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Católica de
Brasília
PRO-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
Mestrado
Mediação Pedagógica em Ambientes Virtuais de Aprendizagem a
partir da Complexidade e do Pensamento Ecossistêmico
BRASÍLIA 2009
SHEILA SCHECHTMAN
Brasília
2009
S314m Schechtman, Sheila
Mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem a partir
da complexidade e do pensamento ecossistêmico / Sheila Schechtman. –
2009.
157 f. : il. ; 30 cm
CDU 37.018.43
____________________________________________
Profª Drª Maria Cândida Moraes
Orientador
Mestrado em Educação – Universidade Católica de Brasília - UCB
___________________________________________
Prof. Dr. Francisco Villa Ulhôa Botelho
Universidade Católica de Brasília Virtual – UCB Virtual
___________________________________________
Profª Dra Lucila Maria Pesce de Oliveira
Departamento de Fundamentos da Educação - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC/SP
Brasília
2009
Dedico esse trabalho ao meu pai Ary Schechtman
e à minha mãe Fanny Schechtman, em memória.
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido Ronaldo e as minhas filhas Flávia e Paula por existir nesse mundo e
permanecerem ao meu lado.
À minha orientadora Professora Doutora Maria Cândida Moraes pelas palavras ditas nos
momentos certos, pelo carinho e por caminhar junto comigo.
À professora Acássia Barreto por sua atenção, amabilidade e esforço em me atender sempre,
Ao Henrique Machado por ter recuperado os arquivos do curso, sem nada pedir em troca.
Sem ele, o projeto dessa pesquisa teria que ser modificado.
À professora Maria Beatriz Ferreira pela cuidadosa revisão feita e pelo incentivo dado.
Ao Exército, órgão ao qual pertenço, por ter concedido a licença para a realização desse curso
de mestrado.
Buscou-se verificar, nesta pesquisa, de que maneira os operadores cognitivos da complexidade podem
criar condições para a ressignificação da mediação pedagógica em um ambiente virtual de
aprendizagem. Procurou-se identificar a presença dos operadores cognitivos sistêmico-organizacional,
hologramático, dialógico, retroativo, recursivo, auto-eco-organizacional, reintrodutório do sujeito no
processo de pesquisa, da ecologia da ação, da enação e da ética dentro do planejamento do curso, na
plataforma virtual escolhida, nos fóruns de discussão e na própria mediação pedagógica, assim como
verificar as possibilidades e as dificuldades da utilização desses operadores durante todo o processo.
De caráter qualitativo, a pesquisa utilizou como estratégia de investigação a análise e leitura
interpretativa de um caso, tendo por base os operadores cognitivos do pensamento complexo de
Morin, complementados pelas contribuições dadas por Moraes e Valente em seus textos sobre
pesquisas em educação a partir da complexidade e da transdisciplinaridade. Com base nas
recomendações feitas pelo Fórum Brasileiro de Pró-Reitores de Graduação (ForGRAD), optou-se por
analisar os elementos constitutivos do ambiente virtual de aprendizagem, definidos por Schlemmer &
Saccol & Garrido (2003), tendo os operadores cognitivos do pensamento complexo como categorias
de análise, e o modelo misto proposto por Laville e Dionne (1999) que possibilitaria a modificação
dessas categorias como emergências do processo. O referencial teórico teve como principais autores
Edgar Morin e Maria Cândida Moraes, os quais fundamentaram toda a pesquisa, desde a definição da
metodologia até a conclusão. Humberto Mariotti e Pedro Demo também subsidiaram teoricamente o
trabalho, mais especificamente com relação aos princípios da complexidade e do pensamento
ecossistêmico. Para as questões relacionadas à compreensão dos processos de aprender e conhecer,
António Damásio, Carl Rogers, David Ausubel, Francisco Varela, Humberto Maturana, Jean Piaget e
Malcom Knowles forneceram o necessário embasamento. Mais diretamente relacionados à mediação
pedagógica e à mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem, utilizaram-se textos de
Francisco Gutierrez, José Manuel Moran, Lucila Pesce, Otto Peters, Paulo Freire, Philippe Perrenoud e
Pierre Lévy. Como resultado dessa pesquisa, verificou-se que os operadores cognitivos do
pensamento complexo estavam presentes nos elementos constitutivos do curso, enriquecendo o olhar
dos mediadores e permitindo, assim, a ressignificação dos processos de mediação pedagógica no
ambiente virtual de aprendizagem, embora com limitações à sua utilização em todas as etapas do
curso.
In this research we aimed to evaluate in what way the operators of cognitive complexity may create
conditions for the resignification of pedagogical mediation in a virtual learning environment. We
sought to identify the presence of cognitive operators systemic-organizational, hologramático, dialogic,
retroactive, recursive, self-eco-organizational, the ecology of action, enation and Ethic in the course
planning, in the virtual platform chosen, in discussion forums and in the pedagogical mediation itself,
checking the possibilities and difficulties of using these operators throughout the process. Qualitative
in nature, this research used as a methodological strategy an analysis and interpretative reading of a
case, based on the cognitive operators of complexity and on ecosystemic thought. This methodology
was based, too, on the studies of Maria Cândida Moraes and Armando Valente about research in
education from the complexity and from transdisciplinarity. Based on the recommendations made by
the Brazilian Forum of Graduation Pro-Deans (ForGRAD), we chose to analyze the constituent
elements of the virtual environment of learning, defined by Schlemmer & Saccol & Garrido (2003),
using the cognitive operators of complexity as categories of analysis, and the hybrid model proposed
by Laville and Dionne (1999) that could allow the modification of these categories such as processed
derived. The theoretical framework had as main authors, Edgar Morin and Maria Candida Moraes,
grounding the whole research, since the methodology to the conclusion. Pedro Demo and Humberto
Mariotti, more specifically with regard to the principles of ecosystemic thought and complexity. For
questions related to understanding the processes of learning and knowing, it was used mainly Jean
Piaget, Carl Rogers, David Ausubel, Malcolm Knowles, António Damasio, Humberto Maturana and
Francisco Varela. More directly related to mediation training and mediation training in virtual
environments for learning, we reported to Paulo Freire, Francisco Gutierrez, José Manuel Moran,
Philippe Perrenoud, Pierre Lévy, Otto Peters and Lucila Pesce. As a result of this research, we
concluded that the cognitive operators of complexity were present in parts of the course, enriching the
look of the mediators, and thus ressignificating the pedagogical processes of mediation in the virtual
learning environment, but with limitations to their use at all stages of the course.
Key words: Cognitive operators of complexity. Ecosystemic thought. Distance Education. Virtual
learning environments. Pedagogical mediation.
MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM A
PARTIR DA COMPLEXIDADE E DO PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. CONTEXTUALIZANDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) NO BRASIL......... 10
2. ORIGEM DA PESQUISA: RECONSTRUINDO O PERCURSO........................... 18
3. O PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................... 22
4. OBJETIVOS ........................................................................................................ 24
5. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................... 25
6. RELEVÂNCIA CIENTÍFICA E SOCIAL ................................................................25
7. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS ................................................................... 29
INTRODUÇÃO
1
O termo “on-line” será utilizado nesta pesquisa sem o formato itálico, pois consta do dicionário Houaiss da
língua portuguesa, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=online&stype=k&x=14&y=11.
11
explicar melhor os fenômenos ou fatos novos.” (PULINO et al., 2005, p.12, grifo do
autor).
Voltolini (2007, p. 39), ao discutir sobre as idéias de Freud, questiona:
2
As citações referentes à obra de M. Paz Sandín Estebam (2003) são tradução nossa.
14
Sistemas complexos são aqueles que não podem ser descritos nem
explicados “pela mera adição de enfoques parciais provenientes de estudos
independentes de cada um dos seus componentes [...] cujos elementos ou
subsistemas estão interdefinidos”. (GARCIA, 2002, p. 56).
Um sistema complexo é dinâmico, aberto e adaptativo, em constante evolução
na interação com o meio ambiente, apresentando momentos de aleatoriedade. Não
pode ser determinado, pois pequenos desvios nas condições iniciais, se repetidos
diversas vezes, podem produzir resultados bem diferentes. Está sujeito às
emergências, criando ordem a partir da desordem. Possui estrutura fractal.
(BOTELHO, 2006).
Nesse sentido, o ambiente virtual construído como um vir-a-ser, um espaço
antropológico do saber (LÉVY, 1999 a.), requer um aprendiz disposto a ser mais
autônomo na construção de seu conhecimento, mais colaborativo, o que implica um
professor capaz de incentivar essa autonomia e de mediar as interações entre os
participantes, mas que precisa, primeiramente, aprender a valorizar essa autonomia,
e aprender a compartilhar responsabilidades.
Esperam-se do aprendiz competências cognitivas e habilidades que
provavelmente ele não possui, porque foi educado ao longo da vida através de
metodologias predominantemente behavioristas. (BELLONI, 1999).
Os professores também são afetados pelas mudanças estruturais. Há um
deslocamento do centro de gravidade – para longe da apresentação e na direção de
supervisão e apoio para os alunos que aprendem autonomamente. (PETERS, 2004).
A experiência com o tempo e o espaço no ambiente virtual é diversa daquela
dos ambientes presenciais, é uma temporalidade multissíncrona e um espaço
fundamentalmente comunicacional, não físico. (AZEVEDO, 2007).
Como afirma Paul Virilio (2000, p. 114), “em matéria de temporalidade, o
tempo não é mais inteiro, mas indefinidamente fracionado em tantos instantes,
instantaneidades, quanto permitem as técnicas de comunicação e de
telecomunicação.” É o tempo da sucessão, cronológico, que passa a ser o tempo de
exposição, cronoscópico.
