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INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

PRINCÍPIOS DE TELECOMUNICAÇÕES I -
ELE-31 - NOTAS DE AULA - v.1.0 - 1997

Prof F T Sakane

Colaboradores: AspOf M. Santiago


Prof. Flávio Rezende Marques (in memoriam)

Departamento de Telecomunicações - IEET


Divisão de Engenharia Eletrônica - IEE

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP


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PRÓLOGO
Estas notas de aula são baseadas em livros-textos adotados no curso e não se destina a uso externo. Nào se busca,
portanto, originalidade no tratamento da matéria mas, basicamente, a sua organização e registro como memória de
curso e roteiro para uso do(s) livro-texto(s). Os exercícios apresentados são uma coletânea daqueles apresentados
aos alunos como séries ou provas, havendo, conseqüentemente, alguns muito semelhantes.

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

I.1 - Programa do Curso


Ementa: Elementos de um sistema de comunicações. Análise e representação de sinais e sistemas. Análise de
Fourier: espectros contínuos e discretos, densidade espectral de potência e de energia. Sistemas lineares.
Modulação linear e exponencial. Receptores para sistemas de modulação com portadora contínua.
Amostragem e modulação de pulsos e por código de pulsos. Noções de comunicações digitais: modulação
digital.
Objetivo do Curso: apresentar noções de sistemas de comunicações e, principalmente, como os sinais são
representados, analisados e processados tendo em vista a sua transmissão (e recepção). Assim, ao final do
curso, o aluno deverá ter plena compreensão sobre as formas de representação de sinais (determinísticos)
nos domínios do tempo e da freqüência (e a relação entre elas) e sobre os processos de modulação mais
comumente utilizados na prática.
Requisitos principais: a matéria pode ser considerada uma matéria de "trigonometria aplicada" e, como tal, os
alunos devem ter forte embasamento matemático em trigonometria, particularmente sobre as relações entre
as funções trigonométricas.

Bibliografia básica do curso1

12. A.B. CARLSON: Communication Systems, 3rd Ed., McGraw-Hill, 1986


1. Introdução
2. Análise de sinais e sistemas
3. Transmissão de sinais e filtragem
4. Probabilidade e variáveis aleatórias
5. Sinais aleatórios e ruído
6. Modulação CW (continuous wave) linear
7. Modulação CW exponencial
8. Sistemas de modulação CW
9. Ruído em modulação CW
10. Amostragem e modulação de pulsos
` 11. Transmissão digital em banda-base
12. Modulação por código de pulsos
13. Codificação com controle de erros
14. Transmissão digital passa-faixas
15. Teoria da Informação

23. S. HAYKIN: An Introduction to Analog and Digital Communications, J. Wiley & Sons, 1989
1. Introdução
2. Análise de Fourier
3. Filtragem e distorção de sinais
4. Densidade espectral e correlação

1Em negrito os temas tratados nesta matéria


2Referência principal para o semestre
3Referência complementar
3

5. Codificação digital de formas de onda analógicas


6. Interferência entre-símbolos e suas curas
7. Técnicas de modulação
8. Teoria da probabilidade e processos aleatórios
9. Ruído em modulação analógica
10. Receptores ótimos para comunicação de dados

34. B.P. LATHI - Sistemas de Comunicações, Guanabara Dois, 1979 (tradução de livro de 1968)
1: Análise de sinais
2: Transmissão de sinais e espectros de densidade de potência
3: Sistemas de comunicações: AM (Modulação em Amplitude)
4: Sistemas de comunicações: FM (Modulação em Freqüência)
5: Sistemas de comunicações: modulação de pulsos
6: Ruído
7: Desempenho de sistemas de comunicações
8: Introdução à transmissão da informação
9: Elementos de comunicações digitais

45. J.C. MELO: Princípios de Telecomunicações, McGraw-Hill do Brasil, 1976


1. Sinais determinísticos
2. Sinais aleatórios
3. Sistemas em amplitude
4. Sistema angular
5. Sistemas pulsados
6. Teoria da informação

56. H. TAUB e D.L. SCHILLING: Principles of Communications Systems, 2d.Ed., McGraw-Hill, 1986
1. Análise espectral
2. Variáveis e processos aleatórios
3. Sistemas AM
4. Sistemas FM
5. Conversão Análogo-Digital
6. Técnicas de modulação digital
7. Representação matemática de ruído
8. Ruído em sistemas AM
9. Ruído em sistemas FM
10. Limiar em FM
11. Transmissão de dados
12. Ruído em sistemas PCM e DM
13. Teoria da informação e codificação
14. Sistemas de comunicação e cálculos de ruído
15. Comutação telefônica
16. Sistemas de comunicação de computadores
17. Modulação por espalhamento espectral

4Referência complementar
5Referência complementar
6Referência complementar
4

I.2 - Elementos e limitações de sistemas de comunicações (adaptado de Carlson)

I.2.A - Função de sistemas de comunicação


A principal função de um sistema de comunicações (Fig.1) é a transferência de informação. Contudo, para evitar a
necessidade de se definir este conceito (assunto de outras disciplinas), tratamos de mensagem, que pode ser
definido como a caracterização física da informação, e de sinal, que é a representação da mensagem. No caso de
comunicação por meios elétricos, sinais são representados por tensão ou corrente variantes no tempo (sinais
elétricos ).

Figura 1. Transmissão de informação (adaptado de Carlson)

I.2.B - Sinal

( i ) Conceituação:
"Sinal", para fins deste curso, é a representação de uma quantidade ou qualidade física (e.g. , temperatura, brilho,
cor, pressão, etc.) que porta informação. Sinais podem ter diferentes origens (e.g. biológica, mecânica), porém
consideramos ser possível representá-los ou modelá-los através de funções de uma ou mais variáveis e, para
transmissão via meios elétricos, tais funções por tensões ou correntes que variam, em geral, com o tempo ou
distância (variáveis temporais ou espaciais).
Obs.: Não iremos tratar neste curso de como transformar informação em sinal, mas de como, dado um
sinal, analisá-lo e transmití-lo

( ii ) Classificação (para fins acadêmicos):

1. Real ou Complexo :
Sinais podem ser representados por funções ou valores reais ou complexos. Exemplos:

f (t ) = A cos(2π f 0 t ) sinal real


f ( t ) = A exp( j 2π f 0 t ) = A cos(2π f 0 t ) + j Asen( j 2π f 0 t ) sinal complexo

2. Periódico ou Aperiódico (ou não-periódico) :


Um sinal f ( t ) é periódico se f ( t ) = f ( t + nT0 ) , onde n é inteiro qualquer e T 0 é uma constante,
denominado período. Exemplo (Fig.2):
1
f ( t ) = A cos(2π f 0 t ) é periódico, com período T 0 = , pois
f 0

n
f ( t ) = A co s(2π f 0 t ) = A co s[2π f 0 ( t + )] = f ( t + n T0 ), ∀ n in teiro
f0
5

Figura 2. sinal periódico

Sinais aperiódicos são aqueles que não têm T0 que satisfaça a condição de periodicidade. Exemplo (Fig.3):

1 t≥ 0s e
f (t ) = A exp( −
t
) u(t ) , onde A e τ são constantes reais e u(t)= 
0 t< 0s e
τ

Figura 3. sinal aperiódico'

3. Analógicos ou Contínuos e Digitais ou Discretos


Sinais contínuos ou analógicos: são aqueles que podem assumir qualquer valor em amplitude e no tempo
(Obs.: para simplicidade de notação, consideramos a variável independente como tempo, sem perda de
generalidade). Ex.: A tensão na saída do microfone tem parâmetros, como a amplitude e a freqüência, que variam de
maneira análoga à variação da pressão acústica sobre o transdutor acusto-eletrônico, daí o uso da palavra análogo
ou analógico para este tipo de sinais. Entretanto, essa terminologia teve seu significado estendido de modo a
significar qualquer sinal contínuo, mesmo que não tenha sido gerado pela transdução de um sinal físico contínuo.
Exemplos.: Figs. 2 e 3

Sinais discretos no tempo e contínuos em amplitude: são sinais definidos apenas a intervalos regulares
(quase sempre) de tempo e, portanto, representáveis por seqüências de números. É o caso de sinais amostrados. Um
exemplo de sinal amostrado (a intervalos não regulares) é o conjunto de notas usadas para avaliar um aluno ao longo
de um curso. O conhecimento ("amplitude" do sinal) dos alunos é contínuo mas tomam-se apenas algumas amostras
de tempos em tempos (através de provas) a fim de representá-lo. Um outro exemplo: o filme usado no cinema é um
sinal amostrado e armazenado, no qual o sinal (imagem bi-dimensional) é contínuo no espaço (eixos x e y) e em
amplitudes (níveis de cinza, no caso de imagens em preto e branco), porém discreto no tempo, a uma taxa de 24
quadros por segundo. Obs.: A amostragem é uma etapa do processo de conversão de sinal analógico a sinal digital
( a ser definido adiante). Exemplo (Fig.4).:
1
f ( n) = Asen ( 2π nf 0 T ) , onde T é o período de amostragem, f 0 = é a freqüência da senóide
T0
6

Figura 4. sinal discreto: senóide amostrada, de amplitude A e T0 = 6T (sinal contínuo Asen ( 2πf 0t ) em
pontilhado)
Sinais Quantizados: são aqueles contínuos no tempo mas que podem apenas assumir valores discretos em
amplitude (Fig.5). Obs.: A quantização também é uma etapa do processo de conversão de sinal analógico a sinal
digital.

Figura 5. sinal quantizado (senóide – em pontilhado – quantizado em sete níveis de amplitudes)


Sinais Digitais: sinal digital é aquele discreto no tempo e em amplitudes, com estas codificadas
numericamente, (com códigos numéricos ou palavras de comprimento finito, usualmente na forma binária). O
processo de digitalização (conversão analógico-digital ou A/D), portanto, requer discretização no tempo
(amostragem), discretização em amplitudes (quantização) e codificação numérica (associação de um código
numérico aos diversos níveis de amplitude quantizados). A conversão digital-analógico (D/A) é um processo que, a
partir dos códigos representativos das amostras quantizadas deve reconstituir o sinal contínuo. Observe que os
processos de amostragem e quantização (não necessariamente nesta ordem) são fundamentais na digitalização. Uma
vez que sistemas digitais operam com números (em ponto flutuante ou ponto fixo) de comprimento de código finito,
o número de níveis de amplitude representáveis é limitado. Ex.: no caso de disco de áudio a laser (CD's), usa-se
normalmente um código de 16 bits; conseqüentemente, 216 níveis digitais de amplitude (antes da reconstituição do
sinal analógico para reprodução).

4. Determinísticos e Aleatórios
Um sinal é determinístico se não há nenhuma incerteza associada ao seu valor a qualquer instante. Tais
sinais podem ser completamente representados por funções no tempo, através de fórmulas matemáticas ou outros
meios, como tabelas. Exemplos:

f ( t ) = A cos(2π f 0 t ) n x(n)
-1 8.0
1 e t≥ 0 s 0 7.0

u(t )= 
1 9.0
... ...
0 e t< 0 s

Um sinal aleatório, a grosso modo, é aquele cujo valor específico a cada instante é incerto até o instante de sua
manifestação. Esse tipo de sinal só pode ser caracterizado em termos de suas médias estatísticas, como o "valor
médio" e "variância" ou "dispersão" (que reflete o espalhamento das amplitudes do sinal em torno de seu valor
médio), entre outros, ou através de uma função "densidade de probabilidade", p x ( x ) , (essa função reflete a
probabilidade de ocorrência de um certo valor de x) .Exemplo: caso da chamada densidade de probabilidade
gaussiana (Fig.6):
7

 x éa l o o r vm é d i o


1  (x − x)
2
 2
px ( x ) =  
e x − p 2 , o n σ dx e é âa n vc ai iar si po eu r sd ão
σ x 2π  2σ x  


 σ x é s v o i od o ep a d r ã

Figura 6. função densidade de probabilidade gaussiana com média x é desvio padrão σ


Para o caso particular de um processo denominado "estocástico estacionário" , o sinal x (t ) apresenta médias
temporais iguais às estatísticas. Assim, um sinal gaussiano apresenta no tempo a distribuição de amplitudes
gaussiana descrita pela função densidade de probabilidade acima e pode-se afirmar que o mesmo terá amplitude
entre x + σ x e x − σ x durante aproximadamente 68% de sua duração, mas não se pode precisar quando ocorrerá
determinado valor específico de amplitude. Cada "realização" (Fig.7) deste tipo de sinal apresentará uma forma de
onda diferente, embora com as mesmas médias estatísticas (e temporais, neste caso).
Em resumo, se for possível determinar o valor de um sinal em qualquer ponto de seu domínio, o mesmo será
determinístico; caso a forma de onda seja imprevisível, o sinal será aleatório. Um caso particular e importante de
sinal aleatório gaussiano é o chamado ruído gaussiano branco de amplitude média nula e potência dada por σ x 2 ,
1  x2 
variando em torno do zero com a função densidade de probabilidade dada por p x ( x ) = exp −  e
σx 2π  2σ x 2 
espectro de freqüências plano (constante) na faixa de interesse, utilizado como um dos principais modelos para o
ruído em canais de comunicação (a ser definido adiante). O espectro de freqüências é tratado no Capítulo 2.

Figura 7. duas realizações de processo gaussiano de média zero e variância 1

5. Sinais de potência e sinais de energia:


8
Em sistemas de comunicação por meios elétricos, os sinais são representados por tensão ou corrente.
Considerando uma tensão v (t ) sobre um resistor R, a potência instantânea dissipada pelo resistor é dada por:
2
v (t ) 2
p(t ) = = Ri ( t )
R
É convencional, em análise de sinais, supor R normalizado em 1Ω . Nesse caso, a potência instantânea é
numericamente igual ao quadrado da amplitude do sinal (seja tensão ou corrente). Em análise de sinais é usual
trabalhar-se com esta potência instantânea normalizada e define-se, portanto potência (instantânea e normalizada, a
2
menos de indicação em contrário) de f (t ) de como: p ( t ) = f ( t )
De acordo com esta convenção, define-se a energia total de um sinal qualquer f ( t ) como:
T

E = lim
T →∞
∫ f 2 (t )dt
−T
e a potência média como:
T
1
P = lim ∫ f 2 ( t ) dt
T →∞ T −T
Diz-se que f (t ) é um sinal de energia se e somente se 0 < E < ∞ .
Diz-se que f (t ) é um sinal de potência se e somente se 0 < P < ∞
Regra geral: sinais periódicos e os aleatórios são sinais de potência.(power signal) e os determinísticos
aperiódicos são sinais de energia (energy signal). Pode-se provar que sinais de energia têm potência média nula, e
um sinal de potência têm energia infinita.

I.2.C - Elementos de um sistema de comunicação

Um sistema genérico de comunicações pode ser modelado como a seguir (Fig.8):

Figura 8. sistema de comunicação


O transmissor processa o sinal de entrada a fim de adaptá-lo ao canal de comunicação desejado ou
disponível. Normalmente envolve um processo de modulação e eventualmente codificação (este, principalmente
nos casos de comunicação digital).
O canal de comunicação é o meio de comunicação entre o transmissor e o receptor. Ex: par de fios, cabo
coaxial, enlace de rádio , feixe de luz, cabos de fibras ópticas, etc. O canal de comunicação normalmente envolve
perdas ou atenuação do sinal e contaminação por ruído. Além disso, ocorrem distorções e interferências que
provocam mudanças na forma do sinal transmitido.
O receptor processa o sinal recebido para entrega ao transdutor de saída tendo como funções básicas: a
ampliação do sinal (para compensar as perdas no canal), a demodulação e a decodificação (processos que revertem
os de modulação e codificação no transmissor) e a filtragem (para reduzir efeitos de ruído e interferência - em
freqüências diferentes da do sinal - e, eventualmente, de distorções - através de filtros equalizadores - na faixa de
freqüências do sinal)
9

OBSERVAÇÕES.:
(1) Ruído (sinal aleatório, produzido por fontes naturais), interferência (sinal indesejável, gerado por
processos criados pelo homem) e distorções (mudanças na forma de onda devido à resposta imperfeita do sistema
em relação ao sinal) podem ocorrer em qualquer ponto do sistema de comunicação, mas é convencional concentrar o
seu estudo no canal de comunicação, tratando o transmissor e receptor como ideais. Esses fatores (ruído,
interferência, distorção), que também ocorrem no transmissor e no receptor, são dimensionados nesses dispositivos
nos limites da qualidade aceitável ou possível e, portanto, pode-se ignorá-los no estudo do sistema de comunicação
em questão.
(2) Um sistema de comunicação pode ser classificado em (a) sistema simplex, quando a comunicação é
feita em apenas um sentido (unidirecional); (b) sistema half-duplex, quando se pode estabelecer a comunicação nos
dois sentidos, porém, sendo um de cada vez; e (c) full-duplex, quando a comunicação pode ser simultâneamente
estabelecida nos dois sentidos (bidirecional).
(3) Em geral, a filtragem é utilizada para reduzir ou minimizar o ruído ou interferência em faixa de
frequências diferentes daquelas do sinal. Existem processos através dos quais é possível reduzir o efeito do ruído
que ocupe a mesma faixa de frequências do sinal, porém seu estudo foge do escopo deste curso.
(4) O modelo de comunicações da Fig.8 é bastante geral e pode ser utilizado para representar sistemas de
telecomunicações (comunicações a distância, como os de telefonia e radio-difusão), assim como de outros processos
como de gravação magnética e comunicação escrita. Neste curso serão considerados apenas os que utilizam meios
elétricos e os estudos se concentrarão na análise de sinais e nos processos de modulação (e, conseqüentemente, de
demodulação) na ausência de ruído.

I.2.D - Limitações fundamentais


No projeto de sistemas, em geral, existem restrições (Fig.9) que, a grosso modo, podem ser classificadas em
limitações de caráter tecnológico e de caráter físico. As primeiras têm, em princípio, soluções que dependem do
desenvolvimento tecnológico, como no caso dos sistemas de TV com linhas de atraso e gravação de vídeo em fita
cassette, ou soluções teoricamente viáveis. As de caráter físico, contudo, são restrições impostas pelas leis da
natureza e que, portanto, estabelecem o limite do possível.

Figura 9. limitantes a projetos de engenharia

No caso de comunicação por meios elétricos, as principais limitações físicas fundamentais são a largura de faixa e
o ruído:
(i) Largura de faixa: relacionada com a velocidade de transmissão da informação. Como veremos mais
adiante, sinais que variam rapidamente apresentam um conteúdo de frequências, descrito pelo seu espectro de
freqüências, (a distribuição de energia entre as frequências que compõem o sinal é denominado espectro de
energia), que se estende sobre uma "largura de faixa" maior. A largura de faixa, a grosso modo, é a diferença entre
as frequências máxima e mínima do sinal . Exemplos:
Telefonia - 3100 Hz (faixa de 300 Hz a 3400 Hz)
Áudio em rádio AM - 5 kHz
Áudio em rádio FM - 15 kHz
Vídeo em TV - 4,2 MHz (padrão M)
OBS: (1) Todos os sistemas elétricos contém elementos que armazenam energia e a energia armazenada não pode
ser mudada instantâneamente, o que significa limitação na velocidade de variação do sinal, ou seja limitação da
largura de faixa.
(2) Conseqüência da largura de faixa ser menor que a do sinal: distorção (na forma de onda) do
sinal, que se torna tanto mais séria quanto menor for a largura de faixa do sistema em relação à do sinal.
(ii) Ruído: é inevitável a qualquer temperatura acima do zero absoluto, pois a energia térmica faz com que as
partículas elementares exibam um movimento aleatório e o movimento de partículas carregadas, como elétrons, gera
correntes (ou tensões) conhecidas como ruído térmico, presente em todos os sistemas elétricos.
OBS: (1) Mede-se a potência relativa do sinal e do ruído em termos de uma relação sinal-ruído (SNR ou S/N; ).
Problemas surgem quando a relação S/N é "baixa", isto é, quando o nível de "contaminação do sinal pelo ruído".é
significativo, mascarando o sinal..(a noção de baixo ou alto, significativo ou qualquer outra qualificação que
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possamos dar depende da aplicação e do sistema). Por exemplo, uma S/N de 1.000 (30 dB) é "boa" para recepção de
rádio AM mas para um CD de áudio esta relação deve ser maior que 100.000 (50 dB).
(2) Considerando os limites em largura de faixa e SNR, Shannon (1948) estabeleceu um limite
superior para a transmissão de informação (Capacidade de canal) como sendo:
S
C = B log 2 (1 + ) bits/s
N
onde:
B é a Largura de Faixa
S
é a relação entre potências do sinal e do ruído (gaussiano)
N

Essa relação é também conhecida como a "Lei de Hartley-Shannon" e mostra que, dado um certo canal com largura
de faixa fixa, quanto maior for a relação sinal/ruído, maior será a capacidade do canal, isto é, de transmissão de
informação (detalhes sobre este tema são cobertos em outras disciplinas, como as de Teoria da Informação e Teoria
de Comunicações).

I.3 - Modulação e Codificação


São processos efetivados no transmissor, visando a uma transmissão eficiente e confiável. Nesse curso será estudada
a modulação de sinais sem a presença de ruído. Em Princípios de Telecomunicações II (EET-32), são analisados os
casos de sinais e desempenho de sistemas de modulação na presença de ruído. A codificação de sinais,
particularmente para transmissão digital, é coberta pela disciplina Transmissão de Dados (EET-88) e em outras em
nível de pós-graduação.

I.3.A - Modulação
É o tratamento dado ao sinal que se quer transmitir para melhor adequá-lo ao canal desejado ou disponível e,
basicamente, consiste na variação sistemática de algum atributo de uma forma de onda, chamada de (onda)
portadora, tais como amplitude, frequência ou fase de acordo com o sinal que se deseja transmitir (sinal que
representa a mensagem: o sinal modulador).
Os processos de modulação podem ser geralmente classificados em algumas categorias básicas:
(a) de acordo com a portadora: modulação de onda contínua (cw: continuous wave, geralmente com um
sinal senoidal como portadora) e modulação de pulsos (geralmente tendo como portadora um trem de pulsos
retangulares). Na modulação cw, pode-se ter a amplitude (AM), freqüência (FM), ou fase (PM) da portadora
variando de acordo com o sinal modulador. Na modulação de pulsos, a amplitude (PAM), largura ou duração
(PWM, sendo W de width), posição (PPM) ou freqüência (PFM). Exemplos (Figs.10 e 11).:

Figura 10. modulação cw (a) em amplitude: AM; (b) em freqüência: FM


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Figura 11. modulação de pulsos (a) amplitude (PAM); (b) duração (PWM)

(ii) de acordo com o sinal modulador: modulação analógica, quando o sinal modulador é contínuo e
modulação digital, quando o sinal modulador é pulsado (trem de pulsos). As Figs. 10 e 11 ilustram exemplos de
modulação analógica. Os tipos básicos de modulação digital são, no caso de sinal modulador binário (o sinal
modulador apresenta apenas dois estados ou níveis), os de chaveamento de fase (PSK), freqüência (FSK) e
amplitude (ASK).
OBS.: os vários tipos de modulação podem ser combinados e os citados acima não são os únicos possíveis.
Além disso, um determinado sistema pode utilizar vários deles, como por exemplo em TV, no qual o sinal de áudio
é transmitido em FM, as informações sobre côr em modulação de amplitude combinada com a de fase de uma sub-
portadora que, por sua vez, modula, junto com a informação sobre o brilho, uma portadora em AM (detalhes sobre
o processamento de sinais em TV são vistos na disciplina Sinais em TV - EET-81).

I.3.B - Por quê modular


Há várias aplicações para o processo de modulação dos sinais, dentre as quais as principais são:
(i) Para transmissão eficiente:
A transmissão a longa distância envolve sempre a propagação de ondas eletromagnéticas em meios abertos
(e.g.: radiodifusão, rádio-enlaces) ou em meios confinados (e.g.: par de fios, cabo coaxial, fibras ópticas, guias de
onda).
Antenas só são eficientes quando suas dimensões são da ordem de grandeza do comprimento de onda, λ , do
sinal (0,1 a 0,5λ ; detalhes na disciplina Antenas e Propogação, EMO-10). Por exemplo, um tom (senóide) de 1
kHz exigiria, para sua transmissão em meio aberto, antenas com dimensões da ordem de 150 km (λ ≅ 300 km);
contudo, este mesmo sinal modulando uma portadora de 100 MHz requereria uma antena com cerca de 1,5m.
Outros exemplos: TV-VHF, na faixa de 54 MHz a 216 MHz utiliza, na recepção, antenas com cerca de 1 m e
TV-UHF, na faixa de 470 MHz a 890 MHz , antenas com cerca de 25 cm, embora o sinal modulador seja o mesmo.
(ii) Para reduzir problemas de "hardware":
Usa-se modulação para "transladar" o "espectro de freqüências" (faixa de frequência ocupado pelo sinal) para
faixas de frequências mais adequadas do ponto de vista de "hardware".
Por exemplo, na gravação em fita magnética, a relação entre a maior e a menor frequências não pode exceder
dez "oitavas" (o aumento de uma oitava em freqüência significa duplicar a frequência do sinal). Assim, um sinal de
áudio, ocupando uma faixa de 15 Hz a 15 KHz tem um espectro que cobre 10 oitavas e, portanto, é possível a
gravação direta. Contudo, um sinal de vídeo em TV ocupa uma faixa de aproximadamente 7,5 Hz a 4,5 MHz, o que
significa cerca de 20 oitavas. Nesse caso, é necessário o uso de modulação para transladar o espectro. Em
gravadores de uso doméstico, utiliza-se a modulação em freqüência (FM) para transladar o espectro de vídeo para a
região de 1 a 6 MHz, passando a ocupar cerca de três oitavas.
Em geral, circuitos eletrônicos têm custo e complexidade de "hardware" menor se a "largura de faixa
fracionária" (definida como a largura de faixa do sinal dividida pela sua frequência central) for da ordem de 0,01 a
0,1 (1 a 10%). Por exemplo, no caso de sinais com espectros ilustrados na Fig. 12, é mais simples projetar sistemas
ou circuitos com as características do segundo.

Figura 12. dois sinais de mesma largura de faixa, mas largura de faixa fracionária diferentes (fora de escala)
(iii) Para reduzir efeitos de ruído, interferência e distorção
É possível reduzir a influência de ruído e interferência aumentando-se a potência do sinal, mas há
circunstâncias em que processos de modulação podem ser mais eficientes. Por exemplo, a gravação de vídeo em FM
em vez de AM (ambas serviriam para a transladação do espectro do sinal de vídeo) reduz os efeitos que adviriam de
flutuaçoes na amplitude do sinal (distorção e ruído aditivo).
Obs: Um processo de "modulação em faixa-larga", como a FM em radio-difusão, promove a redução do
ruído ao custo de uma maior largura de faixa (implícito na equação de Hartley-Shannon).
12
(iv) Para alocação de frequências:
Por exemplo, em radio-difusão (TV e Rádio), diferentes estações em uma mesma "zona de cobertura" (área
coberta pelo serviço, com determinado nível de qualidade) devem ter diferentes frequências de portadoras para que
não haja interferências de uma estação em outra. (Fig.13)
Nesta mesma figura é ilustrado, de modo grosseiro, o princípio de recepção "superheterodina" de sinais de
rádio, na qual os diversos canais (ou estações) de rádio são transladados, por modulação (ou "mistura"de
freqüências), para um canal fixo em torno da chamada "freqüência intermediária" (FI) , a fim de simplificar o
"hardware" do receptor, fazendo com que os mesmos circuitos de tratamento do sinal (ampliação, demodulação,
etc.) possam ser aproveitados qualquer que seja a estação sintonizada.
(v) Para multiplexagem em freqüência:
Multiplexagem é o nome dado ao processo utilizado para se combinar vários sinais para transmissão utilizando um
único canal, sendo as principais formas a FDM (Frequency Division Multiplexing) no qual os sinais ocupam
posições diferentes em freqüência e a TDM (Time Division Multiplexing, mais utilizado em sistemas analógicos), no
qual os sinais ocupam intervalos diferentes no tempo (usado mais freqüentemente em sistemas digitais). A
modulação cw é utilizado para a FDM, por exemplo, para a transmissão FM-estéreo (Fig.14), na qual a informação
adicional (sinal-diferença) para a geração dos sons nos canais esquerdo e direito é transmitida em uma faixa de
freqüências diferente daquela que corresponde ao sinal da transmissão FM não estereofônica (mono-aural), sendo
que tanto o sinal FM mono-aural como o estéreo ocupam a mesma faixa de transmissão (ou canal), e em telefonia
(Fig. 15), na qual vários sinais de voz (até 1800) são multiplexados para transmissão utilizando um único cabo
coaxial.

