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III Workshop Desafios e Perspectivas da Inclusão Digital na Sociedade da Informação:

Elementos para uma Estratégia Abrangente


Brasília, 14/15 de dezembro de 2009
Anais do Evento

Nelson Simões
Diretor Geral da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)
Aplicações x Infraestrutura e Três Aspectos da Infraestrutura para
“Banda Larga”
Apresenta um tema de infraestrutura de rede, o da banda larga, destacando
três aspectos, abrangência, capacidade e preço, para melhor compreensão do
que está implicado em perguntas sobre ampliação da largura de banda no
Brasil. A palestra inicia destacando a importância das aplicações tais como
saúde, cultura, etc., que requerem propostas de infraestrutura de serviços e
redes, ilustrando assim o argumento de que a demanda por infraestrutura vem
da aplicação. Na seqüência, apresenta os usos de banda larga no Brasil,
exemplificando com o fluxo de vídeos para cinema que requerem alta
fidelidade. Um cenário em 2015 que a RNP acredita que vai ocorrer no Brasil é
o do aumento do fluxo de vídeo, ou seja, a linguagem será o vídeo; além
disso, a capacidade das redes será crescente (ilimitada), com aplicações em
saúde, cultura, educação e meio ambiente, além de políticas públicas que
demandam maior capacidade de armazenamento e de velocidade. O primeiro
aspecto que permite melhor compreender a banda larga é o da sua
abrangência. Do ponto de vista do backbone é preciso: ampliar a cobertura
nacional (região Norte) e a ampliar a integração internacional (Mercosul e
Europa/ África); ampliar a cobertura de todos os municípios onde haverá
grande competição pela barreira de entrada de preço; no acesso é preciso
garantir a abrangência no nível das cidades. No segundo aspecto, o da
infraestrutura, do ponto de vista da capacidade, os conteúdos vão ficando cada
vez mais complexos, mais pesados, destacando alguns números que a RNP
precisa perseguir como meta, e uma delas diz respeito à universalização do
serviço de banda larga. Finalmente, no preço há muito custo associado pela
falta de inovação. A banda larga faz parte do nosso ambiente e o Brasil não
está preparado para isso, sendo necessário: incentivar investimentos e discutir
e definir objetivos. (resumo acrescentado)

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[As perguntas sobre banda foram freqüentes neste workshop. a infraestrutura


da banda larga no país é algo caro e que precisa ter abrangência nacional, algo
não tão simples de ser implementado em um território como o Brasil. Cuidado
com as comparações com a Coreía, Japão e outras nações. Nós somos o Brasil,
temos nossas características e vantagens. A banda larga tem uma
implementação complexa, pois envolve investimentos, setor privado, governo,
marco regulatório e tudo isso tem que concorrer para que ela esteja disponível.
É importante ter muito claro que são as aplicações, tais como saúde, cultura,
etc., que requerem propostas de infraestrutura de serviços e redes. Portanto, a
demanda por infraestrutura vem da aplicação.] Eu acho que é esse tipo de
visão que pode alimentar a idéia de um cenário de um desenvolvimento no
Brasil, multidisciplinar em várias áreas, com muitos impactos para formação e
capacitação de recursos para lidar com esse ambiente.

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Cenário 2015
Bom, com essa visão, um cenário que a RNP acredita que vá ocorrer no Brasil,
e aí se a gente olhar alguns anos à frente, cinco anos à frente praticamente,
nós vamos ver que coisas que ainda hoje não estão muito presentes ou
disseminadas vão estar, como o vídeo como linguagem. Eu peguei alguns
números das pesquisas do Comitê Gestor deste ano: então 47% dos usuários
vêem vídeos e 15% divulgam seus vídeos, 15% dos usuários brasileiros
gravam e divulgam. Isso representa uma alteração grande da linguagem, de
compartilhamento, de expressão. Nossa banda larga de 256 kbps vai ter
problemas para lidar com essa nova linguagem. Nós não temos a princípio
dificuldades tecnológicas no universo esperado para os próximos anos. A
tecnologia dos materiais para trabalhar com esses sistemas está dizendo que a
gente está evoluindo à taxa atual.
A cada dia nós vemos iniciativas em várias áreas, eu citei as principais,
dependem cada vez mais fortemente de infraestruturas adequadas,
compartilhadas, disponíveis, eficientes e de uma linguagem cada vez mais
aprimorada que certamente vai levar ao uso de conteúdos audiovisuais. Aqui
nós temos alguns exemplos: a Universidade Aberta do Brasil, com os cursos de
formação de professores, o Programa Nacional de Telessaúde, com a formação
de gestores das equipes do Programa de Saúde da Família à distância. Hoje
isso é um piloto; piloto hoje no Brasil nós temos em nove estados e 100
pontos por estado, são 900 pontos. Pilotos no Brasil também têm essa