Esse ambiente, além de requerer a instrumentação técnica, é um espaço de
saber que “incita a reinventar o laço social em torno do aprendizado recíproco, da
sinergia das competências, da imaginação e da inteligência coletiva.” (LÉVY, 1999 a.,
17
p.26). Inteligência coletiva que deve ser compreendida como um trabalho em comum
acordo.
Por isso, tal trabalho precisa ser mais bem explorado e conhecido o que,
talvez, justifique o aumento significativo de pesquisas educacionais relacionadas com
as tecnologias digitais como a usabilidade e design de plataformas virtuais como
Moodle e WEBCT, ou que procuram compreender o uso de ferramentas de
comunicação como Chat e fórum, o MSN, o NetMeeting e suas linguagens
particulares. Mais recentemente surgiram estudos sobre como utilizar os chamados
Alternate Reality Games (ARGs) como o Second Life, um mundo digital on-line em
formato 3-D, com propósitos educacionais.
Percebe-se, então, que a aprendizagem e o conhecimento, assim como o uso
das tecnologias, são questões processuais de natureza complexa e, por isso,
precisam ser vistos, prioritariamente, por meio de uma análise qualitativa, embora a
complexidade também não descarte o uso de metodologias mistas, desde que
necessário.
No Brasil, coadunado com essa perspectiva de mudanças paradigmáticas, o
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras
(ForGRAD), na gestão 2001-2002, escolheu como tema de discussão para a primeira
Oficina A EAD como modalidade para ensino de graduação, pretendendo examinar
os componentes epistemológicos, as abordagens e as estratégias para viabilizar
projetos pedagógicos de graduação na modalidade de EAD e sua interrelação com
outras dimensões da educação superior:
Nesse sentido, reforça-se a ideia de que é necessário que haja, nas escolas,
um movimento no sentido de incorporar as tecnologias da informação e comunicação
em seus currículos e em suas práticas, “possibilitando aos seus alunos uma vivência
atualizada e contemporânea em relação aos avanços tecnológicos.” (Ibid., p.10).
A Educação a Distância, para o ForGRAD, é considerada como uma
modalidade de educação que deve ser adotada com rigor metodológico, não podendo
estar dissociada da reflexão sobre a própria educação de forma ampla. Assim,
18
(...) Só de fato por milagre é que os modernos métodos de ensino ainda não
liquidaram inteiramente a sagrada curiosidade da pesquisa; pois essa
delicada plantazinha, além de certa estimulação, necessita, sobretudo, de
liberdade; sem esta estiola-se e morre fatalmente. (Einstein, apud Rogers,
1977).
19
3. O PROBLEMA DE PESQUISA
Embora a civilização do virtual seja marcada pelas tecnologias digitais, ela não
se caracteriza simplesmente como tecnológica e burocrática. “Os imaginários social e
tecnológico se constroem através de interferências mútuas e complexas.” (LEMOS,
1999, p. 257).
Para Demo (2002), o mundo virtual é real, apesar de não ser físico. Não se
associa mais virtual com irreal. Esse mundo necessita ir além da base física do
computador e da referência digital simbólica e somente essa realidade digitalizável
acontece no ciberespaço: “[...] ao entrar no ciberespaço, crianças e adolescentes
parecem ganhar asas, navegando por regiões sem fim, com graus estonteantes de
liberdade e de relacionamentos diversificados”. (DEMO, 2002, p. 36).
E é nesse espaço que o professor/orientador precisa atuar, mediar relações,
ocupando um novo papel que requer uma visão ecossistêmica e complexa da
realidade, das subjetividades. Segundo Perez e Castillo (1999, apud MORAN;
MASETTO; BEHRENS, 2000), a mediação pedagógica busca abrir novos caminhos
para o aprendiz com relação a ele mesmo, aos materiais, aos colegas e aos
professores.
O mediador necessita de competências para desenvolver estratégias
pedagógicas que inspirem o aprendiz em sua autonomia, mas que também o incitem
a colaborar, a aprender coletivamente. Precisa estar atento às emergências, aos
indicadores oferecidos pelas interações entre os participantes, às relações com o
material, dispondo-se a modificar as rotas traçadas no planejamento e as estratégias
pedagógicas ao longo do processo, e não somente ao final.
Vale reforçar a noção de que conhecimento e aprendizagem são processos
não-lineares tanto em seu “processo de formação, e reconstrução, quanto em sua
tessitura interna”. (DEMO, 2002, p. 123). Essa não linearidade é percebida nos
processos interpretativos que são reconstrutivos ou produtivos. Quem interpreta
modifica o que interpreta. (DEMO, 2002).
Segundo Freire (1996), em uma conversa com D’Ambrósio:
4. OBJETIVOS
5. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
Tabela 1: Crescimento do número de instituições autorizadas pelo Sistema de Ensino (CNE e CEEs) a
praticar EAD e de seus alunos, de acordo com levantamento do ABRAEAD (2004/2005)
Crescimento
2004 2005
(%)
Número de instituições autorizadas
166 217 30,7%
ou com cursos credenciados
Seqüencial Graduação e
Pós-graduação consolidados* 17 8.190
27
385 104.513
Seqüencial
Graduação e Pós-graduação
86.922
consolidados*
Total 467 300.826 88,7%
Fonte: ABRAEAD, 2006
*Número de alunos de entidades que informaram número de alunos de graduação consolidados com
os de pós-graduação.
3
Estes dados foram obtidos no site da UNIVERSIA Brasil.
29
7. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS4
A chave para uma boa pesquisa é ter em mente que a posição clássica de
um investigador não é a de quem sabe as respostas certas, mas a de quem
luta para encontrar o que poderão ser as respostas certas! (ECO, 1983).
4
O uso do termo estratégias metodológicas ao invés de metodologia ou método tem como pressuposto teórico o
conceito de Morin (2005, p.79): “A ação é estratégia. A palavra estratégia não designa um programa pré-
determinado que basta aplicar ne variatur no tempo. A estratégia permite, a partir de uma decisão inicial, prever
certo número de cenários para a ação, cenários que poderão ser modificados segundo as informações que vão
chegar no curso da ação e segundo os acasos que vão se suceder e perturbar a ação.”
30
ecologizada, pois, no momento de sua ocorrência, ela entra no jogo das inter-
retroações que acontecem no meio em que está inserido o sujeito.
Apontada por Demo (2002) como uma questão que está na raiz da pesquisa
qualitativa, a intensidade é outra característica do fenômeno complexo. Procura-se,
por meio dessa característica, ir além de indicadores empíricos mensuráveis
diretamente; busca-se uma dimensão de maior profundidade do fenômeno. Nessa
perspectiva, convém utilizar procedimentos variáveis, como questionários abertos,
depoimentos de profundidade, diálogos.
Caracteriza-se como qualitativa também porque se enquadra nas quatro
perspectivas de uso da investigação propostas por Rossman Y Rallis, citada por
Sandín Estebam (2003), na medida em que seus resultados ajudam as pessoas a
repensar velhos padrões e a analisar seus contornos imediatos sob novas
perspectivas.
A pesquisa qualitativa é um campo propício para a investigação. Perpassa
disciplinas, áreas de estudo e temas. Consiste em um conjunto de práticas materiais
e interpretativas que fazem o mundo visível, que o transformam. Nesse nível, a
pesquisa qualitativa envolve uma perspectiva naturalista e interpretativa do mundo,
ou seja, estuda as coisas em seu ambiente natural, tentando dar sentido ou
interpretar o fenômeno em termos dos significados que as pessoas trazem. (DENZIN
e LINCOLN, 2000).
Outro aspecto ressaltado pelos autores que justifica a utilização da pesquisa
qualitativa é que esta implica ênfase na qualidade das entidades e nos processos que
não são experimentalmente examinados ou medidos em termos de quantidade,
somatório, intensidade ou frequência.
Como estratégia de investigação, será feita uma análise e leitura interpretativa
de um caso, tendo por base os operadores cognitivos do pensamento complexo de
Morin. O Estudo de Caso justifica-se, também, porque para Stake (2000) não é uma
opção metodológica e sim uma escolha sobre o que estudar. Um caso pode ser
simples ou complexo. Em um estudo de caso intrínseco, o pesquisador não evita
generalizar – ele não pode.
O Estudo de Caso se caracteriza como uma pesquisa empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
Fenômeno e contexto não são sempre discerníveis em situações de vida real. O
33
CAPÍTULO I
Antes de mais nada devo dizer que a complexidade, para mim, é o desafio,
não a resposta. Estou em busca de uma possibilidade de pensar através da
complicação (ou seja, as infinitas inter-retroações), através das incertezas e
através das contradições. Eu absolutamente não me reconheço quando se
diz que situo a antinomia entre a simplicidade absoluta e a complexidade
perfeita. Porque para mim, primeiramente, a idéia de complexidade
comporta a imperfeição, já que ela comporta a incerteza e o reconhecimento
do irredutível. (MORIN, 2007, p. 102).
consciente de que se continuar agindo da forma como tem feito, não haverá, no
futuro, novas gerações ou mesmo um planeta para se viver.
Guatarri (2007) coloca que, paradoxalmente, vem das ciências ‘duras’ (grifo do
autor) a grande mudança com relação aos processos de subjetivação, pois é
significativo o fato de Prigogine e Stengers enfatizarem a necessidade de introduzir
na física um “elemento narrativo”.
através dos implicados, sendo que uma nova compreensão pode emergir no interior
de um grupo, diferente daquela que se encontrava inicialmente.
A ecologia é vista como um conhecimento científico que tem por objeto não
apenas a natureza, mas as interlocuções e as relações que acontecem dentro de um
ecossistema dando origem a um conhecimento dialógico, contextualizado. A ética, a
solidariedade, a alteridade e a inclusão são outros elementos presentes no
pensamento ecossistêmico.
