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O aumento da complexidade das relações entre a procura e a oferta nos portos implica a
necessidade de uma maior flexibilidade do trabalho portuário nas suas diversas
vertentes, que pode ser incentivada com os devidos bónus:
Tem que se ter em atenção que uma maior produtividade e flexibilidade da mão-de-obra
portuária deve ser acompanhada por maiores salários, como é definido no modelo da
flexisegurança dinamarquês. Quando existem elevados salários num porto, mas a
produtividade e a flexibilidade são reduzidas, o porto enfrenta uma séria desvantagem
competitiva.
Para além dos custos da estiva, vários são os custos das ineficiências da mão-de-obra
portuária em certos portos:
a) falta de trabalhadores em picos que levam a custos de espera dos navios ou menores
produtividades;
b) falta de formação e estragos causados às cargas que provocam custos de
produtividade ou de reputação do porto;
c) greves isoladas ou prolongadas, que causam custos elevados para os portos e para a
economia;
d) alta taxa de acidentes de trabalho devido à falta de formação ou cansaço;
e) absentismo de trabalhadores já afectados a tarefas;
f) falha na comunicação entre o navio e a empresa de estiva ou avaria dos
equipamentos.
Uma grande variedade de classificação dos trabalhadores portuários pode ser observada
nos portos europeus, mas geralmente envolve três elementos:
a) os trabalhadores efectivos com contrato de trabalho com as empresas de estiva;
b) os trabalhadores registados contratados pela(s) “pool(s)” do porto, utilizados pelas
empresas como fonte primária de recursos humanos;
c) os trabalhadores temporários que recebem um mínimo de remuneração para estarem à
espera dos picos de trabalho.
A maior parte das reformas efectuadas nos portos dos países da Europa levaram a
poucas mudanças nos acordos existentes nas “pools”, mas em alguns casos verificaram-
se alterações significativas, designadamente os trabalhadores passaram a ser
directamente contratados pelas empresas operadoras dos terminais, em vez de ser via
“pool”. Por exemplo, na Alemanha e na Holanda as empresas podem contratar
directamente o efectivo do mercado de trabalho, mas o trabalho temporário adicional
tem que vir da “pool”, embora algumas destas”pools” tenham sido privatizadas. Existe a
tendência para a criação de “pools” abertas e autónomas, até mais que uma por porto,
com apoio em último caso das empresas de trabalho temporário gerais.
A ESPO pediu à Comissão Europeia para esclarecer este tema com a aprovação do
princípio “os fornecedores de serviços portuários devem ter total liberdade de contratar
o pessoal qualificado que entendam e emprega-lo nas condições requeridas pelo serviço,
desde que aplicada a legislação de segurança e social”.
Por outro lado, existe uma tendência nos portos da Europa para o trabalho contínuo com
paragens individuais (e não colectivas), horários com início flexível, turnos com tempo
variável, novos esquemas de trabalho extraordinário, turnos nocturnos e trabalho ao
fim-de-semana.
Uma outra questão são as categorias profissionais, para além da divisão entre
trabalhadores permanente e não permanente, mais relacionadas com as tarefas e
funções, a especialização por tipo de carga, as aptidões e formação, a forma como foram
contratados, os planos de carreira ou o treino profissional. Alguns sistemas dão especial
importância às categorias profissionais, com esquemas de mobilidade entre categorias,
outros assentam mais nas qualificações profissionais para a afectação ao tipo de trabalho
mais adequado.
Na Inglaterra, com a abolição do NDLS (National Dock Labour Scheme) em 1989, foi
eliminada a legislação anterior e neutralizados os sindicatos, deixando estes de poderem
fazer greve que não seja devido a disputas com as empresas de estiva, sob pena de os
bens pessoais poderem ser sequestrados em tribunal. Muitos trabalhadores aceitaram as
generosas compensações para redução do efectivo, tendo a indústria portuária britânica
sido revitalizada, de acordo com a ESPO. A maioria das empresas contrata quem quer
para efectivo e conta com as empresas de trabalho temporário gerais para satisfazer os
picos.
Vítor Caldeirinha