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O autor é doutor em Ciências Sociais e livre-docente em Ciências da Religião pela PUC-SP.
responder a três perguntas principais. A primeira questão diz respeito aos contextos históricos
dos respectivos encontros inter-religiosos. Um segundo problema reside na análise do
ferramental discursivo de que o Budismo se apropriou em momentos do intercâmbio com o
Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo e Islã. Em terceiro lugar, interessam os conteúdos
abordados pelo Budismo por ocasião de encontros ou desencontros com as outras religiões
mundiais (p. 17-18).
O livro comporta quatro capítulos. 1 O primeiro deles é o mais curto (p. 21-63) e
apresenta aquilo que é, no dizer do autor, o momento necessariamente inicial para uma
análise das relações entre as religiões mundiais do ponto de vista do Budismo: uma tomada
de contato sumária e esclarecedora sobre os ensinamentos e as normas preconizados por
esta religião. Salientam-se aqui aqueles elementos que se mostram relevantes nas diversas
configurações assumidas historicamente pelo Budismo, diferenciadas basicamente por suas
“duas camadas”, correntes e épocas distintas: a começar da “identificação do Buda como
mestre iluminado”, porque portador de um “conhecimento soteriológico completo” (p. 25),
digno de toda a credibilidade e que afirma o entendimento da realidade, particularmente a
humana, em termos de transitoriedade e impermanência, com tantas implicações daí
decorrentes, e um apelo ético centrado em motivações para o agir como o não apego, a
benevolência e o entendimento. Logo, somos apresentados aos veios principais em que a
proposta originária do Buda se diferenciou: o Theravada (com ênfase maior em aspectos
psicofisiológicos da doutrina e não naqueles metafísicos, ou seja, no entendimento dos
ensinamentos do Buda como caminho prático para a libertação do sofrimento); e o
Mahayana (menos unitário em termos de doutrina e referenciais, mas com a pretensão de
superioridade diante de escolas anteriores e do próprio Theravada). Páginas mais à frente
nos apresentam o “Budismo tibetano”, “uma ‘subespécie’ ou ‘tipo’ de Mahayana” (p. 50-
51), com seus desdobramentos históricos específicos; e o capítulo se encerra com a
1
Na introdução ao livro, sumarizam-se os referidos capítulos, mas eles são numerados de II a V. A
nosso ver, isso se deu porque, neste sumário, apresenta-se como conteúdos do capítulo II o que, efetivamente,
se constitui como teor dos capítulos I e II. De toda forma, em nossa exposição trabalharemos com a
numeração dos capítulos indicada no índice da obra. Note-se também algum descuido na revisão final do
texto, na passagem da p. 54 para a seguinte.
[...] nenhum encontro ou desencontro entre religiões ocorre no vácuo, mas é contextualizado
em situações históricas concretas moldadas por condições sociais, forças políticas e interesses
econômicos, além de outros fatores que se sobrepõem a aspirações espirituais propriamente
ditas e interferem na relação entre as religiões e na sua competição por legitimidade, status e
influência (p. 280).