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FUNGOS MICORRÍZICOS

PESQUISA
ARBUSCULARES
Fotos e ilustrações cedidas pelos autores

Características, associação simbiótica e aplicação na agricultura

Origem e características dos fungos Glomaleanos

s plantas terrestres estabelecem simbioses mutualísticas ou parasíticas


com diversos microrganismos, os quais encontram ambientes favoráveis
nas partes aéreas ou subterrâneas dos vegetais. As micorrizas são as
relações mutualísticas mais comuns na natureza, sendo formadas por
certos fungos do solo e as raízes da grande maioria das plantas (Smith & Read, 1997).
Entre os sete tipos de micorrizas conhecidos, as micorrizas arbusculares (MAs),
formadas por fungos da Ordem Glomales, são as mais comuns nos ecossistemas
terrestres. Embora tradicionalmente classificados na Divisão Zygomycota, os fungos
micorrízicos arbusculares (FMAs) apresentam divergências suficientes, com base na
análise do RNA ribossômico 18S, para formarem uma
nova Divisão. Schußler et al. (2001) propuseram a Divisão
Glomeromycota para abrigar os organismos formadores
de MAs, colocando esse grupo de fungos no mesmo nível
da hierarquia taxonômica que os tradicionais grupos
basidiomicetos e ascomicetos. Existem fortes evidências
de que os FMAs desempenharam um papel crucial na
conquista do ambiente terrestre pelas plantas (Redecker et
al., 2000). Essa premissa é corroborada por evidências de
estudos de biologia molecular que confirmam que a
origem dos FMAs coincide com a origem das plantas
terrestres, há cerca de 353-462 milhões de anos (Simon et
al., 1993). A origem dos FMAs foi também confirmada por
análises em materiais fósseis do Devoniano, os quais
revelaram a presença de estruturas fúngicas similares
àquelas formadas pelos fungos Glomaleanos atuais (Piro-
zynski, 1981).
Os FMAs são simbiotróficos obrigatórios, pois comple-
Figura 1. Segmento de raiz de gramínea, mostrando o tam seu ciclo de vida apenas se estiverem associados a
aspecto microscópico da penetração e colonização do córtex uma planta hospedeira, a qual lhes fornece carboidratos
por fungo micorrízico arbuscular e outros fatores necessários ao seu desenvolvimento e
esporulação (Siqueira et al., 1985). Essa aparente desvan-
tagem da relação com a planta, no entanto, é compensada
José Oswaldo Siqueira pela ausência de especificidade existente entre os FMAs e os hospedeiros. Normal-
Engo Agro Ph.D. Prof. Titular de mente, uma determinada espécie fúngica pode colonizar as raízes de vários
Microbiologia do Solo hospedeiros entre as Angiospermas, Gimnospermas e Pteridófitas. Apesar de apenas
Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG
bolsista do CNPq
3% das espécies vegetais terem sido examinadas para a presença de MAs, pode-se
siqueira@ufla.br afirmar que cerca de 95% das espécies vegetais atuais pertencem a famílias que são
caracteristicamente micorrízicas (Trappe, 1987). Assim, as MAs são a regra e não a
Márcio R. Lambais exceção na natureza. Famílias de plantas tipicamente não-micorrízicas incluem
Engo Agro Ph.D. Prof. Associado de
Microbiologia do Solo
Caryophylaceae, Brassicaceae, Chenopodiaceae, Juncaceae, Polygonaceae, Cypera-
Escola Superior de Agricultura “Luiz de ceae, que parecem ter perdido a capacidade de formar essa associação em tempos
Queiroz”, USP, Piracicaba, SP mais recentes, evolutivamente. Os FMAs podem ser encontrados em plantas
bolsista do CNPq
mlambais@esalq.usp.br
herbáceas, arbustivas ou arbóreas que ocupam os mais diversos ecossistemas, como
florestas, desertos, dunas, savanas, campos e agrossistemas. O longo tempo de co-
Sidney L. Stürmer evolução entre os FMAs e as plantas pode explicar a presença ubíqua desses fungos
Biólogo Ph.D. Prof. de Botânica na nos ecossistemas. Eles invariavelmente associam-se à maioria das plantas nativas dos
Universidade Regional de Blumenau – FURB
Blumenau-SC trópicos e a espécies de interesse econômico como café, soja, milho, sorgo, maçã,
sturmer@furb.br citrus, feijão, entre outras. No Brasil, os estudos realizados pelos autores sobre a
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ocorrência dos FMAs em da taxonomia e siste-
ecossistemas naturais e em mática dos FMAs. Al-
agrossistemas indicam que o guns tipos de esporo e
número de espécies pode aspectos da sua germi-
