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O Perfil Socioeconômico e Cultural dos Acadêmicos de Comunicação


da Ufam - 2007 a 2009

Luiza Elayne AZEVEDO1


Rosiel do Nascimento MENDONÇA2
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM

RESUMO

Realizou-se um estudo com o objetivo de conhecer o perfil dos acadêmicos de


Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), referente ao
período de 2007 a 2009. A partir de variáveis socioeconômicas e culturais, procurou-se
verificar a origem escolar dos acadêmicos, alguns indicadores do seu consumo
informacional e de que forma esses e outros fatores interagem com o conceito de capital
cultural, proposto por Pierre Bourdieu. Para isso, trabalhou-se com um universo de 137
acadêmicos e uma amostra de 97 questionários, aplicados aos acadêmicos dos cursos de
Jornalismo e Relações Públicas.

PALAVRAS-CHAVE: Ufam; comunicação social; perfil socioeconômico e cultural.

1. Introdução

O curso de Bacharelado em Comunicação Social da Universidade Federal do


Amazonas, com 41 anos de existência, conta hoje com as habilitações de Jornalismo e
Relações Públicas, tendo sido um dos primeiros a desenvolver projetos de extensão na
universidade. Atualmente, há um curso de Jornalismo em Parintins, como parte do
programa de interiorização de ensino de graduação da Ufam, fato que vem consolidando
a atuação do Departamento de Comunicação Social (Decom) nos municípios do interior
do estado.
O momento atual tem sido marcado pela experiência de produção acadêmica dos
professores e alunos em disciplinas da grade e demais programas, como Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC), Programa de Educação Tutorial (PET), na revista
eletrônica Maloca Digital e nos 3 grupos de pesquisa existentes: Grupo de Estudos e
1
Jornalista, doutora em Ciências Socioambientais, professora do curso de graduação e pós-graduação do
Departamento de Comunicação Social da Ufam, tutora do Programa de Educação Tutorial de Comunicação Social
(PETCom) e líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Comunicação Social (Gepecs). E-mail: luindia@uol.com.br.
2
Acadêmico do 5º período do curso de Jornalismo da Ufam, bolsista do PETCom e colaborador do Gepecs. E-mail:
rosielmendon@hotmail.com.
2

Pesquisa em Ciência da Informação, Comunicação, Design e Artes (Interfaces), Grupo


de Estudos e Pesquisa em Comunicação Social (GEPECS) e Núcleo de Estudos em
Relações Públicas (NERP), credenciados pelo CNPq3. Além disso, o curso da Ufam
adquiriu reconhecida importância na região amazônica nos últimos anos, tendo
implantado em 2008 o primeiro mestrado em Ciências da Comunicação da região norte
(PPGCCOM)4.
O ingresso no curso de Comunicação se dá através de seleção específica para
cada habilitação (38 vagas para Jornalismo e 34 para Relações Públicas). Dentre as
várias formas de ingresso, as mais comuns são o Processo Seletivo Contínuo (PSC) e o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)5, processo ao qual a Ufam aderiu há pouco
mais de um ano, abrangendo a oferta de 50% das vagas. Ademais, a crescente demanda
pelo vestibular da instituição inclui o curso na lista dos mais concorridos na área de
Ciências Sociais Aplicadas6. Em decorrência disso, há uma procura intensa por
cursinhos pré-vestibulares da cidade como meio facilitador ao ingresso na universidade.
Com o objetivo de conhecer as condições socioeconômicas dos ingressantes no
curso de Comunicação da Ufam se realizou em 2007 um diagnóstico do perfil dos seus
acadêmicos. Especulava-se: a maioria dos acadêmicos era proveniente de escolas
particulares, tese que remete à elitização das universidades públicas federais e do
próprio curso. Entre os resultados obtidos se destacam: 62% dos entrevistados eram
oriundos de escolas particulares; 11,3% vinham de famílias com renda acima de 20
salários mínimos; 69% haviam cursado pré-vestibulares.
Sabemos, no entanto, da complexidade do indivíduo a partir de suas
características socioeconômicas e de outros fatores promotores do sucesso na sua
formação enquanto profissional capacitado para o mercado de trabalho. Dessa forma,
conhecer também o perfil de consumo cultural e informacional do acadêmico se torna
de extrema importância no contexto da graduação, permitindo inclusive o
redirecionamento das próprias ações pedagógicas a partir dos resultados.
Atendendo à necessidade de se expandir a compreensão acerca do perfil do
corpo discente de Comunicação da Ufam, se iniciou um novo estudo que integrasse não