Cuándo puedo estar seguro de que soy yo quien pienso por mí mismo y no
es la sociedad la que por medio de su noosfera piensa por mi? La respuesta
es bien sencilla: nunca. (CIURANA, 2008).
Assim, a autonomia não pode ser concebida sem dependência ecológica, pois
quanto mais autonomia se desenvolve, mais dependências são criadas. O ser
humano é produto de um processo de reprodução, mas esse processo só pode
continuar se cada um, como indivíduo, acoplar-se para continuar o processo.
A sociedade é produto das interações entre indivíduos, mas é constituída de
suas emergências, de sua cultura e de sua linguagem, que retroagem sobre os
indivíduos e assim os produzem como indivíduos, provendo-os com a linguagem e a
cultura. (MORIN, 2005). Portanto, nas sociedades humanas, os indivíduos
desenvolvem sua autonomia na relação com a cultura e com o próprio meio
ambiente.
Por vezes, a partir do momento em que se empreende uma ação mesmo que
com uma intenção, ela passa a interagir com outras ações e fenômenos do meio
ambiente e pode vir a torna-se algo não pensado inicialmente ou até mesmo
contrário ao que se intentou. É um constante movimento de ir e vir. Em outras
palavras, “toda ação é sempre ação ecologizada por causa de processos de inter-
ação, de retro-ação, de co-operação existentes.”5 (MORAES, 2008, p. 107).
5
Nesse parágrafo, o hífen é propositadamente utilizado para destacar as ações conjuntas, dependentes umas das
outras e simultâneas.
50
Capítulo II
A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E SUAS RELAÇÕES
Também para Reys (1997) a subjetividade social é formada por valores e, por
vezes, é expressa por meio da subjetividade do indivíduo, mas não o determina. O
mundo do ser humano não é só o mundo do construído. Não é só o mundo do
diálogo estabelecido. É aquele mundo que também se constitui na qualidade da
experiência única que se tem em termos emocionais sobre os quais a pessoa não se
dá conta. Por isso, há uma distinção entre a personalidade como constituição
subjetiva do homem e o sujeito concreto que produz representações, que toma
decisões, que é ativo mudando permanentemente em função do espaço interativo
onde está. (Ibid.)
Os conceitos são construídos subjetivamente, dependendo das experiências
dos vínculos e da qualidade das emoções que aparecem ao longo da história de
vida. A subjetividade inclui a personalidade, que é a instância dos fenômenos
constituídos, permeados pelas emoções, por vezes desconhecidas, e pelo sujeito
concreto que atua, que decide e interage com o espaço a sua volta e dessa forma
constrói-se permanentemente. É o sentido subjetivo (REYS, op. Cit.).
O único homem que se educa é aquele que aprendeu como aprender; que
aprendeu como se adaptar e mudar; que se capacitou de que nenhum
conhecimento é seguro, que somente o processo de buscar conhecimento
oferece uma base de segurança. (ROGERS, 1983, p. 110).
6
Cada teórico apresentado nesse tópico mereceria um capítulo individual para que seus
pressupostos fossem mais bem compreendidos, o que não será possível de ser feito nesta
56
dissertação. De qualquer forma, ficam aqui as referências às leitura feitas para quem tiver interesse
em aprofundar-se nessas teorias.
57
adiante, porque percebe que são importantes para a convivência em grupo. Por
último, chega-se à autonomia, que acontece no período formal. Há um entendimento
de que as regras são de natureza arbitrária e convencional e que podem ser
modificadas quando há consenso entre os que participam do jogo. É nesse
momento que Piaget considera que o indivíduo é capaz de raciocinar sobre
enunciados, sobre hipóteses.
Kamii (1991, apud ZACHARIAS, ibid.) também situa a autonomia em uma
perspectiva de com o outro. Para ela, a autonomia significa o indivíduo ser
governado por si próprio. É o contrário da heteronomia, que significa ser governado
pelos outros. A autonomia implica levar em consideração os fatores relevantes para
decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se
considera apenas o próprio ponto de vista.
Ausubel pretendia, segundo ele mesmo, construir uma teoria de como o ser
humano aprende e retém um corpo de conhecimentos em sala de aula ou em
ambientes similares. Seu foco era compreender como os indivíduos aprendem
significativamente grandes quantidades de material verbal ou textual em um cenário
escolar em contraste com as teorias elaboradas em ambientes laboratoriais.
De acordo com Ausubel, a aprendizagem pode ocorrer por
superordenadação, por representação e por combinação, processos que acontecem
durante a recepção de informações.
Ausubel, assim como Rogers, não acreditava na aprendizagem baseada em
material sem sentido, como os de sílabas sem significado criadas por Ebbinghaus e
adotadas por diversos psicólogos cognitivistas. (ROGERS, 1968; DRISCOLL, 1993).
62
Para ele, todo material textual, assim como outros tipos de material a serem
experienciados pelos alunos, devem ser considerados “potencialmente
significativos”, ou seja, o material a ser aprendido precisa ser relacionável à
estrutura cognitiva do aprendiz, de maneira não arbitrária e não literal. O significado
é dado ao material quando o aluno ativamente interpreta suas experiências usando
operações cognitivas internas.
Dessa forma, espera-se que o aprendiz compreenda significativamente o
material apresentado, que o incorpore ao seu acervo de aprendizagem e que o
utilize no futuro. É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico do
material de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o aprendiz.
(AUSUBEL, 1968).
Aprendizagem é um processo de construção no qual uma nova informação é
adicionada e integrada a uma estrutura cognitiva existente. A retenção envolve a
manutenção da disponibilidade da informação para ser adquirida quando necessário.
O termo significativo é um conceito relacional, um fenômeno que surge a
partir de um processo de aprendizagem significativa no qual o material existente no
mundo é convertido em um estado psicológico individualizado ou conteúdo
consciente, implicando, dessa forma, alguma representação entre a linguagem e a
estrutura mental.
Aprendizagem significativa, portanto, é um processo por meio do qual o
aprendiz utiliza um conjunto anteriormente significativo de conceitos e
conhecimentos (conhecimentos prévios) para incorporar à sua estrutura cognitiva,
de modo substantivo e não arbitrário, novos materiais que são potencialmente
significativos, como informações, conceitos e experiências.
Nesse processo a nova informação interage com esses conhecimentos
prévios que são hierarquicamente organizados, denominados por Ausubel de
“subsunçor” (ancoradouro). Há, portanto, um processo interativo no qual os
conceitos mais relevantes existentes servem como ancoradouro para o novo
material, incorporando-o e assimilando-o. Ao incorporar novos conhecimentos, as
estruturas cognitivas − que representam todas as experiências de aprendizagem −
também são modificadas.
Um bom exemplo é oferecido por Moreira (1999): em física, se os conceitos
de força e de campo, mesmo que intuitivamente, já existem na estrutura cognitiva do
63
assim as coisas entram em uma espiral mais complexa, que aumenta o sentimento e
a consciência. Mas, de alguma forma, é preciso um início. É um constante
movimento recursivo, uma causalidade circular.
A consciência é fruto da necessidade básica de nos mantermos vivos. Na
natureza, existem organismos simples que vivem de uma forma basicamente
automática. Os seres humanos são mais complexos:
Além de precisarem manter a vida de uma forma simples, eles têm que se
adaptar a um ambiente cheio de dificuldades para obter energia e se expõem
a inúmeros perigos e oportunidades. Nesse ambiente que não é apenas
físico, mas também cultural, precisamos de um sistema complexo de
imaginação, criatividade e planejamento. A consciência surge dessa
necessidade. (DAMÁSIO, 2001).
diz, embora o que ouvimos seja desencadeado por ele ou ela. (MATURANA,
2001, apud DEMO, 2002).
Varela (1996, apud MORAES, 2008, p.81), nessa mesma direção, afirma
que “a inteligência deixou de ser a capacidade de resolver problemas para ser a
capacidade de ingressar num mundo compartilhado”.
Morin (2005 b.) realiza uma ampla incursão pela questão do conhecimento
do conhecimento e, portanto, não há como explorá-lo nesse espaço. Contudo, há
alguns aspectos que poderão contribuir significativamente com a elucidação das
bases teóricas desta dissertação, e por isso foram pinçados e serão aqui
apresentados. O texto a seguir e as páginas citadas pertencem ao livro “O
método 3: o conhecimento do conhecimento”.
Em suas próprias palavras:
Lembro que o objetivo deste livro não é nem de vulgarizar, nem de sintetizar
as aquisições atuais das diversas ciências cognitivas referentes ao cérebro,
ao espírito e à inteligência, mas de considerar, a partir dessas descobertas e
dos problemas daí derivados, as possibilidade e os limites do conhecimento
humano. (MORIN, 2005 b., p.43, grifo do autor).
Para Morin, “conhecer é primariamente computar”; embora a ação de
conhecer não se reduza à computação, sempre a incorpora. Conhecer é tradução,
construção e solução, portanto o conhecimento não consegue refletir diretamente o
real, podendo apenas “traduzi-lo e reconstruí-lo em outra realidade.” (Ibid., p. 58)
O autor considera que aprender não é somente adquirir um savoir-faire,
“mas também saber como fazer para adquirir saber”, o que pode ser feito por meio
da aquisição de informação, da descoberta de qualidades dos seres, da
descoberta da existência de relação ou não entre dois acontecimentos. “Construir
supõe construtor, aprender supõe um construtor: aprender supõe um a priori;
adquirir supõe um inato. O aparelho neurocerebral é o construtor a priori
dispondo da capacidade de aprender.” (MORIN, 2005 b., p.68, grifo do autor).