variar de 35 em dunas costei- nação são ilustrados na
ras até mais de 40 em cultivos figura 3. A diversidade
de café e no cerrado nativo. estrutural nos esporos
Essa diversidade representa permite reconhecer atu-
aproximadamente 1/3 de to- almente cerca de 168
das as espécies de Glomales espécies de fungos Glo-
descritas até o momento. A maleanos, pertencen-
estrutura das comunidades tes a sete gêneros dis-
de FMAs nos diferentes siste- tribuídos em cinco fa-
mas é bastante variável. Por mílias (figura 4). Ape-
exemplo, três espécies de sar de germinarem fa-
Acaulospora (A. scrobicula- cilmente em meios de
ta, A. morrowiae e A. mellea) cultura, o crescimento
são as mais freqüentemente Figura 2. Ilustração esquemática da anatomia de uma raiz com continuado e a espo-
encontradas em solos com micorriza arbuscular rulação dos FMAs não
cafeeiros, enquanto que no ocorrem na ausência
cerrado, Scutellospora pellu- de células vivas do hos-
cida, Gigaspora margarita e para Glo- ramificação de hifas intracelulares e são pedeiro. As dificuldades de se cultivar os
mus diaphanum são geralmente as espé- responsáveis pela troca de nutrientes FMAs in vitro representa um obstáculo
cies predominantes (Siqueira et al., 1989). entre os simbiontes. O desenvolvimento ainda não superado, o qual tem limitado
Estudos sobre a ecologia desses simbi- de arbúsculos é acompanhado da inva- os estudos de sua biologia e desenvolvi-
ontes devem ser incentivados para ob- ginação da membrana plasmática vege- mento biotecnológico.
ter-se um inventário mais completo de tal, não comprometendo a integridade
sua diversidade taxonômica, fisiológica das células radiculares. As hifas intra e Desenvolvimento da
e genética. Essas informações poderiam extra-radiculares são importantes como associação simbiótica
ser utilizadas para a seleção de isolados propágulos para iniciar nova coloniza-
eficientes para a aplicação em processos ção, para gerar novos esporos, para Os mecanismos que regulam o de-
biotecnológicos de interesse agrícola ou aquisição de nutrientes e ainda podem senvolvimento e funcionamento das MAs
ambiental. favorecer a agregação do solo. O micélio ainda não foram elucidados. Além do
Os FMAs não produzem alterações extra-radicular pode atingir de 14 a 50 m crescimento intercelular, o processo de
morfológicas visíveis nas raízes das plan- g-1 de solo, diferenciando-se em hifas colonização das raízes pelos FMAs é
tas, e, desta forma, um processo de absortivas, as quais formam uma rede caracterizado pelo crescimento intrace-
coloração e observação ao microscópio dicotomicamente ramificada que se es- lular das hifas no tecido cortical e por
é necessário para a visualização das tende solo adentro para absorção de diferenciação de hifas intracelulares ter-
estruturas fúngicas nas raízes coloniza- nutrientes e água. minais em arbúsculos (figura 2). Apesar
das (figura 1). As MAs possuem três Os esporos formados pelos FMAs do crescimento intrarradicular extensi-
componentes, quais sejam: a raiz da são assexuados e servem para sua disse- vo, normalmente observado nessa asso-
planta hospedeira, as estruturas forma- minação e sobrevivência (figura 3). Pos- ciação, as reações de defesa da planta
das no córtex radicular (arbúsculos e suem diâmetro que varia de 45 a 700 µm são brandas e localizadas, sugerindo a
vesículas) e o micélio e esporos extra- (os maiores encontrados no Reino Fun- existência de um mecanismo de reco-
radiculares (figura 2). As vesículas, es- gi), coloração hialina, amarelada, esver- nhecimento mútuo entre os simbiontes,
truturas globosas ou alongadas conten- deada, amarronzada ou mesmo preta, e o qual é controlado por genes do fungo
do grânulos de glicogênio e lipídios, são forma globosa, alongada ou muitas ve- e da planta.
consideradas estruturas de estocagem zes irregular (Morton, 1988), podendo ter A sinalização molecular entre os sim-
dos fungos e podem ser formadas den- parede lisa ou ornamentada. Os tipos de biontes deve ter início muito antes de seu
tro ou fora das células do córtex. Os esporos são distinguíveis em função de contato físico. Os esporos germinam
arbúsculos são as estruturas característi- sua ontogenia, que, juntamente com quando as condições de umidade, tem-
cas das MAs. São formados pela intensa características estruturais, formam a base peratura e pressão parcial de CO2 são

