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Assistir a um ensinamento

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Um Mestre espiritual é alguém com quem podemos aprender mais sobre quem somos e quem podemos vir a ser. Um sábio que desvendou a natureza da realidade e de
si mesmo e que pode ajudar-nos a fazer o mesmo. Alguém cuja bondade e o altruísmo são um exemplo e uma inspiração.

Assim, é natural que manifestemos respeito e apreço por ele. Ter respeito não significa fazer vénias. É um sentimento profundo que se manifesta naturalmente em
todo o nosso comportamento desde a maneira como nos vestimos, nos movemos, falamos ou estamos à escuta na sua presença. Isto não significa que se tenha de criar
à sua volta uma atmosfera de constrangimento. Compostura não é o mesmo que falta de naturalidade ou embaraço.

Se formos recebidos pelo Presidente da República não nos vestimos para esse encontro como se fossemos à piscina, não é? Da mesma forma, por aquilo que ele
representa a nível espiritual, pela autoridade e a bondade que emanam dele, apresentamo-nos diante do Mestre vestidos com simplicidade e decoro.

Nos ensinamentos tradicionais explica-se que não se deve ir vestido para um ensinamento com ostentação, como se iria para brilhar em sociedade. A maneira como
nos vestimos para uma determinada ocasião indica e, quiçá, influencia a nossa atitude. Assim é recomendado que nos vistamos de forma despretensiosa mas limpa e
apresentável. Se o Lama for monge, por respeito para com os votos que tomou, as mulheres devem evitar vestir-se ou adoptar atitudes que possam ser provocantes.

Ainda a nível físico, devemos estar atentos à nossa postura. Se estivermos sentados no chão, como acontece com frequência, é bom sabermos que estar sentado de
pernas esticadas com os pés virados para o Lama é considerado pouco respeitoso. Isto não se aplica no caso de termos de esticar as pernas de vez em quando o que
para nós, ocidentais, é praticamente inevitável.

Se soubermos, à partida, que temos de nos sentar de pernas esticadas o tempo todo, é preferível sentarmo-nos numa cadeira ou sentarmo-nos de lado e não de frente.
Se não conseguirmos evitar ficar de frente, podemos cobrir os pés com um tecido, um xaile, um casaco ou qualquer peça de vestuário.

Devemos ter consciência que o facto de nos reclinarmos ou deitarmos para ouvir um ensinamento não é muito elegante. A pessoa que nos ensina também não está
deitada! O que pensaríamos nós de um professor, um conferencista ou um orador que falasse para nós deitado, recostado ou com os pés em cima da secretária? Não
seria pouco apropriado?

É verdade que não estamos habituados a estar sentados de pernas cruzadas e que essa postura provoca, na maioria de nós, dores nas costas e nos joelhos, por isso
temos de encontrar uma maneira de manter uma certa compostura.Essa deve ser também uma preocupação dos organizadores dos eventos e assim seria bom que
pensassem em ter cadeiras, almofadas, etc. para ajudar as pessoas que assistem a manter a postura.

A nível verbal requer-se também algum respeito. Por vezes temos tendência para comentar em voz baixa ou não tão baixa assim o que estamos a ouvir, como se
estivéssemos a assistir a um espectáculo. É aceitável que alguém faça um comentário ou outro mas deve-se evitar passar a conferência ou o ensinamento a segredar e
a dar risadas. Trata-se de uma atitude desajustada.

Mais importante ainda é a atitude de espírito. Mesmo que sejamos movidos apenas pela curiosidade não temos nada a ganhar em fazê-lo de forma arrogante ou
provocatória. É sempre possível aprender com qualquer pessoa e muito mais ainda com um mestre espiritual. Se formos ouvi-lo cheios de ideias preconcebidas e com
uma atitude de rivalidade será difícil retirarmos seja o que for desse encontro.

Na tradição tibetana é costume apresentar-se um lenço branco como forma de saudação. Chama-se katak e significa a pureza da nossa intenção. Não é, de forma
alguma, um ritual obrigatório mas é um costume simpático e uma ocasião de ter um contacto mais próximo com o Lama.

Quem for assistir a um ensinamento pela primeira vez poderá ficar surpreendido ou mesmo chocado por ver que algumas pessoas se prosternam diante do Lama. Esse
acto não é um acto de veneração cega de um ser inferior a um superior mas sim a rendição da nossa individualidade egoísta à magnificência da natureza de Buda,
natureza essa que tanto está dentro do Lama como dentro de nós. O grande valor e o carácter precioso do Lama consiste justamente em no-la mostrar pela primeira
vez para que possamos render-nos a ela. Escusado será dizer que as prosternações não são obrigatórias.