Figura 13. aplicação de modulação para alocação de estações e para transladar o espectro do sinal para
simplificar o "hardware" do receptor ("superheterodino")

Figura 14. espectro do sinal banda-base do FM estéreo, que modula em freqüência a portadora principal (do
canal ou estação de rádio)
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Figura 15. etapas iniciais para obtenção do sinal FDM telefônico de 900 a 1800 canais de voz, através de
vários processos FDM intermediários (uma das alternativas)

I.3.C - Codificação

Codificação: é a representação de sinais por símbolos mais adequados a uma transmissão eficiente. Podem ser
utilizados codificadores de fonte (utilizados para a representação digital do sinal, para os quais o critério de
eficiência mais usual é a taxa de transmissão dos dados, para uma determinada qualidade) e codificadores de canal
(que visam, essencialmente, à proteção contra erros no canal, através de códigos detetores de erro ou detetores e
corretores de erro). Há técnicas de codificação simultânea de fonte e de canal. A Fig.16 ilustra um sistema de
comunicacao digital.

Figura 16. esquema básico de sistema de comunicação digital (os codificadores de fonte e de canal não são
necessariamente distintos)

Por exemplo, para comunicação de voz (sinal com faixa de 300 a 3,4 KHz e amostrado a 8 KHz ), pode-se
ter sistemas de comunicação digital com diferentes taxas de dados (bits/s), dependendo da codificação de fonte
escolhida. Para a mesma qualidade (telefonia) subjetiva, as taxas podem variar de cerca de 2,4kb/s a 2.028kb/s
(Fig.17). É possível reduzir-se ainda mais esta taxa, mantendo-se a inteligibilidade da comunicação, porém,
sacrificando a possibilidade de identificação do interlocutor. A grosso modo, acima de 16kb/s utilizam-se técnicas
de codificação da forma de onda no tempo; entre 1kb/s e 16kb/s são utilizadas as chamadas técnicas de codificação
paramétrica (ou de análise e síntese), nas quais em vez de se transmitir amostras da forma de onda do sinal, extraem-
se parâmetros (análise) representativos do sinal e, no receptor, reconstitue-se a forma de onda no tempo a partir
desses parâmetros (síntese). Abaixo de 1 kb/s são utilizadas técnicas de codificação simbólica, como as de síntese a
partir de fonemas pré-gravados e a partir de texto escrito (técnicas que não permitem identificar o interlocutor, em
aplicações como de comunicação máquina-homem). O custo e a complexidade aumentam com a redução da taxa de
transmissão.
14

Figura 17. Esquema representativo de diferentes taxas de transmissão para diferentes tipos de codificadores
de fonte

Na Fig.17, estão indicados alguns dos codificadores típicos para as respectivas taxas de transmissão :
LDM: modulação delta linear, com código de apenas 1bit por amostra, cuja maior vantagem é a
sua simplicidade e, conseqüentemente, baixo custo de codificação.
ADM: modulação delta adaptável, também com código de 1 b/amostra, porém com características
que se adaptam ao sinal. Há codificadores comerciais deste tipo que permitem a codificação de voz a taxas próximas
de 32kb/s, com qualidade telefônica, e ainda mais baixas com qualidade menor mas suficiente para comunicações
ponto a ponto (ex.: militar).
PCM: modulação por código de pulsos, com níveis de quantização igualmente espaçados (PCM
uniforme) ou logaritmicamente espaçados (PCM não linear), com os níveis codificados em binário (12 e 8 bits por
amostra, respectivamente).
ADPCM: PCM diferencial ("preditivo") e adaptável ("adaptativo"), no qual se transmite a
diferença entre uma estimativa da amostra e o seu valor real em codificação PCM de 4 bits/amostra.
LPC: codificação linear preditiva, na qual se busca modelar o sistema gerador de voz (o trato vocal
ou sistema fonador) através de cavidades ressonantes, e estas através de equivalentes eletrônicos (filtros digitais
adaptáveis), cujos parâmetros são transmitidos (digitalmente) em vez das amostras da forma de onda da voz. O
LPC-10 indicado na Fig.17 representa uma estrutura proposta pelo Departamento de Defesa Americano, que utiliza
10 parâmetros na transmissão.

Dos esquemas básicos indicados, neste curso serão abordados, ainda que superficialmente, o LDM e o PCM.
Os demais são temas da disciplina Codificação Digital de Sinais (ET-235).

Para codificação de canal, dentre os esquemas mais utilizados estão:


(i) o do teste de paridade, no qual acrescenta-se a cada palavra digital a ser transmitida um código
indicando-se alguma informação sobre o número de 1's ou 0's na palavra. Por exemplo, com um bit de paridade,
pode-se informar se o número de 1's é par ou ímpar. Caso haja o erro de um número ímpar de bits na palavra, este
teste permite detetar o erro.
(ii) o do teste majoritário, no qual as palavras são transmitidas repetidas.Por exemplo, repetindo-se cada
palavra três vezes, se uma das palavras repetidas for recebida com erro, as duas remanescentes sem erro podem ser
identificadas por serem iguais: este teste permite detetar e corrigir erro(s) em uma das três palavras.
Esquemas mais elaborados de codificação de canal são abordadas na disciplina Teoria de Códigos (ET-285).

I.3.D - Comentários finais

Neste capítulo inicial foram, ainda que superficialmente, discutidos alguns dos conceitos básicos de sistemas de
comunicações. No restante do curso, serão abordadas as técnicas básicas de análise de sinais (Série e Transformada
de Fourier) e de modulação de sinais na ausência de ruído.
A caracterização de sinais não determinísticos, ou aleatórios, como ruído, é abordada na disciplina Probabilidade e
Variáveis Aleatórias (ELE-33) e a análise de desempenho dos sistemas de modulação na presença de ruído em
Sinais Aleatórios (ELE-34).
A modulação digital e o processo de comunicações digitais são tratadas em disciplinas como Teoria de
Comunicações, Teoria da Informação, Redes de Computadores, etc., todas de pós-graduação.
Na pós-graduação, são tratados também temas mais específicos, como nas disciplinas Análise Espectral
Digital (ET-239), onde são cobertas técnicas “clássicas” (utilizando o algoritmo da Trasformada Rápida de Fourier -
FFT) e “modernas” (utilizando modelamento paramétrico) para estimativa do conteúdo espectral de sinais
15
digitalizados, Codificação Digital de Sinais (ET-235), onde se analisam em detalhes técnicas de amostragem,
quantização e representação digital de sinais, etc.

CAPÍTULO 2

SINAIS E ESPECTROS
Um sistema de comunicação não opera necessariamente apenas com sinais elétricos. Contudo, nesse curso,
nosso objetivo é estudar somente aqueles que utilizam meios elétricos, operando com sinais que correspondem à
tensão ou à corrente elétricas variando no tempo.
Uma análise e representação no "domínio da freqüência" é feita, inicialmente, considerando-se que o sinal é
constituído de componentes senoidais de várias freqüências (via Série de Fourier). Posteriormente, a análise será
generalizada para sinais que tenham conteúdo de freqüências variando continuamente (via Transformada de
Fourier).
O espectro de freqüências de um sinal é a sua descrição no domínio da freqüência e o seu estudo é denominado
análise espectral ou análise harmônica (esse, para sinais com componentes senoidais).
Uma das principais aplicações da análise espectral é a de se descobrir o comportamento do sinal (ou de uma
classe de sinais) no domínio da freqüência para, por exemplo, conhecendo-se a sua largura de faixa poder-se ter
subsídios para projetar circuitos e sistemas. Há, ainda, aplicações como para deteção de alvos em sistemas de radar,
para transmissão de sinais (codificação paramétrica) e para processamento de sinais (processamento homomórfico,
no qual um sinal, em vez de ser processado no seu domínio natural - tempo ou distância, por exemplo - é processado
no domínio da transformada - freqüência, por exemplo -)
O primeiro passo para se efetuar a análise espectral é a representação do sinal como uma função
matemática, ou seja, modela-se idealmente o sinal, mas com modelos ideais que sejam próximos o suficiente dos
sinais físicos que representam para fins de aplicacões e projetos em engenharia.
Na parte de Análise Espectral do curso serão estudadas:
### Série de Fourier
### Transformada de Fourier
### A relação entre a Série e a Transformada de Fourier

É importante ressaltar que sistemas (definidos como "caixas pretas", Fig.1, que, dado um sinal de entrada
x ( t ) , têm como saída um sinal y ( t ) ) podem também ser modelados matematicamente (através de "operações",
"transformações", "mapeamentos", "algoritmos", etc., que são aplicados ao sinal de entrada x ( t ) para gerarem um
sinal de saída y ( t ) ) e, freqüentemente, tais sistemas podem ser também estudados através de técnicas de análise de
sinais.

Figura 14. Um "sistema"


II.1 - Análise de Fourier
II.1.A - Fasores e "Espectro de linhas"
Seja um sinal senoidal, Fig.2, modelado matematicamente pela função v (t ) = A cos( ω0t + φ) , onde A
é uma constante real, ω 0 é a freqüência angular (em radianos por segundo) e ### é a fase (em radianos). A relação
entre a freqüência angular ω0 (radianos por segundo) e a freqüência "temporal" f 0 (Hertz ou ciclos por
segundo) é ω 0 = 2π f 0 , e entre a freqüência da senóide e seu período T0 (em segundos) é f 0 =1 /T0 .
16

Figura 15. Um sinal senoidal


A função matemática cos( θ ) pressupõe θ variando de − ∞ a + ∞ . Sinais reais têm, na prática, duração
finita. O modelamento matemático, contudo, é válido se a duração do sinal for muito maior que o período da
senóide.
Lembrando que e ± jθ = cos (θ) ± j sen (θ) , que é a relação de Euler entre a função exponencial
complexa e ± jθ , onde j = −1 , e as funções trigonométricas seno e coseno, o sinal senoidal pode ser representado
por meio de fasores (vetor giratório no plano complexo).como a seguir (Fig.3):

Figura 16. Fasor representativo de sinal senoidal

O sinal senoidal v (t ) = A cos( ω0 t + φ) pode, portanto, ser representado pelo fasor da Fig. 3..Para t = 0, o
fasor está a um ângulo ### do eixo real. São necessários apenas três parâmetros para a representação de um fasor e,
conseqüentemente, de um sinal senoidal: a amplitude ou magnitude, A, a freqüência angular ou cíclica,
ω0 ou f 0 , respectivamente, e o ângulo de fase ou, simplesmente, fase, ###
Uma forma alternativa de representação, no domínio da freqüência, deste mesmo sinal é apresentado na Fig.
4, denominado espectro de freqüências, sendo que neste caso são também utilizadas as designações espectro de
raias ou espectro de linhas, uma vez que as amplitudes e fases representativas do sinal são raias ou linhas. O
gráfico amplitude vs. freqüência é conhecido como espectro de amplitudes e o de fase vs. freqüência como
espectro de fases (Fig.4).

Figura 17. Espectro de linhas ou de raias: (a) espectro de amplitudes; (b) espectro de fase
Observações:
i. A amplitude (magnitude), no espectro de amplitudes, deve ser sempre positiva . Assim, um sinal descrito
por v (t ) = − A cos( ω0 t + φ) deve ser re-escrito como v (t ) = A cos( ω0 t + φ ± π ) . É indiferente se é
utilizado +π ou − π .
ii. ωt tem a dimensão radianos e, portanto, a fase φ deve ser expressa em radianos. No entanto, é possível
encontrar na literatura (por exemplo, no livro-texto adotado, de Carlson) uma notação mista, com a fase expressa em
graus. Lembrar que ω = 2π f , ω em rad/s e f em Hz.
iii. Ângulos e rotação positiva são medidos a partir do eixo real, no sentido anti-horário.
iv. Formas de onda cosseno e seno são genericamente denominadas de forma de onda senoidais. Lembrar
que sen (ω t ) = cos( ω t − π / 2) , ou seja, o sinal seno é um sinal cosseno atrasado de π (ou, 900 )
2
17
Exemplo (Carlson - atente para a notação mista – não recomendado): esboçar o espectro de linhas
de
s (t ) = 7 −10 cos( 40 π t − 60 °) + 4sen (120 π t )
A forma de onda deste sinal é ilustrada na Fig.5..

Figura 18. Forma de onda (cerca de dois períodos) do sinal-exemplo

Esta função pode ser re-escrita como:


s(t ) = 7 cos( 2π 0t ) +10 cos( 2π 20 t +120 °) + 4 cos( 2π 60 t − 90 °) .
e, por inspeção, desenhar o seu espectro (Fig.6):

Figura 19. Espectro de linhas unilateral do sinal-exemplo


A Fig. 6 ilustra uma forma de representação espectral conhecida como espectro de linhas (ou de raias)
unilateral, no qual se representam apenas as freqüências positivas. Existe uma outra forma de representar o espectro
de freqüências (forma mais comum), tratada a seguir.

II.1.B - Espectro Bilateral


Lembrando a Relação de Euler: e ± jθ = cos( θ ) ± jsen (θ ) , um sinal senoidal pode ser representado
em termos de exponenciais complexas da seguinte forma:
A jφ jω 0 t A − jφ − j ω 0 t  ∗
A cos( ω 0 t + φ ) = e e + e e = a +a
2 2
∗ é o complexo conjugado de 
onde a a
Nesse caso, o diagrama fasorial passa a ser (Fig.7):

Figura 20. Diagrama fasorial para senóide real


e os espectros de fase e de amplitude, respectivamente, para um sinal senoidal real (Fig.8):
18

Figura 21. Espectro bilateral de senóide real (a) espectro de fase; (b) espectro de amplitude
Esta forma de representação, com o domínio de freqüências no intervalo ( −∞ , ∞ ) , é conhecida como:
espectro de freqüências bilateral
Observações:
1. a menos de indicação em contrário, quando se menciona espectro de freqüências está-se referindo ao
espectro bilateral
2. a "freqüência negativa" , −f 0 , indica rotação do fasor representativo do sinal no sentido horário.
3. uma senóide real de freqüência f 0 deve ter no seu espectro de freqüência bilateral componentes de igual
magnitude em f 0 e em −f 0 , sendo que o espectro de amplitudes tem simetria par e o de fase, simetria ímpar.
4. sinais complexos têm espectro bilateral assimétrico. Por exemplo, uma exponencial complexa tem uma
só raia no espectro bilateral.
II.2.C - Teorema (da Potência) de Parseval
Seja v ( t ) um sinal periódico qualquer com período T0 . Sua potência média é

1 2 1
P = ∫ v(t ) d =t ∫ v(t ).v∗ (t )d t
T0 < T > T0 < T >
0 0

 ∞  ∞
mas v ∗ (t ) =  ∑cne j n  = ∑cn e
ω 0t ∗ −j n ω 0t
, logo

n =−∞ 
 n =−∞

1  1   ∞ ∞ ∞ ∞
P = ∫ v ( t )  ∑ c e  d = ∑  ∫ v (t )e d  . c = ∑ c t = ∑ c
n
∗ − j n ω 0 t − j n ω 0t ∗ ∗ 2
n nn n
T   T  
 
0 < T0> n= − n= − 0 < T0> n= − n= − ∞ ∞

1
v(t ) d t= ∑ cn
T0 < T∫ >
2 2
ou seja, P = (Teorema de Parseval)

0
n= − ∞
A expressão acima indica que a potência do sinal é a soma das potências de cada uma das componentes
senoidais (vale o princípio da superposição para as potências de cada uma das componentes senoidais do sinal).
19
Esta relação mostra também que a potência do sinal pode ser determinada a partir da descrição do sinal no domínio
do tempo ou no de freqüências.
Em vez de se traçar o espectro de freqüências (amplitude e fase), freqüentemente basta traçar o gráfico
2
cn × f n , chamado de espectro de potências (não envolve a informação sobre a fase).

II.3 - Transformada de Fourier

II.3.A - Definição
A Transformada de Fourier é aplicada, em princípio, a sinais não periódicos e é definido pelo par:

∫ v(t ) e
− j 2 πft
V( f ) = dt ( fórmula de análise )
−∞

v (t ) = ∫V ( f ) e j 2πft df (fórmula de síntese)
−∞
ou, em termos de freqüência angular, pelo par:

∫ v (t ) e
− j ωt
V (ω) = dt (fórmula de análise)
−∞

1
∫V (ω) e
j ωt
v (t ) = dω (fórmula de síntese)
2π −∞
A condição (suficiente, mas não necessária) para a existência da Transformada de Fourier é

∫ v (t ) dt < ∞ , ou seja, que a função seja absolutamente integrável.


−∞

Compare o par de Transformada de Fourier com o par de análise e síntese da Série de Fourier (aplicada a
1

− j 2π n f t
cn = c(n f 0 ) =

pulsos periódicos ): v ( t ) e dte 0


v (t ) = ∑cn e j 2πnf t . Observe que, no caso
0

T0 < T > 0
n =−∞

do exemplo do trem de pulsos retangulares de amplitude A , duração ### e período T0 , se ### e A são mantidos
constantes e T0 cresce, então o número de raias entre os zeros da função sinc(### ) cresce e as raias se juntam
(componentes discretas nf 0 → f contínuo), tal que é possível imaginar-se que quando T0 ### ###, v ( t ) deixa
de ser periódico, tem-se um pulso retangular isolado e o espectro se torna contínuo em freqüência. Portanto, a
Transformada de Fourier pode ser interpretada como uma Série de Fourier aplicada a um sinal periódico cujo
período é tornado infinito.
Nota Importante : os sinais periódicos apresentam espectro discreto (de linhas e de raias ) e os sinais
aperiódicos têm um espectro contínuo em freqüências.
No caso, por exemplo, de um pulso retangular isolado (Fig.15):

 τ
1 t<
v
(t)

   
t t 
 2
Π  ( ) = r e cTt( ) = 
τ τ
2 2

 τ   τ  0 t > τ Figura 225. Pulso retangular isolado

 2

Os espectros de amplitude e fase são mostrados na Fig. 16 :


T
2
t A
v (t ) = A rect ( ) ⇒ V ( f ) =
τ ∫ T
A e − j 2π f t dt =
πf
sen(π fτ ) = V ( f ) = Aτ sinc( fτ )

2
20

τ τ τ

Figura 16. Espectro de pulso retangular isolado


Note que:

1. V ( 0) = Aτ = área do pulso retangular. De forma geral, V (0) = ∫ v(t ) dt dá a área sob a curva
−∞
representativa do sinal
2. para A constante, se ### diminui, o espectro se "alarga " (no caso, observe, por exemplo, que o primeiro
zero - e os demais - da função sinc(### ) se afastam da origem).
3. pulsos estreitos (sinais de curta duração, de maneira geral) e sinais de rápida variação têm "espectros
largos" (sinais com largura de faixa elevada) e vice-versa ( propriedade do espalhamento recíproco ).
4. Se v ( t ) for real, então V ( − f ) =V ∗( f ) e diz-se que V ( f ) tem simetria hermitiana.

 a rgV[( − f )] = − a rgV[( f ) ] → s im e tria


ím par

⇒ .
 V ( f ) = V (− f ) → s im e trpiaa r

II.3.B - Propriedades da Transformada de Fourier
1. Superposição ( Linearidade )
Dados dois sinais v1 ( t ) e v2 ( t ) e se formarmos um terceiro sinal como uma combinação linear das
primeiras:

v (t ) = a v1 (t ) + b v2 (t ) ←
 → V ( f ) = a V1 ( f ) + b V2 ( f )

e, de modo geral, ∑a k vk ( t ) ←ℑ


→∑ ak Vk ( f ) .
k k
OBS.: esta formulação combina as propriedades de homogeneidade (produto por um escalar) e de
aditividade (soma de dois sinais) que caracterizam um sistema linear.
2. Deslocamento no tempo
Dado v ( t ) , se deslocarmos o sinal para v ( t - τ ) então
∞ ∞

∫ v(t −τ ) e ∫ v(λ ) e
− j 2π − j 2 π fλ
ℑ[v (t −τ )] = ft
dt = e − j 2π fτ
dλ = e− j 2π fτ
V( f )
−∞ −∞
logo,
v (t - τ ) ←ℑ
→ e − j 2 π fτ V ( f )

ℑ[ v ( t −τ)] = ℑ[ v ( t )]
∠ℑ[ v ( t −τ)] =∠ ℑ[ v (t )] −2πfτ
OBS.: Note a componente adicional de fase linear no novo espectro.
3. Mudança de escala no tempo
Dado v ( t ) , se mudarmos a variável t para α t , α ≠ 0 , obter-se-ão mudanças de escalas no tempo
(Fig.17):
21

sinal reversão compressão expansão


v(-t)
v(t) v(2t) v(t/2)
A A A A

0 τ t −τ 0 t 0 τ /2 t 0 2τ t
Figura 17. Exemplos de mudanças na escala de tempo

Então:

∫ v (α t ) e
− j 2πf t
ℑ[v (α t )] = dt .
−∞
Seja ### ### 0 , por exemplo. Nesse caso:
∞ ∞ f
− j 2π ( − )λ
1 1 f
∫ v (- α t ) e ∫ v (λ) e
− j 2 πft α
ℑ[ v (αt )] = dt = dλ = V (− )
−∞
α −∞
α α
Assim.:
Compressão no tempo ( α > 1 ) ⇒ expansão no espectro
Expansão no tempo ( α < 1 ###) ⇒ compressão no espectro
Reversão no tempo ( α = −1 ) ⇒ reversão no espectro
4. Diferenciação no tempo
dv ( t )
Seja v ′( t ) = . Então, aplicando integração por partes temos:
dt
∞ ∞

∫ v (t ) e ∫ v(t ) e
− j 2 πft
ℑ[ v , ( t )] = ,
dt = v (t ) e − j 2πft + j 2π f − j 2 πft
dt
−∞
−∞ −∞

Se v ( t ) → 0 para t → ± ∞ , então ℑ[ v ( t )] = j 2π f V ( f ) e, assim, a operação de diferenciação no


,

tempo é equivalente à multiplicação do espectro de amplitudes por 2πf no domínio da freqüência, o que implica
π
acentuação crescente para freqüências crescentes, e o espectro de fase é modificado pelo fator j = e j 2 .
OBS.: de modo geral, aplicando-se sucessivamente a operação de diferenciação, pode-se escrever:
d n v (t )
ℑ[ n
] = ( j 2π f ) n V ( f ) .
dt
5. Integração no tempo
t

Seja f ( t ) = ∫ v ( λ ) dλ , então f ′( t ) = v ( t ) .
−∞

Aplicando a propriedade de diferenciação, se F ( f ) = ℑ[ f (t )] , então ℑ[ f , ( t )] = j 2π f F ( f ) ,

z

desde que lim f (t ) = 0 , i.e, v (t ) dt = 0 (área sob a curva, ou nível dc, nula ). Portanto
t →∞
−∞
1
F (f ) = ⋅ ℑ[ f , (t )] , ou seja:
j 2π f
t
1 1
ℑ[ ∫ v (λ) dλ] = ℑ[v (t )] = V( f )
−∞
j 2π f j 2π f
OBS.1: a operação de integração no domínio do tempo corresponde à de divisão no domínio da freqüência
do espectro do sinal original por 2πf , provocando atenuação crescente para a freqüências crescentes.

OBS2: este Teorema será atualizado mais adiante, para o caso ∫ v (t ) dt ≠ 0


−∞
6. Propriedades de simetria:
22
∞ ∞ ∞

∫ v (t ) e dt = ∫ v (t ) cos( 2π f t ) dt − j ∫ v ( t ) sen (2π f t ) dt , podemos


− j 2π f t
Dado v ( f ) =
−∞ −∞ −∞
escrever que:
V ( f ) =Ve ( f ) + j Vo ( f ) = Re [V ( f )] + j Im[V ( f )]

onde os índices na segunda igualdade se referem a componentes com simetria par (e = "even") e ímpar (o = "odd"),
com:

Ve ( f ) = Re [V ( f )] = ∫v (t ) cos( 2π f t )dt


Vo ( f ) =Im[V ( f ) ] =−∫v ( t ) sen (2π f t ) dt

OBS.: A representação gráfica do espectro de V ( f ) é usualmente apresentada em termos de


1. módulo e fase, i.e., V ( f ) e ### V ( f ) =arg [V ( f )] , ou
2. componentes real e imaginária, i.e., Re [V ( f ) ] e Im [V ( f )]
As propriedades de simetria são, então:
(a) se v(t) for simétrico par, i.e., v ( −t ) = v ( t ) , v ( t ) ⋅ cos(2π f t ) será simétrico par e v (t ) ⋅sen (2π f t ) será
simétrico ímpar, donde:

Ve ( f ) =2 ∫v (t ) cos( 2πft ) dt
0

Vo ( f ) =0

Nesse caso, V ( f ) = Ve ( f ) e se, além disso, v(t) for real, então V ( f ) será real com simetria par.
(b) Se v ( t ) for simétrico ímpar, i.e., v ( −t ) = −v ( t ) , v ( t ) ⋅ cos(2π f t ) será simétrico ímpar e
v ( t ) ⋅ sen( 2π f t ) será simétrico par, donde:
Ve ( f ) = 0

Vo ( f ) = 2 ∫ v (t ) cos( 2πft )dt
0

Nesse caso, V ( f ) = Vo ( f ) e se, além disso, v(t) for real, então V ( f ) será puramente imaginário
com simetria ímpar.
7. Teorema da energia de Rayleigh
Seja f (t ) = v (t ).w ∗ (t ) .Lembrando que ℑ v (t ) = V ( f ) e ℑ w (t ) = W ( f ) temos:

∞  ∞
w (t ) =  ∫ W ( f ) e j 2π f t df  = ∫ W ∗ ( f ) e − j 2π f t df

−∞  −∞

logo,

∞ ∞
∞ ∗  
∞ ∞

∫ ∫  ∫ ∫  ∫ v (t ) e
∗ − j 2π f t − j 2π f t
v ( t ) w ( t ) dt = v ( t ) W ( f ) e df  dt = dt  W ∗ ( f ) df
−∞ -∞ −∞  −∞−∞ 
∞ ∞

e, portanto ∫ v ( t ) w ( t ) dt = ∫V ( f ) W ( f ) df . No caso particular em que v ( t ) = w ( t ) :


∗ ∗

−∞ −∞
∞ ∞

∫ v (t ) dt = ∫ V ( f ) df
2 2


∞ −∞
A expressão acima é o Teorema da Energia de Rayleigh, que corresponde ao Teorema de Parseval (visto para
a Série de Fourier). Ela mostra que a energia de um sinal pode ser calculada a partir das descrições do mesmo no
tempo ou em freqüência.
23

∫V ( f )
2
V( f )
2
é denominada Densidade Espectral de Energia, pois df é a energia total do sinal,


de acordo com o Teorema de Rayleigh.
8. Teorema da dualidade
Sejam ℑ v (t ) = V ( f ) e um sinal no tempo z (t ) = V (t ) , onde V ( t ) é o mesmo sinal V ( f ) , com f
substituído por t . Então:
∞ ∞
ℑ[ z (t )] = Z ( f ) = ∫ z(t ) e
− j 2π f t
dt = ∫V ( λ) e j 2π ( − f ) λ dλ = v ( − f )
−∞ −∞

Conseqüentemente, se ℑ v (t ) = V ( f ) então ℑ [ z(t )] =ℑ[V (t )] =v ( −f ) (Teorema da


dualidade)
Caso particular: se v ( t ) for real com simetria par, isto é, v ( t ) = v ( −t ) , V ( f ) é real com simetria
par, o mesmo acontecendo com z (t ) e Z ( f ) . Nesse caso, Z ( f ) = v ( f )
Exemplo (Fig.18).:
Seja v ( t ) = rect ( t ) . A sua Transformada de Fourier é V ( f ) =ℑ[ rect (t )] =sinc ( f ) .
Então, se z (t ) = sinc (t ) , então, pelo Teorema da dualidade, Z ( f ) =ℑ[ sinc ( t ) ] = rect ( f )
z ( t)

Z ( f)

Figura 238. Transformadas de Fourier das funções rect(·) e sinc(·) unitárias


Generalizando: para z (t ) = A sinc (2Wt ) , Fig.19, a sua Transformada de Fourier é
A f
Z( f ) = rect ( )
2π 2W

Figura 19. Transformada de Fourier de uma função sinc(·) genérica


OBS.1: Z ( f ) dado na Fig.19 é característica de um filtro passa-baixas ideal, com (freqüência de) corte em
W.
OBS.2: O filtro passa-baixas ideal não é realizável na prática (observe que o sinal correspondente no tempo
não é nulo para t < 0 )
OBS.3: Outros tipos básicos de filtros ideais:

F. P. Altas (espectro unilateral)


24

Figura 20. Resposta em freqüência de filtro passa-altas ideal

F. P. Faixa (espectro unilateral)

Figura 21.
Resposta em freqüência de filtro passa-faixa ideal

F. Rejeita Faixa (espectro unilateral)

Figura 22.
Resposta em freqüência de filtro rejeita-faixa ideal

9. Translação (transladação) em freqüência e modulação


Se ℑ v (t ) = V ( f ) e z (t ) = v (t ) e j 2 π f 0t então
∞ ∞

∫ [ v (t ) e ]e ∫ v (t ) e
j 2 π f 0t − j 2π f t − j 2π ( f − f 0 ) t
Z( f ) = dt = dt = V ( f − f 0 )
−∞ −∞
Logo,
e j 2πf t v (t ) ←ℑ→V ( f − f c )
c

Esse resultado é chamado de teorema da transladação (deslocamento ) em freqüência ou teorema da


modulação complexa (Fig.23). Observe que a multiplicação de um sinal por uma exponencial complexa resulta em
um sinal com o espectro transladado pela freqüencia da exponencial complexa. Observe a dualidade desta
propriedade com a da de deslocamento no tempo (Prop. 2)
V(f) Z(f)
A
A
V(f)
V(f) V(f- f c ) V(f- f c )

-w 0 w f 0 f c -w fc f c +w f

Figura 23. Modulação complexa

e j 2πf t + e− j 2πf t
c c

Seja agora (modulação de portadora senoidal) : s(t ) = v (t ) cos( 2πf ct ) = v (t )


2
Aplicando a propriedade da linearidade e o teorema do deslocamento (modulação complexa) a cada um dos termos
da soma, obtém-se:
V ( f − fc ) V ( f + fc )
S( f ) = +
2 2
Nesse caso, os espectros do sinal original e do sinal modulado ficam (Fig.24):
V(f) S(f)
A

V(f)
V(f) A
2

-w 0 w f - fc -w - fc - fc +w f c -w fc f c +w f

Figura 24. Modulação de senóide real


Observe que, nesse caso, o espectro do sinal modulante, ou modulador, é replicado em torno das raias em
±f c da senóide. Este processo, conhecido como modulação em amplitude de portadora senoidal, é tratado com
maiores detalhes no Capítulo 3.
25

t
Exemplo (Carlson): seja z ( t ) = A rect(
τ ) cos( 2πf ct ) . Esta função é conhecida como pulso rf. Para
se determinar o seu espectro, podemos interpretá-lo como um sinal senoidal modulado por um pulso retangular e,
f
nesse caso, como V ( f ) = Aτsinc( ),
τ
Aτ Aτ
Z( f ) = sinc( f − f c )τ + sinc( f + f c )τ
2 2

Z(f)
z(t)
A A τ
2

-τ τ t
2 2

-A -f c fc f
1
fc -1 fc +
τ
τ

Figura 25. Modulação de senóide real por um pulso retangular (espectro de pulso rf)
OBS.: a multiplicação de uma função por uma função retangular (rect) é uma operação freqüentemente utilizada em
processamento de sinais e é conhecida como de "janelamento retangular"

10. Convolução e multiplicação


Define-se a operação de convolução entre dois sinais v ( t ) e w (t ) , através de uma integral de
convolução, como:

v (t )∗w(t ) = ∫ v (τ ) w(t − τ ) dτ
−∞
A convolução entre dois sinais pode ser graficamente interpretada como sendo uma função cujo valor a
cada instante é a área sob as curvas resultantes do produto de um dos sinais pelo outro rebatido no tempo e
transladado de −∞ ∞ a .
Exemplo (Carlson):
Ae −t , t ≥ 0 t
v (t ) =  e w(t ) = , 0 < t < T , a convolução entre esses dois sinais pode ser representado
0 ,t < 0 T
graficamente como na Fig.26, na qual (a) e (b) representam, respectivamente v(t) e w(t), (c) representa w(-τ ), (d)
representa w(t-τ ) para vários valores de t (note que se representa na abcissa a variável τ ), (e) nessa figura, por
exemplo, nos instantes t 1 e t 2 , deve-se calcular a curva resultante do produto ponto a ponto dos dois sinais na região
hachurada (fora dela o produto é nulo) e a área sob a curva resultante do produto dá o valor da integral de
convolução no instante considerado , (f) representa a função resultado da convolução
26

Figura 26. Ilustração gráfica da convolução


Matematicamente: se v ( t )∗ w( t ) = f ( t ) , pode-se reconhecer três trechos distintos para o sinal resultante:
(a) para t < 0 , f (t ) = 0 , no caso porque w ( τ ) = 0 para τ < 0
t
t −τ
(b) para 0 < t < T , f1 ( t ) =
A
T
[ ]
t + e−T − 1 , pois f (t ) = ∫ Ae −τ
T

0
t
t −τ
(c) e para t > T , f 2 (t ) =
A
T
[ ]
T + e −T − 1 e −t +T , pois f (t ) = ∫ Ae −τ
t −T
T

(fim do exemplo)


→W ( f ) , e sendo f (t ) = v (t )∗w (t ) , podemos

Dados, então dois sinais quaisquer, v ( t ) ←
→V ( f ) e w (t ) ←
determinar a relação entre ℑ v (t )∗w (t ) , ℑ v (t ) e ℑ w (t ) , tomando-se a Transformada de Fourier da integral de
convolução:

∞  − j 2πft ∞
∞ 
ℑ[ v (t )∗w(t ) ] = ∫∫
 v (τ ) ⋅ w ( t − τ ) d τ  e dt = ∫ v (τ )  ∫ w( t − τ ) e
− j 2 πft
dt dτ
−∞ −∞  −∞ −∞ 

∫ w(t −τ )e
− j 2 πft
Porém, dt = W ( f ) ⋅ e − j 2 πfτ , pela propriedade do deslocamento. Assim,
−∞
∞ ∞
ℑ[ v (t )∗w(t )] = [
∫ v (τ ) W ( f ) ⋅ e
− j 2 πfτ
]
dτ = W ( f ) ⋅ ∫ v (τ )e− j 2πfτ dτ = W ( f ) ⋅V ( f ) = V ( f ) ⋅W ( f )
−∞ −∞

Tem-se então que:



v ( t )∗w( t ) ←
 →V ( f ) ⋅W ( f ) ,

ou seja, a convolução de dois sinais no domínio do tempo implica produto (ou multiplicação) de seus espectros no
domínio da freqüência
OBS.: A integral de convolução descreve a resposta de sistema linear invariante com o deslocamento no
tempo. (LTI: Linear Time Invariant). Um sistema pode ser caracterizado como um dispositivo (Fig. 27) cuja saída
27

para uma entrada x (t ) é y (t ) = T x (t ) , onde T x (t ) descreve uma operação, transformação, mapeamento ou


algoritmo qualquer aplicado a x (t ) .

T [·]
x (t) y (t) = T [x (t)]
Figura 247. Um sistema genérico
Um sistema é caracterizado como linear e invariante com o deslocamento no tempo se T x (t ) possui as
propriedades de linearidade e de invariância com o deslocamento, i.e.:
1) Linearidade: x1 (t ) = a x1 (t ) + b x2 ( t ) ⇒ y ( t ) = a T[ x1 (t )] + b T[ y2 (t )] = a y1 ( t ) + b x2 (t )
2) Invariância com o deslocamento no tempo: T[ x (t −τ)] = y (t −τ)
Tais sistemas podem ser inteiramente caracterizados através de uma função denominada Resposta ao Impulso
Unitário. Define-se o impulso unitário, função delta ou função Delta de Dirac, ###(t), pela propriedade:

∫δ(t )φ(t ) dt = φ(0) ,


−∞
onde φ (t ) é uma função contínua em t = 0, denominada função testadora, e ###(t) é uma "função generalizada",
"função simbólica" ou "distribuição", que atribui o valor φ ( 0) à função testadora. Na expressão acima, a integral
não tem o sentido convencional (ordinário): a integral e a função ###(t) são definidas pelo número φ ( 0) atribuído a
φ (t ) , e não têm significados independentes. OBS.: em geral, uma distribuição é definida para funções testadoras que
tenham derivadas de qualquer ordem e que tendam a zero mais rapidamente que qualquer potência de t, para
t → ±∞ , porém esta restrição pode ser relaxada no caso do impulso, que requer apenas continuidade em t = 0 7.

Observe então que, se f ( t ) =1 , ∫δ(t) dt = 1 , ou seja, a "área" do Delta de Dirac (ou impulso unitário) é 1.
−∞

ε
Observe também que
∫ δ (t) dt = 1, ∀ ### arbitrariamente pequeno.
−ε
Representa-se esta função Delta de Dirac ou impulso unitário (na origem) graficamente como na Fig.28. Sub-
entende-se que a "área sob a curva" ( a "área do impulso") seja unitária:

Figura 28. Representação gráfica do Delta de Dirac ou Impulso Unitário


O impulso deslocado no tempo de τ é δ( t −τ) e ∫ f (τ )δ (t − τ )dτ = f (t ) , pois δ(t −τ) associa a f ( τ )


−∞
o valor desta função em t − τ = 0 , ou seja, em τ = t , pela definição do Delta de Dirac como uma distribuição.
Definindo-se a "resposta ao impulso" ou "resposta impulsiva" de um sistema LTI como a saída y (t ) = h (t ) do
sistema para uma entrada x (t ) = δ (t ) , então se o sistema é linear e invariante com o deslocamento, a saída para uma
entrada A δ (t − τ ) , onde A é uma constante qualquer em relação à variável independente t, é Ah (t − τ ) . Fazendo-se

A = x (τ ) , a saída será x ( τ ) h (t − τ ) e se a entrada for ∫ x (τ )δ (t − τ )dτ = x (t ) , então a saída será
−∞

y (t ) = ∫ x (τ )h(t − τ ) dτ = x (t )∗h(t ) , ou seja, a saída de um sistema LTI é a convolução entre o sinal de


−∞
entrada, x (t ) , e a resposta impulsiva do sistema, h (t ) . Portanto, o conhecimento da resposta impulsiva de um
sistema LTI, h (t ) , é suficiente para caracterizar completamente esse sistema, pois é possível determinar a sua saída
para qualquer entrada (Fig.29).

7Ver A. Papoulis: The Fourier Integral and its Applications, McGraw-Hill, NY, 1962, Apêndice I
28

Figura 29. Respostas de um sistema linear e invariante com o deslocamento (LTI)

Portanto, um sistema LTI pode ser analisado nos domínios do tempo ou da freqüência (Fig.30):

Figura 30. relação entre a entrada e a saída de um sistema LTI, nos domínios do tempo e da freqüência

OBS.: Pode-se, então, caracterizar um sistema através do um sinal, h(t), que é a sua resposta ao impulso unitário.
Portanto, técnicas de análise de sinais podem ser utilizadas para análise de sistemas LTI. A Transformada de
Fourier, H ( f ) = ℑ h (t ) , de h(t), é definida como sendo a Resposta em Freqüência do sistema. O aspecto
importante a ser lembrado é que dado um sistema linear e invariante com o deslocamento, a saída deste sistema no
tempo é a convolução do sinal de entrada com a resposta impulsiva do sistema e, na freqüência, a saída é o
produto do espectro do sinal de entrada pela resposta em freqüência do sistema.
11. Convolução em freqüência

Dados dois sinais quaisquer, v ( t ) ← ℑ
→V ( f ) e w (t ) ←→W ( f ) , prova-se que o produto dos sinais no tempo
implica convolução dos respectivos espectros na freqüência
∞ ∞
∞  − j 2πft ∞
∞ 
ℑ[ v ( t ) w(t )] = ∫ v (t ) w(t )e dt =
− j 2πft
∫ ∫
v ( t )  W ( λ) e j 2 πλ t
dλe dt = ∫ W ( λ)  ∫ v (t ) e
j 2 πλ t − j 2 πft
e dt dλ
   
−∞ −∞
−∞ 
   −∞ −∞ 
ℑ−1 [ w ( t ) ]


∞  ∞
= ∫W ( λ)  ∫ v (t ) e − j 2πft dt e j 2πλ t dλ = ∫W ( λ)V ( f −λ) dλ =W ( f )∗V ( f )

 
−∞
−∞    −∞
ℑ[ v ( t ) ] =V ( f )

=V ( f −λ) pela prop riedade do
desloca mento
ou seja,

v ( t ) ⋅ w( t ) ←→
 V ( f )∗W ( f )

II.3.C - Transformada de Fourier e Sinais de energia infinita


Pela definição, sinais de energia infinita (como, por exemplo, os sinais periódicos e o sinal constante no tempo) não
têm Transformada de Fourier. Porém, se utilizarmos o conceito da função Delta de Dirac ou Impulso, veremos que é
possível generalizar-se a representação por Transformada de Fourier para esse tipo de sinais.
29
No item II.3.B.10 foi definida a função impulso unitário (ou Delta de Dirac) ###(t) como uma "função generalizada"

ou "distribuição" tal que ∫ v (t )δ(t ) dt = v (0) , onde v ( t ) é uma função contínua em t = 0.


−∞


ε
Observamos, portanto, que se v ( t ) = 1 , então ∫δ(t ) dt
−∞
= 1 , assim como
∫ δ (t) dt = 1, ∀ ###
−ε
arbitrariamente pequeno. Portanto, ###(t) pode ser interpretado como uma função que tem área unitária concentrada
em t = 0 e que δ (t ) = 0 para t ≠ 0.
ε
Dada uma função δ ε ( t ) tal que lim ∫ v (t )δε ( t ) dt = v (0) , podemos dizer que o seu limite para ε → 0 pode
ε→0
−ε

ser interpretado como o Delta de Dirac ou função impulso unitário, i.e. que ε → 0 δ ε (t ) = δ (t ) . .
lim
Uma função convencional, ou ordinária, que satisfaz a condição acima é o pulso retangular isolado com
duração ε e amplitude 1/ε , portanto com área unitária (Fig.31).

1 t
δ ε (t ) = rect( )
ε ε

Figura 31. Pulsos retalgulares de duração ε e amplitude 1/ε , para ε → 0 : interpretação do Delta de Dirac

Há diversas outras funções cujo limite para duração no tempo tendendo a zero pode ser interpretado como
originando o Delta de Dirac, como o pulso sinc, de amplitude 1/ε e com zeros em nε , n inteiro, i.e.
1 t
δ ε (t ) = sinc   .
ε ε
É, contudo, importante manter em mente que o Delta de Dirac só tem sentido como função generalizada ou
distribuição, como definido originalmente, caso contrário, o resultado do produto de qualquer função por outro de
amplitude infinita resultaria em sinal de amplitude também infinita.

De modo geral, se v (t ) é uma função ordinária e φ (t ) uma função testadora tal que ∫v (t )φ(t )dt

exista para cada φ (t ) , então a integral (ordinária) é um valor I v φ (t ) que depende de φ (t ) . Podemos, então
redefinir v ( t ) como uma distribuição que atribui a φ (t ) o valor I v φ (t ) , ou seja, uma função ordinária pode ser
interpretada como uma distribuição.
∞ ∞

Por exemplo, seja a função degrau unitário v ( t ) = u ( t ) . Como ∫u(t )φ(t )dt = ∫φ(t )dt ,

∞ 0
podemos interpretar u (t ) como uma distribuição que atribui a φ (t ) um número que é igual à área de φ (t ) de 0 a ∞
Este processo de atribuição de valores a integrais pode ser extendido a distribuições que não têm sentido
como funções ordinárias, como é o caso do impulso unitário, e serve como uma das justificativas para o uso da
notação com o operador de integração para a sua definição.
Uma distribuição f (t ) não pode ter valores específicos para um dado t, porém ela pode ser igualada a uma
função ordinária v ( t ) em um certo intervalo (a , b ) , i.e., f (t ) = v (t ) , se para todas as funções testadoras que
forem iguais a zero fora do intervalo (a ,b ) , i.e. com φ (t ) = 0, t < a e t > b , tivermos:
30
b ∞

∫ f (t )φ(t )dt = ∫ v (t )φ(t )dt


a −∞
e isso permite, por exemplo, que se escreva que δ (t ) = 0 para t ≠ 0.
Um outro aspecto importante no uso da notação com o operador de integração é que as operações formais
envolvendo integrais são válidas para as distribuições, como por exemplo, integração por partes, mudança de
variáveis, linearidade, etc.
Algumas propriedades da função impulso:
∞ ∞
1 1
a) δ (αt ) =
α
δ (t ), α ≠ 0 , pois ∫δ(αt )dt = α ∫δ( x )dx . Portanto, δ(t ) =δ( −t ) , i.e., a função
−∞ −∞
impulso é par.

b) v (t )∗δ (t − τ 0 ) = ∫ v(τ )δ (t − τ 0 − τ ) dτ = v(t − τ 0 ) , ou seja a convolução de um sinal com um impulso


−∞
deslocado no tempo translada o sinal da origem (tomando t = 0 como referência de tempo para o sinal) para o
instante em que o impulso ocorre (Fig.32)

v(t)
δ (t-τ 0 )
v(t- τ 0)
=
*
0 t 0 τ0 t 0 τ0 t
Figura 32. Deslocamento do sinal por convolução com Delta de Dirac deslocado

c) ∫ v(t )δ (t − τ 0 ) dt = v(τ 0 ) . Esta operação é freqüentemente representada simplificadamente por


−∞

v (t ) ⋅ δ ( t − τ 0 ) = v (τ 0 ) e diz-se que é tomada uma amostra do sinal no instante em que o impulso ocorre,
"multiplicando-se o sinal pelo impulso". Nessa representação simplificada, fica implícito o operador de
integração ou, em outras palavras, que o impulso é uma distribuição.
d) define-se, também, a derivada da função delta por uma relação de integração:
∞ ∞

∫δ′(t )φ(t )dt = − ∫δ(t )φ′(t )dt = −φ′(0)



∞ −

dδ (t ) dφ(t )
ou seja, δ ′( t ) = é uma função generalizada que atribui o valor −φ′( 0) = à função
dt dt t =0

testadora. Esta definição é consistente com a operação formal de integração por partes pois, considerando que
φ (t ) → 0, t → ±∞ :
∞ ∞ ∞

∫δ′(t )φ(t )dt = δ(t )φ(t ) −∞ − ∫δ(t )φ′(t )dt = −∫δ(t )φ′(t )dt
−∞ −∞ 0
De maneira geral:

d n f (t )
∫δ (t ) f (t )dt = ( −1) f (0) = ( −1) n
(n) n (n)

−∞
dt n t =0

(e) v ( t )δ( t ) =v ( 0)δ( t ) , pois


∞ ∞ ∞ ∞

∫[ v (t )δ(t )]φ(t ) dt = ∫δ(t )[ v (t )φ(t )] dt = v (0)φ(0) = v (0) ∫δ(t )φ(t ) dt = ∫[ v (0)δ(t )]φ(t ) dt
−∞ −∞ −∞ −∞
e a prova desejada é obtida comparando-se o primeiro e último termos da expressão acima
du (t )
(f) u′( t ) = = δ (t ) , i.e. a derivada de uma função degrau unitário é um impulso unitário, pois:
dt
∞ ∞ ∞

∫ u′(t )φ(t )dt = u(t )φ(t ) −∞ − ∫ u(t )φ′(t )dt = −∫φ′(t )dt = φ(0) ,
−∞ −∞ 0
lembrando que a função testadora se anula para t → ±∞ .
Com esta propriedade, é possível definir a derivada (generalizada) de uma função (sinal) que apresente
descontinuidades finitas , pois tal função pode ser representada como a soma de uma função contínua (derivável) e
31
degraus que ocorrem nos pontos de descontinuidades (Fig.33), tal que a derivada de tal função com
descontinuidades é igual à derivada da função contínua mais impulsos nos pontos de descontinuidade, com áreas
iguais às amplitudes das descontinuidades.

Figura 33. Sinal com descontinuidade (a), representado como soma de sinal contínuo (b) com degrau (c)

No exemplo da Fig. 33, v (t ) = f (t ) + g (t ) = f ( t ) + Au ( t −τ) , tal que


v ′(t ) = f ′(t ) + g ′(t ) = f ′( t ) + Aδ (t − τ)
(g) Trem de impulsos como função amostradora: definindo-se a "função repetição" ou "função repetida" a
∞ ∞

[
intervalos T como rep T f ( t ) ] ∑ f (t − nT ) , tem-se que rep T [ δ (t )] = ∑δ (t − nT ) representa um
n =−∞ n =−∞
Trem de Impulsos espaçados de T (Fig.34)
repT δ[ t( ] )

... ...

-T 0 T 2T t
Figura 34. Trem de impulsos

Assim, dado um sinal v (t ) qualquer, v (t ) ⋅rep T [ δ(t )] representa o sinal v(t) amostrado idealmente (Fig. 35) a
intervalos T, de modo que o processo ou operação de amostragem ideal de um sinal pode ser representado pela
multiplicação desse sinal por um trem de impulsos. Esta amostragem é considerada ideal pois o trem de impulsos
não é realizável na prática.
repT δ[ t( ])

x
... ... =
... ...
0 t -T 0 T 2T t -T 0 T 2T t
(a) sinal (b) trem de impulsos de amostragem (c) sinal amostrado
Figura 35. Amostragem ideal de um sinal. Em (c), o sinal original é indicado em linha pontilhada
Note a convenção adotada, segundo a qual as "amplitudes" dos impulsos são desenhadas proporcionais às áreas
dos mesmos, que são iguais aos valores do sinal nos instantes considerados.
A seguir, são dados exemplos da utilização do conceito da função impulso para a determinação da Transformada de
Fourier de sinais que não sejam absolutamente integráveis ou que não tenham energia finita.
1. Sinal constante no tempo (sinal dc):
Considere o sinal v ( t ) = A ### constante. Este sinal não tem Transformada de Fourier na forma definida
anteriormente, pois tem energia infinita, mas note que
v (t ) = lim A sinc( 2ωt ) = A . Mas
w→0

A f
A sinc(2ωt ) ←ℑ→ rect( ).
2ω 2ω
32

A f
Como lim rect ( ) = Aδ ( f ) então possível dizer que:
ω→0 2ω 2ω

ω→0 [
ℑ[ A] = ℑ lim A sinc( 2ωt ) = lim  ] A
ω→0  2ω
rect (
f 
) = Aδ ( f ) .
2ω 
∞ ∞

De fato, ℑ [ Aδ ( f )] = ∫ Aδ ( f )e df = A ∫ δ ( f )e df = A , portanto (Fig.36)


−1 j 2 πft j 2 πft

−∞ −∞


A ←→ A δ ( f )

v(t) ℑ [A ]

A ℑ Aδ (f)

0 t 0 f
Figura 36. Sinal constante no tempo ("dc") e sua Transformada de Fourier

2) Sinais periódicos
a) sinal senoidal

Pela propriedade do deslocamento em freqüência, se A ←ℑ→ Aδ ( f ) , então Ae j 2πf c t ←ℑ→ Aδ ( f − f c ) e como


e j (ω t +φ ) + e − j (ω t +φ )
c c

A cos( ω ct + φ) = A , tem-se que (aplicando as propriedades de linearidade e de


2
deslocamento):
ℑ Ae jφ Ae − jφ
A cos( ω ct + φ) ←
 → δ ( f − fc ) + δ ( f + fc )
2 2
O sinal e o seu espectro de freqüências são ilustrados na Fig.37.

Figura 37. Sinal senoidal (a) forma de onda, (b) espectro de amplitude e (c) espectro de fase

Comparando esta representação gráfica do espectro e a da Fig.8, a diferença é que na descrição por Transformada de
Fourier (Fig.37), as funções representativas dos espectros de amplitude e fase são impulsos enquanto que na da
Fig.8 (que equivale à da representação pela Série Exponencial de Fourier), são utilizados segmentos de reta com os
valores dos coeficientes da expansão. Na representação por impulsos, a função descritiva tem valor nulo (zero) nos
instantes onde não existem impulsos, ou seja, é definido para todo f (i.e, contínua em f ). Na representação em Série,
os valores de f são discretos e só são definidos nos pontos nf 0 , n inteiro.

b) Sinal periódico qualquer


33
Dado um sinal periódico, ele pode ser representado (obedecidas certas condições) por uma combinação linear

~(t ) =
de senóides (expansão em Série de Fourier), i.e., v ∑C e n
j 2 πnf 0 t
. Utilizando as propriedades de
n =−∞

~ (t ) =
superposição (linearidade) e de deslocamento em freqüência, tem-se então que ℑ v [ ] ∑C δ ( f n − nf 0 )
n =−∞
OBS.: para enfatizar o fato de se estar representando um sinal periódico, utiliza-se a notação com um til sobre a
~ ( t ) em vez de v ( t ) . Esta notação especial para sinais periódicos só será utilizada quando houver
função, i.e, v
necessidade de se destacar a periodicidade do sinal.
Para um sinal periódico, existe uma correspondência entre seus espectros de amplitude obtidos a partir da série e da
transformada de Fourier.
c) Considerando o caso particular de um trem de impulsos :

rep T [ δ (t )] = ∑δ (t − nT )
n =−∞
Como se trata de um sinal periódico, ele pode ser expresso em termos de termos de uma Série de Fourier:

2π 1 1
rep T [ δ (t )] = ∑ Cne jnω t ,ω0 = 0
= 2πf 0 e Cn = ∫ δ(t )e− jn ω t dt = 0

n =−∞ T T T T

1
Logo, rep T [ δ (t ) ] = ∑e jnω t 0
. A sua Transformada de Fourier é:
T n =−∞
∞ ∞

∑ℑ[ e jnω t ] = T ∑ δ ( f
1 1 1
[
ℑ rep T [ δ (t )] = ] T n =−∞
0

n =−∞
− nf 0 ) =
T
rep 1 [ δ ( f )]
T
Assim, a Transformada de Fourier de um trem de impulsos é também um trem de impulsos :
∞ ∞
1 1
repT [ δ (t )] = ∑ δ (t − nT ) ←→ rep 1 [ δ ( f )] = ℑ
∑ δ ( f − nf0 )
n =−∞ T T
T n =−∞

(d) Seja agora o exemplo de trem de pulsos retangulares


O trem de pulsos retangulares pode ser representado pela convolução de um pulso retangular isolado e um
t
trem de impulsos (Fig.38), i.e., por v (t ) = Arect ( ) * rep T [ δ (t )] , pois a operação de convolução de um sinal
τ
com um trem de impulsos implica reproduzir este sinal a cada ocorrência de um impulso (v.Fig.32 e o texto
correspondente).

v (t) r e p [δ t (] ) r e p[v ( t ) ]
T T

* ... ... = ... ...


0 t -T 0 T 2T t -T 0 T 2T t
Figura 38. Trem de pulsos retangulares como resultado da convolução entre pulso retangular e trem de
impulsos
Conhecendo-se as Transformadas de Fourier do pulso retangular isolado e do trem de impulsos e aplicando as
propriedades do escalonamento e convolução ← ℑ
→ multiplicação, calcula-se facilmente a Transformada de
Fourier do trem de pulsos retangulares (Fig.39):
t 1 ∞
Aτ nτ n
Arect( ) * repT [ δ (t )] ←

→ A τ sinc( fτ). rep 1 [ δ ( f )] = ∑ sinc( )δ ( f − )
τ T T n = −∞ T T T
34

Figura 39. Transformada de Fourier de Trem de pulsos retangulares: sinc amostrada (a) como produto das de pulso
retangular: sinc contínua (b) com a de trem de impulsos no tempo: trem de impulsos na freqüência (c)

e) A transformada de Fourier da "função sinal" ou "função signum" e da “função degrau unitário”

 1, t > 0
Função sinal (Fig.40a): sgn( t ) = 
−1, t < 0

 e − a t t > 0
Para a determinação do espectro desse sinal, seja: v (t ) =
a  at
 − e t < 0
Observe que lim v a (t ) = sgn (t ) e que
a→0

e −( a + j 2 πf ) t a − j 2 πf
[ ] 1

ℑe −at
⋅ u( t ) = ∫ e −( a + j 2 πf ) t
dt = − = = 2 .
0 a + j 2 πf 0
a + j 2 πf a + ( 2 πf ) 2
ℑ ℑ
Considerando que se v (t ) ←→V ( f ) , então v ( −t ) ←
 , tem-se que
→−V ( − f )
1 1 j 4 πf
ℑ[ v a (t )] = − + =− 2 .
a − j 2 πf a + j 2 πf a + (2 πf ) 2
j 1
Logo, tomando-se o limite para a → 0 na equação acima, tem-se que ℑ[ sng (t ) ] = − = , ou seja:
f jf
 1, t > 0 ℑ 1
sgn(t ) =  ← →
−1, t < 0 jπf

(a)sinal (b) espectro de amplitude


Figura 40. Função "signum" e seu espectro de amplitudes

1 1
Função degrau unitário (Fig.41a). Observando que u( t ) = sgn ( t ) + :
2 2
1, t > 0 ℑ 1 δ( f )
u( t ) =  ←→ +
0, t < 0 j 2 πf 2
35

(a) deg rau un itário (b ) espectro de am plitu des


Figura 41. Função degrau e seu espectro de amplitudes

3) Generalização da propriedade de integração


Com o conceito da função Delta de Dirac, é possível retirar a condição imposta no item II.3.B.5 para a
Transformada de Fourier da integral de um sinal, qual seja a de que o seu nível dc (ou a área sob a curva
representativa do sinal) seja nulo, aplicando a propriedade da convolução e a Transformada de Fourier de um degrau
e observando que:
t ∞

∫ v(λ) dλ = ∫ v(λ)u(t − λ)dλ = v(t )∗u(t ) .