73
Para Morin (2005 b.), quem conhece não é um cérebro nem um espírito,
mas um ser-sujeito pelos meios do espírito e do cérebro. Assim, o espírito-cérebro
é reintegrado no ser, mas se deve, repita-se, reintegrar o ser humano na
sociedade, que permite à computação de seu cérebro desenvolver-se em
cogitação via linguagem e saberes acumulados.
Dessa forma, no conhecimento têm-se um complexo inseparável, no qual
cada instância contém as outras: cérebro – espírito – indivíduo – sociedade.
Nessas instâncias encontram-se a linguagem, a consciência, as emoções, o corpo,
o outro.
A consciência, para Morin, é complexa, pois é ao mesmo tempo “sempre
objetiva e subjetivante, distante e interior, estranha e íntima, periférica e central,
epifenomenal8 e essencial.” (2005 b., p. 211). Portanto, é paradoxal e dialógica.
Ao mesmo tempo, é produto e produtora da reflexão.
A consciência trata do retorno do espírito sobre si mesmo via linguagem;
esse retorno permite um pensamento do pensamento capaz de retroagir sobre o
7 Estratégias cognitivas, para Morin, são produzidas durante a ação, e conforme os acontecimentos ou a
obtenção de novas informações modificam a conduta da ação desejada.
8
Epifenômeno:
1. s.m. Fenômeno que vem juntar-se a outro, mas sem influenciá-lo. (DICIONÁRIO
KINGHOST)
2. Fenômenos adicionais que se superpõem a outros, mas sem modificá-los, nem exercer sobre eles nenhuma
influência. (QUADROS, 1997)
3. Significa, literalmente. “sobre-(epi)-fenômeno”, assim como “fenômeno sobrante”. Em sentido geral, um
perifenômeno é um fenômeno cuja presença não afeta um fenômeno dado. (MORA, 2001.)
4. Concepção que faz da consciência um fenômeno acessório e secundário, um simples reflexo, sem influência
sobre os fatos de pensamento e conduta. (Dicionário de Filosofia)
74
Até aqui, falou-se sobre conhecer e aprender de forma mais ampla, como um
atributo pertencente aos seres vivos em todos os seus níveis de complexidade e em
particular ao ser humano.
Nesta pesquisa, contudo, o público-alvo é formado de adultos professores,
lembrando que quem está formando também é professor e adulto. Portanto, há
necessidade de uma breve abordagem sobre a especificidade da aprendizagem de
adultos, assim como de algumas considerações sobre o professor, especificamente,
como sujeito aprendente.
Vários teóricos importantes estudam ou estudaram a aprendizagem de
adultos, dentre eles Knowles, que será mais amiudemente abordado neste item
porque se refere ao sujeito adulto integral, além de já trazer em sua teoria as
experiências de outros autores que cita em seu livro The Adult Learner, de 2005, no
qual o texto a seguir está baseado.
76
Aretio (1988), com base em pesquisas realizadas por autores como Mucchielli
(1972), Tyler (1995) e outros, aponta algumas dificuldades percebidas na
aprendizagem de adultos, dentre elas: o adulto pretende uma formação mais
pragmática; a curiosidade insaciável de criança diminui consideravelmente; o
aprendizado tende a ser mais lento, principalmente quando há necessidade de
mudança de hábitos consolidados ou quando se está afastado dos estudos há muito
tempo; o adulto percebe o conteúdo compartimentalizado, enquanto sua experiência
profissional se mostra interdisciplinar.
Pelo fato de os aprendentes serem adultos, há necessidade de investir-se no
aprendizado significativo, mais diretamente relacionado ao trabalho e às
experiências de vida de cada um.
Freud, embora não tenha dedicado muito de seu tempo à educação, chegou a
considerar que a educação seria algo da ordem do impossível, juntamente com o
governo e com a própria psicanálise. Impossível não por ser irrealizável, mas por
não poder conciliar a liberdade de expressão do inconsciente com os preceitos
morais. Impossível por não poder ser alcançada em sua totalidade. Impossível
porque depende do outro, daquele que quer ou não aprender.
Ainda assim, embora com pouco espaço para discutir em profundidade os
resultados de pesquisas e posições teóricas sobre como os docentes aprendem,
serão apresentados alguns aspectos considerados fundamentais para o
entendimento da questão.
Ensinar e aprender são processos distintos. Contudo, fazem parte deles
sujeitos ensinantes e aprendentes que se revezam nesses papéis e imbricam-se em
movimentos contínuos interativos, recursivos desconstrutores, construtores e
produtivos de conhecimentos e de experiências. “Não há docência sem discência,
as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se
reduzem à condição de objeto um do outro.” (FREIRE, 2003, p. 21).
Ainda assim, para Torres (2005) educar e aprender são processos diferentes,
pois supõem métodos diferentes, ou seja, os mecanismos e as estratégias que o
professor utiliza para desenvolver a lição são diferentes daqueles utilizados pelo
educando para aprender. Enquanto o estudante recorre a associações com nomes
ou episódios conhecidos e vivenciados, o professor procura trazer os autores
consultados, buscar relação entre os conhecimentos, exemplificar.
No caso dos cursos de formação de professores, os formadores são
professores e os formandos também. Estão ali para aprender a aprender e aprender
a ensinar. “Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se
e forma ao ser formado.” (FREIRE, 2003, p. 23). Os professores precisam
conscientizar-se dessa multiplicidade de papéis tanto em sua formação quanto em
sua ação. O educador também se autoforma.
assim como somos influenciados por ele. (PENEAU, 2003, apud BRUNO,
2008, p. 88).
Herández (1998) chama a atenção para o fato de que nos cursos de formação
de professores pouca atenção é dispensada à forma como os docentes aprendem,
pois a ênfase está na própria proposta de formação. Com base em sua experiência,
o autor aponta algumas atitudes encontradas em seus alunos docentes.
A primeira, que ele chama de refúgio no impossível, acontece quando o
professor diz que tudo é muito bom, muito certo, mas utópico, pois as condições em
sala de aula não permitem a prática.
O desconforto de aprender, segunda atitude percebida, acontece quando o
docente não demonstra vontade de aprender, mas, ao contrário, cria um bloqueio
diante do novo, considerando-se tratado como criança.
Um terceiro aspecto é com relação à revisão da prática, pois quando essa
prática é usada como base para a aprendizagem, os docentes a consideram uma
perda de tempo.
Herández percebeu, também, que o docente sente-se ameaçado em sua
identidade de pessoa que ensina, pois as mudanças tornam suas experiências e
conhecimentos inválidos.
82
Para Freire (2003, p.22), “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma
exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a
prática, ativismo.”
Imbernón (2006) confirma que durante muito tempo a perspectiva técnica e
racional controlou a formação do professor, pois visava a um professor com
conhecimentos semelhantes no campo científico e psicopedagógico, exercendo um
ensino nivelador. Por outro lado, agora, tão importante quanto o conhecimento de
conteúdos é a formação de atitudes para que o professor possa comunicar-se e
compartilhar com o grupo decisões e estratégias.
Em um momento inicial, no qual o ensino era considerado como intervenção
tecnológica com base no processo de produção, o professor era visto como um
técnico especializado que aplica regras derivadas do conhecimento científico.
(GÓMES, 1992, apud FURLANETTO, 2007).
Hoje, essa visão limitada precisa ser superada, pois a realidade social é
complexa, incerta, instável e o professor “intervém em um meio ecológico complexo,
em um cenário vivo e mutável, definido por interações simultâneas”. (GÓMES, apud
FURLANETTO, 2007, p. 10). São situações para as quais não há respostas prontas.
Imbernón (2006) considera que as funções do professor foram transformadas.
O professor passou de simples transmissor de conhecimentos acadêmicos para
animador, motivador, para aquele que luta contra a exclusão social, e tudo isso
exige uma nova formação inicial e permanente.
Nesse sentido, o autor aponta algumas situações que considera elementares:
o professor possui conhecimentos objetivos e subjetivos e, portanto, a formação
precisa incluir não só os conteúdos, mas a formação de atitudes; a aquisição de
conhecimentos por parte do professor é um processo amplo e não linear que está
relacionada diretamente à prática profissional e que é condicionada pela estrutura da
organização na qual trabalha (IMBERNÓN, 2006). Portanto, a construção de
conhecimentos precisa acontecer de forma interativa e com base em situações
83
É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender. Mas raramente
se pensa nisso. Por que ensinar é mais difícil que aprender? Não porque o
mestre deva possuir um maior acervo de conhecimentos e os ter sempre à
disposição. Ensinar é mais difícil do que aprender, porque ensinar quer dizer
deixar aprender. Aquele que verdadeiramente ensina não faz aprender
nenhuma outra coisa que não seja o aprender [...]. O mestre que ensina
ultrapassa os alunos que aprendem somente nisto: que ele deve aprender
ainda muito mais do que eles, porque deve aprender a deixar aprender. O
mestre deve poder ser mais ensinável que os alunos. (HEIDEGGER, apud
ROGERS & FREIBERG, 1996, p. 67).
9
O conceito de interatividade parece ter suas origens na idéia de interação, que não é
nova. Na Física, refere-se ao comportamento de partículas cujo movimento é alterado pelo
movimento de outras partículas. Para a Sociologia e a Psicologia, nenhuma ação humana ou social
85
existe separada da interação. Para os interacionistas do início do século XX, designa a influência
recíproca dos atos de pessoas ou grupos. A interatividade, por outro lado, é recente e emerge
juntamente com a ampliação da informática e das tecnologias da informação e comunicação, tanto
assim que não a encontramos facilmente em dicionários nacionais antes de 1998, embora as várias
ciências já estudassem os processos de interação. (SCHECHTMAN, 2003). Por esse motivo, os dois
termos serão utilizados sem diferenciação. O termo interatividade estará mais presente quando
tratar-se de ambiente virtual de aprendizagem.
