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Crnica

As gravatas no esto a ss
Por K.C
Pela televiso cenas do cotidiano poltico. Se antes as decises eram
tomadas em sesses solenes, restritas, de baixo das barbas do imperador, a
democracia tem trazido a tona um elemento deixado parte nas discusses
polticas que perpassam os regimes que nos trazem at aqui. O elemento do
pblico. O Pblico. Gente, feito eu, feito voc, que vive, trabalha, estuda,
lava roupas, leva o filho escola, paga impostos, corre, vai feira, escreve
e de tempo em tempo vota.
Na prosa comum, espaos polticos, no Brasil, so lugares vazios do
povo. Homens de terno e grava ocupam as cadeiras maiores e, a ss, votam
e (des)votam aquilo que parece cabvel ordem do dia. O que parece no
caber na ordem do dia, porm, este elemento surpresa que tem ocupado
as cadeiras menores, dispostas feito arquibancadas de um jogo em que a
bola a democracia. A presena recorrente do pblico parece incomodar.
Na ltima semana, a presidncia da ALEP fez uso do microfone para insultar
o pblico em sesso transmitida ao vivo pela televiso. Cala a boca,
esbravejou. O pblico presente esbraveja e vaia. O pblico que acompanha
pela televiso toma um susto.
Nossos representantes no esto mais a ss e, em meio ao pblico,
parecem

desafinar,

parecem

enraivecer,

parecem

desejar

velho

autoritarismo para voltar a sorrir e proibir em ato nico a presena deste


pblico em local pblico. Ora, quanta tragdia numa comdia s. A poltica
do embate entre pblico e representantes velha tal qual histria dos
navegantes. Mandar calar a boca um ato de gentileza perto das
atrocidades que j se passaram na histria brasileira imersa em sangue de
guerras civis e genocdios em pr de uma ptria bem aparentada. O que os
mentores destas gentilezas no contam com a vivacidade de um povo
que, mesmo aps milhares de mortes polticas, ainda resiste e insiste em
ser tratado simplesmente como pblico.

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