3
http://decomufam.wordpress.com.
4
http://www.ppgccom.ufam.edu.br.
5
Substituiu o Processo Seletivo Macro (PSM), de acordo com a Resolução nº 005/2009, do Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão.
6
Dados do vestibular de 2009 revelam que a relação candidato/vaga era de 8,42 (PSC) e 12,96 (PSM) para a
habilitação de Jornalismo, e 5,80 (PSC) e 7,65 (PSM) para Relações Públicas.
3

somente as categorias socioeconômicas, mas especificamente as características e


preferências culturais dos acadêmicos, uma vez admitida a existência de relações
intrínsecas entre cultura e formação profissional.

2. Discussões iniciais: elitização e capital cultural

Várias pesquisas e a própria mídia vêm relatando a ocorrência de um processo


de elitização das Universidades Públicas Federais do país. Além disso, as escolas
particulares estão assumindo cada vez mais um papel duplo na educação: o de fornecer
conhecimento aos alunos e prepará-los ao máximo para que obtenham sucesso nos
vestibulares das universidades públicas. Enquanto isso, as escolas públicas, a priori, se
voltam para o mercado de trabalho.
Schwartzman7 fornece algumas considerações a respeito dos exames
vestibulares, pressupostos úteis nesta discussão inicial. Em primeiro lugar, o autor
estabelece uma relação diretamente proporcional entre o nível socioeconômico da
família do candidato e as suas chances de sucesso no vestibular. Em seguida, revela uma
tendência que leva os candidatos de mais baixa renda a escolherem cursos menos
concorridos; os alunos de maiores rendas, dessa forma, acabam se concentrando nos
cursos do mais alto prestígio social, como Direito e Medicina.
Apesar do significativo aumento das vagas nas universidades brasileiras, não
estaria havendo uma democratização na entrada dos alunos mais carentes, na visão de
Schwartzman. Por fim, ele afirma que os cursos que formam professores para o ensino
de segundo grau são justamente os que recebem os alunos em piores condições de
aproveitamento, gerando uma cadeia viciosa de deficiência no ensino.
Outros autores, no entanto, assumem posições contrárias. É o caso de Wilson
Mesquita8, que ao contestar a tese da elitização das universidades e problematizar o
próprio conceito de elite, afirma: “embora a renda exerça influência, ela não é variável
única para qualificação dos alunos entre os diversos cursos”. Mesquita defende que não
se pode generalizar a “existência de indivíduos „nesse patamar‟ presentes na
universidade pública brasileira” para o conjunto dos alunos.
Na mesma linha, Fiamengue (2002), em sua tese de doutorado sobre o vestibular
da Universidade Estadual Paulista, afirma que o conceito de elite é uma “abstração com

7
Disponível em: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/es/artigos/165.pdf.
8
Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT14-1794--Int.pdf.
4

forte componente ideológico, que a partir de uma utilização muito abrangente serve
muitas vezes para mascarar processos sociais”. (p. 154). Assim, o conceito apenas
perderia seu caráter abstrato a partir do momento em que fosse relacionado com a
detenção de poder, conforme atesta a autora em sua conclusão: “a utilização do conceito
de elite é válida para conceituar as cúpulas que possuem o poder e que aliás não
mandam seus filhos para a universidade pública”. (p. 158).
Outro conceito fundamental na análise do atual perfil dos acadêmicos de
Comunicação da Ufam foi o de capital cultural, proposto por Bourdieu (2002). Segundo
o autor, a estrutura de distribuição do capital cultural nada mais é que um reflexo da
estrutura de distribuição do capital econômico. Efetivando a discussão, Amaral (2007)
argumenta sobre o capital cultural como um conjunto de “disposições estéticas dos
indivíduos, manifestadas em suas preferências e gostos, resultantes do seu habitus
cultural e determinantes do seu consumo de bens culturais” (p. 101). Assim, o capital
cultural assume três formas básicas:
 estado incorporado – preferências musicais, experiências adquiridas em
viagens, lugares que freqüenta, conhecimento assimilado, etc. Pressupõe
investimento em tempo e dinheiro;
 estado objetivado - sob a forma de quadros, livros e outros bens
culturais/simbólicos;
 estado institucionalizado – um diploma, por exemplo, que confere ao
indivíduo o respaldo de um conhecimento ou preparo adquirido
institucionalmente.