86
Não temo dizer que inexiste validade no ensino de que não resulta um
aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer
o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser
realmente aprendido pelo aprendiz. (FREIRE, 2003, p. 24).
Freire, ninguém ensina ninguém, cada um aprende mediado pelo mundo. Mundo do
qual o professor também é parte. Nesse sentido, o professor pode ser considerado
um mediador.
Segundo o dicionário Michaelis, o significado de mediar, do latim mediare,
como verbo transitivo indireto, é o mesmo que mear. Como verbo intransitivo,
significa ficar no meio de dois pontos, no espaço; ou de duas épocas, no tempo. E
como verbo transitivo direto, significa tratar como mediador. No Houaiss, entre
outras definições, como transitivo direto, indireto e bitransitivo, significa agir na
qualidade de mediador ou medianeiro; como transitivo indireto, estar entre duas
coisas, ou entre dois extremos.
Dessa forma, mediar é relacionar e implica a existência de mais de um sujeito
ou mais de um tempo, ou, ainda, mais do que um único lugar ou objeto. Não há
mediação sem a participação dos envolvidos, sem comunicação, sem interação,
sem diálogo entre os sujeitos ou mesmo entre sujeitos e objetos; sem desejo de agir,
sem intencionalidade daquele que faz a mediação. Mediar também significa
negociar. Negociar sentidos, necessidades, afetos e saberes.
Mediar, pedagogicamente, é colocar-se como facilitador, como incentivador
da aprendizagem, disposto a ser uma ponte rolante entre o aprendiz e sua
aprendizagem para que ele atinja seus objetivos. É apresentar e tratar os conteúdos
de diferentes maneiras, levando o aprendiz a coletar informações, a discuti-las com
colegas e professores até chegar à produção de um conhecimento significativo para
ele, que o ajude a interferir na realidade. (MASETTO,2000).
Segundo Libâneo (1992), saber lançar pontes entre as tarefas requeridas do
aprendente e as condições prévias dele para enfrentá-las é uma das qualidades do
mediador. O envolvimento do aluno no estudo ativo depende de que o ensino seja
organizado de tal forma que as dificuldades colocadas pelo professor, ou seja, as
perguntas, os problemas propostos, tornem-se problemas subjetivos na mente do
aluno, provoquem nele uma “tensão” e vontade de superá-las.
É preciso saber dosar o nível de dificuldade das questões, tornando-o
adequado aos níveis dos aprendentes. “As dificuldades somente têm valor didático
se possibilitam a ativação e o direcionamento das forças intelectuais, ou seja, um
meio para avançar na compreensão e assimilação da matéria.” (Ibid., p. 95). Para
isso, o aprendente precisa relacionar o novo conhecimento aos saberes pré-
existentes e necessita de constante verificação dos progressos alcançados.
89
10
Em seu texto, Maheu refere-se à educação escolar, principalmente voltada para crianças, o que não invalida a
questão do desejo, que no adulto pode ser algo mais determinante e específico em função de sua realidade, mas
que também pode não existir. Nesse caso, precisa ser despertado por meio da mediação.
90
Mediar não significa tão somente efetuar uma passagem, mas intervir no
outro pólo, transformando-o. A mediação na esfera educativa guarda o
sentido da intervenção sob inúmeras formas, desde as modalidades mais
amplas — como a mediação sociopolítica que pratica a escola/o fenômeno
educativo face aos alunos que se formam — às modalidades que se inserem
no âmbito da prática pedagógica, onde se posiciona, primordialmente, o
professor como mediador. (MAHEU, 2001, p. 45).
Ainda segundo a autora (Ibid.), mesmo cabendo ao professor ter uma visão
sistêmica do processo, ele e o aluno devem ter o mesmo grau de importância na
relação, já que ambos constituem partes de um mesmo sistema.
O professor é o mediador entre o aprendiz e sua aprendizagem, entre o
aprendiz e os conhecimentos. Ambos, contudo, são co-produtores do conhecimento,
pois a ação mediadora do professor dependerá do que acontece com o aluno, não
pode ser imposta; acontece em um movimento recursivo, no qual o aluno
compreende os temas que estão sendo trabalhados e ao mesmo tempo se vê como
produtor desse conhecimento.
Ao mediador cabe estar atento às diferentes possibilidades de interpretação
da realidade dos aprendentes, assim como aos diferentes níveis de realidade
presentes no ambiente de aprendizagem, o que implica aceitação do outro, das
diferenças, dos diversos estilos de aprendizagem, além dos interesses e motivações
de cada um. Isso exigirá do mediador a criação de contextos dinâmicos, flexíveis.
Sob o olhar do pensamento complexo, as práticas contextualizadas, as reflexões
individuais e coletivas, os processos cooperativos e solidários são fundamentais
para o alcance dos objetivos educacionais. (MORAES, 2003).
Da mesma forma, o mediador deve escolher as estratégias didáticas pelo
reconhecimento das especificidades de cada situação e cada contexto, pela
aceitação das diferentes percepções e níveis de realidades, entre as maneiras de
aprender, entre os interesses. Precisa considerar o dialogismo das relações, o
compartilhamento de objetivos.
E para isso, não é preciso inventar sempre, recriar a roda repetidamente. O
que importa é a atitude do mediador quando da utilização de estratégias didáticas,
ainda que convencionais, como quadro-de-giz ou a apresentação oral.
Como diz Masetto (2000), é importante o uso de estratégias de aproximação,
de formação de grupo e de motivação que favoreçam a aprendizagem individual e
em grupo, assim como o emprego de técnicas de simulação, de resolução de
problemas, de situações complexas e de conflito que aproximem o aprendiz da vida
profissional. São técnicas que colocam o aprendiz em contato direto com situações
95
CAPÍTULO III
Estratégias Aprendizagem
pedagógicas
Ambiente virtual de
Ciberespaço Aprendizagem
Mediação
pedagógica
Gêneros
SISTEMA EAD digitais
Conteúdos
Ferramentas de
Professor/ interatividade
orientador
Emergências Tecnologia
Aprendiz
Comunicação
Conhecimento
11
Nesse momento, optou-se por recortar alguns aspectos da análise feita por Maria Cândida Moraes em um
capítulo que compõe o livro Educação a distância: pesquisando fundamentos para novas práticas (MORAES,
M.C.; PESCE, L.; BRUNO, A. R., 2007). As páginas referenciadas são desse livro.
99
Espaço
antropológico
Apoio para os Espaço do saber
alunos que
Aprendizado aprendem
recíproco, sinergia autonomamente
das competências, Todas as mensagens
inteligência coletiva se tornam interativas,
imaginação ganham plasticidade e
possibilidade de
metamorfose imediata
O professor como
mediador intelectual,
emocional, gerencial,
comunicacional e ético
Por conseguinte, virtual não significa algo inexistente, imaginário, mas uma
coisa possível, que tem potencial para ser reinventada, co-criada.
O ciberespaço é um espaço desterritorializado (LÉVY, 1999 a.) que acontece
por meio de redes em um tempo que não depende de lugar, onde é possível manter-
se uma ação continuada, embora descontínua em sua duração. Uma comunidade se
cria nesse espaço e, apesar de não presente, é repleta de emoções, de projetos e
de conhecimentos de cada um e de todos, por vezes não definidos. Portanto, o
ciberespaço é heterogênico, propicia a alteridade.
O espaço virtual se atualiza por meio de redes de computadores, de satélites,
de cabos de fibra ótica. Em uma analogia ao corpo humano, Sfez (2000) remete à
noção de veias e de nervos que transportam o sangue e os humores, e que em seu
entrelaçamento formam uma rede singular, mas sujeita ao acaso. Afinal, nenhum
corpo possui o mesmo entrelaçamento. São redes circulares sem começo e sem fim,
pois são múltiplas as entradas e os caminhos são complexos.
Essas redes interativas propiciam a comunicação, a troca de conhecimentos e
as relações pessoais de forma intensa e fácil, sem local, dia, nem hora marcados.
Como consequência, o ciberespaço requer uma nova forma de relacionamento, de
ensino e aprendizagem, e uma nova forma de ver e entender o tempo e o território, o
espaço.
Moran (2000, apud SCHECHTMAN, 2001) afirma que nos ambientes virtuais
participamos de uma interação intensa entre o real e o virtual. Comunicamo-nos
realmente, estamos conectados com milhares de computadores, mas essa
comunicação é virtual. Estamos em casa, conversando com pessoas que não
conhecemos e talvez nunca conheçamos. Nesses ambientes, as comunicações
sociais vão acontecer de uma nova maneira. Os espaços familiares, antes restritos
por paredes, ganham novos contornos. Esse é um ato potencial, criado pelos
sujeitos.
Para Schulmeister (1997, apud PETERS, 2002), o território virtual é composto
por três espaços: o espaço das apresentações, onde os objetos representados por
símbolos, como textos, gráficos e imagens são apresentados aos alunos; o espaço
semântico, no qual o sujeito interpreta; e o espaço das ocorrências, em que os
alunos interagem com os objetos mostrados anteriormente por meio da navegação.
O espaço das ocorrências ou das ações, que favorece a conexão com os
objetos apresentados, pode ser considerado o verdadeiro espaço de aprendizagem.
104
É nesse espaço sem limites, incerto, não muito bem definido, que as ações
educacionais, o ensinar e o aprender devem “ter lugar”. (PETERS, 2002, p. 139,
grifo do autor). Na transição do local tradicional de ensino para o ambiente digital
surge a oportunidade da criação de novas maneiras de ensinar e aprender. Nesse
espaço são construídos os ambientes de aprendizagem amplificadores dos espaços
tradicionais físicos.