−∞ −∞
Tomando-se a Transformada de Fourier obtém-se:

t   1 1 
ℑ ∫ v ( λ ) dλ  = ℑ[ v (t )∗u(t )] = ℑ[ v (t )] ⋅ ℑ[ u(t )] = V ( f ) ⋅  + δ ( f )
−∞   j 2π f 2 
e, portanto, considerando que V ( f )δ( f ) =V ( 0)δ( f ) :
t
1 1
∫ v(λ ) dλ ←→ V ( f ) + V (0)δ ( f )

−∞
j 2π f 2
∞ ∞

onde V ( 0) = ∫ v (t ) e − j 2π 0t
dt = ∫ v(t ) dt é o nível dc do sinal.
−∞ −∞

II.4 - Sinais amostrados e seu espectro


1
Dado um sinal qualquer x (t ) ←
ℑ
→ X ( f ) , esse sinal amostrado idealmente, a intervalos T = , pode ser
fs
representado (v. II.3.C, Fig. 35) por:
v (t ) = x (t ) ⋅ rep T [ δ( t )]
O espectro do sinal amostrado pode ser determinado tomando-se a Transformada de Fourier de ambos os membros
da equação acima como:
1 1
[ ] [
ℑ[ v (t )] = ℑ x (t ) ⋅ rep T [ δ (t )] = ℑ[ x ( t )] ∗ℑ rep T [ δ (t )] = X ( f )∗ ] T
rep 1 [ δ ( f )] = rep 1 [ X ( f )]
T
T T
que pode ser representado graficamente como na Fig. 42:
1
1
re p 1 [δ f ( ] ) T
r e p 1[X ( f) ]
X ( f) T
T T

* ... . .. = . .. ...
-F 0 F f - T1 0 1 2 f - T1 -F 0 F 1 2 f
T T T T
Figura 42. Espectro de sinal amostrado como convolução do espectro do sinal original com trem de
impulsos em freqüência
Verifica-se, portanto, a reprodução (ou repetição) do espectro original em torno das harmônicas da
1
freqüência de amostragem, a menos da constante 1/T, e desde que a freqüência de amostragem seja f s = ≥ 2 F ,
T
36
onde F é a maior freqüência do sinal. Logo, o sinal original (contínuo, ou analógico), nessas condições, pode ser
recuperado multiplicando-se o espectro do sinal amostrado por uma função T rect fT , que é um filtro passa-baixas
1 f
ideal com corte em f c = = s e ganho T na faixa de passagem ( 0 a f c ). Essa operação de filtragem ideal anula
2T 2
as réplicas do espectro original em torno das harmônicas da freqüência de amostragem ( nf s , n ≠ 0 inteiro) e
reconstitui o espectro do sinal em torno da origem. No tempo, essa operação equivale a convolver as amostras do
t L
M O
sinal com uma função sinc
T NPQ
, conhecida como função interpoladora ideal.
A possibilidade de representação de um sinal contínuo no tempo (sinal analógico) por meio de amostras
(sinal discreto no tempo) é um resultado importante, utilizado nos processos de digitalização de sinais, necessários
para o processamento digital de sinais analógicos, como armazenamento (e.g. discos digitais de áudio - CD's - e de
vídeo), transmissão e tratamento digital de voz e imagens, sistemas digitais de controle, sensoriamento remoto, etc.,
e que pode ser expressa pelo denominado Teorema da Amostragem ou Teorema de Nyquist:
Teorema de Nyquist (teorema da amostragem)8: Um sinal limitado em faixa (que não contenha componentes de
freqüência acima de F Hz) pode ser completamente recuperado a partir de amostras tomadas a uma taxa de 2F
amostras/s ou maior.
Quando se amostra um sinal tipo passa-baixas (sinal com espectro de freqüências em torno da origem) a uma taxa
inferior à Taxa de Nyquist ocorre uma superposição dos espectros reproduzidos em torno da freqüência de
amostragem e de suas harmônicas (Fig.43)
1 ( f )]
1
r e p1 [δ f ]( ) T
r e p1[X
X (f) T
T T

* ... ... = ... ...


0 0
-F F f - T1 1
T
2 f - T1 - F 0 F 1
T
2 f
T T
Figura 43. Amostragem abaixo da Taxa de Nyquist: espectros repetidos com superposição
O efeito da superposição é tanto pior quanto menor for a freqüencia de amostragem em relação à freqüência de
Nyquist (Fig.44).
1
T
r e p1[X ( f) ]
T

... ...
0
- T1 - F F 1
T
2 f
T
Figura 44. Espectro de sinal amostrado com superposição das réplicas dos espectros
em torno da primeira e segunda harmônicas da freqüência de amostragem
sobre o espectro banda-base (do sinal original)
1 f
Nesse caso, o uso do filtro de reconstrução ideal, com corte em f c = = s , não recupera o sinal original, mas
2T 2
fs
sim um sinal cujo espectro é limitado a e "contaminado" por parte do(s) espectro(s) reproduzido(s) em torno
2
da(s) harmônica(s) da freqüência de amostragem (Fig.45):

8 Há diferentes formulações para o Teorema da amostragem, como resultado de pesquisas independentes sobre o
problema da discretização no tempo de um sinal e sua reconstituição.
37
1
T
re p 1[X (f) ] ~
X (f) T
X (f)
filtro id e a l d e
re c o n st ru ç ã o

... ... ...


-F 0 F 0 F 0
f - T1 -F 1
T
2 f - T1 -F21T 1F
2T
1
T
f 2
T T

(a ) sin a l o rig in a l (b ) s in a l a m o st ra d o (c ) s in a l re c o n stitu íd o


Figura 45. Reconstrução de sinal amostrado a taxa sub-Nyquist. Espectros dos sinais (a) original, (b) amostrado e
(c) reconstituído
Observe, na Fig.45c, que o efeito da superposição de espectros reproduzidos no sinal reconstituído com filtro ideal
pode ser interpretado como um dobramento ("fold-over", em inglês) das componentes de sinal cujas freqüências
f 1
excedem a metade da freqüência de amostragem para dentro da faixa de 0 a s = < F . Esta parte do espectro
2 2T
"dobrado" significa componentes antes inexistentes no sinal e, portanto, conhecidos como "alias frequencies" (em
inglês) e o processo como de "aliasing".
Seja, por exemplo, um sinal senoidal, s( t ) = A cos( 2πf 0t ) . O sinal amostrado correspondente e seu respectivo
espectro são:

v (t ) = A cos( 2πf 0t ). rep T [ δ (t )]

A 1
ℑ[ v (t )] =
2
[ δ ( f − f 0 ) + δ ( f + f 0 )] ∗ rep 1 [ δ ( f )]
T T

Se f s > 2 f 0 , não ocorre "aliasing", como mostrado na Fig.46

Figura 46. Espectros de senóide e sua versão amostrada a uma taxa maior que a de Nyquist
1 f
Observe que se for utilizado um filtro de reconstrução ideal com corte em f c = = s , e ganho T, o espectro do
2T 2
sinal original (raias em ±f 0 ) é exatamente recuperado e, de acordo com a unicidade da Transformada de Fourier, se
o espectro recuperado é igual ao do sinal original, então o sinal no tempo correspondente é também exatamente
recuperado.
Diz-se que um sinal é amostrado à Taxa de Nyquist quando as amostras são tomadas a exatamente duas vezes a
maior freqüência presente nele, i.e. quando se amostra à Freqüência de Nyquist: f s = f Nyq = 2 F .
Contudo, se o sinal for amostrado a uma freqüência f s < 2 f 0 (diz-se, então, que o sinal é sub-amostrado - em
relação à taxa de Nyquist -; se f s >> f Nyq , diz-se que o sinal é super-amostrado)9, o espectro do sinal amostrado
será, por exemplo,como indicado na Fig.47:

9 A amostragem à taxa de Nyquist é condição suficiente para permitir a sua reconstrução exata, porém não é
condição necessária.
38

Figura 47. Espectros de senóide e sua versão sub-amostrada


1
Observe que o sinal reconstruído é uma senóide de freqüência f s − f 0 = − f 0 diferente da original f s , donde
T
o nome "alias" (do latim alias : de outra maneira, ou por outra). Como exemplo, na Fig.48 são ilustrados: (a) em
linhas cheias, o sinal senoidal original, (b) com impulsos, as amostras tomadas a intervalos maiores que o de
Nyquist (portanto, com freqüência, ou taxa, de amostragem inferior) e (c) em linhas tracejadas, a senóide que seria
reconstituída com um filtro passa baixas ideal com corte na metade da freqüência de amostragem: o "alias".

sinal "alias"

T 2T
T0

Figura 48. Senóide sub-amostrada e o conseqüente 'aliasing" na reconstituição do sinal

O sinal senoidal (portanto com espectro impulsivo) não pode normalmente ser amostrado à Taxa de Nyquist, pois
nesse caso ocorreria superposição de raias dos espectros do sinal original e do espectro reproduzido em torno da
freqüência de amostragem e de suas harmônicas. Na prática, é usual utilizar-se taxas de amostragem de 2,5 a 5 vezes
a maior freqüência do sinal (e.g, voz, limitado a 3,4 kHz amostrado a 8 kHz ou 10 kHz, vídeo limitado a 4,2 MHz
amostrado a 10,7 MHz, áudio limitado a 15 kHz amostrado a 50 kHz, etc.), a fim de se poder usar filtros não ideais
na reconstrução. Alguns detalhes adicionais serão vistos quando do estudo da modulação por código de pulsos, ou
PCM ( Pulse Code Modulation ). Detalhes mais profundos e situações em que o Teorema de Nyquist (condição
suficiente mas não necessária) não é utilizado na amostragem são tratados na disciplina Codificação Digital de
Sinais (ET-235).

CAPÍTULO 3

MODULAÇÃO EM AMPLITUDE - AM
Modulação, como vista no Capítulo 1, é um processo no qual alguma(s) característica(s) de uma forma de onda
chamada de portadora é (são) alterada(s) sistematicamente de acordo com a(s) de uma outra forma de onda,
denominado moduladora. Quando a portadora é uma senóide, diz-se que a modulação é cw (do inglês: Continuous
Wave) e quando a portadora é um trem de pulsos diz-se que a modulação é pulsada . Em qualquer dos casos, a
modulação em amplitude (AM, do inglês Amplitude Modulation) pode ser definida como aquela em que a
amplitude de uma onda portadora é variada linearmente de acordo com o sinal modulador (a mensagem) e,
conseqüentemente, este tipo de modulação é também conhecido como cw linear.
Neste capítulo é estudada a modulação em amplitude de uma portadora senoidal, analisando-se diversas
possibilidades.

III.1 - AM-DSB com portadora (ou, simplesmente, AM)

III.1.1 - Análise no domínio do tempo:


A forma mais simples (e convencional) de modulação em amplitude é descrita pela seguinte equação:
39

v (t ) = A c 1 + k av m (t ) cos( 2 πf c t ) = a (t ) cos( 2 πf c t )
onde:
v (t ) é o sinal modulado
A c cos( 2 πf c t ) é a portadora senoidal de amplitude A e freqüência f c .
k a é uma constante positiva denominada sensibilidade (de modulação) em amplitude do modulador
v m (t ) é o sinal modulador
a (t ) é a amplitude do sinal modulado
Na Fig.1 são apresentadas as formas de onda de um sinal modulador senoidal (a), da portadora senoidal (b) e
do sinal modulado (c):

Figura 25. Modulação em Amplitude - AM (DSB com portadora)


Define-se como envoltória do sinal modulado o sinal que se obtém da interpolação dos picos positivos do
sinal modulado (Fig.1c). A variação pico-a-pico da envoltória depende do índice de modulação. Define-se

µ (t ) = k a v m (t ) como o índice instantâneo de modulação (em porcentagem se multiplicado por 100%) e

µ = µ (t ) máx como o índice de modulação. O sinal modulado pode, então, também ser escrito como
v (t ) = A c 1 + µx m (t ) cos( 2 πft ) , se x m (t ) representar o sinal modulador normalizado para uma amplitude
máxima igual a 1.
Observe que se µ ≤ 1 (i.e., índice de modulação menor ou igual a 100% ), o termo 1+ k a v m (t ) .será sempre
positivo e se f c >> W , onde W é a maior freqüência presente no sinal, então a envoltória do sinal modulado (Fig.1c)
reproduz a forma de onda do sinal modulador (Fig.1a), a menos de uma constante que depende do índice de
modulação, e o processo de demodulação (processo de recuperação do sinal modulador a partir do sinal modulado)
pode ser realizado simplesmente extraindo-se do sinal modulado a sua envoltória, através de um detector de
envoltória (a ser visto mais tarde).
Com o índice de modulação de 100%, o sinal modulado terá amplitudes variando entre zero e 2Ac . Contudo, se o
índice de modulação exceder 100%, a envoltória do sinal modulado não reproduzirá a forma de onda do sinal
modulador nos instantes em que os índices instantâneos de modulação forem tais que o fator 1+ k a v m (t ) seja
negativo (Fig.2) e, nesse caso, o processo de demodulação não pode ser o de detecção de envoltória. Observe , no
detalhe ampliado (Fig.2c), como há uma inversão de polaridade (fase) do sinal modulado em relação à da portadora
não modulada, nos instantes em que há sobre-modulação (índices instantâneos de modulação superiores a 100%).
Observe, também, a envoltória e o sinal modulador sobrepostos ao sinal modulado (Figs.2a e 2b) e note que o sinal
modulador pode ser recuperado interpolando-se os picos do sinal modulado que ocorrem nos instantes
correspondentes aos picos positivos da portadora não modulada (Fig.2c) em vez dos picos positivos da portadora
modulada.
40

Figura 26. Sinal modulado em amplitude, com índice de modulação maior que 100%

III.1.2 - Análise no domínio da freqüência:


Reescrevendo o sinal modulado em amplitude como:
v (t ) = A c cos( 2 πf c t ) + A c k a v m (t ) cos( 2 πf c t ) .
e achando-se a Transformada da Fourier:
A A k
V ( f ) = c δ ( f − f c ) + δ ( f + f c ) + c a V m ( f − f c ) +V m ( f + f c )
2 2
pode-se observar que o processo de modulação em amplitude simplesmente translada (desloca) de f c , que é a
freqüência da portadora, o espectro do sinal modulador (a menos de uma constante, que depende do índice de
modulação)

V(f)
V(0)

V(f)
V(f)

-w 0 w f

(a) espectro do sinal modulador


Largura de faixa = w

(b) espectro do sinal modulado

Figura 27. Espectros do sinal modulador (a) e modulado (b) em amplitude (AM-DSB com portadora)
Observe (Fig.3b) que no espectro do sinal modulado aparecem impulsos que correspondem à portadora senoidal, em
torno das quais são reproduzidos o espectro (a menos de uma constante) do sinal modulador, donde este tipo de
modulação é denominado com portadora. A presença das bandas laterais superior (USB, do inglês Upper Side
Band) e inferior (LSB, do inglês Lower Side Band) faz com que este tipo de modulação em amplitude seja
conhecido, em inglês, como DSB (Double Side Band). Note, também, que nesse caso a largura de faixa do sinal
modulado é de 2W em torno da portadora, para um sinal modulador de largura de faixa W . Isto significa que a
largura de faixa do canal para transmissão do sinal AM-DSB (nesse caso, com portadora) é de duas vezes a
largura de faixa que seria necessária para a transmissão do sinal na banda-base, sem modulação.

III.1.3 - Caso particular de sinal modulador senoidal

Seja o sinal modulador v m (t ) = A m cos( 2 πf m t ) e a portadora v c (t ) = A c cos( 2 πf c t ) . Nesse caso, o sinal


modulado é dado por:
41

v (t ) = A c 1 + k a A m cos( 2 πf m t ) cos( 2 πf c t ) = A c 1 + µ cos( 2 πf m t ) cos( 2 πf c t ) = a (t ) cos( 2 πf m t ) ,

onde µ = µ (t ) máx = k a A m
amáx A (1 + µ )
Note que = c e, conseqüentemente, o índice de modulação pode ser determinado por :
amín A c (1 − µ )
a − amín
µ = máx
amáx + amín

No domínio da freqüência,
Ac µA
V (f ) = δ (f − f c ) + δ (f + f c ) + c δ (f − f c − f m ) + δ (f − f c + f m ) + δ (f + f c − f m ) + δ(f + f c + f m )
2 4

Figura 28. Espectros de sinal modulador senoidal (a) e do sinal modulado em amplitude (AM-DSB com
portadora)
Ac
Note, na Fig .4b as duas raias de amplitude em ±f c , correspondentes à portadora, e as raias de amplitude
2
A A A
µ c = k a c m em ± ( f c + f m ) , correspondentes à banda lateral superior, e em ± ( f c − f m ) , correspondentes à
4 4
banda lateral inferior.
O diagrama fasorial correspondente é apresentado na Fig.5:
Im
fm

Ac
µ
4 ωm t
fc
Ac
- ωm t
2
Ac
ωc t µ - fm
4
- ωc t fm resultante total Re
Ac ωm t
2 -fc - ωm t
Ac
µ
4
- fm

Figura 29. Diagrama fasorial de senóide modulada por outra senóide

Ac
Note, na Fig.5, que as resultantes das somas vetoriais dos fasores de amplitude µ , correspondentes ao
4
sinal modulador, girando com freqüência ±f m Hz em relação aos fasores correspondentes à portadora, estão
sempre em fase com esses, que giram com freqüência ±f c Hz, em relação aos eixos real e imaginário do diagrama
fasorial. A resultante da soma vetorial de todos os fasores (correspondentes aos sinais modulador e portador) está
42
em fase com o eixo real, ou seja, um sinal senoidal modulado por outra senoide em AM-DSB é um sinal real, com
b g b g
amplitude variando de Ac 1− µ a Ac 1+ µ .
Uma forma alternativa, mais simples, de representação fasorial de sinal senoidal modulado por outra senóide,
é o da Fig.6, na qual a portadora aparece sempre em fase com o eixo real (corresponde ao diagrama da Fig.5 para o
instante t tal que ω c t = 0 ). Note que a resultante da soma dos fasores do sinal modulador e da portadora também
b g b g
está em fase com o eixo real e tem amplitude variando de Ac 1− µ a Ac 1+ µ , como na representação anterior:
Im

fm
Ac
µ
fc 2
ωm t
Ac - ωm t Re
Ac
µ
2
- fm

Figura 30. Diagrama fasorial de senóide modulado por senóide para ω c t = 0


O diagrama fasorial pode ser utilizado para se analisar graficamente, por exemplo, efeitos decorrentes da
passagem de um sinal modulado em amplitude por um canal de transmissão assimétrico ou se o próprio processo de
modulação provoca tal assimetria, como ilustrado na Fig.7a
Im
fm

re s u lta n te to ta l
fc c o m p o n e n te e m q u a d ra tu ra

Ac Re
c o m p o n e n te e m fa se

-fm
(a ) esp e c tro d a p o rta d o ra m o d u la d a
(b ) d ia g ra m a fa s o ria l
Figura 31. Sinal AM com sinal modulador senoidal e com a raia lateral inferior atenuada em relação à
superior (a) espectro (b) diagrama fasorial
Observe, na Fig.7b, que a assimetria entre as raias laterais inferior e superior faz com que (a) o fasor resultante da
soma vetorial dos fasores correspondentes ao sinal modulador tenha uma componente em fase, na direção do eixo
real, e uma componente em quadratura, na direção do eixo imaginário; (b) a resultante total (soma dos fasores
correspondentes à portadora, de amplitude A c , e ao sinal modulador) tem, portanto, também uma componente em
quadratura. Conseqüentemente, a menos dos instantes em que os fasores correspondentes às raias inferior e superior
do sinal modulador estão alinhados na direção do eixo real, a resultante total apresenta uma fase que varia em
relação à da portadora (convencionado como sendo na direção do eixo real). A defasagem é máxima quando os
fasores correspondentes ao sinal modulador se alinham na direção do eixo imaginário. A "ponta" do fasor resultante
percorre a elipse pontilhada mostrada na Fig.7. No caso em que uma das raias (no exemplo, seria a correspondente à
raia inferior) é totalmente eliminada, a elipse se transforma em um círculo.

III.1.4 - Potência do sinal modulado


A potência média normalizada (dissipada sobre impedância unitária) é definida como:
T

PT

v (t ) 2 ∆ lim
t →∞
1
T

2

z T
v (t ) dt
2

2
2
Quando o sinal é real, v (t ) = v 2 (t ) e considerando o caso geral de sinal modulado em amplitude:
v (t ) = A c 1 + k av m (t ) cos( 2 πf c t )
43

L
1 + cos( 4 πft ) O
M
N 2 P
2 2 2 2
tem-se que v (t ) = A c 1 + k av m (t ) cos2 ( 2 πf c t ) = A c 2 1 + k av m (t )
Q
, logo:

A c2 A c2 2
v 2 (t ) = 1 + 2 k av m (t ) + k a 2v m
2
1 + k av m (t ) cos( 4 πf c t )
(t ) +
2 2
Se f c >> W , onde W é a maior freqüência presente no sinal modulador, o segundo termo se anula (por causa do
2
termo em cosseno) e se v m (t ) = 0 (i.e., valor médio ou dc do sinal nulo) e v m (t ) = Pm (potência média do
sinal modulador), então:

Ac 2 A 2 A 2 k 2P
v 2 (t ) = 1 + k a 2 Pm = c + c a m = Pc + 2 Psb
2 2 2
Ac 2 k 2P A 2
onde Pc = é a potência da portadora.e Psb = a m c = 1 k a 2 Pm Pc é a potência em cada uma das bandas
2 4 2
laterais
Para a condição k av m (t ) ≤ 1, tem-se que k a 2 Pm ≤ 1. A potência em cada uma das bandas laterais será e assim,
P
Psb ≤ c
2
Como a potência do sinal modulado é a soma das potências da portadora e das bandas laterais, isto é,
P P
PT = v 2 (t ) = Pc + 2 Psb , tem-se que Pc ≥ T e Psb ≤ T . Portanto, na modulação em amplitude com portadora e
2 4
dupla banda lateral (AM), no mínimo metade da potência é "gasta" com a portadora.
A 2
Considerando um sinal modulador senoidal v m (t ) = A m cos( 2 πf m t ) , tem-se que Pm = m e que
2
2 2
A A
2 Psb = k a 2 m c
2 2
Define-se eficiência de modulação a parcela da potência contida nas bandas laterais, em relação à potência total,
como:
A2 A2
k a2 m c k a2 A m2
∆ 2P 4
η = sb = =
PT Ac 2 A 2 A 2 2 + k a2 A m2
+ k a2 m c
2 4
Mas k a A m = µ é o índice de modulação e, portanto, em AM, tem-se que, por exemplo, para um índice de
1
modulação de 100%, η = , ou seja, apenas 33% da potência total está contida nas faixas laterais (67% na
3
portadora). Com um índice de modulação de 20%, a eficiência (em porcentagem) cai a cerca de 2% (98% na
portadora). Como a informação a ser transmitida está nas bandas laterais e não na portadora, este processo de
modulação é ineficiente do ponto de vista de utilização da potência total do transmissor.
Porém, apesar de ser ineficiente do ponto de vista de utilização da potência para transmissão de informação ., a AM
é a adotada para a radiodifusão comercial, devido à simplicidade do demodulador (que pode ser um simples
"detector de envoltória" - a ser visto mais tarde ).

III.1.5 - Geração de sinais AM


Os principais processos utilizados para geração de sinais AM podem ser, a grosso modo, classificados em sistemas
de modulação em baixo nível (utilizados também para a mistura ou deslocamento em freqüência do espectro de um
sinal qualquer), quando o objetivo principal é a transladação do espectro e não a transmissão a longas distâncias (o
que requer potências mais elevadas na saída do dispositivo), e os sistemas de modulação em alto nível, quando o
objetivo é a geração direta de sinais AM em alta potência para transmissão. A modulação em alto nível evita a
utilização de ampliadores lineares de alta potência, de projeto mais difícil (mas, também utilizados), que seriam
necessários para a transmissão de sinais AM gerados em baixo nível. Neste curso só serão apresentados os
princípios dos esquemas básicos, sem detalhes de circuitos ou dispositivos específicos, que são tratados em outras
disciplinas.

a) Modulação em baixo nível


a.1) Modulador quadrático
Utiliza-se um dispositivo não linear com função de transferência quadrática (simplificadamente "dispositivo
quadrático"), do tipo, v o = a1v i + a2v i 2 , onde v o é o sinal de saída para uma entrada v i . Por exemplo, um diodo,
44
operando a baixas tensões, tem uma característica de transferência que pode ser aproximado por essa função
quadrática.
Utilizando-se para um tal dispositivo uma entrada v i (t ) = A c cos( 2 πf c t ) + v m (t ) , tem-se como saída:
 2a2 
2
v0 ( t ) = a1 Ac 1 + vm ( t )  cos( 2πf c t ) + a1vm ( t ) + a 2 vm 2 ( t ) + a2 Ac 2 cos ( 2πf c t )
 a1      
      termos qu e devem se r eliminad os por fil tragem
AM
Tomando-se a Transformada de Fourier, tem-se:
1 1 1
V 0 (f ) = a1 A c δ ( f ± f c ) + a2 A cV m ( f ± f c ) + a1V m ( f ) + a2 V m ( f ) ∗V m ( f ) + A c2 δ ( f ) + a2 A c2 δ ( f ± 2 f c )
2 2 4
Comparando-se esta equação com a da Transformada de Fourier de um sinal AM:
Ac A k
V (f ) = δ ( f − f c ) + δ ( f + f c ) + c a V m ( f − f c ) +V m ( f + f c )
2 2
ka
podemos notar que se a1 = 1, a2 = e se a largura de faixa do sinal modulador for tal que os espectros dos termos
2
indesejáveis não interfiram no espectro do sinal AM desejado (Fig.8), então um filtro passa-faixa adequado pode ser
utilizado para se isolar apenas os termos correspondentes à portadora modulada (componentes do espectro em torno
de f c ).
1 a A2
δ (f )
2 2 c
1 aA
δ (f - fc )
2 1 c 1 a A2
δ (f -2 fc )
a Vm (f) 4 2 c
1
a A cVm (f - fc )
2
a2 [Vm (f)* Vm (f)]

- 2w -w 0 w 2w fc -w fc fc + w 2 fc f
Figura 32. Espectro na saída do dispositivo quadrático (não está em escala, ilustrado apenas para f > 0)
Portanto, este processo de geração AM pode ser esquematicamente representado como na Fig. 9

filtro passa-faixa

Figura 33. Modulação em amplitude utilizando dispositivo quadrático


Observação: na Fig.9 foi utilizada uma notação gráfica para filtros baseada na idéia de se dividir o espectro de
freqüências em três faixas: baixa, intermediária e alta, representando-as por ondas (dentro do bloco), sendo que as
ondas com um corte diagonal indicam as faixas rejeitadas. Assim, representa-se simbolicamente os quatro tipos

principais de filtros como a seguir:

O principal problema neste esquema de


geração AM reside na dificuldade prática de
se conseguir dispositivos com característica
de transferência quadrática perfeita.
Observe, porém, que se existirem termos de ordem maior, as componentes espectrais resultantes podem ainda ser
eliminadas por filtragem, desde que as freqüências envolvidas (freqüência da portadora, faixas do sinal e do sinal
elevado às potências significativas da expansão em série da característica de transferência do dispositivo não linear)
não impliquem interferência na faixa desejada em torno de f c .

a.2) Modulação por produto


Nesse esquema, implementa-se eletronicamente a equação de definição da modulação em amplitude (AM):
45

v (t ) = A c 1 + k av m (t ) cos( 2 πf c t )
Multiplicadores analógicos podem ser implementados de diversas maneiras, como, por exemplo, utilizando
dispositivos de transcondutância variável, processadores homomórficos (acha-se o antilogaritmo da soma dos
logaritmos do sinal modulador e da portadora) e também com dispositivos não lineares seguidos de filtragem (como
no item a.1). O diagrama de blocos básico é o da Fig. 10.