Partindo dessa perspectiva, se infere existir um paradigma no sentido de validar


a tese de que o sucesso e desempenho escolar de um indivíduo mantêm relação direta
com a sua origem socioeconômica, expressa em variáveis como nível de instrução dos
pais, renda familiar, local de residência e sua própria escolaridade, conforme propõe
Amaral (2007). Com base nesses pressupostos, um dos objetivos da atual pesquisa foi
relacionar os resultados obtidos com o conceito de capital cultural, capaz de gerar, do
ponto de vista de um acadêmico em formação profissional,

“uma grande capacidade de ampliação e conversão de


diferentes capitais, potencializando a mobilidade e a
5

capitalização de recursos na luta concorrencial por melhores


posições no espaço social” (BRANDÃO, 2003, p. 514).

Portanto, procura-se agora preencher esta lacuna, uma vez que na primeira
pesquisa não se pode detectar com precisão a existência desse capital cultural, pois a sua
ênfase se deu no diagnóstico da elitização do curso.

3. Perfil dos acadêmicos da Ufam

No primeiro estudo sobre o perfil dos acadêmicos de Comunicação da Ufam9,


coordenado pela professora Luiza Elayne Azevedo Luíndia (Decom-Ufam) e as
acadêmicas Alana Santos, Cristiane Naiara de Souza e Taianne Mafra, o universo de
análise correspondia a 153 estudantes de Comunicação, sendo 74 de Relações Públicas;
79 de Jornalismo. A partir daí, obteve-se uma amostra de 132 acadêmicos com a
aplicação de questionários socioeconômicos aos universitários do 1º ao 9º período de
ambas as habilitações (correspondendo aos anos de 2003 a 2007).
Dessa forma, constatou-se:
 A maioria dos acadêmicos entrevistados tinha renda mensal familiar oscilando
entre 06 e 15 salários mínimos (SM)10;
 A maioria havia feito cursinho pré-vestibular;
 Notável crescimento de alunos provenientes de escolas particulares ao longo dos
anos pesquisados;
 A proveniência escolar do acadêmico em pouco influenciou no seu desempenho
acadêmico, medido através do seu coeficiente de rendimento.

Dependendo da necessidade, pesquisas precisam ser realizadas continuamente,


com certos intervalos de tempo, de modo a verificar possíveis mudanças no perfil
estudado ou até mesmo para aperfeiçoar os métodos de análise. Assim, uma segunda
pesquisa com o objetivo de traçar o perfil dos acadêmicos de Comunicação foi realizada
entre o segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre de 2010. Além das variáveis
sociais e econômicas, foram inseridas variáveis culturais, como consumo informacional

9
A pesquisa resultou em artigo apresentado no XII Encontro Nacional de Professores de Jornalismo (ENPJ),
realizado em abril de 2009, na cidade de Belo Horizonte/MG.
10
Em 2007, o salário mínimo era de R$ 380,00.
6

e cultural desses acadêmicos, seu envolvimento em atividades de pesquisa e extensão e


em outras atividades que venham a somar na sua formação.

3.1. Métodos e materiais

Na pesquisa mais recente, trabalhou-se com o universo de 137 alunos11 e uma


amostra igual a 97, distribuída da seguinte forma: 18 alunos do ano de 2007 (18,6%); 29
de 2008 (29,9%); 50 de 2009 (51,5%): sendo 50,5% da habilitação de Relações Públicas
e 49,5% de Jornalismo. Foram utilizados questionários mistos (perguntas abertas e
fechadas) como instrumento de coleta de dados.

