde, há uma mulher fatal, trívola, madura,
dominadora, sem sentimentos, com amor próprio; foram os adjectivos que me
chamaram á atenção, pois é o contrário dos poemas de Camões, onde a
mulher é sensível e delicada, o que a torna mais indefesa.
“Urgentemente”, de Eugénio de Andrade, sintetiza as necessidades de
transformar neste muito melhor.
Ao contrário de Florbela, Ruy Belo não usa quase nenhuma pontuação,
abordando um tema muito interessante, o sonho, a imaginação de quando
ainda era uma pequena criança.
Nos de Camões estão presentes o amor camoniano, a beleza da mulher, um
amor não correspondido, indefinível, por uma mulher muito bela serena e
delicada.
No poema que escolhi de Mário de Sá-Carneiro nota-se as ideias do amor de
Camões um amor que faz doer, mas também traz alegria.
O poema “A maior solidão é a do ser quem ama” primeiro tem uma mancha
gráfica diferente, o que me chamou a atenção, e também a mensagem muito
importante que transmite, pois só pode sentir, se existir um vazio.
“Marta”, neste poema achei piada por ter o meu nome, mesmo tendo uma
história triste que a rodeia.
Do poema de António Gardeão gostei logo quando a professora o leu na aula,
sendo uma versão actualizada do soneto “Leonor vai para a fonte”.
O de Sophia retrata o fundo do mar, com descrições visuais, o que faz com que
o leitor consiga imaginar.
Conclusão
Neste trabalho tenho poemas de que gosto mais e menos, mas todos me
marcaram, pois antes de fazer este trabalho não conhecia muitos poetas, mas
agora já alarguei o meu conhecimento poético, não só conheci estes autores
como outros, para fazer a escolha. Este trabalho foi bastante produtivo nesse
aspecto.
O escritor, neste caso escritora, que me marcou mais foi Florbela Espanca.