Figura 3. Esporos de fungos Glomaleanos. (a) detalhe de célula suspensora bulbosa em Gigaspora sp.; (b)
Scutellospora spp mostrando o escudo de germinação; (c) fotomicrografia de Gigaspora margarita mostrando tubo
germinativo próximo à hifa de sustentação, (d) detalhe da base do tubo na parede do esporo, (e) detalhe de uma célula
auxiliar produzida in vitro e (f) fotomicrografia de Glomus sp na rizosfera
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Tabela 1 – As ações das micorrizas arbusculares no crescimento das plantas

Ação Mecanismos principais

Biofertilizadora Maior absorção e utilização de nutrientes do solo.


Favorecimento da nodulação e fixação de N2 em leguminosas.
Amenização de estresses nutricionais e nutrição balanceada.
Acessos a nutrientes pouco disponíveis.

Biocontroladora Ação de biocontrole sobre certos patógenos e pragas.


Redução de danos causados por pragas e doenças.
Amenização de estresses causados por fatores diversos como metais pesados e poluentes orgânicos.
Efeitos benéficos na agregação do solo, melhora a conservação da água e do solo.

Biorreguladora Atua na produção/acúmulo de substâncias reguladoras do crescimento (desenvolvimento e floração).


Interfere favoravelmente na relação água-planta (aumenta tolerância a déficit hídrico);
Alterações bioquímicas e fisiológicas (acúmulo de certos metabólitos secundários).

favoráveis, e não há evidências de sina- ros não estimulam o crescimento do ve na síntese dos flavonóides, indicam
lização nesse estádio de desenvolvimen- fungo. A natureza dessas moléculas si- que esses compostos fenólicos não são
to. No entanto, quando nas proximida- nais ainda não foi determinada. Embora necessários para o desenvolvimento de
des das raízes de plantas hospedeiras, o certos compostos fenólicos sintetizados MAs (Bécard et al., 1995). Essenciais ou
crescimento e a ramificação de hifas de por plantas, como os flavonóides, flavo- não, flavonóides estimulam a coloniza-
esporos germinados são altamente esti- nonas e isoflavonóides estimulem o cres- ção micorrízica e apresentam grande
mulados (figura 5), sugerindo existência cimento de hifas in vitro (Nair et al., 1991; potencial de aplicação prática, como
de uma sinalização específica. De fato, Bécard et al., 1992; Bécard et al., 1995) e abordado neste artigo.
fatores presentes nos exsudatos de plan- a colonização micorrízica (Siqueira et A primeira e mais importante indica-
tas hospedeiras estimulam o crescimen- al., 1991), a essencialidade desses com- ção de reconhecimento de um hospe-
to (figura 6) e a ramificação de hifas postos para o desenvolvimento da sim- deiro compatível é a diferenciação de
(figura 5), e sua divisão nuclear (Buee et biose, como ocorre em interações legu- hifas fúngicas em apressórios (Staples &
al., 2000; Douds & Nagahashi, 2000). Ao minosas-rizóbios, não foi demonstrada. Macko, 1980). A formação de um apres-
contrário do que ocorre com células de Estudos com mutantes de milho defici- sório funcional, após um período de
hospedeiros, aquelas de não hospedei- entes em chalcona sintase, enzima cha- proliferação e ramificação abundante

Figura 4. Classificação atual dos


FMAs mostrando as características
que definem as famílias e gêneros
de Glomales. Elaborada e atualizada
conforme informações do INVAM
(http://invam.caf.wvu.edu)

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Tabela 2 – Exemplos de culturas, fungos eficientes e efeitos da inoculação no Brasil (Siqueira & Klauberg Filho, 2000)

Cultura Fungos eficientes Efeitos da inoculação

Abacaxi Glomus clarum, Gigaspora margarita e Melhor desenvolvimento de mudas


Glomus intraradices micropropagadas.
Cafeeiro Glomus clarum, Gigaspora margarita, Melhor desenvolvimento de mudas, melhor
Glomus etunicatum sobrevivência no campo e maior produção.
Citros Acaulospora morrowiae, Glomus clarum, Crescimento mais rápido de porta enxertos e de
Gl. etunicatum, Glomus intraradices, mudas no campo.
Glomus fasciculatum
Leguminosas Glomus etunicatum, Glomus clarum Favorecimento da nodulação, do acúmulo de N,
da produção de grãos e da tolerância ao déficit
hídrico.
Milho Glomus clarum, Glomus etunicatum Nutrição favorecida, melhor ia do crescimento e
da produção.
Mamão Glomus etunicatum, Entrophospora Melhor desenvolvimento inicial e de nutrição de
colombiana mudas.
Tomate Glomus clarum, Glomus etunicatum, Crescimento estimulado e maior eficiência de uso
Gigaspora margarita de fósforo.
Plantas arbóreas: Glomus clarum, Glomus etunicatum, Essencial para o desenvolvimento de mudas de
reflorestamento e Glomus fasciculatum espécies de semente pequena e crescimento
frutíferas rápido.