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dimensão, e aí a gente começa a esbarrar em todas as dificuldades de fazer
isso, talvez não nas capitais, mas naquelas cidades do interior.
No nosso futuro em várias áreas, a exemplo da área cultural, nós
particularmente temos usado os cineastas contra os físicos de altas energias,
vamos dizer assim, numa competição mais sadia. Porque eles sempre foram
aqueles grandes demandadores de capacidade de infraestrutura e aplicações.
Então há muitas aplicações que estão crescentes e nas políticas públicas há
ações que vão demandar melhores capacidades. Obviamente para a maioria,
principalmente para essas aplicações onde você está avaliando dados, você
está assimilando e simulando, isso é muito comum. Onde tenha as projeções
biológicas, com digitalização de conteúdos culturais, você vai ter grandes
massas de dados que você vai ter que armazenar com segurança, vai precisar
reutilizar, então esse também vai ser um desafio para os próximos anos do
ponto de vista de um cenário de cinco anos no Brasil. Como nós vamos
conseguir fazer isso, em que escala separadamente, coordenadamente, cabe
apoio às políticas que estão sendo geradas.

Hoje a gente tem uma infraestrutura de banda larga que tem um problema
sério de abrangência. Uma das formas de entender esse problema é ver o
problema de uma malha rodoviária, rodovias federais, rodovias estaduais e as
cidades asfaltadas. Do ponto de vista desse backbone, essas rodovias federais
nós precisamos resolver a questão de cobertura. As capitais da região norte,

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por exemplo, só agora estão recebendo uma estrutura adequada de banda
larga. É preciso ampliar a integração regional. O Brasil há algum tempo
percebeu que isso é fundamental, principalmente para a cooperação com os
países da América Latina, mas é recente o esforço de integração,
principalmente na área de educação, na área de pesquisa entre as redes da
região brasileira ou infraestrutura de telecomunicação na região. O que
acontecia no Brasil nos anos 80 era se você mandasse um e-mail de São Paulo
para um colega que estava no Rio, ele cruzava de costa a costa os Estados
Unidos; isso ainda acontecia até 2003 em relação aos países vizinhos. Então a
gente tem aqui uma agenda de integração no âmbito da América Latina, e
certamente se a gente quer fazer colaboração sustentável com os países
africanos, também no âmbito africano precisa ter integrações submarinas com
o continente africano, direto.
Sobre as vicinais, a gente entrou em um processo longo de discussão para
ampliação que se chama Backhaul, que na realidade é como sair de uma
capital aqui no Distrito Federal e chegar com uma boa infraestrutura de
telecomunicações no entorno do Brasília numa região daqui a 30, 40 e até 100
km de distância. É preciso então ampliar essa cobertura e isso está sendo feito
dentro de um conjunto de medidas regulatórias e algumas até de caráter
administrativo que o órgão regulador do Governo Federal travava. Por
exemplo, tomaram a acertada medida de tirar a obrigação de enviar postos de
serviços telefônicos e fazer essas vicinais. Isso vai favorecer a inclusão de mais
municípios. O favorecimento também vai ser dado de uma forma que é
importante, que é o acesso através da tecnologia de 3ª geração, que é essa
que a gente já tem aí nos equipamentos, que os computadores já usam. O
grande problema dessa cobertura vai ser a competição dos municípios. O que
acontece quando você está no município que só tem um fornecedor, apesar de
estar disponível, pode acontecer aquilo que já aconteceu antes. A barreira de
entrada de preço torna inviável que um empreendedor de uma lanhouse, ou
mesmo uma empresa, um pequeno negócio, ou um cidadão, possa adquirir
esse serviço, facilitar a Internet para usar o serviço de banda larga.
Voltando aqui, o que eu acho importante em relação à cobertura de todos os
municípios é que ela seja acompanhada de uma maior competição. Nós vamos
precisar criar mecanismos regulatórios para assegurar isso. Porque senão nós
vamos ter o pior dos dois mundos: nós vamos ter o operador móvel, nós
vamos ter o operador fixo. Nos dois nós vamos ter as mesmas condições de
acesso. Nós vamos precisar favorecer isso depois com uma política regulatória
que favoreça o compartilhamento dessas estruturas. Sobre o acesso nas
cidades, as principais ações são favorecer o empreendimento privado, ações de
empreendedores públicos nos municípios, nas escolas, nas redes comunitárias
para que possam gerar infraestrutura com espectro que possam ser alocados a
essas iniciativas, e acesso aos direitos de passagem. Aí tem algumas iniciativas
em várias cidades de implantar redes, e boa parte do nosso esforço não é
tecnológico, é convencer a quem tem direito de passagem de colocar essa
infraestrutura no poste de energia elétrica ou a prefeitura que tem o uso e
direito do SOC. Isso é um benefício valioso que pode acelerar a inclusão de