Paralelamente ao ciberespaço, o ambiente virtual de aprendizagem (AVA) é
considerado, aqui, como um espaço dentro do ciberespaço, ou seja, um “lugar”
construído na plataforma Moodle onde o curso é desenvolvido. É por meio de um
endereço HTTP que o aluno acessa a “sala de aula” virtual do curso, na qual
encontra os materiais disponibilizados pelos professores, os cronogramas, as
mensagens e, principalmente, o espaço para a interatividade com os colegas de
turma e com os professores, por meio dos fóruns, das agendas e dos chats.
Mas as possibilidades de aprendizagem vão muito além desse ambiente,
encontram-se no ciberespaço onde acontece a sociedade virtual, ou seja, “a
sociedade de comunicação - fundada na redundância da difusão da mensagem; a
sociedade da informação - fundada no estereótipo do terminal e a sociedade de
comutação - de equivalência entre o emissor e o receptor na rede.” (LEMOS, 2002,
p. 82).
O conceito de ambiente de aprendizagem foi criado com base em
pressupostos construtivistas, para os quais o aluno é visto como sujeito e não mais
como objeto. Assim, a aprendizagem não acontece por meio de recepção passiva
das informações oferecidas, mas resulta da interação entre os sujeitos e destes com
os objetos de aprendizagem. “Se este ambiente de aprendizagem é informatizado e
organizado em rede, uma imensa extensão do campo educacional acontece na
imaginação dos alunos.” (LEMOS, 2002, p.134).
Algumas atividades de ensino e de aprendizagem estão presentes, em
conexão, somente nos ambientes informatizados que utilizam o computador, um
meio universal que contém todos os outros meios anteriormente utilizados. Nos
ambientes tradicionais esses recursos estariam separados e seriam reunidos
somente quando solicitado. O computador permite ao usuário acesso rápido à
informação distribuída e aos outros participantes, facilitando a comunicação e a
colaboração entre pessoas distantes espacialmente entre si. Os alunos também
podem compilar seus arquivos com os conhecimentos adquiridos por si mesmos e
105
Uma técnica não é boa nem má (isto depende dos contextos, dos costumes,
dos pontos de vista), nem neutra (já que ela é condicionante ou
constringente, já que ela abre aqui e fecha acolá o leque de possibilidades).
Não se trata de avaliar os ''impactos'', mas de descobrir o irreversível a que
tais usos nos conduziriam, as ocasiões que ela nos permitiria lançar mão e
formular os projetos que explorariam as virtualidades de que ela é portadora,
de decidir o que faremos com ela. (LÉVY, 1997).
aparato tecnológico eficiente se não for utilizado pelo homem em favor do próprio
homem.
Diálogos,
Centrada co-construção
no Centrada nas co-produção de
professor interações significados
Estar junto
Professor Diferentes
Currículo interpretações da
como oDono em ação
da verdade realidade
que nasceram imersos nas novas tecnologias. Os imigrantes digitais são aquelas
pessoas que, nascidas antes da disseminação ampla do computador e da internet,
antes do mundo digital, em algum momento de sua vida ficaram fascinados pelas
tecnologias e as incorporaram, amplamente ou de forma parcial.
Como todo imigrante, eles sempre manterão algum sotaque, ou seja, uma
base em seu passado, como ler um manual, por exemplo, ao invés de perceber que
o próprio programa digital irá ensinar o manuseio. Essas pessoas foram socializadas
de forma diferenciada dos jovens de hoje e precisam aprender uma nova linguagem.
É importante lembrar que, por serem adultos, as linguagens aprendidas vão para
uma parte diferente do cérebro. Esses professores educaram-se vendo TV, ouvindo
rádio, ou lendo jornais e revistas. Ou seja, viveram lidando com meios pouco ou
nada interativos, sobre os quais não possuíam nenhum controle, a não ser ligar e
desligar, ou simplesmente não ler.
Hoje os computadores, aliados ao uso da internet, criaram uma nova cultura
para o aprendizado. É a antítese da passividade resultante dos meios de
comunicação de épocas anteriores, pois os atuais pressupõem e incentivam a co-
autoria e a criticidade do usuário, que são habilidades e competências que o jovem
atual tende a possuir naturalmente, enquanto o adulto ainda precisa aprender. “Em
vez de ouvir algum professor regurgitar fatos e teorias, os alunos discutem e
aprendem uns com os outros, tendo o professor como participante. Eles constroem
narrativas, que fazem sentido, a partir de suas próprias experiências.” (TAPSCOTT,
1999, p 137).
Paralelamente, essa geração é mais independente e resiste ao controle de
outros. “Para eles, e-mail é antiguidade”. (Ibid., 2009). Atualmente, por telefone, os
alunos conversam, mandam mensagens; em aparelhos de moderna tecnologia,
assistem a filmes, documentários, programações variadas, e pesquisam,
simultaneamente e com atenção redobrada.
É esse o aluno “multitarefa” que o professor vai encontrar em sala de aula e
que pode estar disperso diante de um quadro de giz e um professor orador. Em
muito pouco tempo, é esse aluno que estará sendo formado nos cursos de
pedagogia e de licenciatura. Mas estarão os professores desses futuros professores
preparados para oferecer os conhecimentos e as experiências que eles realmente
necessitam para dar conta da nova geração? No espaço virtual, em especial, os
110
Como enfatizam vários autores (PETERS, 2004; PALLOF & PRATT, 2002;
LÉVY, 1999a), o ciberespaço deve conduzir ao aprendizado colaborativo, à troca de
informações, à autonomia pedagógica inserida em uma ecologia do saber, cognitiva
e emocional. Para que isso aconteça, propositadamente, em ambientes virtuais de
aprendizagem, o professor precisar saber conduzir discussões, ser criativo, sensível
às situações e aos participantes do grupo. Precisa agir como facilitador e mostrar ao
grupo a importância e a responsabilidade de cada um para o sucesso individual e do
grupo.
Tudo isso está diretamente relacionado às estratégias metodológicas criadas
para um determinado curso e à sensibilização do grupo para interagir. Diante das
diferenças trazidas pelo espaço virtual, “adaptações cuidadosas não serão
suficientes.” (PETERS, 2004, p.150).
Ainda segundo Peters (2004), espaços reais, tradicionais de ensino e de
aprendizagem têm propriedades específicas, como delimitação de espaço e de
tempo. Foram criados para proporcionar aos professores e aos alunos um lugar para
se encontrarem face a face, para se reunirem. São, portanto, adaptados ao ensino
tradicional, ao formato do ensino oral, protegendo os participantes das perturbações
exteriores. Possibilitam a proximidade e os alunos absorvem os estímulos por meio
de todos os sentidos.
Por outro lado, no mundo virtual essas funções tradicionais são
transformadas. O espaço limitado de reunião entre professores e alunos desaparece
e o mundo, por meio da rede, torna-se acessível a todos; o tempo pode ser atrasado
ou adiantado; as pessoas e os objetos são efêmeros e transitórios, flutuam.
Não há qualquer ambiente real com o qual os estudantes possam interagir e
estabelecer relacionamentos. Os alunos não interagem face a face em grupos, mas
têm que entrar em contato com colegas em algum outro lugar; não se falam e não
ouvem, mas leem e escrevem. “Estes espaços virtuais de aprendizagem diferem
tanto dos espaços reais que um choque de reconhecimento abala qualquer um que
reflita atenta e seriamente sobre eles.” (PETERS, 2004, p 152).
Apesar do desenvolvimento tecnológico, grande parte da interação entre os
sujeitos em um ambiente virtual de aprendizagem ainda acontece por meio da
escrita. “A sutileza presente na forma como são tecidas as relações pela escrita
pode ser comparada a um trabalho artesanal, especialmente por ser único em sua
112
Por tudo o que foi discutido, considera-se que em uma realidade considerada
ecologicamente constituída, a aprendizagem, como construção individual e coletiva,
tende a ser o resultado das emergências surgidas por meio da interatividade e do
diálogo das subjetividades em suas relações com os objetos do conhecimento.
Nessa perspectiva, acredita-se que os operadores cognitivos da complexidade
podem contribuir para que todas essas relações e produções aconteçam de forma
mais natural.
No próximo capítulo serão apresentados os dados sobre o curso e as
categorias de análise a serem utilizadas, e no capítulo V os resultados da pesquisa.
117
CAPÍTULO IV
A PESQUISA
A ideia inicial era analisar um curso que, apesar de já ter sido finalizado,
oferecesse em arquivo (backup) o material completo (como textos, vídeos, chats e
todos os fóruns ocorridos). No entanto, parte desse material, incluindo alguns fóruns
que poderiam oferecer excelentes dados para análise, foi perdida. Ainda assim, após
uma avaliação inicial, foi possível perceber a riqueza do curso, o preparo de algumas
mediadoras com relação aos conteúdos, além da presença clara dos operadores
cognitivos permeando seus discursos e suas ações, ainda que não de forma
constante.
Diante disso, optou-se pela continuidade do trabalho, de acordo com o
pressuposto de que o método é um processo de construção consciente, de caráter
dinâmico, processual e inacabado, que, diante da percepção de emergências
surgidas, admite a possibilidade de mudanças e avança de forma recursiva e auto-
organizacional.
É importante ressaltar que o curso foi planejado para acontecer na modalidade
híbrida, ou seja, com encontros presenciais ao longo do período, os quais,
certamente, enriqueceram e ampliaram as possibilidades de aprendizagem individual
e de interação entre os participantes do curso. Como não foi possível ter acesso à
documentação completa dos encontros, as observações basearam-se somente nos
registros disponíveis na plataforma de aprendizagem e em alguns outros
documentos, gentilmente cedidos pela coordenadora do curso.