Figura 34. Geração AM por produto


a.3) Modulação por chaveamento
Este esquema é baseado no conceito de amostragem de sinais. Foi visto no Cap.2, item II.4, que um processo de
amostragem (ideal) provoca a reprodução do espectro em torno das harmônicas da freqüência de amostragem. Como
o efeito da modulação em amplitude é o deslocamento do espectro do sinal modulador (v. Cap.2, item II.3.B.9),
desde que a freqüência de amostragem (ou de uma de suas harmônicas) seja a da portadora e desde que não ocorra
superposição dos espectros reproduzidos (v. Cap.2, item II.4, Figs. 42 e 43), se o sinal amostrado for aplicado a um
filtro passa-faixa centrado na portadora, obtém-se na saída deste filtro o espectro deslocado desejado.
A amostragem idealizada pode ser aproximada através do produto de um sinal por um trem de pulsos retangulares.
Uma análise matemática simplificada é apresentada a seguir:
Seja um trem de pulsos retangulares e o seu par de Fourier (v.Cap.2.3.C.Figs.38 e 39):
L O ∑ sincG
Fnτ I
HT JKδ ( f − T )
t Aτ ∞
n
M
N τ P
rep T Arect ( ) ←
Qℑ→
T n=- ∞

Multiplicando-se o trem de pulsos retangulares por B + Nv (t ) , onde B é um nível dc, N é uma constante e
bg
v m t é o sinal modulador, obtém-se:
L
M O t
N P
v (t ) = B + Nv m (t ) × repT A rect ( )
Q τ
Tomando-se a Transformada de Fourier:
L
M F
G IJ
Aτ ∞ O
P nτ n
∑ sinc T δ ( f − T ) ,
N H
V ( f ) = Bδ ( f ) + NVm ( f ) ∗
K Q
T n=- ∞
F
G I
H JK
Aτ nτ
ou seja, o resultado é a convolução de B δ ( f ) + NV m ( f ) com um trem de impulsos com áreas sinc nas
T T
n
freqüências f n = , como ilustrado na Fig.11.
T

Figura 35. Espectros da convolução entre sinal mais nível dc com trem de impulsos (ilustrado apenas para f > 0
1
Escolhendo-se adequadamente um filtro passa-faixa centrado em f c = (a freqüência da portadora) e as constantes
T
A , B e N requeridas para um índice de modulação desejado, obtém-se um sinal AM. Deve-se escolher τ << Tc ,
para que não ocorra excessiva atenuação em f c .

b) Modulação em alto nível


46
Para transmissão em AM, é possível evitar-se o uso de ampliadores lineares de alta potência através de um esquema
de modulação em alto nível (i.e, com saída em níveis elevados de potência, como os utilizados em radio-difusão)
através do uso de ampliadores de potência Classe C., nos quais o dispositivo ativo de saída opera em modo
chaveado, tendo como carga um circuito tanque (circuito RLC) sintonizado na freqüência de chaveamento, que é a
freqüência da portadora. Detalhes deste tipo de circuito fogem do escopo deste curso, porém o modo de operação
chaveado do circuito ampliador funciona como o gerador do trem de pulsos retangulares visto no item anterior (a.3)
e o circuito tanque é o filtro passa-faixa, de modo que o ampliador classe C utilizado como modulador chaveado
pode ser idealmente modelado como na Fig.12:

Figura 36. Modulador chaveado para geração de sinal AM

Na Fig.12, v 1 (t ) = B + Nv m (t ) , v ( t ) = B + Nv
L
M
t O
P
( t ) × repT A rect ( ) , como analisados no item anterior (a.3),
m
N τ Q
1
e v c (t ) é o sinal AM desejado. A chave fecha brevemente durante τ s a cada T = s
fc

O esquema básico usado em rádio difusão AM é ilustrado na Fig.13:

Figura 37. Transmissor AM com modulação em alto nível

III.1.6. Demodulação de sinais AM


A principal vantagem do sinal modulado em amplitude com portadora e dupla banda lateral (AM) é a simplicidade
do circuito demodulador que, como mencionado anteriormente, pode ser o chamado detector de envoltória, utilizado
largamente nos receptores de rádio AM. Nessa seção serão descritas resumidamente este e outros tipos de detectores
que podem ser utilizados.

a) Detector de envoltória
O esquema básico do detector de envoltória é o da Fig.14:

Figura 38. Detector de envoltória


O diodo, no esquema da Fig.14, conduz quando v c (t ) > v 1 (t ) , tal que nessas condições, v 1 (t ) acompanha v c (t ) .
Quando v c (t ) < v 1 (t ) , o diodo corta e o capacitor C se descarrega com constante de tempo RC através do resistor R
(supondo impedância de entrada do filtro muito maior que R); o capacitor C1 bloqueia o nível dc correspondente aos
picos da portadora não modulada. As formas de onda são ilustradas na Fig.15, onde v c (t ) , em linhas cheias, é a
portadora modulada e v 1 (t ) , em pontilhado, é a tensão sobre C.
47

Figura 39. Formas de onda no detector de envoltória, com constantes de tempo (a) adequada, (b) muito alta e (c)
muito baixa
Na fig.15a, a constante de tempo RC é a adequada para a largura de faixa W do sinal: nesse caso, o sinal
v 1 (t ) filtrado é uma boa aproximação do sinal modulador v m (t ) e o filtro passa-baixas pode ser simples. Na Fig.
15b, o sinal modulador foi modificado de tal maneira que a constante de tempo do detector de envoltória é muito
elevada: observe que quando a envoltória de v c (t ) varia muito rapidamente, v 1 (t ) não diminui suficientemente
rápido para rastrear a variação dos picos do sinal modulado. Na Fig.15c, a constante de tempo é ajustada para
acompanhar a rápida variação de v c (t ) : nesse caso, quando a envoltória varia mais lentamente (metade inicial da
forma de onda de v c (t ) ), v 1 (t ) diminui muito entre dois períodos da portadora e a sua forma de onda se torna
muito ondulada, dificultando a filtragem (v 1 (t ) não é uma boa aproximação da envoltória).
Portanto, para se usar o detector de envoltória, normalmente se requer a condição:
1
W << << f c
RC
onde W é a largura de faixa do sinal modulador, f c é a freqüência da portadora e RC a constante de tempo do
detector. Por causa do bloqueio do nível dc, este tipo de detector é inadequado para sinais com conteúdo importante
em baixas freqüências.

b) Demodulação AM por retificação


O esquema básico é apresentado na Fig.16. O sinal de entrada, v c (t ) , deve ter amplitudes tais que o diodo possa ser
considerado um retificador ideal, ou seja, como uma chave.ideal que permite a passagem do sinal quando este é
positivo e o bloqueia quando negativo.

Figura 40. Demodulação AM por retificação


Nesse caso, v 1 (t ) é um sinal constituído apenas pelos ciclos positivos da portadora e, conseqüentemente, podendo
ser modelado pelo produto de v c (t ) por uma onda quadrada síncrona com a portadora (a fase da onda quadrada é tal
que os seus nulos coincidem com os ciclos negativos da portadora), como ilustrado na Fig. 17b. A análise
matemática é similar ao realizado para o processo de modulação por chaveamento (item III.1.5.a3 e Fig. 11), com
T
τ = nas equações desenvolvidas naquela seção. Em resumo, a multiplicação de v c (t ) por uma onda quadrada
2
(trem de pulsos retangulares em que a relação entre a duração do pulso e o período do sinal, denominado duty cycle ,
é 0,5) faz com que o espectro de sinal resultante seja formada pela reprodução do espectro de v c (t ) em torno dos
impulsos do espectro da onda quadrada, ou seja, em torno de f n = 0, ± f c , ± 2 f c , ⋅⋅⋅ . Filtrando-se a componente em
torno da origem do espectro do sinal chaveado, obtém-se o sinal demodulado, desde que os espectros reproduzidos
não apresentem superposição. O desenvolvimento matemático não será repetido aqui. A eficiência deste tipo de
detector é muito baixa (tem comportamento semelhante ao do detector de envoltória com constante de tempo muito
baixa).
48

Figura 41. Modelo e formas de onda para a demodulação AM por retificação

c) Demodulação quadrática
O esquema de demodulação quadrática é o da Fig.16 (item anterior), porém nesse caso o sinal de entrada modulado
v c (t ) deve ter amplitudes tais que o diodo opere na região não linear. Aproximando-se (como na modulação
quadrática, item III.1.5.a1) a característica de transferência do diodo em baixas tensões por uma função quadrática,
tem-se na saída desse dispositivo:
 
 1 cos(4π f c t ) 
[ ] [ ]
vc ( t ) = Ac [ 1 + ka v m ( t )] cos(2π f c t ) = Ac 2ka v m ( t ) + 1 + ka v m ( t ) +
2
2 2 2 2
 
 2   2  
 
 
elim in adop or filtra
gem
passa-altas

A análise espectral deste sinal é análoga à feita no item III.1.5.a1 e não será repetida aqui. Esse esquema, por operar
com níveis de tensão muito baixos, é menos eficiente do que o de detecção de envoltória, que é o processo mais
2 2
utilizado para demodulação AM. O termo k a v m ( t ) não pode ser eliminado por filtragem, portanto, é necessáro
que se tenha ka v m ( t ) << 2 k a v m ( t ) e o fator 1 eliminado por um bloqueio dc (perde-se o nível dc do sinal, se
2 2

houver).

d) Demodulação síncrona AM
Este esquema consiste em se multiplicar o sinal modulado, v c (t ) , por uma senóide de freqüência e fase
exatamente iguais à da portadora e baseia-se na seguinte identidade matemática:
L
1 + cos( 4 πf t ) O
M
N 2 P
c
v c ( t ) cos( 2 πf c t ) = A c 1 + k av m ( t ) cos 2 ( 2 πf c t ) = A c 1 + k av m ( t )
Q
Observe, então, que o sinal desejado, v m (t ) , pode ser recuperado por uma filtragem adequada. Este processo é
pouco utilizado para a demodulação AM, devido à complexidade do sistema comparado ao de detecção de
envoltória. Contudo, tem a vantagem de poder ser utilizada para índices de modulação maiores que 100% (situação
evitada na prática).
Maiores detalhes sobre este esquema de demodulação síncrona serão vistos na seção sobre demodulação de sinais
AM-DSB com portadora suprimida, a seguir.

III.2 - AM-DSB com portadora suprimida (ou, simplificadamente, DSB)


O sistema de modulação em amplitude com portadora (AM) tem como maior vantagem a demodulação simples
(detector de envoltória), ao custo de um uso ineficiente da potência transmitida (a portadora consome acima de 67%
da potência total, v. item II.1.4).
Uma alternativa para uso mais eficiente da potência transmitida é a chamada modulação em amplitude com
portadora suprimida.
Na modulação em amplitude, estudada na seção III.1,
49

v c ( t ) = A c 1 + k av m ( t ) cos( 2 πf c t ) = A c cos( 2 πf c t ) + A c k av m ( t ) cos( 2 πf c t )


Suprimindo-se a portadora e fazendo-se k a = 1 , sem perda de generalidade, obtém-se:
v c ( t ) = A c v m ( t ) cos( 2 πf c t )
que é a equação que descreve o sinal AM-DSB com portadora suprimida (AM-DSB/sc, ou DSB)

III.2.1 - Análise no tempo


As formas de onda do sinal modulador, portadora e sinal modulado (DSB), além do modelo de geração por produto,
são mostradas na Fig. 18.

t t

Figura 42. Geração e formas de onda do AM-DSB/sc


Observe que o sinal modulado é nulo quando o sinal modulador é nulo e que quando o sinal modulador se torna
negativo, há uma inversão de fase da portadora (v. também o item III.1.1, Fig.2)

III.2.2 - No domínio da freqüência


Tomando-se Transformada de Fourier da equação que descreve o sinal DSB tem-se:
1 A
V c ( f ) = A cV m ( f ) ∗ δ ( f − f c ) + δ ( f + f c ) = c V m ( f − f c ) +V m ( f + f c )
2 2
Observe que o espectro do sinal modulado em DSB consiste apenas do espectro do sinal modulador deslocado para
± f c (a menos de uma constante). Portanto, o espectro do DSB é semelhante àquele do AM, porém sem os impulsos
representativos da portadora em ± f c (Fig.19), uma vez que a portadora foi suprimida.

V(f)
V(0)

V(f)
V(f)

-w 0 w f

(a) espectro do sinal modulador


Largura de faixa = w

(b) espectro do DSB

Figura 43. Espectros do sinal modulador (a) e do sinal modulado (b) em AM-DSB/sc (DSB)

III.2.3 - Caso particular de sinal senoidal


No caso particular de sinal modulador senoidal: v m (t ) = A m cos( 2 πf m t ) , o sinal DSB é:
50
A
v c ( t ) = A c A m cos( ω m t ) cos( ω c t ) = cos( ω c + ω m ) t + cos( ω c − ω m ) t
2
onde A = A c A m e ω i = 2 πf i
Observe que o resultado do produto das duas senóides de freqüências f m e f c são outras senóides de freqüências
f c ± f m . Filtrando-se apenas o termo resultando da soma (ou da diferença), obtém-se uma senóide com freqüência
que é uma mistura das freqüências das duas senóides originais. Portanto, o processo de multiplicação de um sinal
(não necessariamente senóide) por uma senóide é também conhecido como conversão ou mistura de freqüências e
os dispositivos que desempenham essas funções (multiplicação por senóide e filtragem) são conhecidos como
conversores ou misturadores de freqüências , quando o objetivo não é a transmissão mas, simplesmente, o
deslocamento do espectro de um sinal.
Voltando ao caso de sinal modulador senoidal, o diagrama fasorial correspondente ao sinal DSB pode ser
visualizado como sendo o do sinal AM, no qual o fasor correspondente à portadora é reduzida até se anular (Fig.20)
Im Im Im

fm fm fm
Ac Ac Ac
µ µ
fc 2 fc 2 fc 2
ωm t ωm t ωm t
Ac - ωm t Re Ac - ωm t Re - ωm t Re
Ac Ac Ac
µ µ
2 2 2
-fm -fm -fm

(a ) A M (b ) A M so b rem o d u lad o (c) D S B


Figura 44. Transição de AM para DSB, reduzindo a amplitude da portadora
O diagrama fasorial para senóide modulada em DSB consiste, portanto, de apenas dois fasores, correspondentes ao
sinal modulador. Esses fasores giram a ± f m ciclos/s, com fase ± ω m t , respectivamente, em relação ao eixo real,
que por sua vez gira a f c ciclos/s.

4 4

(a) AM (b) AM sobremodulado (c) DSB

Figura 45. Espectros e formas de onda de sinais (a) AM, (b) AM sobremodulado e (c) DSB - desenhos fora
de escala
Na Fig.21 são traçados apenas os espectros para f > 0 do espectro bilateral (o espectro de amplitudes é simétrico
para f < 0; o espectro uniteral teria todas as raias com valores multiplicados por 2). O sinal modulador é
apresentado em linhas pontilhadas: note a reversão de fase da portadora no sinal DSB (e também no caso da AM
sobremodulada) e, portanto, nesse caso.não se pode utilizar a detecção de envoltória (demodular-se-ía o módulo do
sinal modulador).

III.2.4 - Potência transmitida (DSB)


Dada uma portadora de amplitude A c , a potência transmitida em DSB, para um sinal modulador qualquer, é:
51
1 2
Pt = 2 Psb = A c Pm ,
2
onde Pt , 2Psb e Pm são, respectivamente, as potências transmitida, das bandas laterais ( Psb em cada) e do sinal
modulador.
2
Se a amplitude máxima permitida no transmissor é A max (i.e, com potência de pico A max ), em condições de
máxima modulação, na AM o índice de modulação deve ser 100%, ou seja, A max = 2 A c , e na DSB o pico do sinal
2 Psb
modulado deve ser A max = A c . Nessas condições, a relação 2 , que é a razão entre a potência transmitida na
A max
bandas laterais relativa à potência de pico de transmissão, pode ser utilizada para se comparar a DSB e a AM:

1 2
A c Pm
2 Psb P
Para DSB: = 2 = m
A 2 máx Ac 2 2
Ac 2
Pm
Para AM: 2 Psb 2 = Pm
=
A 2 máx 4 Ac 2 8

Portanto, mesmo para um índice de modulação de 100% na AM (condição limite nesse processo de modulação, de
modo a permitir o uso do detector de envoltória), a DSB é quatro vezes mais eficaz (em termos de uso da potência
do transmissor para transmissão da informação, que está contida apenas nas bandas laterais). Esta eficácia maior da
DSB, contudo, é atingida a custo de um processo mais elaborado para demodulação, como será visto mais adiante.

III.2.5 - Modulação DSB

a) Modulador balanceado
O diagrama de blocos deste esquema de geração DSB é mostrado na Fig.22. Utilizam-se dois moduladores AM (por
exemplo, o quadrático, item III.1.5.a1, Fig.9). A montagem é denominada balanceada, pois com os dois
moduladores AM sendo idênticos, a portadora (e, eventualmente, termos de distorção na geração AM, devidos, por
exemplo, ao uso de dispositivos quadráticos não ideais) será concelada (ou suprimida). O modulador balanceado
funciona, portanto, como um multiplicador (sinal × portadora, no caso). Níveis dc em v m (t ) não se cancelam,
como se pode observar acompanhando o fluxo, até a saída, dos sinais nos ramos superior e inferior do diagrama de
blocos da Fig.22.

Figura 46. Modulador balanceado para geração de sinal DSB

b) Modulador chaveado, em ponte


Neste esquema, quatro diodos balanceados (idênticos) são colocados em uma estrutura em ponte (Fig.23), tal que
todos conduzem durante meio ciclo (período) da portadora e todos são cortados na outra metade. Os diodos
funcionam, portanto, como uma chave paralela controlada pela portadora e, podendo este modulador ser modelado
pelo produto do sinal por uma onda quadrada síncrona ( p ( t ) , na Fig.24). A análise matemática é semelhante à do
item III.1.5.a3 (AM por chaveamento), substituindo-se, na equações daquela seção, a entrada B + Nv m ( t ) por
v m (t ) ; a supressão da constante B resulta na supressão da portadora no sinal resultante.
52
p(t) ,

(a) modulador DSB em ponte (b) modelo com chave sincrona

Figura 47. Modulador DSB chaveado, em ponte

Figura 48. Modelo e formas de onda para o modulador DSB chaveado, em ponte
Na Fig.24 são ilustradas as formas de onda do modelo do modulador DSB chaveado, em ponte, sem o filtro passa-
faixa de saída . É também ilustrada a forma de onda da portadora, como referência.

c) Modulador chaveado, em anel (ou treliça)


Nesta estrutura, os diodos conduzem aos pares, dependendo da polaridade da portadora (Fig.25): ou os diodos dos
ramos superior e inferior (AB e CD), quando o sinal de saída tem a mesma polaridade da do de entrada, os os outros
dois diodos (AD e BC), quando a polaridade do sinal de saída é oposta à de entrada. Os diodos em anel funcionam,
portanto como uma chave síncrona, controlada pela portadora, que reverte ou não a polaridade do sinal de entrada
(multiplica por ±1). Este modulador pode, então, ser modelado pelo produto de sinal com uma onda quadrada com
nível dc nulo (amplitudes ±1), como na Fig.26

A B
A B

C D
vc (t) > 0

C D A B

+ -
vc (t)= c o s (2
π fc t )
C D
vc (t)< 0

(a ) m o d u la do r (b) esta d o d o a n e l d e d iod os

Figura 49. Modulador chaveado, em anel: (a) esquema; (b) funcionamento do anel de diodos de acordo com
a polaridade da portadora
53

Figura 50. Modelo e formas de onda do modulador DSB, chaveado em ponte, antes da filtragem
A análise matemática é análoga à realizada no item III.1.5.a3, substituindo-se a onda quadrada com nível dc por
outra sem nível dc, ou seja, baseia-se na convolução do espectro do sinal modulado pelo espectro de um trem de
impulsos para o deslocamento do espectro do sinal modulado para a banda-base e não será repetida aqui.

d) Modulador DSB por produto


O esquema (Fig.27), neste caso, é semelhante ao da modulação AM por produto (v. item III.1.5.a2), porém sem
adicionar a portadora à saída do multiplicador analógico como naquele caso.

Figura 51. Modulação DSB por produto

III.2.6. Demodulação DSB


O processo de demodulação DSB é mais complexo que o de AM, devido à ausência da portadora, que deve ser
restaurado no demodulador.

a) Demodulador síncrono (coerente) por produto


Dado um sinal DSB: v (t ) = A c v m (t ) cos( 2πf c t ) , multiplicando-o por uma senóide de freqüência e fase exatamente
iguais obtém-se:
 1 + cos( 4πf c t ) 
y (t ) = A c v m (t ) cos( 2πf c t ) cos( 2πf c t ) = A c v m (t ) 
 2 
O sinal modulador, v m (t ) , pode, então, ser recuperado (a menos de uma constante), por filtragem de y (t ) .
Contudo, se houver uma diferença de fase entre a portadora modulada e a portadora local (a senóide usada para o
produto no processo de demodulação), tem-se:
 cos( φ ) + cos( 4πf c t + φ ) 
y (t ) = A c v m (t ) cos( 2πf c t ) cos( 2πf c t + φ ) = A c v m (t ) 
 2 
cos( φ )
Após filtragem passa-baixas obter-se-ía Acv m (t ) . Observe que se φ = 0 (portadoras modulada e local em
2
π
fase), o sinal é demodulado como desejado; se φ = ± (portadoras em quadratura), a saída é nula e para os outros
2
casos, o sinal demodulado é atenuado por cos( φ ) , donde a necessidade de se sincronizar adequadamente a fase do
oscilador local (dispositivo que gera a portadora local) à da portadora modulada. A freqüência do oscilador local
deve ser também igual à da portadora, mas como existem técnicas que permitem projetar osciladores de freqüências
iguais (com oscilador a cristal), a preocupação se concentra na sincronização de fase. O esquema básico de
demodulação DSB é, então, o da Fig.28.
54

A cv m (t ) c o s2(π f c t )
x

c o s2(π f c t )

r e f e r ê n c ia d e f a s e d a o sc ila d o ra
p o rta d o ra m o d u la d a lo c a l
Figura 52. Demodulador DSB síncrono por produto
A referência de fase pode ser, por exemplo, obtida a partir de um sinal de referência de fase transmitida junto com
o sinal DSB. Esta técnica é utilizada, por exemplo,
(i) no sistema FM estéreo. Resumidamente, no sistema de rádio-difusão FM estéreo, transmitem-se sinais
constituídos pela soma dos canais de áudio esquerdo (L, do inglês Left) e direito (R, do inglês Right) e pela
diferença, ou sejam, os sinais L + R e L − R , respectivamente. Como ambos ocupam a mesma faixa de freqüências
de áudio (50 Hz a 15 kHz), o sinal-diferença deve ser deslocado em freqüência para que não haja interferência
mútua entre ele e o sinal-soma. Este deslocamento é efetuado modulando-se em DSB uma sub-portadora10 de
freqüência f c = 38 kHz com o sinal-diferença. Como se necessita demodular o sinal L − R , em DSB, no receptor,
transmite-se um sinal referência (denominada nesse caso de sinal piloto ) de fase da sub-portadora, que, por sua vez,
também não interfira com os sinais soma e diferença: escolheu-se então um sinal de exatamente a metade da
freqüência da sub-portadora DSB, ou seja f p = 19 kHz, a partir do qual se recupera f c em fase. Na Fig.29 é
mostrado o espectro (apenas para freqüências positivas e fora de escala) do sinal banda-base do áudio em FM
estéreo: note as larguras de faixa de 15 kHz do canal L + R e de 30 kHz do canal L − R (esta diferença de larguras
de faixa reflete o fato de o canal do sinal soma não ser modulado e o de diferença modulado em DSB). Este sinal
banda-base é um exemplo de sinal multiplexado em freqüência (v. Cap.I.3.B).

Figura 53. Espectro (para f >0 e fora de escala) do sinal banda-base para
rádio-difusão de áudio em FM,com sinal-piloto em 19 kHz

(ii) no caso de TV em cores, a informação de cor (sinal de crominância) modula uma sub-portadora de cor
em DSB (com algumas modificações, a serem vistas mais tarde) e a referência de fase é transmitida na forma de
uma salva (em inglês: burst) de cerca de 10 ciclos dessa sub-portadora, multiplexado no tempo (Fig.30), onde : A
indica sinal auxiliar para formação da imagem; B é a referência de fase da sub-portadora de cor e C é a forma de
onda responsável pela imagem na tela
v(t)

C C

A A t
B B

Figura 54. Forma de onda (fora de escala) de sinal de TV em cores

b) Demodulação síncrona por chaveamento ou amostragem

10Denomina-se sub-portadora, pois o nome portadora, no caso, é utilizado para identificar aquele modulado em freqüência para
transmissão, pelo conjunto dos sinais soma e diferença que constitui o sinal banda-base modulador (Fig.29).
55
Estas técnicas de demodulação se baseiam no processo de deslocamento do espectro do sinal modulado para a
banda-base através da convolução no domínio da freqüência com um trem de impulsos espaçados de f c , que é a
freqüência da portadora. No tempo, corresponde a multiplicar o sinal modulado por um sinal que tenha o espectro
impulsivo desejado (Fig.31), que pode ser um trem de impulsos de área constante (trem amostrador ideal) ou uma
onda quadrada com nível dc nulo.

Figura 55. . Demodulação DSB por amostragem ou chaveamento


Na demodulação por amostragem,
p (t ) = repT [ δ (t )]
c
e por chaveamento,
  t  
p (t ) = repT  2rect  − 1
c
 T c  
Em ambos os casos, deve haver sincronização adequada de fase: no caso do trem de impulsos, estes devem ocorrer
nos instantes de pico positivo da portadora e no caso da onda quadrada, os ciclos positivos deste devem coincidir
com os ciclos positivos da portadora não modulada.
A análise matemática é similar às realizadas anteriormente e não será repetida aqui. A demodulação síncrona por
chaveamento pode ser interpretada, no tempo, como uma operação que reverte o processo de modulação descrito no
item III.2.5c, Fig.26, e que pode ser ilustrado como na Fig. 32, na qual p (t ) tem a função de anular a reversão de
fase ocorrida na modulação (v. Fig.26).