3.2. Definição da amostragem

A pesquisa atual aponta para um total de 80,4% de acadêmicos entre 18 e 21


anos e uma maioria de 72% de mulheres, levando em conta as duas habilitações. Em
relação à instituição de origem, 52,6% dos entrevistados concluíram o Ensino Médio em
escola particular e 47,4% em escola pública.

3.3. Perfil econômico

Quanto ao perfil econômico, foi considerada a variável de renda familiar mensal


e origem da renda pessoal, caso houvesse. Verificou-se que a maioria dos acadêmicos
(53,6%), levando em conta tanto o grupo de escola particular quanto o de pública,
possuía renda de até 10 salários mínimos12. Ainda assim, nota-se que o grupo de escola
particular é o que apresenta o maior número de pessoas com renda familiar oscilando
entre 10 e mais de 20 SM, conforme demonstra o (Gráfico 1):

11
Conforme dados coletados junto à Pró-reitoria de Ensino de Graduação (PROEG).
12
Na época, o salário mínimo era de R$ 465,00.
7

Gráfico 1

Esta variável é a mais indicada quando se quer avaliar o perfil econômico, pelo
fato de estar diretamente relacionada ao poder de acesso a escolas particulares, cursos
preparatórios, livros e diversos outros meios facilitadores do ingresso nas universidades
públicas, espaço cada vez mais competitivo.
A pesquisa revelou ainda que a maioria dos entrevistados (16,5% de escola
pública e 19,6% de particular) possui mesada ou pensão como fonte de renda pessoal.
Por outro lado, 29,9% dos respondentes declararam ter como fonte de renda estágio ou
atividade profissional remunerada (13,4% de escola pública e 16,5% de particular).
Bolsas concedidas por atividades acadêmicas vêm em seguida, com 15,5% de
acadêmicos de escola pública e 6,2% de escola particular. No âmbito geral, entretanto, a
renda pessoal dos acadêmicos não ultrapassa a faixa de 01 SM.

3.4. Características sociais e educacionais

Em relação ao Ensino Médio, 25,8% dos entrevistados concluíram o curso em


escolas estaduais, 12,4% em escolas técnicas federais, 10,3% no Centro Educacional
Lato Sensu, 8,2% em escolas militares, 7,2% no Centro Educacional La Salle e 35,1%
em outras instituições.
Dos universitários entrevistados, tem-se que 55,7% cursaram pré-vestibulares,
conforme o (Gráfico 2). Na pesquisa anterior, essa maioria era de 69%.
8

Gráfico 2

Esses resultados sugerem, em consonância com os dados do perfil econômico, o


poder aquisitivo desses acadêmicos, uma vez que os cursinhos pré-vestibulares exigem
o pagamento de mensalidades que variam entre RS 200 e R$ 400, em Manaus.
Em relação ao envolvimento em atividades de pesquisa e extensão percebemos
uma inexpressiva participação dos acadêmicos: vinculados ao Decom, apenas 15,5%
desenvolvem pesquisa e 17,5% participam de atividades de extensão, sendo que a
maioria dos que estão envolvidos são provenientes de escola pública, conforme os
(Gráficos 3 e 4):

Gráfico 3
9

Gráfico 4

Essa realidade reflete o que Lima (2009) define como “alienação da vida
acadêmica em relação ao mercado profissional”, o conseqüente desinteresse pela
pesquisa e sua desvalorização.
Quanto à formação complementar desses acadêmicos, obtiveram-se os seguintes
dados: 50,5% fazem ou já concluíram curso de idiomas (30,9% de escola particular);
44,3% fazem ou já concluíram curso de informática (27,8% de escola pública); 19,6%
fazem ou já concluíram cursos artísticos (música, teatro, dança, etc.), sendo 12,4%
destes de escola particular; apenas 7,2% dos entrevistados fazem ou já concluíram
cursos técnicos da área de Comunicação (6,2% de escola particular), conforme o
(Gráfico 5):