das hifas de FMAs na rizosfera do hos- nhecimento específico da parede de invaginação da membrana plasmática
pedeiro e adesão à superfície da célula células epidérmicas em plantas hospe- vegetal, de modo que não existe com-
vegetal, resulta em penetração e posteri- deiras. prometimento da integridade das células
or colonização do tecido cortical. A O processo de colonização, propria- hospedeiras. Esse processo é acompa-
formação de apressórios depende do mente dito, tem início na superfície da nhado também pela deposição de mate-
genoma da planta hospedeira, de modo raiz, com a penetração resultante da rial semelhante à parede celular vegetal
que o fungo não é capaz de formar combinação de pressão mecânica e de- ao redor da hifa, criando uma região
apressórios funcionais em raízes de plan- gradação enzimática parcial da parede apoplástica (interface) com característi-
tas não-hospedeiras, muito embora dila- celular vegetal. A produção de enzimas cas bioquímicas específicas (figura 7).
tações de hifas semelhantes a apressóri- hidrolíticas como pectinases, celulases e Em algumas células corticais, hifas intra-
os possam ser observadas quando o hemicelulases por FMAs tem sido do- celulares se diferenciam em arbúsculos.
fungo é colocado próximo às raízes cumentada e pode ser essencial para o Durante esse processo, a parede celular
(figura 5). Esses resultados sugerem a desenvolvimento da simbiose. A coloni- fúngica se torna amorfa, desaparecendo
existência de fatores essenciais para a zação intrarradicular é limitada aos teci- as cadeias de quitina cristalina. Adicio-
completa diferenciação das hifas em dos externos à endoderme, e se dá pelo nalmente, intensa síntese de membrana
apressórios funcionais (Giovannetti et crescimento inter- e intracelular das hi- plasmática, fragmentação do vacúolo,
al., 1993). Nagahashi & Douds (1997) fas. O crescimento intracelular inicial é aumento do volume de citoplasma, de-
observaram que a diferenciação de hifas caracterizado pela formação de enove- créscimo no número de amiloplastos,
em apressórios é dependente do reco- lamentos de hifas transcelulares e pela movimentação do núcleo, rearranjo do
citoesqueleto e aumento da atividade de
transcrição gênica são também altera-
ções observáveis durante o desenvolvi-
mento dos arbúsculos (Bonfante & Pe-
rotto, 1995).
Alterações bioquímicas no fungo e
no hospedeiro ocorrem não somente
durante o desenvolvimento de arbúscu-
los, mas também durante o processo de
colonização intrarradicular. Evidências
de alterações do metabolismo do fungo
são dadas pelas observações da ativida-
de e localização de ATPases e da ativida-
de de fosfatase alcalina vacuolar (Saito,
1995). Durante o crescimento de hifas de
Figura 5. Esporo germinado e crescendo na rizosfera de uma planta esporos germinados, ATPases ativas são
hospedeira (a) e resposta induzida pela presença de componentes de localizadas próximo à extremidade das
exsudatos da planta (b) hifas, enquanto em hifas intercelulares e
nos arbúsculos elas se localizam ao