De acordo com o ensinamento do Buda um seu seguidor não pode ensinar se tal não lhe for solicitado. É por essa razão que se costumam incluir nas orações iniciais o
pedido do ensinamento.

Todos os ensinamentos budistas começam sempre gerando a atitude altruísta e acabam com a dedicatória do mérito ou energia acumulada ao bem de todos os seres.

É costume também fazer-se uma oferenda ao Mestre no final do ensinamento. Esta oferenda, que pode ser uma prenda ou, de forma mais comum, um envelope com
dinheiro é uma forma de lhe manifestarmos o nosso apreço pelo que partilhou connosco. Nós, ocidentais, nem sempre nos sentimos confortáveis nesta convivência
entre o espiritual e o material. No entanto o ideal seria que a espiritualidade sustentasse a vida de todos os dias e que os recursos materiais também servissem para
sustentar agora realmente no sentido próprio a espiritualidade. Um Lama, por mais realizado que seja, come, veste-se e paga passagens de avião. E hoje tudo isso
se obtém em troca de dinheiro.

Em última análise, é importante que saibamos que um verdadeiro mestre espiritual pouco se importa que lhe manifestemos respeito ou não. Mas aquilo que nos
poderá dar será proporcional à nossa abertura. Mesmo um actor sabe que a qualidade da sua actuação depende, em parte, da empatia do público. A um nível diferente
a qualidade e, sobretudo, a profundidade do que nos pode ser transmitido por um Lama depende da qualidade da nossa presença e da nossa atenção.

Como o Sol que brilha igualmente para todos, também o mestre manifesta a sua compaixão e a sua sabedoria de forma constante e imparcial. No entanto, se nos
enclausurarmos atrás de portadas, estores e reposteiros o calor dos raios solares não nos atingirá. Da mesma forma, uma atitude desenquadrada, arrogante ou
mesquinha impedir-nos-á de sentir e ser tocados pela magnificência da sua presença. Os grandes perdedores seremos nós.

Tsering Paldron
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Um Mestre espiritual é alguém com quem podemos aprender mais sobre quem somos e quem podemos vir a ser. Um sábio que desvendou a natureza da realidade e de
si mesmo e que pode ajudar-nos a fazer o mesmo. Alguém cuja bondade e o altruísmo são um exemplo e uma inspiração.

Assim, é natural que manifestemos respeito e apreço por ele. Ter respeito não significa fazer vénias. É um sentimento profundo que se manifesta naturalmente em
todo o nosso comportamento desde a maneira como nos vestimos, nos movemos, falamos ou estamos à escuta na sua presença. Isto não significa que se tenha de criar
à sua volta uma atmosfera de constrangimento. Compostura não é o mesmo que falta de naturalidade ou embaraço.

Se formos recebidos pelo Presidente da República não nos vestimos para esse encontro como se fossemos à piscina, não é? Da mesma forma, por aquilo que ele
representa a nível espiritual, pela autoridade e a bondade que emanam dele, apresentamo-nos diante do Mestre vestidos com simplicidade e decoro.

Nos ensinamentos tradicionais explica-se que não se deve ir vestido para um ensinamento com ostentação, como se iria para brilhar em sociedade. A maneira como
nos vestimos para uma determinada ocasião indica e, quiçá, influencia a nossa atitude. Assim é recomendado que nos vistamos de forma despretensiosa mas limpa e
apresentável. Se o Lama for monge, por respeito para com os votos que tomou, as mulheres devem evitar vestir-se ou adoptar atitudes que possam ser provocantes.

Ainda a nível físico, devemos estar atentos à nossa postura. Se estivermos sentados no chão, como acontece com frequência, é bom sabermos que estar sentado de
pernas esticadas com os pés virados para o Lama é considerado pouco respeitoso. Isto não se aplica no caso de termos de esticar as pernas de vez em quando o que
para nós, ocidentais, é praticamente inevitável.

Se soubermos, à partida, que temos de nos sentar de pernas esticadas o tempo todo, é preferível sentarmo-nos numa cadeira ou sentarmo-nos de lado e não de frente.
Se não conseguirmos evitar ficar de frente, podemos cobrir os pés com um tecido, um xaile, um casaco ou qualquer peça de vestuário.