Gráfico 5

Constatou-se também:
10

 Apenas 25,8% cursam outra graduação. Publicidade, Letras e Turismo, áreas que
de certa forma se relacionam com a Comunicação, foram os cursos que
apareceram com mais freqüência;
 Dos entrevistados que têm domínio fluente das línguas Inglesa e/ou Espanhola
(27,8% e 6,2%, respectivamente), a maioria é proveniente de escola particular;
 Os que possuem computador com acesso a internet representam 82,5% dos
entrevistados, contra 13,4% que possuem computador sem acesso à internet e
3,1% que não possuem computador.

3.5. Perfil cultural

Em relação às áreas culturais de interesse, parte expressiva dos acadêmicos


entrevistados (82,5%) se disse interessada por Cinema e Audiovisual, 75,3% por
Música, 48,5% por Literatura, 46,4% por Teatro, 35,1% por Esportes, 30,9% por Dança
e apenas 22,7% por Artes Plásticas.
De modo a conhecer também o perfil de consumo informacional dos
entrevistados, perguntou-se qual o meio de comunicação os acadêmicos mais utilizam
para se manterem informados. O resultado revelou que a internet é o veículo mais
utilizado por 85,6% dos entrevistados, seguida pela televisão, através de seus
telejornais, com 77,3% de preferência, revistas com 55,7%, jornais impressos com
52,6% e rádio com apenas 24,7% da preferência.
Em se tratando dos jornais impressos, de acordo com o (Gráfico 6), os cadernos
culturais se destacam com 82,5% da preferência de leitura dos acadêmicos, seguidos
pelas notícias de Educação, com 55,7%, e Política, com 51,5%.

Gráfico 6
11

Conforme o (Gráfico 7), as revistas de notícias semanais e as de


variedades/curiosidades aparecem como as mais lidas pelos acadêmicos, com 57,7% e
50,5% de preferência, respectivamente, contra apenas 3,1% em se tratando de revistas
com conteúdo regional.

Gráfico 7

A partir do (Gráfico 8), temos que no rádio a preferência dos acadêmicos se


concentra na programação musical (73,2%), nos radiojornais (44,3%) e nos programas
de entrevista (24,7%).

Gráfico 8

Na televisão, os programas que lideram a preferência dos acadêmicos são os


seriados (81,4%), filmes (84,5%), telejornais (80,4%) e entrevistas ou documentários
12

(75,3%). Programas culturais vêm em seguida, com 46,4% da preferência, humorísticos,


com 37,1%, novelas, com 28,9%, e esportes, com 23,7%.
A maioria dos entrevistados, 76,3%, acessa a internet diariamente, sendo que
45,4% utilizam o microblog twitter e 35,1% produzem conteúdo em blogs ou sites
pessoais.
Uma variável importante no diagnóstico do perfil cultural dos acadêmicos de
Comunicação da Ufam é a que revela os seus níveis de leitura. Para isto, usou-se como
parâmetro a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2007), realizada pelo Instituto Pró-
livro: a média de leitura anual dos brasileiros para aqueles que se encontram no ensino
superior é de 5 livros não-acadêmicos (fora da escola) e 3,3 livros acadêmicos
(indicados pela escola).
Desse modo, chegou-se ao seguinte resultado: em se tratando de leitura não-
acadêmica, a maioria do grupo de escola particular (29,9%) está na média nacional, ou
acima dela, enquanto a maioria do grupo de escola pública (24,7%) se encontra abaixo
dessa média, conforme o (Gráfico 9).