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organizações e pessoas naquela cidade. Então isso precisa ser resolvido para
fazer com que essa abrangência aumente no nível da cidade.

Aqui o mapa ficou um pouco prejudicado, sumiram vários pontos. É só pra dar
uma idéia de penetração para o interior das novas unidades de educação
tecnológica em campi de universidades. São 130 novas instituições de
educação tecnológica até o final do ano que vem e 70 novos campi. Então nós
estamos falando de 500 municípios onde a gente deveria ter uma capacidade
muito boa para conectar escola, onde vai estar gerando conhecimento que vai
alimentar inclusive outros processos. Formação de professores, na área de
saúde, na área de cultura também.

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Essa é uma outra iniciativa chamada Rede Universitária de Telemedicina, que


já integra 34 hospitais e até o final do ano que vem vai integrar cerca de 708.
Aqui o objetivo é integrar as unidades de saúde que na hierarquia está num
nível de maior complexidade, que são os hospitais e clínicas, os hospitais de
ensino onde está a residência e a pesquisa, para que eles colaborem usando
aplicações como videoconferência, transmissão de dados do centro cirúrgico,
que pesquisem educação e também empreguem diagnósticos. Isso aqui está
apoiando essa ação do Programa Nacional de Telessaúde. A nossa experiência
tem sido impressionante de ver: o que é o resultado da conexão, de montar
um grupo de telemedicina pode criar um conjunto de alunos, um grupo de
pesquisa, ou mesmo numa faculdade de medicina quando ele se interliga aos
outros centros. Então há dois anos a gente tinha 19 programas de pós-
graduação, quer dizer, essa rede está favorecendo exatamente essa
capacitação e essa discussão de como avançar e como gerar conhecimento na
área que aumente bastante com um forte apoio às políticas de gestão de
saúde básica.
Do ponto de vista de infraestrutura nacional essas são as ações que eu queria
chamar a atenção. Se você tem uma boa infraestrutura em cobertura nos três
níveis, você consegue rapidamente fazer com que certas políticas sejam
adotadas muito rapidamente.

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Capacidade
A capacidade é um alvo móvel. Qual a capacidade hoje adequada para uso da
média dos conteúdos na web brasileira? Eu não sei. Eu chuto que menos de 1
Mbps já não está bom. Porque inclusive os produtores de conteúdo não estão
pensando, a maior parte salvo as raras exceções, não estão pensando em
quem está acessando e os conteúdos estão mais complexos, mais pesados.
Correm o risco de você usar a banda larga de 256 kbps e uma boa parte vai
ficar no escuro que é aquela parte que não vai poder ser visualizada. Então ali
eu coloquei alguns números que a gente percebe hoje seriam razoáveis para a
gente seguir como meta. Os cidadãos deveriam ter 1Mbps, as instituições e
pequenas empresas deveriam ter no mínimo 20 vezes isso, as grandes
instituições deveriam ter 1 Gbps. Eu acho que é um pouco disso. Alguém fez
isso no mundo? Não sei, mas nós podemos fazer.