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do na colonização do córtex, e foram
denominados Coi- (“cortex invasion”)
(Wegel et al., 1998). Raízes micorrizadas
sintetizam também proteínas imunologi-
camente relacionadas com nodulinas,
proteínas específicas de nódulos de le-
guminosas (Wyss et al., 1990; Perotto et
al., 1994), e fatores Nod sintetizados por
rizóbios são capazes de estimular a co-
lonização intrarradicular de fungos mi-
corrízicos (Xie et al., 1995).
Tem sido sugerido que a coloniza-
ção intrarradicular por FMAs depende da
capacidade do fungo em evitar a ativa-
ção ou mesmo em suprimir o sistema de
defesa vegetal. A não ativação do sistema
de defesa vegetal pode estar associada à
maior atividade de enzimas anti-oxidan-
tes (catalase, por exemplo) em raízes
micorrizadas (Lambais, 2000). As ativida-
Figura 6. Efeito da presença de suspensão de células de plantas hospedeiras des de quitinases são induzidas nos
e não hospedeiras no crescimento micelial assimbiótico da Gigaspora estádios iniciais do desenvolvimento da
gigantea em meio de cultura (Dados de Paula & Siqueira, 1990) simbiose, e suprimidas posteriormente a
níveis inferiores aos observados em plan-
tas sem micorrizas. Essa supressão é
longo de toda a membrana plasmática alexinas e morte das células microbianas atenuada em condições de alto P, onde
fúngica. Já a atividade de fosfatase alca- ou do hospedeiro) em MAs (Gianinazzi, a colonização é inibida. Em condições
lina vacuolar é maior durante o processo 1991). O acúmulo de fitoalexinas ocorre de alto P, o acúmulo de mRNAs codifi-
de colonização das raízes, comparada à predominantemente nas fases mais tar- cando uma isoforma ácida de quitinase
atividade em hifas proveniente de espo- dias do desenvolvimento da simbiose, e é induzido em células contendo arbús-
ros germinados. No hospedeiro, a ex- atinge concentrações muito inferiores culos ou sua vizinhança (Lambais &
pressão diferencial de vários genes en- àquelas observadas em interações com Mehdy, 1993). As atividades de β-1,3-
volvidos na defesa vegetal contra o ata- fungos fitopatogênicos. A ausência de glucanases são também suprimidas em
que de patógenos, avaliada com base reações de hipersensibilidade é, da mes- certos estádios do desenvolvimento da
em atividades enzimáticas, acúmulo de ma forma, observada na simbiose entre simbiose, e dependem da concentração
proteínas e/ou de mRNAs, tem sido leguminosas e rizóbios. Aparentemente, de P. Em condições de baixo P, tem sido
observada durante o desenvolvimento esses microssimbiontes são reconheci- observado acúmulo de mRNAs codifi-
das MAs, podendo ter papel fundamen- dos pelos hospedeiros de modo a for- cando uma isoforma de β-1,3-glucanase,
tal no controle da colonização intrarradi- marem interações compatíveis de longa homóloga a uma isoforma básica de
cular (Lambais, 2000). duração (Lambais & Mehdy, 1995). soja, em células contendo arbúsculos e
O crescimento de FMAs no interior A utilização de modelos de sinaliza- suas imediações. Além da indução loca-
das raízes parece ser um processo “con- ção e regulação gênica que ocorrem nas lizada, uma supressão sistêmica, em con-
trolado”, já que a colonização de tecidos simbioses leguminosas-rizóbios tem con- dições de alto P ou em raízes micorriza-
meristemáticos e/ou de vasos conduto- tribuído para melhor entendimento dos das, também tem sido observada (Lam-
res não é observada. Adicionalmente, processos atuantes em MAs. A existência bais & Mehdy, 1998). Os mecanismos
nem todas as células corticais são infec- de fatores comuns entre os dois tipos de que controlam o sistema de defesa vege-
tadas e a diferenciação de hifas terminais simbiose tem sido sugerida pelo fato de tal podem envolver a regulação diferen-
em arbúsculos ocorre somente em algu- que mutantes de plantas de ervilha que cial de isoformas de quitinases e β-1,3-
mas das células colonizadas. No entan- não são capazes de desenvolver micor- glucanases, em conseqüência de altera-
to, os fatores atuantes nesse controle são riza típica, e têm a colonização bloque- ções hormonais e/ou síntese de molécu-
desconhecidos. A regulação do desen- ada em um estádio imediatamente pos- las elicitoras/supressoras específicas (Lam-
volvimento e da funcionalidade das MAs terior à formação do apressório (myc- bais, 2000).
envolve uma complexa troca de sinais precoces), são também não-nodulantes, O desenvolvimento de novas técni-
entre os simbiontes, a qual pode ser i.e., nod- (Gianinazzi-Pearson et al., 1995). cas de análise de expressão gênica, como
afetada também pelas condições ambi- Mutantes que formam nódulos não-fixa- hibridização em microarrays (arranjos
entais. O resultado dessa sinalização é a dores, i.e., nod+ fix-, também não desen- ordenados de milhares de genes em
síntese dos simbiossomos, representa- volvem micorriza típica. Nesse caso, lâminas de vidro especiais), análise siste-
dos pelos arbúsculos, membrana periar- ocorre penetração e colonização inter- mática de ESTs (Expressed Sequence
buscular e interfaces características (fi- celular, mas não há formação de arbús- Tags) e SAGE (Serial Analyses of Gene
gura 7). culos, definindo os mutantes myc- tardi- Expression), bem como a análise de
Apesar da colonização extensiva das os (Lambais, 1996). Diferente dos mutan- proteomas de raízes micorrizadas por
raízes pelos FMAs, não há desenvolvi- tes myc- precoces de ervilha, mutantes eletroforese bi-dimensional e espectro-
mento de sintomas evidentes de resposta de Lotus japonicus não-nodulantes têm o metria de massa, permitirá um melhor
de hipersensibilidade (acúmulo de fito- desenvolvimento da micorriza bloquea- entendimento dos mecanismos que con-