Gráfico 9

Quanto à preferência por gêneros de leitura, os romances aparecem em primeiro


lugar, com 72,2%, seguidos pelos livros de não-ficção, com 49,5%, e livros religiosos,
com 20,6%. Quando perguntados sobre os três últimos livros lidos, os mais recorrentes
foram A Cabana, O Caçador de Pipas, O Código Da Vinci, A Menina que Roubava
Livros, O Menino do Pijama Listrado, e os da série Crepúsculo (Lua Nova, Eclipse,
Crepúsculo e Amanhecer), livros que figuram na lista dos mais vendidos do ano de
2009.
13

Em relação à leitura de livros acadêmicos, de acordo com o (Gráfico 10), o


resultado se inverte: a maioria do grupo de escola pública (23,7%) está na média
nacional, ou acima dela, enquanto que a maioria dos de escola particular (26,8%) está
abaixo, conforme demonstra o gráfico abaixo. A inferência que pode ser feita com base
nesses dados diz respeito ao fato de os acadêmicos provenientes de escola pública serem
os que mais se envolvem em atividades de pesquisa e extensão, pois isto influenciaria
diretamente no seu nível de leitura acadêmica.

Gráfico 10

Por fim, a pesquisa demonstrou a inexpressiva participação dos acadêmicos em


atividades políticas/partidárias (1%), esportivas (11,3%) e estudantis (19,6%), o que
acena para uma preocupante falta de articulação e mobilização política no curso. Além
disso, a maioria dos envolvidos em atividades artísticas ou culturais se encontram no
grupo de escola particular (cerca de 12%).

4. Considerações

Considerando as variáveis utilizadas nesta pesquisa e as suas interrelações,


percebe-se uma aproximação entre os componentes socioeconômicos e os culturais
avaliados, confirmando, desse modo, uma das proposições da pesquisa: o capital
cultural do acadêmico cresce conforme a sua posição econômica. A sua constatação se
interliga com o fato de que os acadêmicos com domínio fluente das línguas inglesa e/ou
espanhola se encontram situados no grupo proveniente de escola particular. A mesma
relação vale para os que mais investem em formações complementares, como cursos de
idiomas, artísticos ou cursos técnicos na área de Comunicação. Estes dados revelam,
14

portanto, uma busca por diferenciação no mercado de trabalho através do investimento


em capital cultural institucionalizado.
Ademais, confirmaram-se as hipóteses principais: a maioria dos acadêmicos
continua sendo proveniente de escolas particulares e a maioria cursou pré-vestibulares.
Em se tratando de renda familiar, encontramos acadêmicos que em sua grande parte se
encontram na faixa entre 01 e 10 SM. Em contrapartida, o grupo de escola particular
abriga a maioria dos que possuem rendimentos acima de 10 SM e 10,3% dos 12,4% que
possuem rendimentos acima de 20 SM13.
O elevado interesse dos entrevistados pela área de Cinema e Audiovisual se
mostra como um desafio tanto para os professores quanto para o curso, na medida em
que se precisa buscar atender a essa demanda. Pode-se dizer que essa realidade ganha
reflexos tanto na constituição da nova grade curricular do curso de Jornalismo14, que
passou a incluir disciplinas específicas voltadas para a área de Audiovisual, quanto na
existência de projetos como SetUfam15 e Cine&Vídeo Tarumã16.
Por outro lado, a baixa participação dos acadêmicos em atividades de pesquisa e
extensão também se configura como um desafio. Dada a sua importância, a produção
acadêmica precisa ser constantemente incentivada, quer seja através da produção de
artigos científicos, quer seja pela participação dos corpos docente e discente nos eventos
científicos da área.
De modo geral, a pesquisa revelou a heterogeneidade da formação do corpo
discente do curso de Comunicação da Ufam, no qual não se percebe a predominância de
um grupo economicamente elevado, ou elite econômica. A elitização se dá na medida
em que se percebe a distinção natural entre os demais acadêmicos e aqueles que
possuem trajetória escolar privilegiada – maiores rendas e mais chances de incrementar
o seu capital cultural, mas que não pressupõe envolvimento acadêmico, por exemplo.

5. Referências bibliográficas

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Desigualdades sociais e capital cultural. In: AGUIAR, Neuma. Desigualdades sociais,
redes de sociabilidade e participação política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

13
Em 2007 essa estatística era de 11,3%.
14
Implementada a partir de 2009.
15
http://setufam.blogspot.com
16
http://cinevideotaruma.blogspot.com
15

AZEVEDO, Luiza Elayne; MAFRA, Taianne; SANTOS, Alana; SOUZA, Cristiane.


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