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Tem alguns países que declaram coisas do tipo: nós vamos ligar 100 Mbps
todas as casas. É uma visão de inclusão. Outros disseram: é um direito
fundamental da pessoa na Finlândia o acesso à banda larga. Foi o primeiro,
esse é o mais radical que eu vi até agora. Tem a vida, tem a privacidade e tem
banda larga. Então aqui tem uma série de considerações sobre capacidade. Por
outro lado o cuidado com o falso conceito de 256 kbps é muito ruim. 256 kbps
é 41% da banda larga no Brasil. Quando a gente diz banda larga, que é o
maior percentual da população, 256 kbps é muito melhor que linha discada.
Quem usou linha discada sabe. É você estar permanentemente ligado à
Internet. Isso já faz toda a diferença. Ali tem ações como a integração das
infraestruturas que vai melhorar muito essa capacidade, a vigilância sobre essa
capacidade nominal, que o órgão regulador vai fazer. Quer dizer, como é essa
banda larga? Ela é de fato 10% do contrato? É possível aferir, medir, tem
medidas no gestor da Internet, no Inmetro? Estão caminhando nessa direção e
é preciso ampliar isto de tal forma que, ou radicalmente, se declare que esse é
um serviço que deveria ser universalizado no Brasil. A gente já universalizou a
telefonia, mas talvez a ênfase da política pública que falta declarar essa
universalização, não como um serviço, “mais um”, mas como essa visão de
futuro que integra tudo como um serviço digital capaz de com recursos que
não permitam um investimento naquelas áreas de menor renda, a política
pública possa fazer.

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Preço
Aqui basicamente a informação que eu gostaria de passar é que há muito
custo associado às estruturas legadas, é preciso haver um processo de
inovação. Obviamente estes custos criam situações de preços que não são
adequadas. O monopólio ou duopólio – se a gente migrar alguma posição de
duopólio não vai haver redução de preço – é preciso haver uma forte
intervenção regulatória principalmente para que o preço no atacado para o
empreendedor público ou privado na cidade possa favorecer a ampliação do
acesso e a facilitação da disponibilidade dos pontos públicos e pontos privados.
Existe uma questão aqui que é fundamental que é como usar uma
infraestrutura que já foi implantada, ela é de posse ou ela é utilizada por
alguma empresa, que é a desagregação. Isso precisa ser feito. Já há algum
tempo a gente vem discutindo essa política, há vários anos. No Brasil não dá
para esperar muito porque boa parte da infraestrutura já implantada poderia
estar favorecendo novos dutos se houvesse uma mudança na atitude. Vamos
regular antes, vamos favorecer que ela possa ser desagregada e depois vamos
corrigir isso com modelos mais precisos.

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Isso faz parte do nosso futuro, esse ambiente, essas infraestruturas não estão
preparadas para o Brasil que cresce, que se desenvolve em todas as áreas,
todos os ângulos. Isso passa por incentivar o investimento futuro em
telecomunicações. O setor privado tem um papel, o governo tem um outro
papel. É preciso ter essa visão de um Serviço Integrador Digital Individual. As
coisas não precisam mais ser tratadas de forma coletiva, desagregada. É
preciso discutir esses grandes desafios que estão à frente nas agendas das
políticas, quer dizer, nos planos de pós-graduação, no plano Nacional de
Educação, Ciência e Tecnologia, na Conferência Nacional de Ciência e
Tecnologia, para que estes aspectos sejam considerados nessas correlações, e
obviamente a gente tem uma grande capacidade no País, na Academia e nas
empresas, e isso precisa estar mobilizado dentro desse âmbito. A gente precisa
preparar não só os usuários, os alunos, os professores, mas também as
instituições que vão de certa forma liderar esse processo de mudar a realidade
da inclusão digital.

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