[...] nos fóruns do Moodle: conversa sobre as expectativas e discussão sobre o texto
“O que é um grupo?” (atividade proposta para o módulo 2).
- criação de e-mails.
122
A distância:
A avaliação seria feita com base na interação dos participantes, nas atividades
individuais e colaborativas propostas, nos recursos do ambiente e na apresentação
dos trabalhos solicitados.
Nessa mensagem inicial, a coordenação procurou criar um clima solidário e
valorizar a formação de uma comunidade como fator facilitador da aprendizagem:
Até esse momento, a turma contava com 60 alunos. A primeira atividade, que
fazia parte do que a coordenação chamou de “introdução”, foi incentivar os cursistas
a se apresentarem no fórum geral “Quem somos nós?” e a criar o perfil individual.
Também foram criados os fóruns “café”, indicado para papos informais, o “tira
dúvidas” e o “suporte técnico”.
Feito isso, a turma inicial foi dividida em duas e dentro de cada uma delas
formaram-se cinco grupos para a realização da primeira tarefa proposta para o
módulo I:
ATIVIDADE 1
ATIVIDADE 2
ATIVIDADE 3
Leia a carta-convite que introduz nossa 'metodologia' especial para este módulo; leia
o texto de Maria Cândida Moraes - Sentir, pensar e educar, e participe do fórum:
Questionamentos sobre o sentipensar.
Nova leitura: Diálogo entre o Sentir e o Pensar, escrito por Saturnino de la Torre,
professor da Universidade de Barcelona. Esta leitura deverá incrementar nossa
conversa no fórum Questionando o Sentipensar.
Produção de um texto individual com suas reflexões sobre o texto lido, que será
enviado através do Fórum Produção Individual – “O ser vivo”. O fórum Dúvidas - O
ser vivo está aberto para esclarecimentos sobre o texto.
126
ATIVIDADE 1:
Então? Vamos nos deliciar com a leitura e reflexão dos textos de Saturnino: O
Festival dos sentidos e o Mar da Bahia? E agora? Podemos continuar refletindo
sobre os textos através dos dois fóruns indicados abaixo?
Vamos em frente...
ATIVIDADE 2
A partir de agora vamos nos dedicar à escrita do Projeto que será aplicado em sala
de aula. Os textos lidos, até o momento, serão o suporte para a elaboração da
atividade, eles fundamentarão a proposta de vocês. Lembrem-se: trata-se de um
trabalho a ser desenvolvido em grupo; portanto, leiam, discutam, conversem
bastante, pesquisem, perguntem... e mãos à obra. Os grupos deverão ser formados
espontaneamente, de acordo com as afinidades pessoais e temáticas. Por favor,
enviem para o fórum (Elaboração do mini-projeto), com certa urgência, os nomes dos
componentes das equipes. O modelo para a elaboração do mini-projeto encontra-se
[...] Para esclarecimentos de todas as dúvidas e orientação para a produção do
trabalho, dirijam-se ao fórum “Elaboração do mini-projeto”. Teremos tempo suficiente
para providenciar a proposta. O prazo para entrega do projeto será até dia 19 de
junho. Estamos torcendo pelo sucesso de vocês! Vamos lá!
127
ATIVIDADE 3
4.3.3. Impressões a partir dos fóruns iniciais “Tira dúvidas” e “Quem somos
nós”
A análise desses fóruns foi realizada como estratégia para melhor conhecer o
perfil dos cursistas, seus conhecimentos prévios sobre os assuntos abordados e suas
competências com relação ao uso do computador e da internet. Essa análise fez-se
necessária em face da impossibilidade de acesso às fichas de inscrição preenchidas
pelos professores/cursistas ou de outras fontes de informação a esse respeito.
Todavia, ainda que tivesse visto essas fichas, elas não seriam tão
esclarecedoras, pois pelo modelo que me foi fornecido, não constavam itens que
procurassem contextualizar a experiência dos cursistas com relação à navegação na
internet, ao uso do computador ou ao tipo de conexão de que cada um dispunha.
128
12
Os equívocos datilográficos, gramaticais e ortográficos ocorridos nas falas dos participantes do curso serão
preservados com o intuito de manter a fidelidade ao perfil e ao discurso de cada um.
129
É o primeiro curso que faço com recurso das midias digitais, por isso as
vezes fico meio sem saber como desenvolver certos trabalhos como o
deste 2 modulo. Meus acessos são feitos do lab da universidade e só
poderei retornar na 2. feira dia 3, quando ja deveria estar fechado o texto
130
nos fóruns e a busca pelas mensagens dos colegas. Com essas estratégias,
evidencia-se o princípio da auto-eco-organização.
Sim, I, você está indo muito bem. Continue assim. Se o texto ficar
fragmentado, todos os componentes poderão opinar ou, se a equipe
quiser, poderá designar um relator ou relatora. A escolha é livre. Teremos
tempo até segunda-feira para providenciar o texto, vamos relaxar .
Sugerimos que o texto não ultrapasse uma lauda/página e que seja
elaborado utilizando a fonte ou Times New Roman ou Arial, tamanho 12,
com espaços entre linhas de 1,5 com as configurações superior e
esquerda: 3 cm; e inferior e direita: 2 cm. Bom final de semana. Um
abraço. (Mediadora, resposta IF)
Sei que vocês devem estar com muitas atribulações por aí. [...] Por isso,
gostaria de colocar para vocês alguns detalhes com relação ao andamento do
curso. Alguns alunos já se manifestaram no café, comentando a ansiedade com
relação ao início do curso. Será que é importante nos manifestarmos, dizendo a
eles algo sobre o início, por exemplo para se apresentarem? Já pensamos qual
o ritmo que o curso vai seguir? Por último, queria que vocês se sentissem a
vontade para dizerem como esperam que eu colabore. Não quero avançar no
espaço de vocês. (CP, início do módulo 1)
[...] este fórum, possibilitando tantos tópicos, nos faz pensar no texto, nos
diferentes papéis, nos porta-vozes, nos silenciosos, concordam? Alguns
papéis neste grupo que se forma vão se mostrando. Aqueles que comentam
as intervenções dos colegas, aqueles que colocam seus comentários e
aparentemente somem depois. Há os que ajudam a tecer a rede, há os que
aproximam-se e timidamente colocam seu 'nozinho'. Será que conseguimos
identificar, a partir deste fórum, elementos que podem ser dispersos nos
grupos para serem articuladores? (CP, meados do módulo 1).
Vamos fazer uma retomada do que temos até aqui? Penso que estamos
com algumas pendências e isto reflete nos alunos e no próprio
comprometimento deles com o curso. Eles fazem parte dos fundamentos
de ações a distância. [...]1. Planilha quantitativa: retorno aos alunos
(feedback) - cada atividade, encerrado o prazo, precisa ter uma
manifestação dos formadores. [...] Isto sinaliza que o curso não é um
oba-oba e que estamos atentas à movimentação e participação de todos.
2. Síntese qualitativa: na síntese destacamos as participações. É
importante que cada aluno se veja um pouco na síntese. É trabalhoso
fazer isto, mas é necessário. É na síntese que sistematizamos uma
discussão, possibilitando depois o fechamento.
137
Estávamos, precisando dessa chamada (rs, rs, rs), mas acredito que foi
tudo culpa do feriadão.... Já estamos providenciando o relatório que
encaminharemos ainda hoje, as planilhas de avaliação e a síntese
também estaremos encaminhando dentro de 24 horas. (CG)
maior é que ainda não tenho computador e na escola que trabalho ainda
não foi instalado a internet. Daí tenho que me deslocar do bairro que
moro e trabalho para a DITE. (GS)
Demorei muito para interagir com meu grupo mas consegui. E agora
estou adorando esse ambiente de troca de informações e conhecimentos
e por isso mesmo me empenharei mais. Estou tendo algumas
dificuldades mas vou superá-las. (MC)
Confesso que quando li pela primeira vez achei que seria uma
brincadeira da professora, então, parei e comecei a ler outra vez e pude
perceber com que clareza conceitos tão complicados inicialmente pois
tudo que é novo nos causa uma certa resistência . autopoiêtica ,estrutura
,determinismo otogenia acoplamento estrutural. Quando eu achava que o
segundo módulo havia acabado outra novidade o mapa conceitual.
Espero que tenhamos belas novidades no terceiro módulo, e que
finalmente meu computador não me deixe na mão outra vez. (SM)
Gostei muito dos textos para mim é algo novo pois eu nunca tinha se
quer nem imaginado que a vida de cada ser vivo num âmbito
biológico está atrelada a uma estrutura organizacional enquanto ser
social a depender das suas realizacões para atender os objetivos que
vão surgindo. Enfim todo o material deste módulo serviu de ampliação
para os meus conhecimentos. Além disso, estou gostando do curso pela
estratégia do envolvimento dos sentimentos algo que todos seres vivos
deveriam buscar antes de chegar a qualquer determinação.