Figura 56. . Ilustração da demodulação DSB síncrona por chaveamento.

c) demodulação com o "Costas loop" (elo ou anel de Costas)


Nos processos de demodulação DSB vistos, é necessária uma referência de fase para sincronizar o oscilador local, o
que exige a transmissão de um sinal específico para tal. Uma técnica que dispensa a transmissão da referência de
fase é a demodulação com o chamado Costas loop (Fig.33)
56

Figura 57. Demodulação DSB por Costas Loop

O sinal DSB passa por dois demoduladores síncronos, denominados I (de In Phase ) e Q (de Quadrature ), sendo
que o primeiro deve, em princípio, ter a fase da portadora local em fase com a portadora modulada e o segundo, com
a portadora local em quadratura com a modulada. Caso haja uma diferença de fase φ entre as portadoras local e
1 1
modulada, os sinais demodulados serão, respectivamente, A c v m (t ) cos( φ ) e A cv m (t ) sen ( φ ) . Note, então, que
2 2
1
se φ = 0 , a saída do ramo inferior é nula e a do superior é A c v m (t ), que é a saída de um demodulador síncrono
2
convencional (v. item III.2.6a). Portanto, o circuito ilustrado na Fig.33 é um demodulador DSB, que embora mais
elaborado que os analisados anteriormente, não requer um sinal de referência de fase.
O discriminador de fase mostrado na Fig.33 é um dispositivo que permite detectar a diferença de fase φ entre as
portadoras local e modulada e gera um sinal que corrige a fase da osciladora local controlada por tensão (VCO, do
inglês Voltage Controlled Oscillator) até se ter a condição φ = 0 . O esquema básico para o discriminador de fase é
mostrado na Fig.34, tendo como entradas os sinais indicados na Fig.33:

Figura 58. Discriminador de fase


1 1
A saída do multiplicador é y (t ) = Ac 2 v m 2 (t ) cos( φ ) sen(φ ) ≈ Ac 2 v m 2 (t )φ , se φ for pequeno (pois, nesse
4 4
caso, cos( φ ) ≈ 1 e sen( φ ) ≈ φ ). O filtro passa-baixas dá como saída, s (t ) , o valor médio de y (t ) , que é uma
constante no tempo. Logo, s (t ) é diretamente proporcional a φ . e, portanto, esse sinal tem polaridades opostas para
φ > 0 e φ < 0 e é nulo para φ = 0 . Portanto, s (t ) pode ser utilizado para controlar a fase do VCO, variando-a
enquanto φ for diferente de zero.
Observe que a estrutura do discriminador de fase é nada mais que a de um misturador de freqüências e, também, de
um demodulador DSB, diferindo apenas no tipo de sinais de entrada.
A estrutura de demodulação DSB da Fig.33 é também conhecida como Costas PLL System (PLL, do inglês Phase
Locked Loop), pois é um sistema que rastreia variações de fase (e freqüência, dentro de certos limites) do sinal de
entrada, no caso o sinal DSB. Os PLL's são também utilizados para detectar variações de fase (nesse caso, o sinal de
saída de interesse passa a ser s (t ) ) e, como veremos mais adiante, como demoduladores FM e PM. São também os
dispositivos utilizados para se sincronizar a fase da osciladora local ao do sinal de referência de fase, segundo o
esquema básico indicado na Fig. 35. Detalhes sobre a teoria e prática de PLL's fogem do escopo deste curso. O
Costas PLL segue, como vimos, basicamente o mesmo princípio, com o detalhe que o distingue dos PLL's
convencionais na forma como o sinal de referência de fase é obtido (diretamente do próprio sinal, e não de um sinal
próprio e distinto de referência, como os exemplificados nos itens III.2.6a(i) e (ii)).
57

Figura 59. Esquema básico de um PLL

d) Técnica de reinserção da subportadora


Seja um sinal DSB:
v c (t ) = v m (t ) cos(ωc t )
Com reinserção (i.e., soma) de subportadora de mesma freqüência, porém com defasagem φ , obtém-se o sinal:
[ ] [ ]
y (t ) = v m (t ) cos(ωc t ) + A c cos ωc t + φ = v m (t ) cos(ωc t ) + A c cos φ cos(ωc t ) − A c sen ( φ )sen (ωc t )
que pode ser re-escrito como:
[
y (t ) = a (t ) cos ωc t + θ (t ) ]
onde
a (t ) = [ v m (t ) + A c cos(φ )] 2 + A c 2 sen 2 (φ )
 A sen (φ ) 
θ (t ) = Arctan 
v (t ) + A cos( φ ) 
Observe que se φ = 0 , a(t ) = A c + v m (t ) e, portanto, se A c + v m (t ) > 0 , um detector de envoltória pode ser
utilizado como na demodulação de sinal AM (Fig.36).

Figura 60. . Demodulação DSB e SSB por re-inserção de portadora


Se, porém, φ ≠ 0 , então:
v m 2 (t ) 2v m (t ) cos( φ )
a (t ) = A c + +1
Ac 2 Ac
1
e, nesse caso, se A c >> v m (t ) má x , a envoltória pode ser aproximado, lembrando que 1 + x ≅ 1 + x se x << 1,
2
por:
 v (t ) 
m
a(t ) ≅ A c 1 + cos( φ )  = A c + v m (t ) cos( φ )
 Ac 
Portanto, com um detector de envoltória obtém-se demodulado o sinal v m (t ) cos( φ )

III.2.7. Modulação e demodulação em quadratura


O processo de modulação/demodulação síncrona permite multiplexar e transmitir dois sinais DSB, independentes,
de tal maneira a ocuparem a mesma faixa de transmissão e, mesmo assim, poderem ser recuperados, separadamente,
no receptor. Esta técnica é conhecida como modulação em quadratura (QAM , do inglês Quadrature Amplitude
Modulation). Suponha duas portadoras de exatamente a mesma freqüência (ocupando, portanto, a mesma posição
π π
no espectro de freqüências), porém defasados de (ou − ), e dois sinais independentes v 1 (t ) e v 2 (t ) .
2 2
Seja agora
v (t ) = v 1 (t ) cos( 2πf c t ) + v 2 (t ) sen ( 2πf c t )
Cada um dos termos da soma no segundo membro da equação, que caracteriza um sinal QAM, é um sinal DSB.
Multiplicando-se este sinal por cos( 2πf c t ) obtém-se:
58

(
v1 ( t ) 1 + cos( 4πf c t ) ) v2 ( t ) sen ( 4πf c t )
( )
y1 ( t ) = v1 ( t ) cos( 2πf c t ) + v2 ( t ) sen ( 2πf c t ) cos( 2πf c t ) = +
2 2
Observe, portanto, que v 1 (t ) pode ser recuperado a partir de y 1 (t ) por filtragem passa-baixas, independente de
v 2 (t ) .
Analogamente, multiplicando-se o sinal QAM por sen( 2πf c t ) , obtém-se:

( )
y2 ( t ) = v1 ( t ) cos( 2πf c t ) + v2 ( t ) sen ( 2πf c t ) sen ( 2πf c t ) = 1 +
(
v ( t ) sen ( 4πf c t ) v2 ( t ) 1 − cos( 4πf c t ) )
2 2
e, por filtragem passa-baixas, pode-se recuperar v 2 (t ) a partir de y 2 (t ) , independente de v 1 (t ) .
π
Este esquema de modulação e demodulação em quadratura é ilustrado na Fig.37, onde o bloco indicado por − é
2
π
um defasador tal que se sua entrada é o sinal cos( 2πf c t ) , a sua saída é cos( 2πf c t − ) = sen ( 2πf c t ) .
2
v 1 (t ) y 1 (t )
x x

referência de fase
cos(2π f c t ) cos(2π f c t )
+
v(t) QAM v(t)
- π2 +
+ - π2

v 2 (t ) y 2 (t )
x x
Figura 61. Modulação e demodulação QAM (sem filtragens de saída)
Note que v (t ) pode ser re-escrito como:
( )
v (t ) = a (t ) cos 2πf c t + θ (t )
 2 2
a(t ) = v 1 (t ) + v 2 (t )

onde  v (t ) 
θ (t ) = arctan 2 
  
 v 1 (t ) 
portanto, o sinal QAM pode ser interpretado como um processo de modulação em amplitude e em fase de uma
portadora senoidal.
Note também que o sinal QAM pode ser representado por um fasor de magnitude a (t ) e fase θ (t ) em relação ao
eixo real, feito coincidir a todo instante com a fase da portadora não modulada (Fig.38). O processo de modulação
pode ser representado fasorialmente como na Fig.38a, na qual o eixo de modulação em fase indica a portadora
modulada em fase e o eixo de modulação em quadratura, a portadora modulada em quadratura. O processo de
demodulação é representado fasorialmente como na Fig.38b, na qual o eixo real é feito coincidir sempre com a fase
da portadora e, portanto, o eixo de demodulação em fase deve coincidir com ele; o eixo de demodulação em
π
quadratura é defasado de − em relação ao eixo em fase e, portanto, deve ter a mesma direção e sentido oposto
2 r
ao do eixo imaginário. Os sinais moduladores em quadratura podem ser representados pela projeção de a (t ) sobre
os eixos de demodulação.
59

Figura 62. Representação fasorial da modulação (a) e demodulação (b) em quadratura: QAM
Se o oscilador local não estiver em fase com a portadora modulada, os eixos de demodulação estarão deslocados em
relação aos eixos real e imaginário, i.e., em relação aos eixos de modulação e, conseqüentemente, os sinais
demodulados
r r apresentarão distorção em relação ao sinais moduladores (Fig.39). Note que os sinais demodulados (
w 1 (t ) e w 2 (t ) ), que são as projeções sobre os eixos de demodulação, são de amplitudes diferentes dos esperados
(fasores tracejados), que seriam as projeções sobre os eixos real e imaginário (nesse, no sentido oposto).

Figura 63. Demodulação QAM com defasagem φ entre portadora e oscilador local
É possível provar que:
w 1 (t ) = v 1 (t ) cos( φ ) − v 2 (t )sen (φ )
e que
w 2 (t ) = v 2 (t ) cos(φ ) + v 1 (t )sen ( φ )
Note, portanto, que se o oscilador local não estiver exatamente em fase com a portadora modulada, há
interferência entre os dois canais (sinais) , comumente denominada cross-talk, por analogia com o que aconteceria
se os dois sinais fossem de voz.
Este processo de modulação e demodulação é utilizado nos sistemas de TV em cores NTSC (National Television
System Committee) e PAL (Phase Alternating Lines), o primeiro adotado em países como os EUA e Japão e o
segundo no Brasil, entre outros, para a transmissão das informações de cor (saturação e matiz). É também
amplamente utilizado em sistemas de comunicação de dados e em sistemas que operam com sinais complexos (um
dos sinais é a componente real e o outro, a imaginária).

III.3 - AM-SSB (Single Side Band, ou Supressed Side Band)

III.3.1 - Preâmbulo: equivalente passa-baixa de sinal passa-faixa.


Seja um sinal passa-faixa v bp (t ) , real, com espectro V bp ( f ) , Fig.40, não necessariamente simétrico com relação a
±f c , tal que V bp ( f ) = 0 para f < f c −W e f > f c +W , com f c >> W . Como v bp (t ) é real, o seu espectro deve

ser simétrico hermitiano (v.Cap.II.3.C), i.e., V bp ( − f ) = V bp ( f )
60

Vb p (f)

- fc -W - fc - fc +W 0 fc -W fc fc +W f

Figura 64. Espectros de amplitude (linha cheia) e de fase (tracejado) de sinal passa-faixa.

( )
O sinal correspondente no tempo é v bp (t ) = a (t ) cos ωc t + ϕ (t ) . Como f c >> W , o seu aspecto é de uma senóide
com amplitude e fase variando lentamente (Fig.41). Definimos a (t ) como sendo a envoltória do sinal e, como tal,
não-negativo: quando a "amplitude" se torna negativa, a sua fase deve ser corrigida de ±π (é como se fosse um
sinal DSB, porém com suas bandas laterais, em relação à portadora suprimida, podendo ser assimétricas). Observe,
na Fig.41, que, diferentemente do DSB, o período do sinal "senoidal" varia, devido ao termo ϕ (t ) , e que, como no
DSB, quando a (t ) tende a se tornar negativa, há uma reversão de fase da "portadora".

Figura 65. Forma de onda de sinal passa-faixa


Este mesmo sinal pode ser representado fasorialmente, no plano complexo, como na Fig.42a, ou, mais
convencionalmente, como na Fig.42b, na qual fica implícita a rotação constante a f c ciclos/s.
Im Im

v bp (t ) v bp (t )

a(t )
a(t )
v q (t )
ωc t + ϕ (t ) ϕ (t )
Re v i (t ) Re
(a) (b)
Figura 66. Representação fasorial de sinal passa-faixa
Na Fig.42b, com a rotação implícita a f c ciclos/s, pode-se ver que o sinal passa-faixa pode também ser escrito em
função de suas componentes em fase, v i (t ) = a(t ) cos( ϕ (t ) ) , e em quadratura, v q (t ) = a(t ) sen( φ (t ) ) , como:
 π
v bp (t ) = v i (t ) cos(ωc t ) + v q (t ) cosωc t +  = v i (t ) cos(ωc t ) − v q (t ) sen (ωc t )
 2
Compare esta expressão com a do sinal QAM (v.item III.2.7). Por analogia, pode-se, então, afirmar que as
componentes em fase e em quadratura, v i (t ) e v q (t ) , respectivamente, devem ser sinais passa-baixas, de largura
de faixa W , caso contrário, v bp (t ) não será passa-faixa de largura de faixa 2W .
O espectro do sinal passa-faixa, em função dos espectros das componentes em fase e quadratura é, pela
propriedade da modulação de Transformadas de Fourier:

V bp ( f ) =
1
2
[V i (f − f c ) +V i ( f + f c ) +]
j
2
[V q ( f − f c ) −V q ( f + f c ) ]
com V i ( f ) = V q ( f ) = 0 para f > W .
61

Define-se como equivalente passa-baixas do sinal passa faixa, v bp (t ) , o sinal v lp (t ) tal que:
1
[
v lp (t ) = v i (t ) + j v q (t )
2
]
com espectro passa-baixa equivalente (do sinal passa-faixa):

V lp ( f ) =
1
2
[V i (f ) + j V q (f ) ]
Como v i (t ) = a(t ) cos( ϕ (t ) ) e v q (t ) = a(t ) sen( φ (t ) ) , podemos concluir que:

1 jϕ (t )
v lp (t ) = a(t )e .
2
v q (t ) 
onde (fig.41) a (t ) = v i 2 (t ) + v q 2 (t ) e que ϕ (t ) = arctan  .
 v i (t ) 
Portanto, o sinal passa-faixa pode ser escrito em função de seu equivalente passa-baixa:

[
v bp (t ) = Re a (t )e
jωc t
e
jϕ (t )
] = 2 Re[ v lp (t )e
jωc t
]
e, no domínio da freqüência:
V bp ( f ) = V lp ( f − f c ) +V lp ∗ ( − f − f c )
O equivalente passa-baixas é, portanto, a representação de um sinal passa-faixa real por um sinal passa-baixa
complexo, cujo espectro é igual ao espectro de sinal passa faixas para f > 0, porém deslocado para a origem
Fig.43).
Vlp (f)

-W 0 W f

Figura 67. Espectro do sinal passa-baixa equivalente do sinal passa-faixa da Fig.40


1
OBSERVAÇÃO : alguns autores definem o equivalente passa-baixas sem o fator . Todas as expressões
2
subseqüentes devem, então, ser adequadamente corrigidas.

III.3.2 - Análise do SSB


A transmissão em banda (ou faixa) lateral simples (ou singela, ou única), SSB (do inglês Single Side Band) baseia-
se na constatação de que no DSB, devido à simetria do espectro em torno de ±f c , a informação contida nas duas
faixas laterais é a mesma, sendo, portanto, redundante transmitir ambas. Pode-se, portanto, suprimir uma das bandas
laterais sem prejuízo da informação a ser transmitida e, com essa supressão, necessitar de metade da largura de faixa
de transmissão para o SSB, comparado às requeridas pela DSB e AM (Fig.44).
62

Figura 68. Espectros de sinais modulados em amplitude: (a) DSB - Dupla Banda Lateral, (b)SSB/USB -
Banda Lateral Superior e (c) SSB/LSB - Banda Lateral Inferior
O sinal SSB pode, em princípio, ser obtido com o esquema básico da Fig. 45, no qual um sinal DSB é inicialmente
gerado e, posteriormente, uma das bandas laterais é suprimida por filtragem passa-faixa ideal.

Figura 69. Modelo de geração SSB por filtragem ideal a partir de sinal DSB
Para a representação matemática do sinal SSB, podemos considerar incialmente o sinal DSB como um sinal passa-
faixa, com v i (t ) = A c v m (t ) , v q (t ) = 0 e com bandas laterais simétricas em relação a ±f c :
v bp (t ) = A c v m (t ) cos(ωc t )
Como v bp (t ) é um sinal passa-faixa (com ϕ (t ) = 0 ), ele pode ser representado pelo seu equivalente passa-baixas.
1
[ ]
Para o caso geral de v bp (t ) = a(t ) cos ωc + ϕ (t ) , o equivalente passa-baixas é v lp (t ) = a(t )e
jϕ (t )
e, portanto,
2
para o DSB:
1 ℑ 1
v lp (t ) = A c v m (t ) ←→V lp ( f ) =
A cV m ( f )
2 2
Tomando o caso do SSB/USB (banda lateral superior), o filtro passa-faixa ideal para sua geração a partir do sinal
DSB é o da Fig. 46a, com o equivalente passa-baixa da Fig.46b.
63

Figura 70. (a) Filtro passa-faixa ideal para geração do SSB/USB a partir de sinal DSB e (b) seu
equivalente passa-baixa
O filtro SSB passa-baixa equivalente é H lp ( f ) = u ( f ) − u ( f −W ) , onde u ( f ) é o degrau unitário. Este filtro
1  +1, f > 0
pode também ser descrito por H lp ( f ) = [ 1 + sgn( f )] , f ≤ W , onde s gn(f ) =  .
2  −1, f < 0
Trabalhando-se, agora, com os equivalentes passa-baixas do sinal DSB e do filtro SSB, a saída desse filtro é, no
domínio da freqüência, levando em consideração que V m ( f ) = 0 para f > W :
Ac Ac
Y lp ( f ) = V lp ( f ) H lp ( f ) =
4
V m ( f )[ 1 + s gn(f )] =
4
V m ( f ) + s gn(f )V m ( f ) [ ]
Designa-se Filtro Transformador de Hilbert (ou, simplesmente, Filtro de Hilbert) um filtro com função de
transferência:
+ j , f < 0
H ( f ) = − jsgn( f ) =  ,
− j , f > 0
π
Um sinal na saída desse filtro tem um deslocamento de fase, em relação ao sinal na entrada, de − para
2
π
f > 0 e de + para f < 0, mantendo inalterada a sua magnitude ( pois, H ( f ) =1) . A resposta ao impulso do
2
1
Filtro de Hilbert é h (t ) =
(recordar a Transformada de Fourier da função signum (sinal) e a propriedade da
πt
dualidade tempo ↔ freqüência) e, portanto, aplicando-se um sinal x (t ) ,qualquer , à entrada deste filtro, obtém-se a
saída:

1 1 x ( λ)
x ( t ) = h ( t )∗ x ( t ) =

πt
∗x ( t ) = ∫
π −∞ t − λ
dλ.

Diz-se que x  ( t ) é a Transformada de Hilbert de x (t ) .Por exemplo, dado um sinal senoidal: x (t ) = A cos(ωc t ) , a
sua Transformada de Hilbert é x$(t ) = A sen (ωc t ) (OBS.: é mais fácil visualizar este resultado no domínio da
freqüência, comparando os espectros das funções seno e co-seno e o efeito da Transformação de Hilbert sobre o
espectro de um sinal).
Re-escrevendo a saída do filtro SSB passa-baixa equivalente, no domínio da freqüência:
Ac Ac
Y lp ( f ) =
4
[V m (f ) + sgn(f )V m (f )] =
4
{
V m ( f ) + j − js gn(f )V m ( f ) [ ]}
o sinal correspondente no tempo é, tomando-se a sua Transformada inversa:
Ac
ylp ( t ) =
4
[ vm ( t ) + jvm ( t )]
O sinal passa-faixa correspondente é:

[
ybp ( t ) = 2 Re ylp ( t ) e
jωc t
] = v (t ) = A2 [ v
c
c
m ( t ) cos( ωc t ) − vm ( t ) sen (ωc t ) ]
que é a expressão matemática que descreve um sinal SSB/USB, no domínio do tempo.
Observe que se v m (t ) = A m cos(ω m t ) , i.e., com sinal modulador senoidal,
A m . Ac A m . Ac
v c (t ) =
2
[
cos(ω m t ) cos(ωc t ) − sen (ω m t ) sen(ωc t ) =
2
]
cos (ω m + ωc )t [ ]
com apenas uma raia, no caso, a lateral superior (compare com espectros da AM e da DSB, para o caso senoidal),
como esperado.
No caso do SSB de faixa lateral inferior (SSB/LSB), se chega, analogamente, a
64

Ac
vc ( t ) =
2
[ vm (t ) cos( ωc t ) + vm (t ) sen (ωc t )]
Na Fig. 47 são ilustrados os espectros do sinal modulador e dos sinais SSB, banda lateral superior (Fig.47b) e
inferior (Fig.47b). No SSB/USB, o espectro entre f = 0 e f = W da banda-base do sinal é simplesmente deslocada
para ±f c a ± ( f c +W ) . Contudo, no SSB/LSB, o deslocamento é para ± ( f c −W ) a ±f c com inversão do espectro
em relação ao da banda-base de f = 0 e f = W .

Figura 71. Espectros do (a) sinal modulador, (b) SSB/USB e (c) SSB/LSB

III.3.3 Geração do SSB


O modelo de geração do sinal SSB a partir de um DSB, por filtragem ideal, é conveniente para a caracterização
matemática, porém não realizável na prática. Os principais métodos práticos de geração de sinais SSB são descritos
a seguir.

a) Método de discriminação em freqüência


Este método tem como esquema básico a Fig.45, com um filtro SSB que seja realizável na prática e, portanto,
aplicável apenas a sinais v m (t ) com espectro banda-base tipo passa-faixas, isto é, com espectro nulo em torno da
origem (Fig.48a). Nesse caso, o sinal DSB à saída de um modulador balanceado apresenta um espectro (Fig.48b)
que pode ter uma de suas bandas laterais suprimida por um filtro passa-faixa não ideal , realizável na prática. Filtros
práticos não devem ter, normalmente, regiões de transição entre as faixas de passagem e rejeição com largura menor
que cerca de 1% da freqüência de corte. Assim, se β é a largura de faixa da região de amplitudes desprezíveis do
sinal próximo à origem (Fig.48a) e f 0 é a freqüência de corte do filtro SSB próximo à portadora, suprimida
(Fig.48b), considerações de realizabilidade prática impõem 2 β > 0.01f 0 ou, equivalentemente, f 0 < 200 β , o que
limita a freqüência máxima da portadora

Figura 72. Características desejáveis dos espectros dos sinais (a) modulador e (b) DSB, para geração
de sinal SSB, no exemplo SSB/USB (característica do filtro tracejado)
Por exemplo, se a largura de faixa do "vale" em torno da origem (na Fig.48, a região com espectro nulo nas
vizinhanças de f = 0 ) é β = 300 Hz, deve-se ter f c < 60 kHz, pois a restrição prática para a faixa de transição
impõe f 0 < 200 β e, portanto, f c max ≈ f o max ≅ 60 kHz.
Caso se necessite de freqüências de portadora f c > 200β (no exemplo, maiores que 60kHz), o processo de
modulação SSB (por esta técnica de discriminação em freqüência) deve ser realizado com estágios múltiplos, pois a
65
cada estágio de modulação SSB se aumenta a largura de faixa do "vale" (Fig. 49). Observe nessa figura que, dado
um sinal v m (t ) com um "vale" β , o primeiro estágio de modulação SSB1, com portadora de freqüência f c1 , gera
um sinal v m (t ) , passa-faixa, com "vale" β ′ >> β , o que permite utilizar portadoras de freqüência f c >> f c no
2 2 1
segundo estágio modulador SSB2.

Figura 73. Geração de sinal SSB em duas etapas


Sinais SSB/LSB podem ser gerados de maneira análoga, escolhendo-se adequadamente a característica
(resposta em freqüência) do filtro SSB.

b) Método da discriminação em fase


Tomando como exemplo a geração de um sinal SSB de banda lateral superior (USB), a expressão que caracteriza
esse tipo de sinal é:
Ac
vc ( t ) =
2
[ vm (t ) cos( ωc t ) − vm ( t )sen (ωc t )]
O método de geração de sinal SSB por discriminação em fase se baseia na implementação física desta equação, de
acordo com o esquema da Fig.50:

Figura 74. Modulador SSB por discriminação em fase


O sinal SSB/LSB pode ser gerado da mesma forma, mudando-se apenas a polaridade do ramo inferior do somador
da Fig.50.
Este método de modulação SSB tem como principal dificuldade a implementação do Filtro de Hilbert que, na
prática, pode apenas ser aproximado (foge do escopo deste curso estudar detalhes de implementação desse tipo de
filtros).

c) Método de Weaver
Este método evita a dificuldade de se implementar Filtros (Transformadores) de Hilbert, de acordo com a estrutura
W
da Fig.51, na qual os filtros indicados são filtros passa-baixas com corte em , onde W é a maior freqüência do
2
W W
sinal, dispensando o uso de filtro SSB passa-faixa. Utilizam-se dois osciladores, de freqüências e fc ± ,
2 2
66
conforme se deseje USB ou LSB (muda, também, a polaridade de um dos ramos do somador). Sugere-se, como
exercício, escrever as equações em cada ponto relevante do diagrama de circuito, para um sinal senoidal com
freqüência f m < W e verificar que se obtém na saída um sinal SSB.

Figura 75. Modulador SSB de Weaver

III.3.4 - Demodulação SSB


A principal técnica de demodulação SSB, por ser basicamente um sistema de portadora suprimida (embora não
necessariamente), é a da detecção coerente (ou síncrona) por produto com uma portadora local com freqüência e
fase exatamente iguais à da portadora modulada.
Ac
Dado um sinal SSB: vc ( t ) =
2
[ vm (t ) cos( ωc t ) vm (t )sen (ωc t )] , o produto desse por cos(ωc t ) dá
como resultado:
 
Ac A c v m (t ) cos( 2ωc t ) v$m (t ) sen ( 2ωc t ) 
y (t ) = [ ]
v m (t ) cos(ωc t ) mv$m (t ) sen (ωc t ) cos(ωc t ) = 
2  2
+ v m (t ) m 
2 1 4 4 4 4 24 44 2 4 4 4 42 4 4 43 
 eliminado por filtragem 
e, por filtragem, obtém-se o sinal modulador (a menos de uma constante). O esquema básico é mostrado na Fig.52.

Figura 76. Demodulação SSB por produto


Sugere-se, como exercício, fazer uma análise gráfica do processo de demodulação no domínio da freqüência,
considerando o espectro do sinal modulado SSB e a convolução com o espectro de uma senóide de freqüência igual
à da portadora (suprimida na modulação).

III.4 - Modulação VSB (Vestigial Side Band)


O processo de modulação SSB apresenta como principal vantagem o uso eficiente do canal de transmissão, pois a
largura de faixa do sinal modulado é igual à do sinal modulador, porém tem a desvantagem, nos sistemas práticos,
de não ter uma resposta muito boa para baixas freqüências. A DSB, por sua vez, tem boa resposta para baixas
freqüências, porém requer o dobro da largura de faixa da correspondente SSB.
Uma técnica de modulação que tem um desempenho próximo ao da SSB, em termos de largura de faixa requerida
para o canal de transmissão, é a denominada VSB (do inglês Vestigial Side Band ) na qual uma das bandas laterais é
transmitida quase completamente e o outra é quase totalmente suprimida, deixando apenas "vestígios". Na Fig.53 é
ilustrado o caso em que a banda lateral inferior é quase totalmente suprimida.
67

Figura 77. Espectros dos sinais (a) modulador e (b) VSB


O filtro VSB deve ter, portanto, uma característica de transição em torno de f c como a indicada na Fig.54, em vez
da transição abrupta do filtro SSB (Fig.46), o que o torna realizável e não requer "vales" em torno de f = 0Hz (dc)
no espectro do sinal modulador, como no caso da SSB (item III.3a e Fig.48a). Observe que o espectro da banda
lateral não suprimida é atenuada próximo à portadora, com uma resposta anti-simétrica em relação ao ponto de
1
ganho (em f = f c ), de modo que a potência do sinal demodulado seja constante em toda a faixa (se a banda não
2
suprimida fosse transmitida sem essa atenuação, as componentes de freqüência entre f c e f c + β , no exemplo da
Fig.54, seriam acentuadas devido à presença da banda vestigial, em relação às componentes de freqüência maiores
que f c + β , que são SSB).

Figura 78. Característica desejada para o filtro VSB, em torno de f c


A largura de faixa requerida para transmissão VSB é, portanto, B T = W + β ≅ W , se a largura de faixa da banda
"vestigial" é β <<W . Na prática, contudo, é mais freqüente implementar-se a filtragem VSB no receptor,
transmitido-se o sinal com largura de faixa pouco maior que W + β . Por exemplo, no caso do sinal de vídeo em
televisão, no padrão adotado no Brasil, o espectro do sinal transmitido, em torno da portadora de vídeo, é mostrado
na Fig.55a e caraterística de resposta em freqüência do chamado estágio de FI (Freqüência Intermediária ), onde se
efetua a filtragem VSB, é mostrada na Fig.55b. Observe que o sinal de vídeo é transmitido com largura de faixa de
aproximadamente 5,5 MHz, para um sinal modulador (vídeo) de largura 4,2 MHz, o que exigiria larguras de faixa
mínima de 8,4 MHz e 4,2 MHz se fossem adotadas AM e SSB, respectivamente..
O filtro VSB, na Fig.55b, tem característica em freqüência "invertida" em relação à do sinal transmitido, em termos
de banda lateral suprimida, e freqüências de corte bem definidas e fixas (enquanto as freqüências limite do sinal
transmitido dependem da freqüência da portadora, f c ), por razões que serão vistas na seção seguinte (III.5: Receptor
AM).