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incompatíveis com as condições de ex-
cesso de nutrientes no solo.
A maior absorção de nutrientes re-
sulta de inúmeros mecanismos, como
aumento na superfície e capacidade de
absorção das raízes, maior acessibilida-
de aos nutrientes, utilização de formas
não disponíveis a raízes não-coloniza-
das, por solubilização e mineralização
de nutrientes na rizosfera, e amenização
de fatores adversos à absorção, como
metais, compostos orgânicos tóxicos e
patógenos que atacam o sistema radicu-
lar (Siqueira, 1994). A contribuição das
micorrizas para a absorção de alguns
nutrientes tem sido estimada em 80%
para o P, 60% para o Cu e entre 10% a
25% para os demais nutrientes (Marsch-
ner & Dell, 1994). Se a difusão química
no solo é limitante, as hifas podem
aumentar a área de absorção em até
Figura 7. Enzimas e sinais moleculares de origem fúngica ou vegetal 1800% (Okeefe & Sylvia, 1991). Além da
secretados na interface apoplástica de micorrizas arbusculares alta capacidade e eficiência de absorção
de P, as hifas crescem a partir das raízes
trolam a formação de MAs e poderá consistentes para os nutrientes de baixa solo adentro (figura 2), absorvendo este
contribuir para a efetiva aplicação em mobilidade, os FMAs interferem direta e outros nutrientes fora da zona de
larga escala dos FMAs na agricultura. ou indiretamente na absorção de outros esgotamento que se desenvolve próxi-
elementos como Br, I, Cl, Al e Si e metais mo à superfície das raízes absorventes,
Efeitos no crescimento pesados. Os efeitos nutricionais depen- transferindo-os para o hospedeiro nos
das plantas dem da disponibilidade relativa dos ele- arbúsculos.
mentos no meio de crescimento e da Devido ao fato da disponibilidade de
Embora as MAs sejam conhecidas exigência da planta a eles, sendo mais N e P ser o principal fator limitante para
desde o início do século XIX, seus acentuados em condições de deficiên- o crescimento e a produtividade das
efeitos benéficos para as plantas só cia, especialmente de P. A absorção de plantas, os FMAS apresentam grande
foram documentados no século passa- P tem relação direta com o crescimento potencial como insumo biológico para a
do, quando verificou-se que certas espé- da planta, sendo que quando este atinge agricultura. A inoculação de milho e soja
cies vegetais apresentavam desenvolvi- concentrações próximas da adequada, a com isolados fúngicos eficientes pode
mento retardado e sintomas de distúrbi- colonização das raízes é inibida por reduzir em 34% e 56% o requerimento
os (deficiências) nutricionais quando mecanismos auto-regulatórios da simbi- externo de fertilizante fosfatado, respec-
cultivadas em solos esterilizados para ose, tornando as MAs desnecessárias e tivamente (Siqueira, 1994). Essa redução
controle de patógenos. No representa um efeito “bioferti-
período de 1950-60, experi- lizante equivalente” estimado
mentos confirmativos desen- de 30 e 60kg de P2O5 aplicado
volvidos na Inglaterra e nos ao solo, respectivamente, para
Estados Unidos evidencia- essas culturas. Considerando-
ram que plantas inoculadas se a área plantada com soja e
com propágulos de fungos milho no país, cerca de 28
extraídos do solo desenvol- milhões de ha, e o efeito das
viam-se melhor (figura 8), MAs em condições de campo,
por conterem teores mais aproximadamente um terço do
elevados de nutrientes mi- que é observado em condi-
nerais, especialmente da- ções controladas, pode-se es-
queles pouco móveis no timar que a contribuição dessa
solo, como fósforo, zinco e simbiose para a economia com
cobre, cuja absorção é faci- fertilizantes fosfatados nestas
litada pelas hifas externas culturas seria da ordem de US$
(figura 2). Sabe-se, no en- 250 milhões no Brasil. O efeito
tanto, que, devido a efeitos biofertilizante varia para as di-
secundários da micorriza- ferentes culturas em função
ção, outros nutrientes são da exigência nutricional, efici-
também absorvidos em mai- Figura 8. Resposta do ipê: c - sem inoculação e m - inoculada ência de absorção e de uso do
or quantidade em plantas (a) e do citros (b) à inoculação com FMAs. Foto de citros cedida nutriente, assim como da ca-
micorrizadas. Embora os por A. Colozzi-Filho-IAPAR- Londrina, correspondendo a plan- pacidade de formar uma sim-
efeitos das MAs sejam mais tas sem e com inoculação em solo fumigado e não fumigado biose eficiente com o fungo e