Três dias depois, não obtendo resposta dos cursistas, o que demonstra que
nem sempre as pessoas já estão prontas para agir, a mediadora utilizou o diário de
141
Querido diário:
Hoje acordei assim , assustada, pensando, pensando... E se o pessoal
não gostou do convite, não aceitou-o e resolveu PARAR DE
RESPIRAR????? E agora? Como vou saber se isto foi só um susto
numa manhã de feriado? Oh! Dúvida!!!!!!!Será que alguém pode me
ajudar???? Um beijinho, querido diário. (Mediadora CP)
Este curso está ficando cada vez melhor, estou impressionada como você
captou o sentimento da professora Rosinha no feriado do dia 21/04 e "jogou"
esta imagem que mexeu com tanta gente, você conseguiu nos instigar e nos
levar a intensificar os diálogos, adorei. Beijos, (T)
Acredito que o curso foi trabalhado com uma metodologia voltada para a
aprendizagem significativa despertando uma dimensão cognitiva que nos
fazia refletir a partir do próprio eu. Possibilitava desenvolver uma
consciência da importância de o professor trabalhar na perspectiva de
aprender e ensinar. Até hoje sinto saudades dos colegas e sobretudo dos
tutores que eram tão acolhedores e capazes. O material didático fora
muito bem planejado. Ainda vivencio a Teoria da Autopoiese de
Maturana e Varela, Notas sobre a experiência e o saber de experiência
de Jorge Larrosa, dentre outros. Foi o meu primeiro contato com a
plataforma MOODLE, mas não tive dificuldades. (LT)
Por outro lado, dos cursistas que não completaram o curso, obtive respostas
bem concisas, relacionadas principalmente às dificuldades pessoais e técnicas
comumente ocorrentes em cursos de EAD. Entre essas respostas, destacam-se as
seguintes:
Não conclui o curso. Falta de tempo para continuar os estudos, uma vez
que o mesmo demandava tempo para dedicação a leitura. (NS)
Não terminei o curso. O motivo foi problemas técnicos com o meu micro,
impossibilitando assim a continuação do mesmo. (JL)
148
Não foi possível ter acesso à lista final de concludentes, mas pelo que pude
inferir pela planilha geral, boa parte dos cursistas que concluíram o curso
participaram dos fóruns de avaliação e autoavaliação dos dois primeiros módulos,
demonstrando que estavam imbricados e interessados não só em aprender, mas em
contribuir com o todo, apesar das dificuldades que boa parte deles enfrentou no
início. Por exemplo:
Demorei muito para interagir com meu grupo mas, consegui. E agora
estou adorando esse ambiente de troca de informações e conhecimentos
e por isso mesmo me empenharei mais. Estou tendo algumas
dificuldades mas vou superá-las. (MC)
Por outro lado, pela fala de alguns cursistas, é possível perceber que um fator
importante para que concluíssem o curso foi justamente a participação das
mediadoras, como pode ser percebido pelos depoimentos a seguir:
Olá Pessoal, gostaria de dizer que o curso está sendo muito proveitoso
para mim. Está me fazendo refletir sobre coisas que, com a correria do
dia-a-dia, eu não parava para pensar. Sinto que estou menos exigente
com os outros e comigo mesma. Estou administrando melhor uma
ansiedade que teima em me acompanhar. Vocês, coordenadoras, nos
tratam com tanto e carinho e respeito, que certamente nos tornará
pessoas melhores. (CL)
CAPÍTULO V
Complexidade e
pensamento
ecossistêmico
Educação a
distância
Mediação
Pedagógica
Pela fala dos cursistas, como explicitado no capítulo anterior, parece que os
textos modificaram a maneira como eles percebiam a sala de aula, o seu aluno e a
sua rotina. Ao expressarem suas idéias a respeito dos conceitos estudados, os
professores/cursistas mostraram estar conscientes desses conhecimentos.
Nesse sentido, a mediação pode ter tido papel fundamental, pois as ações
pedagógicas realizadas mostraram que houve intenção, por parte das mediadoras,
de promover nos educandos uma aprendizagem significativa, o desejo de aprender,
a busca pela autonomia. Houve respeito às suas experiências como adultos e como
profissionais. Procurou-se unir razão, emoção e ação, ou seja, os cursistas foram
vistos como sujeitos integrais.
Tentando, então, responder ao problema de pesquisa proposto, é possível
afirmar que, nesse caso especificamente, os operadores cognitivos do pensamento
complexo e do pensamento ecossistêmico permitiram a ressignificação dos
processos de mediação pedagógica no ambiente virtual de aprendizagem, pois
pautaram tanto o planejamento do curso, quanto as ações e as estratégias de
mediação que produziram os efeitos desejados, pelo menos naqueles que
concluíram o curso.
Quanto aos objetivos propostos, pode-se dizer que:
Por meio das interações que ocorreram nos fóruns, os operadores
cognitivos permearam o planejamento do curso, o tipo de plataforma
virtual, as interações e as atividades propostas pelos orientadores, e a
mediação pedagógica.
Os operadores cognitivos enriqueceram o olhar não só dos mediadores
como também dos formandos, propiciando a construção do
conhecimento individualmente, mas com o apoio da comunidade de
aprendizagem formada.
Houve limitações à aplicabilidade de todos os operadores em todas as
fases do curso. Isso pode ter ocorrido em função da vinculação do
curso a outras instâncias, como a Secretaria de Educação do Estado,
que determinou prazos, fez a seleção dos alunos e disponibilizou
recursos materiais e financeiros , independente dos critérios e
orientações das referidas mediadoras.
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
aporte teórico, mais do que o previsto, não para compor a dissertação, mas para
esclarecer minhas próprias dúvidas e gerar algumas poucas certezas. E, ao final do
trabalho, posso afirmar, com emoção e razão, que o pensamento complexo e o
paradigma ecossistêmico devem permear todos os projetos de educação a
distância.
Não se pretende generalizar as conclusões tiradas nesse caso, contudo
alguns indicadores foram observados e podem ser aplicados em cursos de formação
on-line que tenham características próximas às encontradas nesta pesquisa.
Recomendamos, então, fortemente, que novas experiências em EAD sejam
desenhadas e efetivadas sob a perspectiva da complexidade e do pensamento
ecossistêmico, o que significa um olhar global e ao mesmo tempo particular, do
início ao fim, com ênfase, contudo, no preparo dos mediadores para assumir de
forma integral esse novo paradigma e agir sob a perspectiva dos operadores
cognitivos.
Na realidade, é preciso pensar na perspectiva da complexidade a educação
como um todo, como um projeto gerador da melhoria das condições de vida da
população. Os operadores cognitivos devem ser usados como um ponto de partida
para um fazer complexo, transdisciplinar.
Pensar e agir na direção da complexidade é ressignificar não só os processos
de mediação pedagógica, mas também o olhar daquele que ensina e daquele que
aprende sobre a vida, sobre os educandos e sobre a educação. Entretanto, é
preciso valorizar o professor o que permitirá que ele queira ser um renovador, em
suas dimensões pessoais e sociais, procurando religar os saberes com a vida,
tentando ser ele mesmo um sujeito integral, mais flexível e, dessa forma, resgatando
a integralidade de seus alunos e da comunidade.
Mas é preciso ir além. É preciso que todos os sujeitos compromissados com
a educação de qualidade tenham consciência do momento pelo qual estamos
passando e da necessidade de mudança urgente de paradigma. Enfim, pensar
complexo é pensar em transformar, em melhorar as condições de vida do ser
humano, da sociedade e da natureza na qual estão inseridos.
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UM BREVE HISTÓRICO13
ESTRUTURA DO CURSO
• Objetivos
13
Informações extraídas da dissertação de doutorado da professora Acássia Araújo Barreto,
coordenadora do curso analisado.
• discutir e refletir sobre o paradigma eco-sistêmico e a complexidade,
que fundamentam o projeto Sentipensar;
• Público Alvo
• Metodologia
• Carga horária
O curso havia sido programado, inicialmente, para ter 100 horas, mas em
função do tempo necessário à conclusão dos trabalhos dos professores/cursistas,
passou para 120 horas, sendo computadas em sete encontros quinzenais de quatro
horas cada, totalizando assim 28 horas presenciais e 92 a distância, com
atendimento on-line, via Messenger ou outro canal virtual que possibilite a
comunicação sincrônica.
• Avaliação
Carta-convite...
O propósito do Módulo 2 é iniciarmos a discussão dos fundamentos do sentipensar,
para que possamos, posteriormente, planejar ações educacionais envolvendo tais
fundamentos.
Mas antes de discutirmos, gostaria que este módulo não se restringisse a uma
discussão teórica, mas que pudéssemos vinculá-lo a uma prática que nos permitisse
pensar em inteireza humana .
Para tanto, faço uma sugestão... ou melhor, um convite:
Durante este módulo, antes mesmo de ler o texto proposto para iniciarmos nossa
conversa, e a cada vez que entrar no ambiente para ler e/ou comentar algo, pare
um pouco...
Feche os olhos e respire...
Simplesmente respire conscientemente um certo número de vezes (3, 5, 10 – você
escolherá quantas vezes).
Para auxiliar na concentração, pode ir dizendo mentalmente, acompanhando o
movimento da respiração:
• inspiro – expiro (um);
• inspiro – expiro (dois)...
• ...
Agora, preparado(a), pense na comunidade que se formou neste curso e lance-se à
atividade/leitura/escrita. Afinal, ao chegarmos a este ambiente, temos um encontro!
☺
Qual o efeito? Qual o significado de unir o pensamento a uma ação mecânica de
nosso corpo, tornando-a consciente? Vamos, depois de estudarmos um pouco,
conversar sobre isto?
Por enquanto, fica o convite à respiração consciente. Será fácil? Será difícil? Será
possível? Será confortável? Será um absurdo? Respostas que só obteremos se
tentarmos... vamos lá? ☺
Com esta proposta, introduzimos no curso uma parte prática... propondo um gesto
de interrupção14 na corrida diária para nos aprofundarmos em idéias, conceitos,
refletindo também sobre nossa própria forma de ser, sentir, pensar.
Eis a carta...
Eis o convite...
Aguardo vocês...
Com carinho
CG
14
Segundo Jorge Larrosa, o gesto de interrupção nos faz ser sujeitos da experiência, permitindo que a
experiência nos aconteça e, consequentemente, que aprendamos com ela. Segundo este autor, para o gesto de
interrupção precisamos parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais
devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a
opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a
delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros,
cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (Nota inserida na própria carta)
(Observação: a íntegra deste texto está na Biblioteca, em Textos complementares)