Figura 79. Espectro de sinal de TV transmitido (a) e da resposta em freqüência do estágio de FI (b), fora
de escala, padrão M, adotado no Brasil
O canal de TV, no Brasil, tem largura de faixa total de 6,0 MHz, pois deve ser transmitido também o sinal de áudio
(em FM, sobre portadora com freqüência 4,5 MHz maior que a da portadora de vídeo).
68
O sinal VSB pode ser transmitido com portadora ,como no caso do sinal rf (de rádio-freqüência) de televisão
(Fig.55a), ou com portadora suprimida, como no caso da modulação da sub-portadora de cor no sistema de TV em
cores, em QAM (descrito na seção III.2.7). Na Fig.56 é ilustrado o espectro do sinal de TV em cores, na banda-base
(esse é o sinal composto de TV em cores que modula a portadora rf em AM-VSB com portadora): observe que a
sub-portadora modulada (sinal de croma ) tem banda lateral superior com largura de faixa de 0,5 MHz e a inferior,
com 1,3 MHz, para uma sub-portadora (suprimida) de aproximadamente 3,58 MHz. Esse sinal de croma pode ser
considerado como um sinal DSB para o sinal de crominância (sinal com informação de cor, não modulada ) na
faixa de 0 a 0,5 MHz e em SSB na faixa de 0,5 a 1,3 MHz.

Figura 80. Espectro do sinal banda-base de TV em cores


Para demodulação de sinais VSB, se a portadora estiver presente, pode ser utilizado um detector de envoltória
(como na detecção do sinal de vídeo em TV). Contudo, a assimetria das bandas laterais provoca uma distorção na
envoltória do sinal (v.item III.1.3 e Fig.7, para análise do caso senoidal), o que requer cuidadosa (embora empírica)
escolha de índices de modulação e largura da banda vestigial, estudo que foge do escopo deste curso.
No caso de VSB com portadora suprimida, utiliza-se a detecção síncrona, como no caso da demodulação do sinal de
cor nos sistemas de TV em cores NTSC e PAL (na demodulação, deve ser compensado o fato de que parte do sinal,
na faixa de 0,5 a 1,3 MHz, é DSB e parte, de 0 a 0,5 MHz , SSB).

III.5 - Receptor AM
A recepção de um sinal AM pode ser realizada de acordo com o seguinte esquema (Fig.57)

Figura 81. Possível estrutura para receptor AM


Na estrutura receptora da Fig.57, o sinal transmitido (sinal AM com largura de faixa de 10 kHz, p.ex., na faixa de
Ondas Médias, com uma portadora de freqüência entre 535 e 1605 kHz, para um sinal modulador de áudio limitado
a uma largura de faixa de 5 kHz) seria captado pela antena, ampliado (para compensar a atenuação do sinal pelo
efeito de propagação à distância) para que o sinal possa atingir níveis suficientes para detecção, no caso, através de
um detector de envoltória. O sinal demodulado seria, então, ampliado e aplicado ao transdutor de saída (alto-
falante).
O ampliador rf (rádio-freqüência), assim denominado pois sua faixa de operação é centrada em torno da
freqüência, na faixa de rádio-freqüência ("freqüências utilizadas para transmissões pelo espaço livre por radiação",
ou seja, para "rádio-difusão"), da portadora do sinal AM, tem também a função de selecionar a estação de rádio e
isso significa que sua característica de resposta em freqüência deve ser tal que sintonize o sinal AM desejado e
rejeite todas as demais (i.e., seletividade ) . Considerando os níveis de tensão (ou de potência) do sinal que podem
ser captados pela antena nos sistemas de radio-difusão, esse ampliador rf deve ter características de sensibilidade
(capacidade de operar com níveis "baixos" de sinal), Figura de Ruído (parâmetro que define a variação da relação
sinal-ruído na saída de um dispositivo eletrônico para uma dada na sua entrada) e ganho (relação entre as potências
de saída e de entrada), além da seletividade, tais que tornam o seu projeto muito elaborado (e, conseqüentemente, de
custo elevado) caso se deseje um receptor capaz de atuar em uma larga faixa de freqüências de portadoras. O estudo
69
das dificuldades envolvidas em tais projetos foge ao escopo deste curso, sendo suficiente destacar que existe uma
alternativa que as reduz.
Esta alternativa, utilizada nos receptores em sistemas de radiodifusão comercial (rádio AM, FM e TV), é a
chamada técnica de recepção superheterodina. Os elementos básicos de um receptor superheterodino AM são
mostradas na Fig. 58: antena; estágio sintonizador, constituído de ampliador rf , oscilador local e misturador
(conversor de freqüências); estágio ampliador de FI; detector de envoltória; ampliador de áudio e alto-falante.

Figura 82. Esquema básico de receptor AM (superheterodino)


No sistema de recepção superheterodina, o sinal captado é inicialmente ampliado apenas o suficiente para que,
através de um misturador (conversor de freqüências), ele tenha o seu espectro transladado para uma freqüência,
denominada Freqüência Intermediária (FI), comum a todas as estações de rádio.
O ampliador de rf deve ter baixa Figura de Ruído (deve introduzir pouco ruído ao sinal captado) e resposta em
freqüência que rejeite apenas parcialmente as estações adjascentes. Portanto, as suas características de ganho e
seletividade são mais simples de serem satisfeitas que para o ampliador do esquema da Fig.57.
O ampliador de FI, com características de resposta em freqüência fixas, independente da estação sintonizada, é,
então, responsável pela ampliação do sinal aos níveis necessários para a demodulação e pela seletividade final do
receptor (rejeição das estações adjascentes).
O oscilador local deve ser ajustado de acordo com a estação que se quer sintonizar, tal que a saída do misturador
seja sempre a FI. Considerando que se deseje sintonizar uma portadora f c , podemos escolher uma de duas
 f ol = f FI + f c
frequências do oscilador, a fim de convertê-la à freqüência da portadora FI, f FI : 
 f ol = f FI − f c
No primeiro caso, a diferença entre as freqüências da osciladora local e da portadora resulta na f FI ; no segundo, é
da soma que se obtém a FI. Adota-se o esquema na qual o oscilador funciona com a freqüência maior, i.e.,
f ol = f FI + f c , pois, nesse caso, pode-se provar que a variação nos valores das componentes eletrônicas do
oscilador pode ser bem menor que no outro caso, para cobrir toda a faixa de freqüências de portadoras possíveis , o
que facilita o projeto do sintonizador. Por exemplo, para f FI = 455 kHz e uma portadora em Ondas Médias11, i.e,
540 < f c < 1600 kHz,:
se f ol = f c + f FI , então 995 < f ol < 2055 kHz
se f ol = f c − f FI , então 85 < f ol < 1145 kHz
A razão de sintonia, definida como a relação entre a maior e menor freqüências do oscilador, é, no primeiro caso
f max f
≈ 2,07 e, no segundo, max ≈13,47 . Lembrando que circuitos LC têm freqüências de ressonância
f min f min
1
dadas por f 0 = , pode-se ver que quanto menor a razão de sintonia, menores podem ser as variações em L
2π LC
ou C para cobrir toda a faixa de freqüências desejadas para f ol .
O valor f FI = 455 kHz foi adotado para receptores AM, empiricamente, levando-se em conta que a FI não deve
interferir ou sofrer interferência das portadoras AM e, também, o problema da freqüência imagem.
Suponha f ol = f co + f FI , onde f co é a freqüência da portadora da estação a sintonizar (observe que escolhemos a
frequência do oscilador como a soma entre as frequências da portadora e intermediária). Se existir um sinal com
portadora de frequência f c 1 = f co + 2f FI , a diferença entre a freqüência desse sinal e f ol também gera um sinal
em frequência intermediária, pois : f c 1 − f ol = ( f co + 2 f FI ) − ( f co + f FI ) = f FI . Portanto, os sinais AM com
portadoras em f co e em f c1 , se existirem simultâneamente na entrada do misturador, gerariam, ambos, sinais em FI.

11 a faixa de freqüências reservada para o serviço de radiodifusão AM é de 535 kHz a 1.605 kHz
70

Dizemos, então, que f c1 é a freqüência imagem de f co . Para evitar que a freqüência imagem interfira na estação
que se quer sintonizar, deve-se impor que na entrada do misturador não apareça a freqüência imagem, o que pode
ser feito escolhendo-se uma característica de resposta em freqüência do ampliador rf tal que a freqüência imagem
seja rejeitada. Assim, a largura de faixa do ampliador rf deve ser tal que:
2 B m = B A M < B rf < 2 f FI
B
onde m A M , B e B rf são, respectivamente, as larguras de faixa do sinal modulador (áudio de 5 kHz), da portadora
modulada (sinal AM, de 10 kHz) e do ampliador rf.
Em princípio, a largura de faixa do ampliador rf poderia ser escolhido com B rf ≈ B A M , mas com isso o seu projeto
B rf
seria mais custoso, pois a largura de faixa fracional (i.e., ) tenderia a ser muito baixo.(v. Cap.I.3.bii, Fig. 12).
fc
Por essa razão, escolhe-se B rf > B A M e, conseqüentemente, na saída do misturador estão presentes a estação
desejada e mais as adjascentes. Com B rf < 2f FI rejeita-se a freqüência imagem. A seletividade final é conseguida
limitando-se a largura de faixa do estágio FI a B A M (Fig.59).

Figura 83. Espectros no "front end" de receptor superheterodino


Tipicamente, em receptores AM (por exemplo, rádio e vídeo em TV), a tensão induzida nos terminais da antena é da
ordem de microvolts a milivolts. O ampliador de rf tem ganho (relação entre as potências de saída e entrada) da
ordem de 20 a 30 dB, o misturador ,cerca de 20 dB e o estágio de FI, de 30 a 70 dB. O detector de envoltória requer
tensões da ordem de centenas de milivolts a alguns volts. Para assegurar níveis de detecção aproximadamente
constantes,. independente do nível do sinal captado (que varia devido a diferenças na potência do transmissor e
devido a variações na distância do transmissor ao receptor), é usual manter-se um sistema de Controle Automático
de Ganho atuando sobre os ampliadores rf e de FI. O sintonizador deve atuar simultâneamente sobre os circuitos LC
(ou equivalentes eletrônicos) do ampliador rf, oscilador e entrada do misturador. O estágio FI, com ganho elevado e
alta seletividade, e o detector são comuns (assim como os demais estágios de saída) a todas as estações, ou seja, suas
características de resposta em freqüência não variam com a portadora sintonizada, o que simplifica o projeto e
implementação, sendo esta a principal vantagem dos receptores superheterodinos. A outra vantagem é que o sinal de
saída do estágio FI tem freqüências bem diferentes das do sinal rf, o que reduz o problema de estabilidade no projeto
do ampliador rf, com boa isolação entre a entrada rf em baixos níveis de tensão e saída FI ampliada. Como cuidados
principais, além da rejeição da freqüência imagem, deve-se atentar ao fato de que não linearidades presentes podem
1
gerar interferências na FI a partir de sub-harmônicas próximas de f FI .
2
Dependendo da freqüência da portadora, o estágio de conversão da freqüência da portadora rf à freqüência da FI
utilizada para demodulação pode ser constituído de duas (ou mais) etapas de mistura (por exemplo, na recepção de
sinais UHF de TV, com portadoras entre 470 MHz a 890 MHz, pode ser inicialmente convertido a um sinal VHF,
tipicamente na faixa de 60 a 72 MHz - canais 3 e 4 - e de 76 a 82 MHz - canal 5 -, e depois para a FI de vídeo, em
45,75 MHz, para um sinal de vídeo com largura de faixa de 4,2 MHz).
CAPÍTULO 4

Modulação cw exponencial ou angular


Define-se um sinal senoidal generalizado por:
[
vc ( t ) = Ac cos ωc t + ϕ ( t )]
onde Ac é uma constante e ωc t +ϕ( t ) ∆θc ( t ) é o ângulo instantâneo. A equação acima pode, então, ser re-
escrita como:
71

[ ]
vc ( t ) = Ac cos θ c ( t ) = Ac Re e [ jθc ( t )
]
Se θc ( t ) variar com o sinal modulador, com Ac constante, tem-se um processo definido
como modulação angular ou exponencial. São utilizados dois tipos básicos de
modulação angular: a modulação em freqüência (FM, do inglês Frequency
Modulation) e a modulação em fase (PM, do inglês Phase Modulation).
IV.1 - Modulação em fase (PM)

Nesse caso, ϕ ( t ) = ∆ ϕ . vm ( t ) e, portanto,

[
vc ( t ) = Ac cos ωc t + ∆ϕ v m ( t ) , ]

onde ∆ϕ é uma constante que representa o máximo desvio de fase, se vm ( t ) for normalizado tal que

vm ( t ) ≤ 1 . Na prática, em PM se faz ∆ϕ ≤ π para se evitar ambiguidades de fase na demodulação. ∆ϕ

equivale ao índice de modulação, µ , da modulação em amplitude, podendo também ser denominado índice de

modulação em fase. Observe que a fase instantânea, ϕ ( t ) , varia linearmente com o sinal modulador.

O diagrama fasorial a seguir (Fig.1) ilustra o processo de modulação exponencial, com portadora senoidal de
amplitude Ac . A portadora tem um ângulo total θ c ( t ) , constituído de uma componente constante (ωc t ) e uma
componente ( ϕ( t ) ) que depende do sinal modulador.
Im f (t )

Ac
ϕ (t )
θ c (t )

ωc t

Re
Figura 1. Diagrama fasorial ilustrativo da modulação exponencial

d
A taxa de rotação angular é: θc ( t ) =
dt
[ θc ( t ) ] e, portanto, a freqüência instantânea, que é a taxa de rotação em
ciclos/s (Hz), é
θc ( t ) 1
f (t ) = = fc + ϕ ( t ).
2π 2π
Logo, em PM, a fase varia linearmente com o sinal e a frequência, linearmente com a derivada do sinal.
IV.2 - Modulação em frequência (FM)
Nesse caso, é a frequência instantânea que varia linearmente com o sinal, isto é,

f ( t ) = f c + ∆f . v m ( t ) ,
72

onde ∆f é o desvio de freqüência , com ∆f < fc , para vm ( t ) ≤ 1 , para garantir que f(t) não se torne negativo.

Na prática, ∆f << fc .

Comparando-se as duas expressões para f(t) acima, tem-se que a fase, ϕ ( t ) , do sinal FM é:

t
ϕ ( t ) = 2π ∆f ∫ v m (ξ ) dξ + ϕ (t 0 ), t ≥ t0
t0

Tomando-se t 0 tal que ϕ ( t 0 ) = 0 (i.e., fase inicial nula), tem-se que:


t
ϕ( t ) = 2π ∆f ∫vm (ξ) dξ
ou seja, a fase do sinal FM varia linearmente com a integral do sinal e a freqüência, linearmente com o sinal. O
sinal modulado em freqüência é dado por:.
 t 

v c ( t ) = Ac cos ωc t +2π∆f ∫vm (ξ) dξ
 
É necessário que o sinal tenha nível dc nulo, i.e. v m ( t ) =0 , para que a integral convirja para t → ∞.
Na prática, um nível dc no sinal provoca um desvio constante ∆f c = ∆f ⋅ vm ( t ) na freqüência da portadora

IV.3- PM, FM e AM.

IV.3.1. PM e FM:
Tabela 1. Fase e freqüência instantânea na modulação exponencial
modulação fase instantânea freqüência instantânea
ϕ(t ) f (t )
PM 1
∆ϕ . vm ( t ) fc + ∆ϕ . v m ( t )

t
f c + ∆f . vm ( t )
FM

2π ∆f vm (ξ ) dξ

Os dois tipos de modulação exponencial são, de acordo com a tabela acima, essencialmente equivalentes, a menos
de uma diferenciação ou integração do sinal, ou seja, um modulador em fase pode gerar um sinal FM e vice-versa.
IV.3.2. Modulação exponencial e AM:
Dada uma portadora de amplitude Ac e um sinal modulador com potência Pm , as potências transmitidas são:

Tabela 2. Potências transmitidas na modulação exponencial e em amplitude


modulação PM/FM AM DSB SSB

potência transmitida 1 2
1 2 µ 2 Pm 1 2 1 2
Ac Ac + Ac Pm Ac Pm
2 2 2 2 4
independente do sinal m=k a Ac Ž o ’ndi-
modulador
ce de modula‹o

Observe que na modulação exponencial, como a amplitude do sinal senoidal é mantida constante, a potência de
transmissão não depende do sinal modulador. Na DSB e SSB, quando o sinal modulador é nulo, a potência
transmitida é nula (portadora suprimida).
73
Na Fig.2 são ilustrados (cf. Carlson) sinais AM, PM e FM, com o sinal modulador traçado em linhas pontilhadas
sobre as formas de onda do sinal modulado.

sinal modulador AM PM FM

(a) (b) (c) (d)

(e) (f)
(g) (h)
Figura 2. Formas de onda do sinal modulador e sinais AM, PM e FM
Observe nas Figs.2b e 2f que em AM a amplitude da portadora varia de acordo com o sinal e o cruzamento de zeros
1
ocorre a intervalos regulares iguais a , independente do sinal. Na modulação exponencial, os instantes de
2 fc
cruzamento de zeros dependem do sinal modulador, mas a amplitude é constante. No caso de sinal modulador
senoidal, os resultados da modulação em fase (Fig.2c) e em freqüência (Fig.2d) diferem apenas na fase, uma vez que
a integral (ou derivada) de um sinal senoidal é outro sinal senoidal. No caso do sinal com rampa (Fig.2e), observe
que na PM (Fig.2g) a freqüência instantânea da portadora é constante durante o intervalo de duração da rampa
enquanto que na FM (Fig.2h), a freqüência varia linearmente.
A modulação em amplitude é um processo linear, no qual o espectro do sinal sofre apenas uma transladação e a
faixa de freqüências ocupada pelo sinal modulado é W para o SSB e 2W para AM e DSB, onde W é a largura de
faixa do sinal modulador. Como veremos mais adiante, na modulação exponencial, o espectro do sinal modulado
geralmente ocupa uma largura de faixa maior que 2W (ou muito maior, dependendo do índice de modulação e o
processo é não linear.

IV.4 - Modulação exponencial em Faixa Estreita

IV.4.1. Caso geral


Dado um sinal modulado exponencialmente:

[
vc ( t ) = Ac cos ωc t + ϕ ( t ) ]
podemos representá-lo também por:
v c ( t ) = v ci ( t ) cos( ωc t ) − v cq ( t ) sen (ωc t )

onde:
 1 2 1 4 
vci ( t ) = Ac cos [ ϕ ( t )] = Ac 1 − ϕ ( t ) + ϕ ( t ) +...
 2! 4! 

e
 1 3 1 5 
vcq ( t ) = Ac sen [ ϕ ( t )] = Ac ϕ ( t ) − ϕ ( t ) + ϕ ( t ) +...
 3! 5! 

vci ( t ) ≅ Ac
Se ϕ ( t ) for tal que ϕ ( t ) << 1, então 
vcq ( t ) ≅ Ac . ϕ ( t )

logo,
74

[ (
vc ( t ) ≅ Ac cos ωc t −ϕ ( t ) sen (ωc t ) ) ]
Tomando-se a Transformada de Fourier, para análise do espectro do sinal modulado exponencialmente com a
condição ϕ( t ) <
< 1 , obtém-se:

Ac
Vc ( f ) =
2
[ δ ( f + f c ) + δ ( f − f c ) − j Φ( f + f c ) + j Φ( f − f c )]
 ∆ϕ . Vm ( f ) (PM)

onde Φ( f ) = ℑ[ φ ( t )] =  ∆f
− j Vm ( f ) (FM)
 f

Vc ( f ) , é constituído de impulsos em ±f c
Pode-se observar que o espectro do sinal modulado,
(freqüência da portadora) e o espectro do sinal modulador, Vm ( f ) , deslocado também para ±f c e

multiplicado por uma constante no caso PM e por uma função inversamente proporcional à freqüência no caso FM.
Por exemplo, se
ℑ 1  f 
vm ( t ) = sinc( 2Wt ) ←→ Vm ( f ) = rect  
2W  2W 
então os espectros dos sinais PM e FM são, respectivamente:

Ac  ∆ϕ  f + fc  ∆ϕ  f − f c 
Vc ( f ) = δ ( f + f c ) + δ ( f − f c ) − j rect + j rect 
2  2W  2W  2W  2W 
e
Ac 
 ∆f  f + fc  ∆f  f − fc 

Vc ( f ) = δ ( f + f c ) + δ ( f − f c ) − rect  + rect  
2  2 f − fc W (  2W )  2 f − fc W (  2W ) 

Na Fig.3 são ilustrados os espectros do (a) sinal banda-base e dos sinais (b) PM e (c) FM, sendo que esses dois
Ac
últimos apenas em torno de f c . Observe que (i) há impulsos de área nas Figs. 3b e 3c; (ii) o espectro da PM
2
π
tem um deslocamento de fase de , representado na Fig.3b pelo j multiplicando a amplitude; (iii) a amplitude do
2
1
espectro FM é distorcida, em relação ao espectro do sinal modulador , devido ao termo que multiplica o
f − fc
espectro deslocado (só estão assinalados na Fig.3c os valores da amplitude nos extremos da faixa de passagem) e
(iv) a largura de faixa dos sinais PM e FM é 2W, devido à condição ϕ( t ) < < 1 . Essa condição caracteriza a
modulação exponencial faixa estreita, respectivamente NBPM (do inglês Narrow Band Phase Modulation ) e
NBFM (do inglês Narrow Band Frequency Modulation ). Note também que a NBFM, a menos da defasagem de
π
, tem um espectro semelhante ao da AM.
2
(a) (b) (c)

Ac
1 2 Ac
Ac ∆ϕ
2W j 2 Ac ∆f
4W 2
fc − W 4W
-W 0 W f fc − W fc fc + W f fc fc + W f
Ac ∆f
− 2
4W

Figura 3. Espectros do (a) sinal modulador e, para f > 0 , dos sinais (b) NBPM e (c) NBFM
75

IV.4.2. Caso de sinal modulador senoidal


Como a derivada ou a integral de uma senóide é uma outra senóide, a análise da modulação exponencial para um
sinal modulador senoidal pode ser unificada para a PM e a FM considerando-se os sinais moduladores:
vm ( t ) = Am sen (ωm t ) e vm ( t ) = Amcos (ωmt ) , respectivamente, para as modulações em fase e em
freqüência.
Assim, tanto a PM quanto a FM podem ser representados por

[
vc ( t ) = Ac cos ωc t + βsen ωm t , ]
Am
onde β = ∆ ϕ ⋅ Am para a PM, uma vez que ϕ ( t ) = ∆ϕ ⋅ v m ( t ) para a modulação em fase, e β = ∆f para
fm
a FM, considerando que ϕ( t ) =2π∆f ∫v m ( t )dt para a modulação em freqüência.
∆ϕ e ∆f são, respectivamente, os desvios em fase e em freqüência para a PM e a FM e β é o índice de
modulação exponencial, que é proporcional à amplitude da senóide moduladora para ambos os tipos de modulação
exponencial e, apenas para a FM, inversamente proporcional à freqüência do sinal modulador.
Para a modulação exponencial em faixa estreita, β << 1 e, nesse caso, pode-se escrever que:

vc ( t ) ≅ Ac cos( ωc t ) − Ac βsen (ωm t ) sen (ωc t )


ou, equivalentemente:
Ac β Ac β
vc ( t ) ≅ Ac cos( ωc t ) − cos( ωc − ωm ) t + cos( ωc + ωm ) t
2 2
Na Fig.4 são ilustrados (a) o espectro e (b) o diagrama fasorial correspondente ao espectro unilateral do sinal
modulado. Note a simetria do espectro em torno da origem, pois o sinal modulado é real, e a anti-simetria em torno
da freqüência da portadora. Observe que, em relação aos espectro e diagrama fasorial correspondentes da AM (v.
Cap. 3, seção III.1.3, Figs.4b e 6), há uma inversão de fase do fasor correspondente à raia lateral inferior, o que
provoca o surgimento de uma componente em quadratura na modulação exponencial em faixa estreita. As
amplitudes relativas das raias laterais (e de seus fasores correspondentes) na Fig.4 estão fora de escala, pois
β << 1 para a modulação em faixa estreita.
Im

Ac Ac
Ac β 2 2 Ac β
Ac β a(t )
4 2
4
fc ϕ (t ) − fm fm
- f c+ fm fc − fm
- fc − fm - f c 0 fc f c+ fm f Ac Re
Aβ Aβ
− c − c
4 4

(a) (b)
Figura 4. Modulação exponencial em faixa estreita: (a) espectro e (b)diagrama fasorial,
para sinal modulador senoidal (fora de escala)

IV.5 - Modulação exponencial em faixa larga


Um sinal modulado exponencialmente pode ser representado por:

[ ] [
vc ( t ) = Ac cos ωc t + ϕ ( t ) = Ac cos ( ϕ ( t ) ) .cos( ωc t ) − sen ( ϕ ( t ) ) . sen( ωc t ) ]
IV.5.1. Sinal modulado exponencialmente por uma única senóide
Para simplificar a análise, consideremos um único sinal modulador senoidal, ou tom. Nesse caso:
 β = ∆ϕ . Am para PM

( )
ϕ ( t ) = β sen ωm t , com  β = ∆f . Am para FM
 fm

76
e, portanto, os sinais WBFM (do inglês Wide Band FM) e WBPM (do inglês Wide Band PM) para modulação tonal
podem ser ambos representados por:

[ ( ) (
vc ( t ) = Ac cos β sen( ωm t ) .cos( ωc t ) − sen β sen( ωmt ) . sen( ωc t ) ) ]
Sabe-se que

(
cos β sen ωmt ( ) ) = J 0 ( β ) + ∑2 J n ( β ) cos( nωm t ), n >0
n par
e

(
sen β sen ωm t ( ) ) = ∑2 J n ( β ) sen ( nωm t ), n >0
n ímpar
π
∫e j ( β sen( λ)−nλ) dλ , que são as funções de Bessel de primeiro tipo (ou primeira espécie), de
∆ 1
onde J n ( β ) =

−π
ordem n e argumento β , com a propriedade J −n ( β ) = ( −1) n J n ( β ) .

Na Fig.5 são traçadas as curvas para as funções de Bessel de primeiro tipo, sendo que em (a) o parâmetro é a
ordem (0, 1, 2, 3 e 10) e a variável, o argumento β e em (b) o parâmetro é o argumento (2, 5 e 10) e a variável, a
ordem n . Observe que J n ( β ) → 0 para β → ∞ e, também, para n → ∞ .

Figura 5. Funções de Bessel de primeiro tipo. (a) ordem n fixa e argumento β


variável e (b) argumento β fixo e ordem n variável
O sinal modulado exponencialmente por uma senóide pode, então, ser representado por:
77

vc ( t ) = Ac J 0 ( β ) cos ωc t + ∑Ac J n ( β )[ cos( ωc +nωm ) t −cos( ωc −nωm ) t ] +
nímpar >0

+ ∑Ac J n ( β )[ cos( ωc +nωm ) t +cos( ωc −nωm ) t ]
npar >0

Usando a propriedade J −n ( β ) = ( −1) n J n ( β ) , tem-se:



vc ( t ) = Ac ∑J n ( β ) cos( ωc + nωm )t
n =−∞

Observe que

J 0 ( β ) , onde o argumento da função de Bessel é o índice


(i) a amplitude da portadora é multiplicada por
de modulação exponencial. Devido ao comportamento oscilatório de J 0 ( β ) , a amplitude da portadora pode
assumir valores positivos, negativos e, também, valores nulos (esses, para β = 2 ,40; 5,52; 8,66 ; etc) com a
variação do índice de modulação. Como o índice de modulação depende do sinal modulador, esse afeta a portadora
na modulação exponencial, o que não ocorre na modulação em amplitude.

(ii) as funções de Bessel de primeiro tipo têm ainda a propriedade de decairem monotonicamente para zero
n n
para > 1 e, além disso, J n ( β ) < < 1 para >> 1.
β β

(iii) ao contrário da modulação linear, além das raias correspondentes à portadora e ao sinal modulador
senoidal, surgem infinitas outras nas freqüências f c ± nf m . Na prática, a largura de faixa do sinal modulado
exponencialmente pode ser limitado, considerando-se apenas aquelas com amplitudes relativas significativas. Para
β << 1 (NBFM e NBPM), bastam apenas as correspondentes à portadora e ao sinal modulador deslocado para a
β
vizinhança daquela; pois para β << 1, J 0 ( β ) ≅ 1 , J 1 ( β ) ≅ e J n ( β ) << J 1 ( β ) para n ≥ 2 . Porém,
2
para índices de modulação maiores, as raias adicionais devem ser consideradas (v. item IV.6, a seguir)

O espectro unilateral , nas vizinhanças de f c , é apresentado na Fig.6 e o diagrama fasorial correspondente


na Fig.7. Observe (Fig.6) que as raias correspondentes às harmônicas ímpares são anti-simétricos em relação à
portadora e os de ordem par, simétricos.

