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LUANDA LITERARIA A VARIAS CORES OTEMA DO RACISMO EM LUANDINO VIEIRA E UANHENGA XITU! ‘Axa LOCI Lots 6 Sat Oracismo¢ um conceito que apresenta diversas definigbes e, quando concretizado za pritica social, entcerra indimeras formas de se manifestat. Em fermos globais, esta ideologia assente nas diferencas (chamadas) récicas prope que hd sociedades inferiores a outras, que sio, assim, desvalorizadas, discriminadas, estereotizadas ¢ no raro coisificadas. Apelo a este conceito de coisfiagic, pois pazece-me bastante enquadrado no tema do racismo, uma vez que serve para egitimar o trabalho (orgado ce escravo. O ser hnumano outro, porque diferente na cor da pele ~ factor central de rejeigio quando se aborda o racismo ~, 6 remetido para uma categoria inferior, & tornado objecto que pode servir, assim, para ser usaclo para proveito de outtem. A t6nica coloca-se, desta forma, na cor da pele e a estratificacdo social dé-se a partir dessa evidéncia, que, em conjunto com outros atributos fisicas e intelectuais, foi genericamente qualificada como maga. Toma este termo, entio, no no sex sentido biol6gico ~ pois nao o tem! —, mas enquanto categoria discursiva, que organiza a -aanifestagio das diferengas fisicamente perceptiveis -em termos de cor da pele ou utras caracteristicas somticas ~ como “marcas simbélicas” distintivas (Hall, 1997: 68), © racismo é, pois, um instrumento usado para organizar o mundoe adquire Particularidades de acordo com o contexto no qual é produzido, evocade at instra- mentalizado, como é 0 caso de universos colonials, independentemente da época ou do espago em que se perpetuem. Em termos de presencas coloniais europeias em Africa, uma caracteristica apontada ao colonialismo enquanto sistema é preisamnente coracismo, que lhe é consubstancial e que visa fundaraimobilidade social, separagio entre pessoas de cores de pele diferentes, com a consequente conslituicaode elites, e 2 justificagao de uma empresa edificadora de povos mais atrasados (cf. Memni, 1973 108; Balandier, 1971:7). Nao pretendo recuperar teorizaco jéefectuada sobreo sistema colonial portugués em Africa, mormente sobre as relaghes racais nele decorrentes, ‘mas é de refert, em fermos concretos e relatives a presenca colonial portuguesa em Agradsso 20 Prlestor Doutor Js Carls Venlo a eta rien deste to, * Dontozanda de Universita da Ben ntti ost tee S 8 ‘Angola, que se considera que a década de 50 do século passado assist degradagio das relagées raiais esociais em, por exemplo, Luanda, devido a massiva emigragio branca metropolitana para a entso colénia (cf. Clarence-Smith, 1990: 26; Messiant, 1989: 138), Recupere esta informacio sobre o contexte luandense das anos 1950 jf que neste artigo pretendo observar algumas vivéncias da Luanda colonial das décadas de 1940/ 1950 apropriadasliterariamente por Luandino Vieira, no conto “A fronteira do asfalto” (in A Cidade ea Infact) e por Uanenga Xit, no romance Os Discursas do “Mestre” “Tamora, em exclusive no miicleo narrative eujos protagonistas sto Aclete e Mari. Perspectvare,entio, texto literate como fontedeinformagiiohistérca esociclogica ‘inierpretarei as representagoes subjectivas de uma realidade e de wma apropriagio do racismo enquanto veiculo de calegorizacio e de fracturas entre os mundos aos quais as personagens pertencem. “A fronteira do asfallo” um conto da colectnes A Cidade ea Infincia obra de estreia de Luandino Vieira e data de 1955. Trata-seda tematizacio da vida luandene, {que é caracteristica deste autor, ao contriio de Uanhenga Xitu, que elege 0 mundo ‘ral como materia iterdria preferencial. Contudo, tambémr’Os Discrsosto “Meste” “Tamoda se encontra a apropriacao iteréria da cidace de Luanda. Em termos gendl6- gicos, esta obra distingue-se da de Luandino por ser um romance, cuja publicasio (corzeu em 1984, E uma obra bastante compésita coo tnico elo de ligacio entre texas com temas e personagens dispares é a figura de Tamoda, que perpassa todo 0 texto, dal que possa consideré-la como um romance, na medida em que este 6 um “gente novateuretsubversifcar fondamentalement wdlalogique» et xpolyphoniquen” (Dix, 2000: 138). Neste romance, a intiga que assume um maior destaque é a que tem “Marajée Arete como personagens czntras. “Ambos os textos tematizam a Luanda das décadas ce 1940/1950 e sea acgio de “"& froateira do asta” nBo tem uma marcagSo temporal explicit, apenas a dala da ‘escrita presenteno final do conto (1955; Vieira, 1978:97), ja acgao de Os Disewrsosdo “Mestre” Tamoda se passa em época de guerra (Xitu, 6.4: 62), que serS a Segunda ‘Guerra Mundial, como se percebe pelas palavras do doutor Camargo, que refere a *quentura da guecra dos alemdes” (Kit, $4: 112). Sto estes oespago eo tempo referides que encontrames como paleo das aegis de Marina e Ricardo (“A fronteira de asfalto”) e de Arlete e Marajé (Os Discursas do “Mestre” Tamoda), pares cuja primeira semelhanca respeita aquela evidéncia mais estacada como base de qualquer teoria racists, a cor da pele: Marina e Avlete so ‘brancas, Ricardo e Marajé si0 negros. Cada um poderia representar 0 binatismo

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