Devemos ter consciência que o facto de nos reclinarmos ou deitarmos para ouvir um ensinamento não é muito elegante. A pessoa que nos ensina também não está
deitada! O que pensaríamos nós de um professor, um conferencista ou um orador que falasse para nós deitado, recostado ou com os pés em cima da secretária? Não
seria pouco apropriado?

É verdade que não estamos habituados a estar sentados de pernas cruzadas e que essa postura provoca, na maioria de nós, dores nas costas e nos joelhos, por isso
temos de encontrar uma maneira de manter uma certa compostura.Essa deve ser também uma preocupação dos organizadores dos eventos e assim seria bom que
pensassem em ter cadeiras, almofadas, etc. para ajudar as pessoas que assistem a manter a postura.

A nível verbal requer-se também algum respeito. Por vezes temos tendência para comentar em voz baixa ou não tão baixa assim o que estamos a ouvir, como se
estivéssemos a assistir a um espectáculo. É aceitável que alguém faça um comentário ou outro mas deve-se evitar passar a conferência ou o ensinamento a segredar e
a dar risadas. Trata-se de uma atitude desajustada.

Mais importante ainda é a atitude de espírito. Mesmo que sejamos movidos apenas pela curiosidade não temos nada a ganhar em fazê-lo de forma arrogante ou
provocatória. É sempre possível aprender com qualquer pessoa e muito mais ainda com um mestre espiritual. Se formos ouvi-lo cheios de ideias preconcebidas e com
uma atitude de rivalidade será difícil retirarmos seja o que for desse encontro.

Na tradição tibetana é costume apresentar-se um lenço branco como forma de saudação. Chama-se katak e significa a pureza da nossa intenção. Não é, de forma
alguma, um ritual obrigatório mas é um costume simpático e uma ocasião de ter um contacto mais próximo com o Lama.

Quem for assistir a um ensinamento pela primeira vez poderá ficar surpreendido ou mesmo chocado por ver que algumas pessoas se prosternam diante do Lama. Esse
acto não é um acto de veneração cega de um ser inferior a um superior mas sim a rendição da nossa individualidade egoísta à magnificência da natureza de Buda,
natureza essa que tanto está dentro do Lama como dentro de nós. O grande valor e o carácter precioso do Lama consiste justamente em no-la mostrar pela primeira
vez para que possamos render-nos a ela. Escusado será dizer que as prosternações não são obrigatórias.

De acordo com o ensinamento do Buda um seu seguidor não pode ensinar se tal não lhe for solicitado. É por essa razão que se costumam incluir nas orações iniciais o
pedido do ensinamento.

Todos os ensinamentos budistas começam sempre gerando a atitude altruísta e acabam com a dedicatória do mérito ou energia acumulada ao bem de todos os seres.

É costume também fazer-se uma oferenda ao Mestre no final do ensinamento. Esta oferenda, que pode ser uma prenda ou, de forma mais comum, um envelope com
dinheiro é uma forma de lhe manifestarmos o nosso apreço pelo que partilhou connosco. Nós, ocidentais, nem sempre nos sentimos confortáveis nesta convivência
entre o espiritual e o material. No entanto o ideal seria que a espiritualidade sustentasse a vida de todos os dias e que os recursos materiais também servissem para
sustentar agora realmente no sentido próprio a espiritualidade. Um Lama, por mais realizado que seja, come, veste-se e paga passagens de avião. E hoje tudo isso
se obtém em troca de dinheiro.

Em última análise, é importante que saibamos que um verdadeiro mestre espiritual pouco se importa que lhe manifestemos respeito ou não. Mas aquilo que nos
poderá dar será proporcional à nossa abertura. Mesmo um actor sabe que a qualidade da sua actuação depende, em parte, da empatia do público. A um nível diferente
a qualidade e, sobretudo, a profundidade do que nos pode ser transmitido por um Lama depende da qualidade da nossa presença e da nossa atenção.

Como o Sol que brilha igualmente para todos, também o mestre manifesta a sua compaixão e a sua sabedoria de forma constante e imparcial. No entanto, se nos
enclausurarmos atrás de portadas, estores e reposteiros o calor dos raios solares não nos atingirá. Da mesma forma, uma atitude desenquadrada, arrogante ou
mesquinha impedir-nos-á de sentir e ser tocados pela magnificência da sua presença. Os grandes perdedores seremos nós.

Tsering Paldron
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