Ac J 0 ( β )

Ac J 1 (β )

Ac J (β ) Ac J ( β )
−2 2
Ac J ( β )
3
fc− 3 f fc− f
m m
f c− 2 f fc fc+ f f c+ 2 f f + 3f f
Ac J (β ) m m m c m Ac J ( β )
−4 4
Ac J ( β )
−3

Ac J 1 (β )

Figura 6. Espectro de sinal modulado exponencialmente por senoide


Na Fig. 7 é ilustrado o diagrama fasorial correspondente (portadora e apenas os primeiros 3 pares de raias laterais)
Note que se fossem considerados apenas a portadora, de amplitude Ac J 0 ( β ) , e o primeiro par de raias laterais,
de amplitudes Ac J 1 ( β ) , o fasor resultante teria amplitude e(t) e a forma de onda correspondente apresentaria
78
uma modulação angular e uma modulação em amplitude, devidas à componente em quadratura cuja amplitude varia
com o sinal modulador (na modulação em faixa estreita, esta variação em amplitude é desprezível pois β << 1).

- 2 fm
Ac Ac J 2 ( β )

e(t)
fm
- fm
Ac J -1 (β ) Ac J 1 ( β )

Ac J 0 ( β )

Figura 7. Diagrama fasorial de modulação exponencial por senóide


O segundo par de raias laterais, de amplitude Ac J 2 ( β ) , gera um fasor em fase (alinhado) com a portadora, que
reduz a variação em amplitude; o terceiro par gera outro fasor em quadratura com a portadora; o quarto, em fase e
assim por diante, tal que a soma de todos os fasores que compõem o sinal modulado resulta em um de amplitude
constante , Ac , mas com um ângulo que varia com o sinal modulador. Portanto, o resultado final é um sinal
modulado angularmente

IV.5.2. Sinal modulado exponencialmente por duas senóides


Para dois sinais senoidais moduladores não harmonicamente relacionados (a freqüência de um não é múltiplo inteiro

da do outro), pode-se mostrar que o sinal modulado exponencialmente é dado por:

∞ ∞
v c ( t ) = Ac ∑ ∑J n ( β1 ) J m ( β 2 ) cos( ωc t + nω1t + mω2 t )
n =−∞ n =−∞

Observa-se, então, que o sinal modulado tem componentes (raias) em f c e em f c ± n f 1 ± m f 2 , i.e.,


aparentemente aparecem os produtos da intermodulação (batimento ou mistura) das harmônicas dos sinais
moduladores em torno da portadora. O resultado pode ser interpretado como sendo constituído de uma portadora
com amplitude Ac J 0 ( β 1 ) J 0 ( β 2 ) e, aparentemente (pois as amplitudes dependem de Ac J n ( β 1 ) J m ( β 2 ) ,
i.e. de ambas as senóides), de raias nas freqüências f c ± n f 1 devidas a uma das senóides, de raias em
f c ± n f 2 devidas à outra senóide, e de raias em f c ± n f 1 ± m f 2 , com n e m diferentes de zero,
correspondentes a senóides resultantes do batimento (soma e subtração das freqüências) entre as duas senóides
moduladoras e suas harmônicas.
Este resultado pode ser estendido a um número maior de senóides, porém o seu estudo se torna matematicamente
complicado e foge ao escopo deste curso. É possível, contudo, concluir que a modulação exponencial é um processo
altamente não linear, com o surgimento de inúmeras componentes de freqüências não presentes no sinal modulador
(mas relacionadas por harmônicas e batimentos).

IV.6 - Estimativa da largura de faixa de transmissão


Em princípio, a largura de faixa do sinal modulado em freqüência (ou fase) é infinita pois, por exemplo, no caso de
modulação por uma senóide de freqüência f m , há infinitas raias em f c ± nf m . Na prática consideram-se para o
cálculo da largura de faixa do sinal modulado apenas as raias de amplitudes significativas, isto é, tipicamente raias
com amplitude maior que 1% a 10% (dependendo da aplicação) da amplitude da portadora não modulada. Supondo
que ε seja a menor amplitude significativa, para sinais senoidais, dado um certo índice de modulação β , pode-se
79

calcular n 0 ( β ) ∋ J n ( β ) < ε para n > n 0 ( β ) , tal que se possa escrever que a largura de faixa do sinal
modulado em freqüência por uma senóide é BWFM ≅ 2n 0 ( β ) f m .
Para outros tipos de sinais, com espectro de largura de faixa W , para fins de análise da largura de faixa necessária

para transmissão, pode-se considerar um sinal senoidal cuja amplitude seja a máxima do sinal e de frequência igual

à máxima, W. Essa aproximação não leva em consideração que a modulação em freqüência é um processo não

linear, porém a análise dos resultados de uma modulação multi-tonal, i.e., por múltiplas senóides (que foge do

escopo desse curso), leva a concluir que a largura de faixa do sinal FM é essencialmente determinada pelo tom

dominante e, assim, o uso do tom máxima-freqüência máxima-amplitude para estimativa da largura de faixa de

transmissão para um sinal qualquer produz resultados satisfatórios, convalidados pela prática.

A análise das funções de Bessel do primeiro tipo permite escrever que n 0 ( β ) ≈ β + 2 , para β ≥ 2 e

0,01 < ε < 0,1 . Nessas condições,

 A ∆f 
m
BW FM ≅ 2 ( β + 2 ) f m = 2 + 2  f m = 2 ( Am ∆f + 2 f m )
 fm 
Definindo-se relação ou razão de desvio como a razão entre o desvio de freqüência, ∆f , e a máxima freqüência

do sinal, W, para A (amplitude máxima do sinal normalizada), i.e.
max = 1
∆ ∆f
D
W
tem-se que:
BWFM = 2 ( D + 2 )W
Por exemplo, em rádio-difusão AM, a largura de faixa requerida para transmissão era de 10 kHz, para um sinal
75
banda-base com W = 5 kHz. Na radio-difusão FM, ∆f = 75 kHz e f máx = 15 kHz . Logo, D = =5 e
15
BWFM ≅ 2 ⋅ (5 + 2 ) ⋅ 15 = 210 kHz .
A largura de faixa do sinal FM, para D > > 1 , pode ser aproximada por BW FM ≅ 2 DW . Por outro lado, se
D < < 1, a fórmula geral não se aplica pois o sinal se torna NBFM, com BWNBFM = 2W . Esses dois resultados
podem ser combinados em uma única expressão aproximada, conhecida como regra de Carson, para a largura de
faixa de um sinal FM nos casos D > > 1 (FM faixa larga) e D < < 1 (FM faixa estreita):

BW FM ≅ 2 ( D + 1)W
Com essa aproximação, a largura de faixa para a rádio-difusão FM é BWFM ≅ 2 ⋅ (5 + 1) ⋅ 15 = 180 kHz
.

IV.7- Melhoria do desempenho com o aumento da largura de faixa do sinal modulado


(cf. Lathi)

A modulação em freqüência gera sinais com largura de faixa muito maior que a modulação em amplitude e,
conseqüentente, o canal para transmissão em FM deve ter uma capacidade muito maior que para AM. A capacidade
S
de canal é relacionada com a sua largura de faixa, B, e a relação entre as potências do sinal e do ruído,
. Seja I a
N
capacidade de um canal utilizada para a transmissão de uma mensagem com um sinal de largura de faixa BT , com
Si
uma relação sinal-ruído ; então, pela lei de Hartley-Shannon (v. Cap.1, seção I.2D):
Ni
80

Si
I = BT log 2 (1 + )
Ni
So
O sinal demodulado idealmente, com largura de faixa W e relação sinal-ruído , deve ter o mesmo conteúdo em
No
informação (mensagem) que o sinal modulado. Logo,
Si So
I = BT log 2 (1 + ) = W log 2 (1 + )
Ni No
Da equação acima:

BT
So Si
(1 + ) = (1 + )W
No Ni

Si So
e, para relações sinal ruído elevadas, i.e. : >> 1 e >> 1:
Ni No
BT
So S W
i
≅
 

No  Ni 
Portanto, quanto maior BT , maior a qualidade (em termos de relação sinal-ruído) do sinal demodulado. Um sinal
transmitido em FM apresenta, então, uma qualidade melhor que quando transmitido em AM. Contudo, por causa da
maior largura de faixa do sinal modulado, sistemas em FM requerem portadoras de freqüências mais elevadas que
os em AM.

IV.8 - Modulação e demodulação FM


São apresentados resumidamente apenas alguns exemplos de moduladores e demoduladores FM.

IV.8.1. Modulação

a.. Método direto


Princípio: utiliza-se um oscilador controlado a tensão (VCO, do inglês Voltage Controlled Oscillator), que é um
oscilador cuja freqüência de operação é linearmente proporcional à tensão (sinal) aplicada. Detalhes sobre esse tipo
de dispositivos fogem do escopo desse curso, porém, é conhecida a dificuldade prática para a implementação de
VCO’s com as características de dependência linear da freqüência de oscilação à tensão aplicada. Para freqüências
elevadas ( f c > 1 Ghz), dispositivos conhecidos como klystrons apresentam essa característica. Para portadoras de
freqüências menores, é possível partir-se de uma modulação com portadora de freqüência elevada, utilizando
klystrons, e convertê-la para uma de freqüência mais baixa (down-conversion) ou utilizar osciladores LC
sintonizados ou, ainda, multivibradores ou outros dispositivos VCO em circuitos integrados.
1
No caso de osciladores LC, a freqüência angular instantânea é dada por θc ( t ) = ωc = Utilizam-se, então,
LC
varactores (dispositivos de reatância variável), e.g. varicaps (diodo varactor de capacitância variável), como parte
de um circuito ressonante LC paralelo. Por exemplo, se a capacitância equivalente é do tipo:
C ( t ) = Co + Cv m ( t )
com C o e C constantes, tem-se que:
1  C −1 2
θc ( t ) = 1 − vm ( t ) 
L C0 
 C0 

  πC t
Se
C
vm ( t ) << 1 , então θc ( t ) ≅ωc 1 +

C
vm ( t )  e , portanto, θc ( t ) ≅ 2π f c t +
 Co

f c vm ( λ) dλ
C0  2 C0 
.
81
A frequência de oscilação é aproximadamente proporcional à amplitude do sinal modulador, com desvio em
C
freqüência ∆f = f c . Para v m ( t ) ≤1, a aproximação para θc ( t ) indicada acima vale dentro de 1% de
2Co
C
precisão para < 0,013 , logo o máximo desvio que se pode atingir com esse processo de modulação é
Co
0,006 f c .
Um diagrama de blocos simplificado de modulador em freqüência utilizando oscilador LC com varicap é mostrado
na Fig.8: Cb é usado apenas para bloqueio dc (necessário para isolar a tensão contínua, não representada na figura,
utilizada para polarização do varicap). A freqüência de oscilação é determinada pela indutância L e pela capacitância
Cv + C p , com C v variando com o sinal modulador.
Cb
o

vm ( t ) Cv Cp L oscilador

Figura 8. Modulador em freqüência utilizando oscilador LC

b. Método indireto (Armstrong)

Um modulador em fase, em faixa estreita, pode ser implementado diretamente a partir da equação de
caracterização do sinal PM, para ∆ϕ vm ( t ) << 1 rad., que é:
[ ]
vc ( t ) = Ac cos ωc t + ∆ϕ vm ( t ) ≅ Ac cos ωc t − Ac ∆ϕ vm ( t ) sen ωc t

O diagrama de blocos da Fig.9a gera a aproximação para v c ( t ) da equação acima.


∆ϕ ⋅ vm ( t ) +
x + vc ( t )
+

π
− Ac sen(ωc t ) 2 Ac cos(ωc t )


Figura 9a. Modulador em fase, faixa estreita
A principal vantagem deste modulador é que o oscilador pode ser projetado com alta estabilidade (e.g.,
π
oscilador a cristal) e o esquema de modulação é relativamente simples, pois o defasador de atua sobre uma
2
senóide de freqüência fixa e se necessita somente de mais um multiplicador e somador.
Para se obter um sinal NBFM, com o esquema da Fig.9a, basta integrar o sinal modulador antes da
modulação em fase. Para a geração do sinal FM, faixa larga, o desvio de freqüência deve ser aumentado, com o uso
de um multiplicador de freqüências (Fig.9b).
82

 ∆ϕ 
Ac cosωc t +
 1 T

vm ( λ ) dλ 

gerador NBFM

vm ( t ) 1
multiplicador

T
∫ modulador
em fase
de freqüências
vc ( t )
×n

∼ ωc1

Figura 9b. Modulação em freqüência pelo método indireto


 ∆ϕ 
O sinal na saída do modulador de fase é v ( t ) = Ac cosωc t +
1  T
∫ v m ( λ)dλ, que é um sinal FM, com
∆ϕ
desvio de freqüência ∆f = (v. IV.3.a, Tab.1), onde T é a constante de proporcionalidade do integrador. O
2π T
sinal gerado é do tipo NBFM. Portanto, para se chegar ao sinal FM com o desvio desejado, utiliza-se um
multiplicador de freqüências. Utilizam-se, tipicamente, dispositivos não lineares e filtragem passa-faixas para
seleção da freqüência multiplicada (.e.g., com um dispositivo quadrático e filtragem adequada pode-se dobrar a
freqüência de um sinal senoidal). O sinal resultante é:
 ∆ϕ 
vc ( t ) = A p cos nωc t + n
 1
T
vm ( λ) dλ


∆ϕ
com freqüência de portadora f c2 = nf c1 e desvio de freqüência ∆f 2 = n .
2π T
É usual que os fatores multiplicativos desejados para os aumentos da freqüência da portadora e do desvio
sejam diferentes, o que não acontece no processo descrito acima. A solução é a adoção do fator n necessário para se
obter o desvio de freqüência desejado e se ajustar a freqüência da portadora por transladação (conversão de
freqüências: v. Cap.3, III.2.3).

IV.8.2. Demodulação
São apresentados apenas os princípios básicos para alguns dos processos de demodulação de sinais modulados em
freqüência. Os demoduladores de sinais FM são também conhecidos como discriminadores. Considera-se que se o
sinal a demodular não tenha variações em amplitude. Na prática, limitações na largura de faixa do sistema e ruído
provocam flutuações na amplitude da portadora, que são eliminados por ceifamento (limitadores de amplitude) antes
da demodulação. Detalhes sobre a recepção e o comportamento de demoduladores FM na presença de ruído são
vistos na matéria EET-32.

a. Demodulação por conversão FM-AM


Esse processo de demodulação se baseia na conversão de um sinal modulado em freqüência para outro modulado
em amplitude e esse demodulado por um detetor de envoltória. A conversão FM-AM pode ser realizada observando-
se que a derivada de um sinal modulado em freqüência é um sinal modulado em amplitude:
[ ] [
Seja um sinal modulado em freqüência v c ( t ) = Ac cos θ c ( t ) , com θc ( t ) = 2π f c + ∆f ⋅ v m ( t ) . ]
Derivando-se esse sinal obtém-se
[ ] [ ]
v m ( t ) = − Acθc ( t ) sen θc ( t ) = 2π f c + ∆f ⋅ vm ( t ) ⋅ sen θc ( t ) [ ]
Usando-se esse sinal na entrada de um detetor de envoltória, pode-se recuperar o sinal modulador v m ( t ) .
Idealmente, um circuito diferenciador tem uma característica de resposta em freqüência dada (v. Cap.II, item
II.3.B4) por H ( f ) =2π f . Um circuito ressonante LC tem uma característica de resposta em freqüência tal que,
próximo à freqüência de ressonância, a magnitude varia de forma aproximadamente linear com a freqüência (Fig.
10a). Assim, uma montagem como a da Fig.10b pode ser utilizada para a demodulação de um sinal FM. Esse
esquema de demodulação FM é também conhecido como detetor de inclinação, pelo fato de fazer uso da inclinação
da curva de resposta em freqüência de um circuito ressonante.
83

"diferenciador" detetor de envoltória

H(f)
aproximadamente v c (t ) L C1 C2
linear

fc f0 f circuito
ressonante
f 0 > fc

(a) (b)
Figura 10. (a) resposta em freqüência de circuito sintonizado LC, utilizado para conversão FM-AM
(b) demodulação FM por conversão FM-AM (por diferenciação)
Pode-se obter melhores resultados estendendo-se a região de característica aproximadamente linear de um
circuito ressonante LC com a montagem da Fig.11b. Dois circuitos ressonantes, sintonizados
respectivamente em f 01 < f c e f 02 < f c , são alimentados em contra-fase (i.e., com polaridades
opostas) pela portadora modulada, de freqüência f c . Essa forma de alimentação faz com que resposta do
conjunto de circuitos sintonizados seja o indicado por linhas cheias na Fig.11a (note a inversão de
polaridade da resposta do circuito sintonizado em f 01 - curva tracejada - em relação à do sintonizado em
f 0 - curva pontilhada). O trecho linear da resposta em freqüência assim obtido é usado para a conversão
2
FM-AM, que é seguido pelo estágio de deteção de envoltória. A saída final é obtida pela diferença entre as
saídas dos detetores de envoltória, uma vez que a entrada de um deles tem a polaridade invertida. O
esquema indicado na Fig11b. é conhecido como discriminador balanceado.

( f 02 )

f 01
fc
saída
f 02 f

( f 01 )

(a) (b)
Figura 11. (a) resposta da combinação dos dois circuitos ressonantes do (b) discriminador de fase balanceado
Há variantes desse esquema básico de demodulação FM, utilizando propriedades de circuitos sintonizados em
freqüências ligeiramente acima e abaixo da da portadora, como os chamados detetor de relação e discriminador de
Foster-Seely (v. laboratório).

b. Demodulação por deteção de cruzamento de zeros


Nesse esquema, o sinal senoidal modulado em freqüência, vc ( t ) , é inicialmente transformado em onda quadrada
modulada em freqüência, vq (t ) , através de um “quadradador” (por ampliação e limitação de amplitude). Um
monoestável é então gatilhado a cada borda positiva (ou negativa) do trem de pulsos, o que equivale a detetar os
cruzamentos de zeros correspondentes à passagem do sinal de amplitudes negativas para positivas (ou vice-versa).
Se a freqüência da portadora for muito maior que a do sinal modulador, i.e. f c >> W , e se considerarmos um
1
intervalo de tempo T tal que W << << f c , então dentro desse intervalo se tem um trem de pulsos retangulares,
T
1
v p ( t ) , com período aproximadamente constante e igual a , onde f ( t ) é a freqüência instantânea do
f (t )
84

sinal modulado. O número, n T , de pulsos retangulares dentro do intervalo T é, portanto, diretamente proporcional
à freqüência instantânea, i.e., n T ≅ Tf ( t ) .
Integrando-se o sinal sobre o intervalo T obtém-se a área total sob os n T pulsos, que é n T Aτ se cada pulso tiver
amplitude A e duração τ . Logo,
t
1 1
T
∫v p ( λ) dλ = T nT Aτ ≅ Aτ f (t )
t −T
Como a freqüência instantânea de um sinal FM é dado por f ( t ) = f c + ∆f ⋅ v m ( t ) , o sinal modulador,
α
vm ( t ) , pode ser recuperado, multiplicado por uma constante , que depende do desvio de freqüência, da
constante de proporcionalidade do integrador e da duração e amplitude dos pulsos gerados pelo mosnoestável.
Bloqueia-se o nível dc correspondente ao termo f c com um filtro. O diagrama de blocos desse esquema de
demodulação é apresentado na Fig.12.

vc (t ) v (t ) v p (t ) 1 t Aτ f ( t ) α ⋅ vm ( t )
" q u a d r a d a d qo r "
(lim ita d o r)
m o n o e s tá v e l ∫
T t−T
b lo q u e io d c

Figura 12. Demodulação FM por deteção de cruzamento de zeros

Na Fig.13 são ilustradas as formas de onda de vc ( t ) , vq (t ) e v p ( t ) . É intuitivo que a quantidade de pulsos


dentro de um dado intervalo T , em v p ( t ) , reflete a amplitude do sinal modulador, portanto, esse esquema
possibilita também uma deteção digital, substituindo-se o integrador analógico por um digital (contador ou
acumulador, para contagem número de pulsos ou seja, de cruzamento de zeros, em um dado intervalo T ), seguido
de conversor análogo-digital.
1
f (t )

vc (t )

vq ( t )

v p (t ) A

T t
τ
T

Figura 13. Formas de onda em um demodulador FM por deteção de cruzamento de zeros

c. Demodulação FM com um Phase Locked Loop (PLL)


O esquema básico de demodulação FM com um PLL é mostrado na Fig.14. Qualitativamente (o estudo de PLL’s
foge do escopo desse curso), um PLL é um dispositivo que permite sincronizar a fase e freqüência (dentro de certos
limites) de um oscilador local controlado a tensão (VCO) a um sinal de referência externa. Se esse sinal varia em
freqüência, o discriminador de fase gera uma tensão que, aplicada ao oscilador local, tende a forçar uma mudança na
sua freqüência de oscilação a fim de igualá-la à do sinal de entrada. Portanto, a tensão sobre o VCO depende da
modulação em freqüência do sinal de entrada e, conseqüentemente, o sinal modulador pode ser recuperado (sob
determinadas condições de operação do PLL).
85

d iscrim in ado r de fase

v c (t ) e( t ) filtro α ⋅ v m (t )
x passa-baixas

r (t )

V CO

Figura 14. Demodulação FM com PLL

CAPÍTULO 5
COMPLEMENTOS
V 1- Modulação por código de pulsos
Em sistemas de armazenamento, transmissão e processamento digital de sinais, esses devem ter o formato
digital. Caso o sinal seja originalmente analógico (contínuo no tempo e em amplitudes), a sua representação digital é
obtida através de um processo de conversão A/D (análogo-digital ou analógico-digital), também conhecido por
modulação por código de pulsos. A principal vantagem da representação digital, para fins de transmissão, é a
robustez do sinal, i.e., o sinal digital apresenta alta tolerância a distorções, interferência e ruído, pois, além de ser
suficiente que se possa identificar entre apenas dois níveis ou estados (alto ou baixo, on ou off, etc), é possível
regenerar o sinal (recuperar o formato original dos pulsos a partir de pulsos distorcidos ou contaminados por ruído
ou interferências).
A modulação por código de pulsos (PCM, do inglês Pulse Code Modulation) envolve basicamente (Fig.1) os
processos de discretização no tempo (amostragem), discretização em amplitudes (quantização) e representação das
amplitudes discretizadas por um código de pulsos binário (codificação numérica).
discretização discretização
no tem po em am plitude

codificação
am ostrador quantizador por pulsos

sinal sinal sinal am ostrado sinal m odulado por


analógico am ostrado e quantizado código de pulsos (PC M )
Figura 1. Operações necessárias para representação digital de sinais analógicos
O processo de amostragem ideal e os espectros do sinal amostrado, comparado ao do sinal contínuo, foram
analizados no Capítulo 2 (v. seção II.4). Dado um código binário de n bits, só podem ser representados 2 n valores
distintos, ou seja, 2 n níveis de amplitude quantizados. Por exemplo, com n = 8 podem ser representados 256
níveis de amplitude; com n = 16, 65.536 níveis, etc.
Se forem utilizados pulsos retangulares no processo, pode-se, por exemplo, associar o nível baixo do pulso ao
código “0” e o alto ao “1”. A função de transferência de conversor A/D pode, então, ser representado como na
Fig.2a e de um conversor.D/A (digital-analógico), utilizado para converter um sinal digital em um analógico, como
na Fig.2b. Os níveis discretizados de amplitude estão espaçados uniformemente de q (degrau ou passo),
constituindo o chamado quantizador uniforme. Há casos em que o espaçamento entre os níveis não é uniforme
(quantizadores não lineares) ou mesmo que se adaptam de acordo com o sinal (quantizadores adaptáveis). A
estrutura mais comum de quantização é aquele em que o sinal contínuo é quantizado ao nível discreto mais
próximo.
digital
contínuo
0101 - -
0100 - 4q -
0011 - 3q -
0010 - 2q -
0001 - q-
0000
q 2q 3q 4q contínuo 0 0 0 0 0 digital
0 0 0 0 1
0 0 1 1 0
0 1 0 1 0

(a) (b)
86
Figura 2. Funcões de transferência para conversores (a) A/D e (b) D/A
Quando se representa um sinal contínuo por um quantizado, comete-se um erro de representação, conhecido
como erro de quantização, que se manifesta como um ruído adicionado ao sinal. De acordo com a aplicação, o
número de níveis de quantização, i.e., o número de bits por amostra do código digital, é escolhido de modo que esse
ruído de quantização seja imperceptível. Por exemplo, em áudio digital se utilizam 16 bits/amostra e em TV digital,
8 bits/amostra.
Na fig.3 são ilustradas esquematicamente as formas de onda de um sinal contínuo genérico (linha contínua),
do sinal amostrado e quantizado (traços em negrito) e do sinal modulado por código de pulsos (trem de pulsos
retangulares). São também indicados os níveis de quantização (linha pontilhada) e os códigos (arbitrariamente
escolhido o binário simples).
código binário
níveis de
110
quantização
sinal contínuo
101
100
011

amostras 010
quantizadas
001
000
sinal modulado por
código de pulsos
000 100 110 011 t
Figura 3. Formas de onda de sinal contínuo, amostrado e codificado em PCM
Na prática, os processos de quantização e codificação não ocorrem instantâneamente e, portanto, é usual que
o sinal amostrado tenha sua amplitude retida durante o tempo necessário para que o processo de conversão A/D se
complete, através de um dispositivo conhecido como hold (retentor ou memorizador analógico). O conversor A/D,
que é o conjunto dos dipositivos quantizador e codificador, é, portanto, normalmente precedido de um dispositivo
amostrador e retentor (sample & hold).
As vantagens da representação em PCM são obtidas às custas de uma maior largura de faixa. É intuitivo que
o sinal PCM ocupa uma largura de faixa muito maior que o do sinal modulador, pelo fato do sinal ser representado
por pulsos muito estreitos (v. Fig.3). A grosso modo, essa largura de faixa é da ordem de grandeza do produto do
número de bits/amostra pela freqüência de amostragem ( nf c ). Detalhes sobre a representação digital de sinais são
tratados na matéria EET-33/ET-235: Codificação Digital de Sinais.
V.2. Modulação pulsada
Um sinal amostrado (rever amostragem, Cap. II.4) pode ser utilizado para modular um trem de pulsos
retangulares, dando origem a um processo de modulação pulsada. Os principais tipos de modulação pulsada são:

(i) PAM (do inglês Pulse Amplitude Modulation), Fig.4a, no qual a amplitude de um trem de pulsos
retangulares é variada de acordo com o sinal modulador (para análise, recordar o Exercício 37 do Capítulo 2).
(ii) PWM ou PDM (do inglês Pulse Width Modulation e Pulse Duration Modulation), Fig.4b, no qual a
largura (ou duração) do pulso é que varia com o sinal modulador. A análise matemática para esse tipo de modulação
é complexa e foge do escopo desse curso.
(iii) PPM (do inglês Pulse Position Modulation), Fig.4c, no qual a posição do pulso, relativa ao caso não
modulado, é variada de acordo com o sinal modulador. A análise matemática também deixa de ser feita, por sua
complexidade.
(iv) PFM (do inglês Pulse Frequency Modulation), Fig.4d, no qual a freqüência de uma onda quadrada é
variada de acordo com o sinal. A análise matemática pode ser realizada recordando que a onda quadrada pode ser
representada por uma somatória de senóides harmonicamente relacionadas. A modulação em freqüência da onda
quadrada implica, portanto, na modulação em freqüência de cada uma dessas harmônicas.
87

Figura 4. Modulação pulsada

A modulação pulsada pode ser utilizada em situações em que se deseja maior imunidade a ruído,
interferências e distorções (casos PPM, PWM e PFM), além de aplicações que variam de sistemas de multiplexagem
no tempo (caso do PAM) a controle de velocidade de motores (caso de PWM). A maior desvantagem é a
necessidade de sistemas com largura de faixa muito maior que o do sinal modulador (porém, ainda muito menor que
na representação por PCM).

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