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e; c) mais recentemente, pela aplicação
de compostos estimulantes da micorri-
zação.
A inoculação garante efeitos benéfi-
cos, podendo ser efetuada no solo du-
rante a semeadura de plantas anuais e de
pastagens, na repicagem de mudas de
plantas olerícolas, na formação de mu-
das de espécies arbustivas ou arbóreas
(figura 9) com finalidades agronômica,
florestal, de recuperação ambiental e de
ornamentação. As respostas da inocula-
ção variam de 10% a 800% em aumento
da biomassa vegetal (Siqueira & Franco,
1988), e são maiores, mais consistentes e
promissoras em plantas que passam por
fase de formação de mudas. No entanto,
a aplicação desses fungos em larga esca-
la é ainda muito limitada, principalmente
pela falta de inoculante aceito comerci-
almente. A principal razão para essa falta
de inoculante é o caráter biotrófico obri-
gatório do fungo, que exige que sua
propagação seja feita em plantas multi-
plicadoras. São conhecidos vários siste-
mas para a multiplicação de propágulos,
em solo desinfestado, substratos inertes,
sistemas hidropônicos e aeropônicos, e
produção de inoculantes. Em condições
favoráveis apropriadas, pode-se obter
Figura 9. Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento visando à aplicação de até 200.000 esporos de FMAs por litro de
fungos micorrízicos arbusculares na agricultura substrato em 4 meses, o que seria sufici-
ente para inocular de 2.000 a 3.000
do nível de fertilidade ou manejo da Além dos efeitos nutricionais, as mi- mudas. O estabelecimento de padrões
adubação. Em condições nutricionais corrizas exercem outros papéis sobre a de qualidade de inoculantes, conside-
ótimas, a colonização intrarradicular é planta hospedeira, os quais são resumi- rando-se aspectos de pureza e sanidade,
reduzida, assim como os benefícios do dos na tabela 1. Plantas micorrizadas é essencial para o desenvolvimento co-
fungo. No caso do N, as plantas com são menos danificadas por danos causa- mercial desses fungos. Pacotes tecnoló-
micorrizas absorvem mais o N disponí- dos por diversos tipos de estresse do gicos para aplicações diversas já foram
vel no solo e evidências recentes indi- solo ou ambientais, facilitando seu esta- desenvolvidos, como é o caso da inocu-
cam que os FMAs são capazes de mine- belecimento e sobrevivência em locais lação do cafeeiro (Saggin Júnior & Si-
ralizar N orgânico no solo, facilitando adversos. As MAs são componentes es- queira, 1996), cuja viabilidade técnica já
assim a nutrição nitrogenada das plan- senciais em programas de recuperação foi demonstrada no Brasil e sua aplica-
tas. É interessante também o sinergismo de áreas degradadas e solos poluídos ção é concretizada na Colômbia, onde
que existe entre os FMAs e bactérias com metais pesados ou compostos orgâ- existem várias empresas produtoras de
diazotróficas. No caso do rizóbio, a nicos poluentes. inoculantes. Mudas inoculadas com es-
nodulação e a quantidade de N fixada poros de fungos selecionados (figura
pelas leguminosas é favorecida em plan- Aplicação dos FMAs 10) desenvolvem-se mais rapidamente
tas inoculadas com FMAs. Um dos meca- na agricultura no viveiro, sobrevivem melhor quando
nismos envolvidos nessa relação é a transplantadas para o campo e produ-
maior absorção de P do solo, nutriente Devido à sua natureza ubíqua, à zem mais. Aumentos de produção no
exigido em grande quantidade para a ausência de especificidade hospedeira e primeiro ano variam de 30% a 800%,
fixação biológica de N2. Em solo de à susceptibilidade generalizada das plan- enquanto que, nos anos seguintes, esses
cerrado adubado com metade da quan- tas à micorrização, os FMAs apresentam efeitos são muito inconsistentes. Valores
tidade de fosfato ótima, a inoculação enorme potencial biotecnológico. Al- médios para aumento de produção nos
com FMAs dobrou a quantidade acumu- guns exemplos da aplicação desses fun- cinco primeiros anos, em diversos expe-
lada de N na soja. Em sistema de sorgo gos na agricultura e no reflorestamento rimentos realizados em Lavras e Patrocí-
consorciado com soja, a inoculação são apresentados na tabela 2. Sua explo- nio (MG), são da ordem de 50% em
com FMAs favoreceu a transferência de ração é viabilizada pelo aumento da taxa relação às mudas sem inoculação na
N da soja para o sorgo, de modo que a de micorrização das plantas, que pode formação. Isso representa um aumento
produção de grãos deste aumentou em ser conseguido: a) pela inoculação com de produtividade acumulada de 35 sacas
67% e 157% na ausência ou presença de isolados fúngicos selecionados; b) por de café beneficiado por ha no período.
fungo micorrízico, respectivamente (Bres- práticas de manejo seletivo da popula- Esses estudos revelaram efeitos comple-
san, 1996). ção fúngica indígena dos solos agrícolas mentares entre a aplicação de P com a

18 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 25- março/abril 2002


cultivo com leguminosas favorecem os
FMAs. Já, o cultivo com espécies não
micotróficas, como crucíferas e mem-
bros da Chenopodiaceae, e monocultu-
ras de gramíneas de uso prolongado
reduzem a densidade de propágulos no
solo.
A identificação de compostos orgâ-
nicos ativos sobre os FMAs em exsuda-
tos de plantas sob estresse nutricional
(Nair et al., 1990, Paula e Siqueira, 1990)
possibilitou o desenvolvimento de uma
nova estratégia para estimular os propá-
gulos desses fungos em solos agrícolas
(figura 11). Compostos naturais de alta
Figura 10. Suspensão de esporos obtida de vasos de multiplicação pronta
atividade sobre os FMAs in vitro e na
para uso em inoculações (a) e mudas de cafeeiro micorrizadas preparadas micorrização foram encontrados e servi-
para o plantio no campo (b) ram de base para o desenvolvimento de
resposta do cafeeiro à micorrização. de fungos indígenas que, embora pre- produtos estimulantes da micorrização
Sem P não há resposta à inoculação e a sentes em todos os solos, não se encon- (US patent no. 5.002.603, de 03/1991).
dose de P necessária para atingir a tram em quantidades suficientes para Durante a década de 90, estudos de P &
produção máxima foi de 207 e 100 g de atingir, em tempo, taxas de colonização D conduzidos por pesquisadores da
P2O5 por planta, sem e com inoculação necessárias para garantir benefícios às Michigan State University (MSU), nos
na formação, respectivamente. Portanto, culturas de ciclo curto como milho, soja, EUA, e da Universidade Federal de La-
em solos de cerrado, a micorriza pode feijão. Conhecendo os fatores edáficos e vras (MG) permitiram o desenvolvimen-
reduzir a necessidade de P do cafeeiro à culturais que influenciam os FMAs, suas to de formulações comerciais à base de
metade (Siqueira et al 1998). populações podem ser manejadas. É formononetina sintética (figura 12) como
Nos cultivos anuais extensivos, a relativamente fácil aumentar a densida- o MyconateTM, atualmente produzido
inoculação com FMAs não é viável, de de propágulos no solo, porém difícil pela VAMTech (L.C.C.,EUA), sob licença
devido ao grande volume de inoculante promover alterações qualitativas especí- da MSU. Em experimentos realizados em
que seria necessário. Nesse caso, uma ficas. Em geral, o cultivo mínimo do solo, Lavras (MG), a aplicação de 60 a 100 g de
alternativa seria o manejo da população o uso reduzido de agroquímicos e o Myconate no solo ou na semente au-
mentou a produtividade do milho de 8,0
t ha-1 no controle para 10,4 t ha-1 no
melhor tratamento, correspondendo a
37 sacas ha-1 (figura 13). Respostas se-
melhantes foram encontradas para a
soja no Brasil (figura 12) e para esta e
outras culturas em outros países (Nair et
al 1999). Devido à predominância de
solos pobres e à alta exigência de P das
culturas, o Brasil apresenta enorme po-
tencial para essa tecnologia, a qual já foi
licenciada para uma empresa nacional
do ramo de insumos biológicos. Testes
finais de campo estão sendo realizados
visando ao registro e à comercialização
do Myconate. Para obter-se sucesso com
o emprego de produtos à base de isofla-
vonóides é importante considerar: a) a
cultura deve ser micotrófica e apresentar
alta compatibilidade com os fungos indí-
genas; b) deve haver propágulos viáveis
no solo, porém em densidade abaixo da
necessária para atingir máxima coloniza-
ção; c) as condições nutricionais ou
ambientais devem impor algum grau de
estresse para garantir os benefícios da
melhor micorrização; d) a viabilidade
tecnológica depende de benefícios con-
sistentes na produtividade e/ou redução
Figura 11. Representação esquemática das etapas da descoberta de no uso de insumos, como os fertilizantes
substâncias vegetais bioativas e desenvolvimento de produtos estimulan- fosfatados.
tes da micorrização A aplicação dos FMAs em larga esca-

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 25- março/abril 2002 19


Figura 12. Formononetina pura e incorporada em veículo para aplicação (a), lavoura experimental de milho tra-
tada com Myconate (b), produção de soja em Lavras-MG (c), Formononetina (d)
la poderá contribuir para redução no tação, em campo para obter-se resulta- Referências
uso de agroquímicos, diminuir as perdas dos experimentais conclusivos e realizar
das culturas causadas por estresses di- análise da consistência, longevidade e Bécard, G.; Douds, D.D. & Pfeffer, P.E.
versos e aumentar a produção, e, ao custo/benefício da inoculação; Extensive in vitro hyphal growth of
mesmo tempo, favorecer a conservação c) o mercado de fertilizantes, no que vesicular-arbuscular mycorrhizal fun-
ambiental. Portanto, os FMAs são impor- diz respeito ao preço relativo do produ- gi in the presence of CO2 and flavo-
tantes componentes da produção agrí- to, disponibilidade dos adubos para os nols. Appl. Environ. Microbiol. 58:821-
cola e, se manejados adequadamente, produtores e esgotamento de matérias- 825. 1992.
podem contribuir substancialmente para primas industriais, é de grande importân- Bécard, G.; Taylor, L.P.; Douds Jr., D.D.;
a sustentabilidade dos agrossistemas. Nos cia. Preços altos ou relações de troca Pfeffer, P.E. & Doner, L.W. Flavonoi-
trópicos também são componentes im- com produtos desfavoráveis facilitarão a ds are not necessary plant signal
portantes na recuperação de áreas de- aplicação dos FMAs na agricultura; compounds in arbuscular mycorrhi-
gradadas, especialmente quando se em- d) o enfoque ecológico da produção zal symbioses. Mol. Plant-Microbe
prega a fitorremediação. Sua aplicação agrícola visando sustentabilidade, impli- Interact. 8:252-258. 1995.
como insumo biológico dependerá de cará na redução da mecanização e do Bonfante, P. & Perotto, S. Strategies of
vários aspectos: uso de agroquímicos, facilitando o em- arbuscular mycorrhizal fungi when
a) exploração comercial em larga prego dos FMAs. A maior conscientiza- infecting host plants. New Phytol.
escala: está condicionada a avanços ção dos agricultores e da sociedade 130:3-21. 1995.
reais para produção de inoculantes, ma- sobre a necessidade de preservação am- Bressan, W. Micorriza, fósforo e nitrogê-
nipulação da população indígena atra- biental e conservação de recursos natu- nio no sorgo e soja consorciados
vés de manejo específico ou do empre- rais amplia as oportunidades para tecno- (Tese de doutorado) Universidade
go de produtos estimulantes da micorri- logias biológicas seguras, como os FMAs, Federal de Lavras, Lavras, MG. 1996.
zação; que são aliados ancestrais das plantas no 160p.
b) é necessário ampliar a experimen- ambiente terrestre. Buee, M.; Rossignol, M.; Jauneau, A.;
Ranjeva, R. & Bécard, G. The pre-
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mycorrhizal fungi is induced by a
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Figura 13. Efeitos de formulações de formononetina aplicadas na semente 1):S526-S532. 1995.
(sem) ou no solo na produção do milho (Romero, 2000, dissertação de Giovannetti, M.; Avio, L.; Sbrana, C. &
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